Capa
do Livro
Obra:
Musashi, Miyamoto – O livro dos cinco anéis. Tradução do japonês José
Yamashiro, Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015. (Coleção Estratégia)
O livro não é apenas um tratado de artes marciais,
se alguém buscar na leitura tal aprendizado irá se decepcionar, antes de tudo o
livro trata de uma filosofia levada para arte do viver e vencer, a obra de Musashi é lida ainda
hoje como manual de ensinamentos filosóficos e também como guia para o sucesso
empresarial.
Musashi se inscreverá na memória
da posteridade pelo livro que deixou “Gorin no Sho”, O livro dos cinco elementos,
como Yamashiro aptamente o denomina em sua tradução, e não “dos cinco círculos
ou “dos cinco anéis”, o best seller mundial é considerado uma leitura
obrigatória dos aguerridos executivos ocidentais quanto de homens e mulheres em
busca dos caminhos da iluminação interior e da sabedoria.
Este livro vem sendo
traduzido e reeditado no mundo inteiro, foi o entusiasmo em torno do guerreiro
que levou a um renovado interesse por seu legado espiritual: a filosofia e a
arte de sempre vencer, contidas no Gorin no Sho, o
livro é uma suma da estratégia para a vitória em qualquer campo e contra
qualquer inimigo, estudar seus ensinamentos é se conectar a sabedoria do
passado, como viajantes no tempo que somos, procuramos sabiamente compreender
os caminhos e os valores humanos.
O Japão é conhecido por sua
cultura milenar e valorizar e cultuar suas tradições, logo não poderia deixar
de valorizar a história de “Musashi, ele é tão atual que na língua japonesa existem
figuras de linguagem que se referem ao caráter “musashiano”, revelando que,
provavelmente, o seu nome seja tão ou mais conhecido do que importantes
personalidades da história e cultura japonesas.
Musashi viveu num período
em que o Xogunato era o sistema de governo predominante no Japão de 1192 a
1867, baseado na crescente autoridade do xógum, supremo líder militar,
que terminaria por submeter até mesmo a autoridade do imperador [A retomada do
poder imperial determinou o encerramento do feudalismo japonês baseado no
xogunato, a abertura do país ao exterior e o início de sua ocidentalização. É importante dizer que Musashi era um caso muito
particular, pois não tinha senhor e vivia por conta própria, em uma época
quando as guerras já haviam acabado.
Ilustração
de Bruno Cabral
Musashi (1584-1645), viveu
numa época de inflexão (mudança de direção) na história japonesa, que apresenta
marcante analogia com a do Japão de hoje. Após os 250 anos do xogunato
Ashikaga, todo ele convulsionado por incessantes guerras entre os barões
feudais, a partir da batalha de Sekigahara (l600), de que Musashi teria
participado, instaura-se o xogunato Tokugawa, que daria 250 anos de paz ao
Japão. Se a Era Ashikaga fora a da atividade marcial, a Era Tokugawa será a das
atividades civis e do espírito. O pincel adquire precedência sobre a espada, o
samurai guerreiro terá de se reencarnar no samurai administrador.
Os feitos
do passado consagram-se como alegorias; embainhada, fora dos campos de batalha,
a espada passa a ser cultivada nas academias; as virtudes marciais se
institucionalizam nos códigos; o bushido (código ético dos guerreiros) encontra
seus teóricos. São dessa época os trabalhos de Yamaga Soko, Shidô (1665), e o
Hagakure (1716), de Yamamoto Tsunetomo, nos quais se exaltam as virtudes do
guerreiro, e é nesse período que proliferam as escolas de artes marciais (ryü)
e os samurais desempregados (rôniri) peregrinam pelo Japão em busca de
adversários com os quais possam medir sua mestria. É igualmente desse período
(1701) o episódio dos 47 rônin, que configura na história japonesa a expressão
máxima das virtudes samuraicas.
Musashi
é, assim, um símbolo vivo de seu tempo, samurai rônin que transita da espada para
o pincel, tentando reencontrar um destino e redefinir o significado de sua vida
em um novo Japão. Nada poderia ser mais significativo de sua busca do que o
fato de que remate sua vida dedicado a atividades artístico-artesanais e de que
deixe como sua última mensagem o Gorin no Sho, onde codifica a estratégia —
essência das artes marciais —, livro que se insere na mesma tendência que viria
a motivar posteriormente o Shi-dô e o Hagakure, acima citados. O guerreiro se
transforma em eremita, o espadachim, em mestre escrito. (pg.16 á 18)
Como mostra o livro, Musashi
foi uma lenda de seu tempo, simbolizou o auge do bushido (caminho do
guerreiro), no qual um homem que empunhava uma espada representava o máximo da
realização individual. Aos treze anos, Miyamoto Musashi matou um adversário no
que seria o primeiro de uma excepcional série de célebres combates de espada.
Ignorando as convenções, ele preferia uma espada de madeira e em seus anos de
maturidade nunca lutou com uma arma autêntica. Aos trinta, já tinha despachado
mais de sessenta lutas sem perder nenhuma, ele viveria outros trinta anos sem
liquidar mais ninguém. Continuaria a participar de combates, mas agora
simplesmente neutralizando os ataques dos adversários até eles reconhecerem
suas habilidades nas mais diversas técnicas.
Foi um mestre em
aniquilar os inimigos usando recursos psicológicos que estudava exaustivamente
antes dos combates. Musashi orientava seus estudos tão arduamente conquistados
sobre as artes combatentes para metas espirituais de cunho zen-budista.
Ilustração
de Bruno Cabral
Um combate histórico: O fanfarrão
Sasaki Kojiro
Não apenas os membros da academia Yoshioka
nutriam sentimento de vingança contra Musashi como também Sasaki Kojiro. Tanto
Musashi como Kojiro eram jovens samurais em busca do aperfeiçoamento espiritual
através da arte guerreira.
Enquanto Musashi se mostrava simples no uso das
palavras e moderação em demonstrar a perícia nas armas, Kojiro era um
fanfarrão. Suas roupas coloridas destacavam-se em seu corpo exuberante, levando
nas costas a famosa espada “varal” de 90 centímetros de lâmina.
Se Kojiro mostrava-se tecnicamente superior a
Musashi, este possuía outras habilidades, como planejamento para uma estratégia
de combate.
Musashi derrota Kojiro
Na derradeira batalha final, em 1612, Musashi saiu
vencedor ao golpear com longo remo a cabeça de Kojiro. Isso porque o guerreiro
errante usou de planejamento estratégico para escapar do golpe
de Kojiro, chamado voo da andorinha e do qual ninguém jamais havia saído ileso.
Para safar-se da lâmina certeira, Musashi saltou
alto e, de cima, acertou o adversário. Tudo tinha sido planejado por Musashi,
que protegeu seu corpo com um cobertor por baixo das vestes, enquanto o outro
esperou sem nenhuma proteção.
Musashi chegou atrasado somente para irritar Kojiro
e quando chegou à praia em que o duelo iria se acontecer, ficou de costas
para o mar, pisando na areia endurecida pela água, ao contrário de Kojiro, que
teve que correr na areia fofa, o que causou desgaste físico. O sol da manhã
ficava nas costas de Musashi e de frente a Kojiro, cegando seus olhos.
Ao ver Musashi se aproximando com um remo nas mãos,
Kojiro teria desembainhado sua espada e a atirado na areia. Foi quando Musashi
o advertiu: “Kojiro, você acaba de perder esta luta”. Quem abandona a bainha,
segundo pensava Musashi, não a usará novamente para guardar a espada. E Kojiro
não teve mais motivos para guardá-la!
Musashi demonstrou
que não se perde a Glória ou Honra ao usar armas improvisadas, pois as armas
não têm mais habilidades por si só, na verdade a vitória é determinada pela maestria
da perícia e técnicas do guerreiro.
O duelo com Kojiro
foi um acontecimento importante na vida de Musashi, porque a partir daí ele
começou a refletir sobre como vencera tantos duelos e percebeu a necessidade de
dedicar-se a tarefa de deixar um legado para as futuras gerações.
Da espada ao pincel, a iluminação do perfeito
samurai - José
Yamashiro
Segundo suas próprias palavras,
Miyamoto Mu-sashi nasceu no ano de 1584, na então província de Harima, atual
Hyôgo-ken (província de Hyô-go). Seu pai chamava-se Shinmen Munisai Take-hito,
motivo pelo qual Musashi assina Shinmen Musashi neste livro. Seu sobrenome mais
conhecido, Miyamoto, vem da família materna. Musashi usava ainda o pseudônimo
de Niten, cujo significado é Dois Céus, ou Duplo Céu. Os estudiosos de sua obra
dizem que sua vida é apenas parcialmente conhecida, apresentando fases obscuras
e um longo período de cerca de duas décadas, dos 31 aos cinquenta anos de
idade, inteiramente envolto em mistério. Sabe-se que desde criança se
interessou vivamente pela arte da esgrima, o kenjutsu, da qual se tornou um dos
mais célebres mestres de toda a história do Japão. Musashi é o criador da
chamada Escola Nitô — Nitô-ryü, ou Nitô-íchi-ryü, que quer dizer Escola de Duas
Espadas —, também conhecida por Ichi-ryü e por Niten-Ichi-ryü, esta última
denominação derivada de seu pseudônimo. A escola caracteriza-se pelo uso
simultâneo de duas espadas, a longa e a curta, nos combates. Musashi pg.25
Musashi desde
criança demonstrou interesse pela arte da esgrima, esta arte que demanda muito
tempo de dedicação, encontrou nele a aptidão, perseverança e disciplina, seu
aprendizado foi crescendo a cada combate, a busca pela perfeição era impulso e
motivador para esta meta de vida, tal dedicação dá a seu nome uma referência
imortal.
...Musashi não se casou, mas
adotou um filho, a quem deu o nome de Miyamoto lori. Ambos aparecem em 1634 no
feudo de Kokura, norte de Kyúshü, onde lori ingressa no serviço do dai-mio
Ogasawara e faz carreira na hierarquia administrativa do território.Na Revolta
de Shimabara, pai e filho adotivo lutam lado a lado, integrando as forças do
suserano de Kokura contra os camponeses rebeldes. A valorosa atuação de Musashi
nos combates foi testemunhada por um alto funcionário do feudo de Higo, atual
Kumamoto-ken, que relatou o fato a seu senhor, Hosokawa Tadatoshi. Devido a
essa circunstância, Musashi foi convidado por Tadatoshi, em 1640, para a função
de mestre de esgrima no castelo de Kumamoto. Musashi serve a Tadatoshi não como
vassalo, mas na condição de convidado especial. Os dois se entendem bem, com
estima e respeito mútuos. No ano seguinte, Musashi escreveu, a pedido de Tadatoshi,
um pequeno tratado — mais um memorando — de sua arte, a que deu o título de
Heihô Sanjügo-jô, Os 35 artigos sobre a arte militar, no qual expõe as noções
básicas da arte da espada e o preparo espiritual indispensável ao samurai. Mas
Hosokawa Tadatoshi falece um mês depois de receber o trabalho, aos 54 anos de
idade, para profunda consternação de Musashi. Mitsunao, filho e sucessor de
Tadatoshi, também dispensa tratamento de especial deferência e simpatia ao
velho mestre da esgrima. Este, que já estava doente por ocasião da morte de
Tadatoshi, viu agravar-se sua moléstia nos anos seguintes. Nessa época, então,
passa a residir na caverna Rei-gandô e começa a freqüentar o mosteiro Ungen da
seita Soto, ligada à corrente zen-budista. Musashi p.27
Foi a partir daí, que
Musashi começou a se dedicar a outras artes como a pintura, escultura e poesia.
Os últimos anos de sua vida, Musashi passou como hóspede de seu amigo Hosokawa
Tadatoshi, período em que escreveu os “35 artigos na arte do Kenjutsu” a pedido
dele, e tendo frequentado o mosteiro acabou se isolou na caverna de Reigando
onde se dedicou a meditação e a prática de sua arte escrevendo ali mesmo o seu
“Livro dos Cinco Anéis”.
O mosteiro fica na frente da
caverna Reigandô, no monte Iwato, que pertence à cadeia de montanhas Kinbô,
cerca de doze quilômetros a oeste do castelo de Kumamoto. Na caverna,
desprovida de qualquer conforto material, Musashi entrega-se a rigorosos
exercícios espirituais sob a orientação de dois monges. De acordo com seu
pensamento de que o verdadeiro samurai deve conhecer e praticar outras artes,
além da militar, passa a aperfeiçoar-se em caligrafia — shôdô —, pintura,
escultura de imagens de Buda, cerimônia do chá e poesia. Na pintura,
destacou-se no gênero suibokuga, que trabalha com tinta nanquim, produzindo
belos quadros com pinceladas arrojadas e incisivas. Simultaneamente, continuou
a ministrar lições de esgrima a alguns poucos discípulos. “Reverenciar os
deuses e Buda, mas não contar com sua proteção”, esse era um de seus lemas.
Confiava em sua capacidade, no trabalho e no esforço próprios. Musashi p.28
Ilustração
de Bruno Cabral
Nesta
fase de sua vida dedicada também a sua espiritualidade, trabalhou
filosoficamente a maestria da esgrima conectando-se a concepção budista do
cosmos, os cinco elementos — Gorin — são a terra, a água, o fogo, o vento e o
vácuo. Entretanto, segundo a explicação do professor Watanabe Ichiro, embora o
livro esteja organizado em cinco capítulos com denominações retiradas daqueles
cinco elementos da cosmovisão budista, seu conteúdo apresenta pouca relação com
as ideias budistas. Em todos os capítulos, Musashi desenvolve sua peculiar
concepção de arte militar, proclamando as vantagens da Escola Nitô, por ele
criada. Obviamente, percebe-se que Musashi foi coerente a seus princípios mesmo
tendo mudado seu modo de vida, manteve-se coerente em sua autenticidade
trazendo para si a responsabilidade por seus atos e suas consequências, sem
contar com a sorte ou com a proteção de Buda.
Musashi procurou
conectar a arte militar a cosmovisão budista, sua atitude de retirar-se e
confinar-se ao ambiente da caverna, foi fruto de sua exposição a filosofia
Budista, ao seguir os mandamentos — michi em japonês, geralmente traduzido por
caníinho — expostos no Gorin no Sho sintetizam toda a sabedoria de vencer na
arte da esgrima e na vida de um singular samurai que, depois de atingir a
quintessência da arte da espada, decidiu recolher-se a uma caverna para
entregar-se à meditação. Ao buscar a perfeição nas belas artes e nas letras,
realiza o supremo ideal de sua classe: o Bunbu Ryôdô, a pena e a espada — artes
literárias e militares, ou virtudes civis e marciais, uma mudança tão radical
em seu modo de vida só poderia ter ocorrido como resultado de suas reflexões e
busca por aprimoramento.
Ao final de uma atribulada
existência, Musashi encontrou naquela caverna isolada na montanha ambiente
propício a suas reflexões sobre a vida e a arte militar. Ao ver a moléstia que
o afligia agravar-se e sentindo aproximar-se o fim, o mestre entregou o
original do Gorin no Sho a seu discípulo predileto-, Terão Magonojô. Morreu de
câncer no dia 19 de maio de 1645, aos 61 anos de idade. Em obediência à sua
última vontade, foi enterrado com sua armadura completa. A época em que viveu
Musashi foi de enorme importância na história do Japão.
Nesse mesmo dia, Musashi escreveu o manuscrito
Dokkodo (O Caminho do Andarilho Solitário), em que descreve 21 princípios de
vida.
O Dokkōdō (獨行道 Dokkōdō; "O Caminho da Solidão" ou "O Caminho a
ser Seguido Sozinho") foi um livro escrito por Miyamoto Musashi (宮本 武蔵) uma semana antes de morrer em 1645.
É um trabalho curto, consistindo vinte e um preceitos; os preceitos 4 e 20 são omitidos na primeira
versão. Foi composto quando Musashi entregou suas posses em preparação para a
morte, e foi dedicado ao seu discípulo favorito, Terao Magonojo (a quem o Gorin no Sho também fora dedicado).
Expressa um estilo de vida honesto e ascético.
Os
preceitos
- Aceite
tudo como é.
- Não
procure o prazer físico para seu próprio partido.
- Em
nenhuma circunstância, dependa de um sentimento parcial.
- Considere
a si mesmo com leveza; considere o mundo com profundidade.
- Durante
a sua vida, evita o desejo, até o próprio desejo de nada desejar.
- Não
lamente o que fez.
- Não
possua inveja.
- Não
se deixe entristecer por uma separação.
- Ressentimento
e reclamação são inadequadas tanto para si como para os outros.
- Não
deixe se guiar pelos sentimentos de luxuria ou amor.
- Em
todas as coisas, não tenha preferencias.
- Seja
indiferente ao local onde reside.
- Não
persiga o gosto da boa comida.
- Não
carregue bens que já não necessita.
- Não
aja de acordo com as crenças habituais.
- Não
colecione ou pratique com armas para além do necessário.
- Não
tenha receio da morte.
- Não
tenha a intenção de possuir objetos ou um feudo na velhice.
- Respeite
Buda e os deuses sem contar com o seu auxilio.
- Ainda
que abandone sua vida, preserve a sua honra.
- Nunca
se afaste do Caminho.
Musashi utilizando-se de metáforas estabeleceu
mandamentos necessários para a sobrevivência humana, onde definiu quatro
classes:
1. Mandamentos do lavrador. Munindo-se dos vários instrumentos necessários às
suas atividades, o lavrador observa com atenção os movimentos da natureza —
como as mudanças de estações — para tirar melhor proveito da terra. Essa é a
sua vida, sempre ocupada. E esses são os mandamentos do lavrador.
2. Mandamentos do mercador. O fabricante de saque adquire os utensílios
apropriados e retira de seu trabalho maior ou menor proveito. Vive do fruto de
sua produção e dos lucros que obtém. São esses os mandamentos do mercador.
3. Mandamentos do samurai. Ao dispor de toda sorte de armas e equipamentos,
deve o samurai conhecer todas as suas características. Eis os mandamentos da
arte samuraica. No entanto, aqueles que ignoram as qualidades dos seus
instrumentos militares e desconhecem suas vantagens não estarão negligenciando
os treinos diários e caindo no desleixo?
4. Mandamentos do artesão (tendo como protótipo o carpinteiro). Os
mandamentos do carpinteiro consistem em preparar com habilidade os mais
variados utensílios e instrumentos, bem como aprender a utilizá-los com
perícia, verificar com o esquadro a exatidão das medidas. Essa é a sua vida, a
qual ele dedica ao esforço de sempre exercer com perfeição o seu ofício.
Temos aí os quatro diferentes
caminhos de vida: do samurai, do lavrador, do artesão e do mercador. Tais correlações
demonstram a sua sabedoria ao fazer analogias com a vida pratica.
Musashi resolve também mostrar os
mandamentos da arte militar, fazendo um paralelo com os do carpinteiro. Para
isso, metaforicamente tomou como exemplo uma casa, e tudo o que a ela se
associa. Tanto podem ser casas da nobreza da corte imperial, de samurais, das
Quatro Famílias”, quanto ruínas de casas, bem como seus aspectos — assim, a
durabilidade, os tipos arquitetônicos, seus estilos, suas tradições. Tudo
considerado, decidiu comparar a arte militar aos mandamentos do carpinteiro. O
termo carpinteiro, daiku, significa grande planejador — no kanji —, razão por
que comparo os mandamentos da arte militar aos da profissão de carpinteiro. Se
alguém desejar aprender a arte militar, deve meditar sobre o que está escrito
neste livro. O discípulo precisa se dedicar a incessantes treinamentos e
prestar obediência ao mestre, sendo este a agulha e aquele a linha.
Ao
escrever esta obra, Musashi procurou dividi-la em cinco capítulos,
correspondentes à Terra, à Água, ao Fogo, ao Vento e ao Vácuo, a fim de expor
as peculiaridades de cada um, bem como suas vantagens.
No Capítulo da Terra expus em linhas gerais os mandamentos da arte militar e a razão de ser
da minha Escola Ichi. É muito difícil alcançar os verdadeiros mandamentos
apenas através da arte da esgrima, o kenjutsu. É preciso conhecer desde o
conjunto até os detalhes mais sutis, partindo do superficial para o profundo,
procurando atingir o imo das coisas. Como que consolidando as bases estruturais
«de uma estrada reta, dei ao primeiro capítulo o nome de Terra — o começo da
obra.
No segundo capítulo, Água, tomo como base esse elemento que evoca no
espírito humano a limpidez de sua imagem. Em seu estado líquido, a água toma de
imediato a forma do seu recipiente, seja ele quadrado ou redondo, e torna-se
uma gota ou um oceano. A sua tonalidade é o azul mais puro. Aproveito a limpidez
da água para escrever esse capítulo sobre a Escola Ichi. O kanji (ideografia)
aplicado à palavra vácuo tem ainda o significado de céu, espaço, firmamento,
nada, não-existêncía. Uma vez dominados os princípios da arte de esgrimir e
vencer, é possível derrotar qualquer adversário — não importa quem ele seja. Os
mesmos princípios que permitem vencer um só homem podem ser aplicados na luta
contra milhares e dezenas de milhares de inimigos. A tática militar de um
comandante — que consiste em aplicar as regras das pequenas unidades às grandes
unidades — é como esculpir a estátua em grandes dimensões de Buda a partir de
uma miniatura. É difícil explicar em detalhes como se faz tudo isso. O
princípio da arte militar tem como meta conhecer a unidade de uma coisa e, a
partir de então, entender dez mil. Assim, em linhas gerais, procuro fazer com
que o leitor possa entender a essência da Escola Ichi no capítulo intitulado
Água.
No terceiro capítulo, denominado Fogo, tenho como objetivo tratar dos combates. O fogo
pode ser grande ou pequeno, mas possui sempre extraordinária força de
transformação. O mesmo sucede com as batalhas, cujos mandamentos são iguais
tanto no combate de um contra um como nos confrontos de exércitos de dez mil
homens de cada lado. Qualquer situação precisa ser considerada tanto sob a
óptica do conjunto (o grande) quanto dos pormenores (o pequeno). Apreende-se o
conjunto facilmente, enquanto os detalhes só podem ser percebidos por um olho
muito atento. Dependendo das circunstâncias, é impossível mudar repentinamente
uma estratégia que envolve um contingente numeroso, ao passo que uma só pessoa
pode tomar de súbito a decisão de mudar alguma coisa, porquanto depende de um
só espírito. Nesse caso, porém, é difícil perceber os pormenores. Deve-se, pois,
fazer um exame crítico da situação. Neste Capítulo do Fogo está exposto, de
maneira implícita, que no duelo individual a vitória ou a derrota acontecem com
muita violência e rapidez, razão por que se exige treinamento constante, dia
após dia, a fim de que haja o devido preparo para enfrentar de pronto qualquer
emergência. Eis o ponto vital da «arte militar e o motivo pelo qual escrevo
sobre combates, vitória e derrota no Capítulo do Fogo.
No capítulo quarto, Vento, não abordo a minha Escola Ichi, mas trato de
outras escolas existentes. Ao mencionar o vento, faço referência tanto ao
estilo antigo quanto ao atual, assim como ao estilo das diferentes famílias,
etc. Descrevo com clareza a arte militar e os
feitos das demais escolas. Daí porque escolhi o título Vento. Sem conhecer bem
os outros, é difícil conhecer a nós mesmos. No percurso de nossas vidas,
encontramos sempre espíritos heréticos, que geram confusão. Mesmo procurando
cumprir com diligência os mandamentos, se o espírito se afastar da essência da verdade,
não estará seguindo corretamente os mandamentos, não obstante o corpo acredite
estar. Se não houver obediência estrita aos verdadeiros mandamentos, mesmo um
pequeno desvio espiritual resultará, posteriormente, em grande distorção. É
preciso refletir com muita clareza. Existem escolas que consideram a arte da
esgrima a única arte militar. Trata-se, porém, de um equívoco. Segundo os
princípios e técnicas da nossa arte militar, a esgrima ocupa lugar de destaque,
mas não é a única. Neste Capítulo do Vento, assim, exponho as características
de outras escolas a fim de dá-las a conhecer.
Já que
falo do Vácuo, no capítulo quinto, cabe indagar o que é o
começo e o que é o fim. Fu significa, além de vento (kazc), estilo,
aparência, costume, maneira, tipo. Desde que se adquire um determinado
conhecimento ou teoria, é preciso desprender-se dele: conquistar a razão e dela
afastar-se. Nos mandamentos da arte militar, encontro minha liberdade e consigo
um poder superior ao dos outros. Chegado o momento propício, conheço o ritmo.
Essa é a única maneira de alcançar o estágio espiritual no qual é possível
esquecer que se tem uma espada na mão, e a espada não sente a mão. Eis no que
consistem os mandamentos do Vácuo. Neste Capítulo do Vácuo faço referência à
minha experiência pessoal e à minha integração nos mandamentos da verdade
Na cosmovisão budista “os cinco elementos” ou “os
cinco anéis), podem ser representados na figura do “gorintō”. Gorintō é um tipo japonês de pagode budista que se
acredita ter sido adotado pela primeira vez pelas seitas Shingon e Tendai
durante o período Heian. É usado para fins memoriais ou funerários e, portanto,
é comum em templos e cemitérios budistas.
Em sua forma completa e original essa gorinto representa
os cinco elementos da cosmologia budista.
A parte mais inferior, tocando o chão, representa
o chi, a terra. A próxima seção representa sui ou água.
Ka ou fogo, é representado pela seção
que envolve a luz ou chama da lanterna.
O fū (ar) e k (vazio ou
espírito) são representados pelas duas últimas seções, mais acima e apontando
para o céu, significa a energia divina, que mantém todos os elementos em
harmonia.
Os segmentos expressam a ideia de que, após a
morte, nossos corpos físicos retornarão à sua forma original e elementar.
Gorinto
A
história de sua vida tornou-se uma lenda e forte inspiração para o imaginário
japonês, tomou proporções gigantescas, sendo inspiração para diversos tipos de
arte e significação, tais como:
Inspirando diversas gravuras Ukiyo-e (浮世絵, "retratos do mundo
flutuante", em sentido literal, vulgarmente também conhecido como estampa
japonesa, é um gênero de xilogravura e pintura que prosperou no Japão entre os
séculos XVII e XIX),
Livros: Musashi (宮本武蔵 Miyamoto Musashi) é um romance histórico escrito por Eiji Yoshikawa e publicado em capítulos em 1935 no jornal Asahi Shimbun. É o romance mais vendido da história do Japão, ultrapassando 120 milhões de cópias em suas diversas edições
Wilsom, William
Scott.Samurai, o - a Vida de Miyamoto Musashi, Editora Estação Liberdade, 2009
Musica: Sun and steel - canção de Iron Maiden
Filmes: Musashi – Trilogia Samurai (Samurai: O Guerreiro Dominante, Morte no Templo Ichijoji, Duelo na Ilha Ganryujima). País de produção: Japão, Ano de produção: 1954-56, Gênero: Épico, Direção: Hiroshi Inagaki, Elenco: Toshiro Mifune, Kaoru Yachigusa, Eiko Miyoshi,
Rentaro Mikuni, Mariko Okada, Akihiro Hirata, Kuroemon Onoe, Mitsuko
Mito, Kusuo Abe, Akihiko Hirata, Koji Tsuruta, Minoru Chiaki; Idioma: Japonês; Áudio: Dolby Digital 2.0; Legenda: Português
Séries de TV: "Serie Miyamoto Musashi", Obras de Tomu Uchida do início dos anos 60 têm exibição grátis com legendas em inglês
Mangás (histórias em quadrinhos): Atualmente Vagabond é licenciado e publicado no Brasil pela editora Panini Comics. Vagabond ganhou no ano de 2000 o Prêmio Mangá Kodansha e em 2002 o Grande Prêmio no Prêmio Cultural Osamu Tezuka, e já vendeu mais de 82 milhões de cópias em todo o mundo.
Video Games: Brave Fencer Musashi ( título em japonês: ブレイヴフェンサー 武蔵伝 Bureivu Fensā Musashiden) é um jogo eletrônico do gênero RPG/ação desenvolvido e lançado pela Square (atualmente Square Enix) em 1998 para o Sony PlayStation.
O jogo apresenta combate em tempo real num ambiente 3D, contando com
dublagens na maioria dos diálogos. A trilha sonora de Brave Fencer
Musashi foi composta por Tsuvoshi Sekito, ex-funcionário da Konami.
Referencias bibliográficas:
Wilsom, William
Scott. Samurai, o - a Vida de Miyamoto Musashi, Editora Estação Liberdade, 2009
Sites consultados:
https://mundo-nipo.com/cultura-japonesa/herois-e-guerreiros/12/10/2016/historia-da-vida-real-do-samurai-miyamoto-musashi/
(consultado em 03/08/2020 ás 06:50hs)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dokk%C5%8Dd%C5%8D
(consultado em 04/08/2020 ás 09:47hs)