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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Os Demônios de Dostoievsky


Imagine-se embarcando em uma jornada literária que te leva a explorar as complexidades da alma humana e a desvendar os enigmas de uma sociedade em ebulição. Foi exatamente assim que me encontrei ao iniciar a leitura de "Os Demônios" de Dostoievsky. Cativado pela promessa de uma narrativa que transcende o tempo, me vi imerso em um mundo de personagens intrigantes e debates intensos sobre ideologias, liberdade e as sombras que habitam nossas próprias naturezas. Poucas obras têm o poder de capturar a essência da condição humana de maneira tão profunda, e é com entusiasmo que compartilho as reflexões inspiradas por este clássico literário que, mesmo escrito há mais de um século, continua a ressoar nas complexidades do nosso cotidiano.

"Os Demônios" (ou "Os Possessos"), escrito por Fyodor Dostoievsky e publicado em 1872, é uma obra complexa e profunda que mergulha nas complexidades da sociedade russa do século XIX, explorando temas como revolução, niilismo e a luta entre o bem e o mal. A narrativa, rica em personagens intrigantes, oferece uma visão penetrante das tensões políticas e ideológicas da época, ao mesmo tempo em que mergulha nas profundezas da psique humana.

O enredo se desenrola em uma pequena cidade russa onde um grupo de intelectuais radicais, liderados por Piotr Verkhovensky, busca instigar a revolução como uma resposta à decadência moral e social percebida. Os personagens representam diferentes facetas da sociedade, e suas interações complexas lançam luz sobre as contradições e os conflitos inerentes à condição humana. Nikolai Stavrogin, um personagem enigmático e central na trama, é retratado como um "demônio" em uma perspectiva metafórica, simbolizando a corrupção moral e espiritual. Sua presença influencia o curso dos eventos de maneiras imprevisíveis, e sua complexidade psicológica adiciona camadas profundas à narrativa.

Dostoievsky utiliza "Os Demônios" como uma plataforma para explorar a natureza da liberdade, a responsabilidade individual e as consequências sociais das ideologias extremas. Ele tece um retrato crítico das ideias niilistas e radicais que estavam em ascensão na Rússia, alertando sobre os perigos de seguir cegamente utopias políticas sem considerar as implicações morais e éticas. A escrita de Dostoievsky é caracterizada por sua riqueza psicológica, diálogos intensos e observações perspicazes sobre a condição humana. "Os Demônios" desafia os leitores a refletirem sobre questões profundas relacionadas à sociedade, à moralidade e à busca do significado na vida. Esta obra magistral continua a ser uma leitura relevante e provocativa, oferecendo uma visão inesquecível da complexidade da natureza humana e das tensões sociais que moldam o destino das nações.

"Os Demônios" de Dostoievsky, apesar de situado em uma Rússia do século XIX, oferece analogias intrigantes com aspectos do nosso cotidiano atual. A obra aborda temas universais que transcendem o tempo e o espaço, permitindo-nos encontrar paralelos com questões contemporâneas. Aqui estão algumas analogias que podem ser traçadas:

Extremismo Ideológico e Polarização Política: Assim como no livro, onde personagens extremistas buscam instigar a revolução com base em ideologias radicais, podemos observar paralelos com a polarização política e o extremismo ideológico em nosso tempo. A ascensão de movimentos radicais, debates acalorados e a busca por mudanças sociais muitas vezes refletem as tensões políticas e ideológicas descritas por Dostoievsky.

Consequências das Ideologias Extremas: A obra alerta sobre as consequências imprevisíveis e perigosas das ideologias extremas. Isso pode ser relacionado a movimentos ou ideias contemporâneas que, quando seguidos sem questionamento crítico, podem resultar em consequências não desejadas e, por vezes, prejudiciais para a sociedade.

Corrupção Moral e Espiritual: A representação de Nikolai Stavrogin como um "demônio" simbolizando corrupção moral e espiritual pode ser associada a figuras públicas ou a questões sociais que desafiam os valores éticos fundamentais. A corrupção, seja ela moral, política ou institucional, é uma preocupação constante em várias sociedades.

Desafios da Liberdade Individual: A discussão sobre a natureza da liberdade e a responsabilidade individual é relevante em nosso cotidiano, especialmente em meio a debates sobre direitos individuais, liberdade de expressão e o equilíbrio entre a autonomia pessoal e o bem comum.

Impacto da Tecnologia e Comunicação: Embora não seja um tema central na obra, a dinâmica da comunicação e da tecnologia pode ser associada à forma como as ideias se espalham e ganham força na sociedade contemporânea. A influência das redes sociais e da mídia na formação de opiniões pode ser comparada à disseminação de ideias no contexto do romance.

Ao fazer essas analogias, é importante reconhecer que as comparações são sempre simplificações e que as obras literárias podem ser interpretadas de várias maneiras. No entanto, encontrar conexões entre "Os Demônios" e nosso cotidiano permite uma reflexão mais profunda sobre os desafios sociais e éticos que persistem ao longo do tempo. A literatura tem destas coisas, carregam mensagens, ensinamentos, histórias que a posteridade se apropria e a partir delas faz leituras e analogias da realidade e do cotidiano. Realmente é uma bela obra, vale muito a pena ler e desfrutar da beleza literária.

Fonte:

Dostoievski, Fiódor. Os Demônios. Tradução Paulo Bezerra. Editora 34 Ltda. São Paulo.Ed. 2013

 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Resenha do livro A Cor Purpura de Alice Walker

A primeira vez que tive contato com esta história foi a muitos anos atrás quando assisti ao filme “A Cor Púrpura” de Steven Spielberg, um dos filmes mais aclamados nos anos 80, estrelado por Whoopie Goldberg, Danny Glover e Oprah Winfrey, foi inspirado no livro de Alice Walker, muitos anos depois li o livro pela primeira vez e a poucos dias reli o livro, a história é tocante e ao mesmo tempo violenta, mostra a realidade de muitas mulheres abusadas em seu ambiente familiar, independentemente da cor da pele, infelizmente a história se repete anos após ano como uma praga mesmo com a existência da importantíssima Lei da Maria da Penha estabelecendo limites e penalidades dirigidos aos monstros que habitam muitos lares, a questão é saber se o monstro por ser monstro ciente da lei o impediria de fazer o que faz, mas ai já é outro papo. Voltemos ao livro.

 

Tanto o filme como o livro, ambos conseguem emocionar quem vê ou lê, quem lê tem a vantagem da imaginação, a história terá um colorido particular, a sensibilidade de cada um dará profundidade a luta uma constante e recorrente, seja ela física, moral ou espiritual.

Ao mesmo tempo a história é portadora de ternura, de amor e de personagens que demonstram sua capacidade de reinvenção e, sobretudo, de muito afeto, a vida de cada personagem está entrelaçada, tendo as mulheres personalidades de superação e luta, lutando cada uma a sua maneira evoluindo à medida que a vida vai lhes proporcionando vivencias e experiências que as tornaram resilientes e maduras.

 

Em 2016, o selo José Olympio republicou “A cor púrpura” de Alice Walker – um livro que marcou época quando foi publicado originalmente, na década de 80. A história foi ambientada no sul dos Estados Unidos antes da Segunda Guerra (e antes do movimento pelos direitos civis), a obra nos apresenta a vida das pessoas negras que viviam no limbo entre a escravidão e a liberdade, um povo sem terra e sem pátria, seja na África, onde nasceram e de onde vieram, seja nos Estados Unidos, onde eram considerados cidadãos de segunda classe, situação que para nós brasileiros é fato histórico bastante conhecido, infelizmente ainda há o repugnante preconceito racial.

 

A história possui pontos cruciais que a elevam de algo simples e triste a uma análise de uma época onde explicitam o feminismo intrínseco, o racismo histórico, questionamento sobre religião, gênero e o papel das mulheres na sociedade, é um retrato que traz à baila muitos aspectos até hoje alvos de lutas sociais.

 

“Celie, fala a verdade, você alguma vez encontrou Deus na igreja? Eu nunca. Eu só encontrei um bando de gente esperando ele aparecer. Se alguma vez eu senti Deus na igreja foi o Deus queu já tinha levado comigo. E eu acho que todo o pessoal também. Eles vão pra igreja para repartir Deus, não para achar Deus.”

 

O livro é um compilado de várias cartas, a maioria escrita por Celie. Celie a personagem principal endereça as cartas, no começo, para o “Querido Deus” – a única “pessoa” que ela acredita que a escutaria, escreve a Ele somente para desabafar, não pede clemencia, inclusive diz que Ele, “talvez estivesse dormindo” por não ver tudo o que estava acontecendo. É nessas cartas e em suas próprias palavras mal escritas (já que ela é semianalfabeta e escreve com dificuldade) que descobrimos que a vida de Celie, desde muito cedo, foi de tristeza e sofrimento, no decorrer da trama vai se construindo uma forte empatia com a anfitriã e muita aversão as situações de sofrimento que envolve aquelas mulheres. Celie é a mais velha entre vários irmãos, órfã de mãe, ela é constantemente estuprada pelo pai e engravida duas vezes. As duas crianças desaparecem e ela acredita que o pai matou o filho e deu a menina para alguém.

 

Celie na tentativa de proteger a irmã mais nova, sofreu constantes abusos sexuais do pai, quando sua mãe morre, o pai decide tirá-la terminantemente de casa, na tentativa de afastá-la da irmã mais nova, Nessie, dando-a em casamento para Albert, um fazendeiro da região que também cortejava sua irmã, que decide fugir em busca de uma vida diferente.

 

Celie é obrigada pelo pai a casar com o seu vizinho fazendeiro Albert, ele é um homem violento e bate nela para que ela “o obedeça”, a trata como um animal desobediente. Isso acontece até aparecer a amante que irá morar com eles, Shug Avery – uma cantora de má reputação que fica doente. O marido de Celie, Albert, é apaixonado por Shug e eles tiveram um caso e três filhos antes dele ser forçado pelo pai a casar com uma “moça de família” que é Celie. Ele traz Shug Avery para casa para que possa cuidar dela.

 

Celie tem dificuldade de reagir a esta nova situação, entre os abusos do pai e os maus tratos do marido, ela afunda na depressão, concentrada em trabalhar na roça e cuidar dos filhos do primeiro casamento de Albert, segue assim neste sofrimento, suas palavras resumem seu sentimento:

“Mas eu num sei como brigar. Tudo o queu sei fazer é cuntinuar viva.”

A situação e reação de Celie surpreendentemente começam a mudar com a chegada de Avery Shug, a amante de Albert. No começo, as duas se estranham. Avery diz para Celie que “ela é mesmo feia”, e Celie se sente pouco à vontade em sua insignificância perto da exuberância de Shug, que emana rebeldia, alta autoestima, segurança e decisão, ela representa tudo que Celie não é.

A relação entre as duas se torna mais próxima, inclusive se tornam amigas, uma se apoia na outra, Shug vai contribuir para a reviravolta na vida de Celie, lhe garantindo autonomia e independência, esse caminho tortuoso, torna a leitura mais empolgante a cada passo dado por Celie em direção à autonomia e liberdade, felicidade é outra coisa que levará muito tempo para ela conquistar, pois as marcas em sua vida são muito profundas, vem desde sua infância até a idade adulta.

 

Ela falou, Dona Celie, é melhor você falar baixo. Deus pode escutar você. Deixa ele escutar, eu falei. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra o mundo seria um lugar bem diferente, eu posso garantir.

 

Toda minha vida eu tive que brigar. Eu tive que brigar com meu pai. Tive que brigar com meus irmão. Tive que brigar com meus primo e meus tio. Uma criança mulher num tá sigura numa família de homem. Mas eu nunca pensei que ia ter que brigar na minha própria casa.” (Celie transcrevendo fala de Sofia)

 

Os demais personagens também são importantes contam boas histórias, simbolizando cada um a embates específicos. Em seu entorno, os negros também sofrem preconceito de raça. Aqueles que ousam se levantar, como Sofia, a esposa de um dos filhos de Albert, acabam tendo um destino ainda pior. Sofia, que não aceitou as agressões gratuitas da esposa do prefeito e a agrediu, acabou atrás das grades, em uma prisão de condições subumanas, que quase a mataram, ficando com graves sequelas.

Trata-se de uma leitura cativante e emocionante, o que fica ao final é uma lição de amor, e também uma sensação de mais narrativas de momentos de felicidade na vida Celie, pois é muito tempo narrando sofrimento, no entanto os sofrimentos foram duras lições na vida de Celie, que aprende a amar a si mesma e aos outros, como após o aprendizado tivesse uma segunda chance, numa outra caminhada, até mesmo Albert tem uma segunda chance, quando fica sozinho e tem que aprender, aos trancos e barrancos, como se cuidar.

 

Fonte:

Walker, Alice. A cor púrpura; tradução Betúlia Machado , Maria José Silveira, Peg Bodelson. - 1. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Resenha do “O Livro dos Cinco Elementos” (O livro dos cinco anéis) – Gorin no Sho de Musashi Miyamoto

Capa do Livro

Obra: Musashi, Miyamoto – O livro dos cinco anéis. Tradução do japonês José Yamashiro, Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015. (Coleção Estratégia)

O livro não é apenas um tratado de artes marciais, se alguém buscar na leitura tal aprendizado irá se decepcionar, antes de tudo o livro trata de uma filosofia levada para arte do viver e vencer, a obra de Musashi é lida ainda hoje como manual de ensinamentos filosóficos e também como guia para o sucesso empresarial.

Musashi se inscreverá na memória da posteridade pelo livro que deixou “Gorin no Sho”, O livro dos cinco elementos, como Yamashiro aptamente o denomina em sua tradução, e não “dos cinco círculos ou “dos cinco anéis”, o best seller mundial é considerado uma leitura obrigatória dos aguerridos executivos ocidentais quanto de homens e mulheres em busca dos caminhos da iluminação interior e da sabedoria.

Este livro vem sendo traduzido e reeditado no mundo inteiro, foi o entusiasmo em torno do guerreiro que levou a um renovado interesse por seu legado espiritual: a filosofia e a arte de sempre vencer, contidas no Gorin no Sho, o livro é uma suma da estratégia para a vitória em qualquer campo e contra qualquer inimigo, estudar seus ensinamentos é se conectar a sabedoria do passado, como viajantes no tempo que somos, procuramos sabiamente compreender os caminhos e os valores humanos.

O Japão é conhecido por sua cultura milenar e valorizar e cultuar suas tradições, logo não poderia deixar de valorizar a história de “Musashi, ele é tão atual que na língua japonesa existem figuras de linguagem que se referem ao caráter “musashiano”, revelando que, provavelmente, o seu nome seja tão ou mais conhecido do que importantes personalidades da história e cultura japonesas.

Musashi viveu num período em que o Xogunato era o sistema de governo predominante no Japão de 1192 a 1867, baseado na crescente autoridade do xógum, supremo líder militar, que terminaria por submeter até mesmo a autoridade do imperador [A retomada do poder imperial determinou o encerramento do feudalismo japonês baseado no xogunato, a abertura do país ao exterior e o início de sua ocidentalização. É importante dizer que Musashi era um caso muito particular, pois não tinha senhor e vivia por conta própria, em uma época quando as guerras já haviam acabado.

Ilustração de Bruno Cabral

Musashi (1584-1645), viveu numa época de inflexão (mudança de direção) na história japonesa, que apresenta marcante analogia com a do Japão de hoje. Após os 250 anos do xogunato Ashikaga, todo ele convulsionado por incessantes guerras entre os barões feudais, a partir da batalha de Sekigahara (l600), de que Musashi teria participado, instaura-se o xogunato Tokugawa, que daria 250 anos de paz ao Japão. Se a Era Ashikaga fora a da atividade marcial, a Era Tokugawa será a das atividades civis e do espírito. O pincel adquire precedência sobre a espada, o samurai guerreiro terá de se reencarnar no samurai administrador.

Os feitos do passado consagram-se como alegorias; embainhada, fora dos campos de batalha, a espada passa a ser cultivada nas academias; as virtudes marciais se institucionalizam nos códigos; o bushido (código ético dos guerreiros) encontra seus teóricos. São dessa época os trabalhos de Yamaga Soko, Shidô (1665), e o Hagakure (1716), de Yamamoto Tsunetomo, nos quais se exaltam as virtudes do guerreiro, e é nesse período que proliferam as escolas de artes marciais (ryü) e os samurais desempregados (rôniri) peregrinam pelo Japão em busca de adversários com os quais possam medir sua mestria. É igualmente desse período (1701) o episódio dos 47 rônin, que configura na história japonesa a expressão máxima das virtudes samuraicas.

Musashi é, assim, um símbolo vivo de seu tempo, samurai rônin que transita da espada para o pincel, tentando reencontrar um destino e redefinir o significado de sua vida em um novo Japão. Nada poderia ser mais significativo de sua busca do que o fato de que remate sua vida dedicado a atividades artístico-artesanais e de que deixe como sua última mensagem o Gorin no Sho, onde codifica a estratégia — essência das artes marciais —, livro que se insere na mesma tendência que viria a motivar posteriormente o Shi-dô e o Hagakure, acima citados. O guerreiro se transforma em eremita, o espadachim, em mestre escrito. (pg.16 á 18)

Como mostra o livro, Musashi foi uma lenda de seu tempo, simbolizou o auge do bushido (caminho do guerreiro), no qual um homem que empunhava uma espada representava o máximo da realização individual. Aos treze anos, Miyamoto Musashi matou um adversário no que seria o primeiro de uma excepcional série de célebres combates de espada. Ignorando as convenções, ele preferia uma espada de madeira e em seus anos de maturidade nunca lutou com uma arma autêntica. Aos trinta, já tinha despachado mais de sessenta lutas sem perder nenhuma, ele viveria outros trinta anos sem liquidar mais ninguém. Continuaria a participar de combates, mas agora simplesmente neutralizando os ataques dos adversários até eles reconhecerem suas habilidades nas mais diversas técnicas.

Foi um mestre em aniquilar os inimigos usando recursos psicológicos que estudava exaustivamente antes dos combates. Musashi orientava seus estudos tão arduamente conquistados sobre as artes combatentes para metas espirituais de cunho zen-budista.

Ilustração de Bruno Cabral

Um combate histórico: O fanfarrão Sasaki Kojiro

Não apenas os membros da academia Yoshioka nutriam sentimento de vingança contra Musashi como também Sasaki Kojiro. Tanto Musashi como Kojiro eram jovens samurais em busca do aperfeiçoamento espiritual através da arte guerreira.

Enquanto Musashi se mostrava simples no uso das palavras e moderação em demonstrar a perícia nas armas, Kojiro era um fanfarrão. Suas roupas coloridas destacavam-se em seu corpo exuberante, levando nas costas a famosa espada “varal” de 90 centímetros de lâmina.

Se Kojiro mostrava-se tecnicamente superior a Musashi, este possuía outras habilidades, como planejamento para uma estratégia de combate.

Musashi derrota Kojiro

Na derradeira batalha final, em 1612, Musashi saiu vencedor ao golpear com longo remo a cabeça de Kojiro. Isso porque o guerreiro errante usou de planejamento estratégico para escapar do golpe de Kojiro, chamado voo da andorinha e do qual ninguém jamais havia saído ileso.

Para safar-se da lâmina certeira, Musashi saltou alto e, de cima, acertou o adversário. Tudo tinha sido planejado por Musashi, que protegeu seu corpo com um cobertor por baixo das vestes, enquanto o outro esperou sem nenhuma proteção.

Musashi chegou atrasado somente para irritar Kojiro e quando chegou à praia em que o duelo iria se acontecer, ficou de costas para o mar, pisando na areia endurecida pela água, ao contrário de Kojiro, que teve que correr na areia fofa, o que causou desgaste físico. O sol da manhã ficava nas costas de Musashi e de frente a Kojiro, cegando seus olhos.

Ao ver Musashi se aproximando com um remo nas mãos, Kojiro teria desembainhado sua espada e a atirado na areia. Foi quando Musashi o advertiu: “Kojiro, você acaba de perder esta luta”. Quem abandona a bainha, segundo pensava Musashi, não a usará novamente para guardar a espada. E Kojiro não teve mais motivos para guardá-la!

Musashi demonstrou que não se perde a Glória ou Honra ao usar armas improvisadas, pois as armas não têm mais habilidades por si só, na verdade a vitória é determinada pela maestria da perícia e técnicas do guerreiro.

O duelo com Kojiro foi um acontecimento importante na vida de Musashi, porque a partir daí ele começou a refletir sobre como vencera tantos duelos e percebeu a necessidade de dedicar-se a tarefa de deixar um legado para as futuras gerações.

Da espada ao pincel, a iluminação do perfeito samurai - José Yamashiro

 

Segundo suas próprias palavras, Miyamoto Mu-sashi nasceu no ano de 1584, na então província de Harima, atual Hyôgo-ken (província de Hyô-go). Seu pai chamava-se Shinmen Munisai Take-hito, motivo pelo qual Musashi assina Shinmen Musashi neste livro. Seu sobrenome mais conhecido, Miyamoto, vem da família materna. Musashi usava ainda o pseudônimo de Niten, cujo significado é Dois Céus, ou Duplo Céu. Os estudiosos de sua obra dizem que sua vida é apenas parcialmente conhecida, apresentando fases obscuras e um longo período de cerca de duas décadas, dos 31 aos cinquenta anos de idade, inteiramente envolto em mistério. Sabe-se que desde criança se interessou vivamente pela arte da esgrima, o kenjutsu, da qual se tornou um dos mais célebres mestres de toda a história do Japão. Musashi é o criador da chamada Escola Nitô — Nitô-ryü, ou Nitô-íchi-ryü, que quer dizer Escola de Duas Espadas —, também conhecida por Ichi-ryü e por Niten-Ichi-ryü, esta última denominação derivada de seu pseudônimo. A escola caracteriza-se pelo uso simultâneo de duas espadas, a longa e a curta, nos combates. Musashi pg.25

 Musashi desde criança demonstrou interesse pela arte da esgrima, esta arte que demanda muito tempo de dedicação, encontrou nele a aptidão, perseverança e disciplina, seu aprendizado foi crescendo a cada combate, a busca pela perfeição era impulso e motivador para esta meta de vida, tal dedicação dá a seu nome uma referência imortal.

 

...Musashi não se casou, mas adotou um filho, a quem deu o nome de Miyamoto lori. Ambos aparecem em 1634 no feudo de Kokura, norte de Kyúshü, onde lori ingressa no serviço do dai-mio Ogasawara e faz carreira na hierarquia administrativa do território.Na Revolta de Shimabara, pai e filho adotivo lutam lado a lado, integrando as forças do suserano de Kokura contra os camponeses rebeldes. A valorosa atuação de Musashi nos combates foi testemunhada por um alto funcionário do feudo de Higo, atual Kumamoto-ken, que relatou o fato a seu senhor, Hosokawa Tadatoshi. Devido a essa circunstância, Musashi foi convidado por Tadatoshi, em 1640, para a função de mestre de esgrima no castelo de Kumamoto. Musashi serve a Tadatoshi não como vassalo, mas na condição de convidado especial. Os dois se entendem bem, com estima e respeito mútuos. No ano seguinte, Musashi escreveu, a pedido de Tadatoshi, um pequeno tratado — mais um memorando — de sua arte, a que deu o título de Heihô Sanjügo-jô, Os 35 artigos sobre a arte militar, no qual expõe as noções básicas da arte da espada e o preparo espiritual indispensável ao samurai. Mas Hosokawa Tadatoshi falece um mês depois de receber o trabalho, aos 54 anos de idade, para profunda consternação de Musashi. Mitsunao, filho e sucessor de Tadatoshi, também dispensa tratamento de especial deferência e simpatia ao velho mestre da esgrima. Este, que já estava doente por ocasião da morte de Tadatoshi, viu agravar-se sua moléstia nos anos seguintes. Nessa época, então, passa a residir na caverna Rei-gandô e começa a freqüentar o mosteiro Ungen da seita Soto, ligada à corrente zen-budista.  Musashi p.27

 Foi a partir daí, que Musashi começou a se dedicar a outras artes como a pintura, escultura e poesia. Os últimos anos de sua vida, Musashi passou como hóspede de seu amigo Hosokawa Tadatoshi, período em que escreveu os “35 artigos na arte do Kenjutsu” a pedido dele, e tendo frequentado o mosteiro acabou se isolou na caverna de Reigando onde se dedicou a meditação e a prática de sua arte escrevendo ali mesmo o seu “Livro dos Cinco Anéis”.

 

O mosteiro fica na frente da caverna Reigandô, no monte Iwato, que pertence à cadeia de montanhas Kinbô, cerca de doze quilômetros a oeste do castelo de Kumamoto. Na caverna, desprovida de qualquer conforto material, Musashi entrega-se a rigorosos exercícios espirituais sob a orientação de dois monges. De acordo com seu pensamento de que o verdadeiro samurai deve conhecer e praticar outras artes, além da militar, passa a aperfeiçoar-se em caligrafia — shôdô —, pintura, escultura de imagens de Buda, cerimônia do chá e poesia. Na pintura, destacou-se no gênero suibokuga, que trabalha com tinta nanquim, produzindo belos quadros com pinceladas arrojadas e incisivas. Simultaneamente, continuou a ministrar lições de esgrima a alguns poucos discípulos. “Reverenciar os deuses e Buda, mas não contar com sua proteção”, esse era um de seus lemas. Confiava em sua capacidade, no trabalho e no esforço próprios. Musashi p.28

 

Ilustração de Bruno Cabral

 Nesta fase de sua vida dedicada também a sua espiritualidade, trabalhou filosoficamente a maestria da esgrima conectando-se a concepção budista do cosmos, os cinco elementos — Gorin — são a terra, a água, o fogo, o vento e o vácuo. Entretanto, segundo a explicação do professor Watanabe Ichiro, embora o livro esteja organizado em cinco capítulos com denominações retiradas daqueles cinco elementos da cosmovisão budista, seu conteúdo apresenta pouca relação com as ideias budistas. Em todos os capítulos, Musashi desenvolve sua peculiar concepção de arte militar, proclamando as vantagens da Escola Nitô, por ele criada. Obviamente, percebe-se que Musashi foi coerente a seus princípios mesmo tendo mudado seu modo de vida, manteve-se coerente em sua autenticidade trazendo para si a responsabilidade por seus atos e suas consequências, sem contar com a sorte ou com a proteção de Buda.

Musashi procurou conectar a arte militar a cosmovisão budista, sua atitude de retirar-se e confinar-se ao ambiente da caverna, foi fruto de sua exposição a filosofia Budista, ao seguir os mandamentos — michi em japonês, geralmente traduzido por caníinho — expostos no Gorin no Sho sintetizam toda a sabedoria de vencer na arte da esgrima e na vida de um singular samurai que, depois de atingir a quintessência da arte da espada, decidiu recolher-se a uma caverna para entregar-se à meditação. Ao buscar a perfeição nas belas artes e nas letras, realiza o supremo ideal de sua classe: o Bunbu Ryôdô, a pena e a espada — artes literárias e militares, ou virtudes civis e marciais, uma mudança tão radical em seu modo de vida só poderia ter ocorrido como resultado de suas reflexões e busca por aprimoramento.

 

Ao final de uma atribulada existência, Musashi encontrou naquela caverna isolada na montanha ambiente propício a suas reflexões sobre a vida e a arte militar. Ao ver a moléstia que o afligia agravar-se e sentindo aproximar-se o fim, o mestre entregou o original do Gorin no Sho a seu discípulo predileto-, Terão Magonojô. Morreu de câncer no dia 19 de maio de 1645, aos 61 anos de idade. Em obediência à sua última vontade, foi enterrado com sua armadura completa. A época em que viveu Musashi foi de enorme importância na história do Japão.

Nesse mesmo dia, Musashi escreveu o manuscrito Dokkodo (O Caminho do Andarilho Solitário), em que descreve 21 princípios de vida.

O Dokkōdō (獨行道 Dokkōdō; "O Caminho da Solidão" ou "O Caminho a ser Seguido Sozinho") foi um livro escrito por Miyamoto Musashi (宮本 武蔵) uma semana antes de morrer em 1645. É um trabalho curto, consistindo vinte e um preceitos; os preceitos 4 e 20 são omitidos na primeira versão. Foi composto quando Musashi entregou suas posses em preparação para a morte, e foi dedicado ao seu discípulo favorito, Terao Magonojo (a quem o Gorin no Sho também fora dedicado). Expressa um estilo de vida honesto e ascético.

Os preceitos

  1. Aceite tudo como é.
  2. Não procure o prazer físico para seu próprio partido.
  3. Em nenhuma circunstância, dependa de um sentimento parcial.
  4. Considere a si mesmo com leveza; considere o mundo com profundidade.
  5. Durante a sua vida, evita o desejo, até o próprio desejo de nada desejar.
  6. Não lamente o que fez.
  7. Não possua inveja.
  8. Não se deixe entristecer por uma separação.
  9. Ressentimento e reclamação são inadequadas tanto para si como para os outros.
  10. Não deixe se guiar pelos sentimentos de luxuria ou amor.
  11. Em todas as coisas, não tenha preferencias.
  12. Seja indiferente ao local onde reside.
  13. Não persiga o gosto da boa comida.
  14. Não carregue bens que já não necessita.
  15. Não aja de acordo com as crenças habituais.
  16. Não colecione ou pratique com armas para além do necessário.
  17. Não tenha receio da morte.
  18. Não tenha a intenção de possuir objetos ou um feudo na velhice.
  19. Respeite Buda e os deuses sem contar com o seu auxilio.
  20. Ainda que abandone sua vida, preserve a sua honra.
  21. Nunca se afaste do Caminho.

Musashi utilizando-se de metáforas estabeleceu mandamentos necessários para a sobrevivência humana, onde definiu quatro classes:

 1.      Mandamentos do lavrador. Munindo-se dos vários instrumentos necessários às suas atividades, o lavrador observa com atenção os movimentos da natureza — como as mudanças de estações — para tirar melhor proveito da terra. Essa é a sua vida, sempre ocupada. E esses são os mandamentos do lavrador.

2.      Mandamentos do mercador. O fabricante de saque adquire os utensílios apropriados e retira de seu trabalho maior ou menor proveito. Vive do fruto de sua produção e dos lucros que obtém. São esses os mandamentos do mercador.

 3.      Mandamentos do samurai. Ao dispor de toda sorte de armas e equipamentos, deve o samurai conhecer todas as suas características. Eis os mandamentos da arte samuraica. No entanto, aqueles que ignoram as qualidades dos seus instrumentos militares e desconhecem suas vantagens não estarão negligenciando os treinos diários e caindo no desleixo?

 4.      Mandamentos do artesão (tendo como protótipo o carpinteiro). Os mandamentos do carpinteiro consistem em preparar com habilidade os mais variados utensílios e instrumentos, bem como aprender a utilizá-los com perícia, verificar com o esquadro a exatidão das medidas. Essa é a sua vida, a qual ele dedica ao esforço de sempre exercer com perfeição o seu ofício.

Temos aí os quatro diferentes caminhos de vida: do samurai, do lavrador, do artesão e do mercador. Tais correlações demonstram a sua sabedoria ao fazer analogias com a vida pratica.

Musashi resolve também mostrar os mandamentos da arte militar, fazendo um paralelo com os do carpinteiro. Para isso, metaforicamente tomou como exemplo uma casa, e tudo o que a ela se associa. Tanto podem ser casas da nobreza da corte imperial, de samurais, das Quatro Famílias”, quanto ruínas de casas, bem como seus aspectos — assim, a durabilidade, os tipos arquitetônicos, seus estilos, suas tradições. Tudo considerado, decidiu comparar a arte militar aos mandamentos do carpinteiro. O termo carpinteiro, daiku, significa grande planejador — no kanji —, razão por que comparo os mandamentos da arte militar aos da profissão de carpinteiro. Se alguém desejar aprender a arte militar, deve meditar sobre o que está escrito neste livro. O discípulo precisa se dedicar a incessantes treinamentos e prestar obediência ao mestre, sendo este a agulha e aquele a linha.

Ao escrever esta obra, Musashi procurou dividi-la em cinco capítulos, correspondentes à Terra, à Água, ao Fogo, ao Vento e ao Vácuo, a fim de expor as peculiaridades de cada um, bem como suas vantagens.

 

No Capítulo da Terra expus em linhas gerais os mandamentos da arte militar e a razão de ser da minha Escola Ichi. É muito difícil alcançar os verdadeiros mandamentos apenas através da arte da esgrima, o kenjutsu. É preciso conhecer desde o conjunto até os detalhes mais sutis, partindo do superficial para o profundo, procurando atingir o imo das coisas. Como que consolidando as bases estruturais «de uma estrada reta, dei ao primeiro capítulo o nome de Terra — o começo da obra.

 

No segundo capítulo, Água, tomo como base esse elemento que evoca no espírito humano a limpidez de sua imagem. Em seu estado líquido, a água toma de imediato a forma do seu recipiente, seja ele quadrado ou redondo, e torna-se uma gota ou um oceano. A sua tonalidade é o azul mais puro. Aproveito a limpidez da água para escrever esse capítulo sobre a Escola Ichi. O kanji (ideografia) aplicado à palavra vácuo tem ainda o significado de céu, espaço, firmamento, nada, não-existêncía. Uma vez dominados os princípios da arte de esgrimir e vencer, é possível derrotar qualquer adversário — não importa quem ele seja. Os mesmos princípios que permitem vencer um só homem podem ser aplicados na luta contra milhares e dezenas de milhares de inimigos. A tática militar de um comandante — que consiste em aplicar as regras das pequenas unidades às grandes unidades — é como esculpir a estátua em grandes dimensões de Buda a partir de uma miniatura. É difícil explicar em detalhes como se faz tudo isso. O princípio da arte militar tem como meta conhecer a unidade de uma coisa e, a partir de então, entender dez mil. Assim, em linhas gerais, procuro fazer com que o leitor possa entender a essência da Escola Ichi no capítulo intitulado Água.

 

No terceiro capítulo, denominado Fogo, tenho como objetivo tratar dos combates. O fogo pode ser grande ou pequeno, mas possui sempre extraordinária força de transformação. O mesmo sucede com as batalhas, cujos mandamentos são iguais tanto no combate de um contra um como nos confrontos de exércitos de dez mil homens de cada lado. Qualquer situação precisa ser considerada tanto sob a óptica do conjunto (o grande) quanto dos pormenores (o pequeno). Apreende-se o conjunto facilmente, enquanto os detalhes só podem ser percebidos por um olho muito atento. Dependendo das circunstâncias, é impossível mudar repentinamente uma estratégia que envolve um contingente numeroso, ao passo que uma só pessoa pode tomar de súbito a decisão de mudar alguma coisa, porquanto depende de um só espírito. Nesse caso, porém, é difícil perceber os pormenores. Deve-se, pois, fazer um exame crítico da situação. Neste Capítulo do Fogo está exposto, de maneira implícita, que no duelo individual a vitória ou a derrota acontecem com muita violência e rapidez, razão por que se exige treinamento constante, dia após dia, a fim de que haja o devido preparo para enfrentar de pronto qualquer emergência. Eis o ponto vital da «arte militar e o motivo pelo qual escrevo sobre combates, vitória e derrota no Capítulo do Fogo.

 

No capítulo quarto, Vento, não abordo a minha Escola Ichi, mas trato de outras escolas existentes. Ao mencionar o vento, faço referência tanto ao estilo antigo quanto ao atual, assim como ao estilo das diferentes famílias,

etc. Descrevo com clareza a arte militar e os feitos das demais escolas. Daí porque escolhi o título Vento. Sem conhecer bem os outros, é difícil conhecer a nós mesmos. No percurso de nossas vidas, encontramos sempre espíritos heréticos, que geram confusão. Mesmo procurando cumprir com diligência os mandamentos, se o espírito se afastar da essência da verdade, não estará seguindo corretamente os mandamentos, não obstante o corpo acredite estar. Se não houver obediência estrita aos verdadeiros mandamentos, mesmo um pequeno desvio espiritual resultará, posteriormente, em grande distorção. É preciso refletir com muita clareza. Existem escolas que consideram a arte da esgrima a única arte militar. Trata-se, porém, de um equívoco. Segundo os princípios e técnicas da nossa arte militar, a esgrima ocupa lugar de destaque, mas não é a única. Neste Capítulo do Vento, assim, exponho as características de outras escolas a fim de dá-las a conhecer.

 

Já que falo do Vácuo, no capítulo quinto, cabe indagar o que é o começo e o que é o fim. Fu significa, além de vento (kazc), estilo, aparência, costume, maneira, tipo. Desde que se adquire um determinado conhecimento ou teoria, é preciso desprender-se dele: conquistar a razão e dela afastar-se. Nos mandamentos da arte militar, encontro minha liberdade e consigo um poder superior ao dos outros. Chegado o momento propício, conheço o ritmo. Essa é a única maneira de alcançar o estágio espiritual no qual é possível esquecer que se tem uma espada na mão, e a espada não sente a mão. Eis no que consistem os mandamentos do Vácuo. Neste Capítulo do Vácuo faço referência à minha experiência pessoal e à minha integração nos mandamentos da verdade

 Na cosmovisão budista “os cinco elementos” ou “os cinco anéis), podem ser representados na figura do “gorintō”. Gorintō é um tipo japonês de pagode budista que se acredita ter sido adotado pela primeira vez pelas seitas Shingon e Tendai durante o período Heian. É usado para fins memoriais ou funerários e, portanto, é comum em templos e cemitérios budistas.

 


Gorinto

Em sua forma completa e original essa gorinto representa os cinco elementos da cosmologia budista.

A parte mais inferior, tocando o chão, representa o chi, a terra. A próxima seção representa sui ou água.

Ka ou fogo, é representado pela seção que envolve a luz ou chama da lanterna.

O (ar) e k (vazio ou espírito) são representados pelas duas últimas seções, mais acima e apontando para o céu, significa a energia divina, que mantém todos os elementos em harmonia.

Os segmentos expressam a ideia de que, após a morte, nossos corpos físicos retornarão à sua forma original e elementar.

Gorinto

A história de sua vida tornou-se uma lenda e forte inspiração para o imaginário japonês, tomou proporções gigantescas, sendo inspiração para diversos tipos de arte e significação, tais como:

Inspirando diversas gravuras Ukiyo-e (浮世絵, "retratos do mundo flutuante", em sentido literal, vulgarmente também conhecido como estampa japonesa, é um gênero de xilogravura e pintura que prosperou no Japão entre os séculos XVII e XIX),

Livros: Musashi (宮本武蔵 Miyamoto Musashi) é um romance histórico escrito por Eiji Yoshikawa e publicado em capítulos em 1935 no jornal Asahi Shimbun. É o romance mais vendido da história do Japão, ultrapassando 120 milhões de cópias em suas diversas edições

Wilsom, William Scott.Samurai, o - a Vida de Miyamoto Musashi, Editora Estação Liberdade, 2009

Musica: Sun and steel - canção de Iron Maiden

Filmes: Musashi – Trilogia Samurai  (Samurai: O Guerreiro Dominante, Morte no Templo Ichijoji, Duelo na Ilha Ganryujima). País de produção: Japão, Ano de produção: 1954-56, Gênero: Épico, Direção: Hiroshi Inagaki, Elenco: Toshiro Mifune, Kaoru Yachigusa, Eiko Miyoshi, Rentaro Mikuni, Mariko Okada, Akihiro Hirata, Kuroemon Onoe, Mitsuko Mito, Kusuo Abe, Akihiko Hirata, Koji Tsuruta, Minoru Chiaki; Idioma: Japonês; Áudio: Dolby Digital 2.0; Legenda: Português

Séries de TV: "Serie Miyamoto Musashi", Obras de Tomu Uchida do início dos anos 60 têm exibição grátis com legendas em inglês

Mangás (histórias em quadrinhos): Atualmente Vagabond é licenciado e publicado no Brasil pela editora Panini Comics. Vagabond ganhou no ano de 2000 o Prêmio Mangá Kodansha e em 2002  o Grande Prêmio no Prêmio Cultural Osamu Tezuka, e já vendeu mais de 82 milhões de cópias em todo o mundo. 

Video Games: Brave Fencer Musashi ( título em japonês: ブレイヴフェンサー 武蔵伝 Bureivu Fensā Musashiden) é um jogo eletrônico do gênero RPG/ação desenvolvido e lançado pela Square (atualmente Square Enix) em 1998 para o Sony PlayStation. O jogo apresenta combate em tempo real num ambiente 3D, contando com dublagens na maioria dos diálogos. A trilha sonora de Brave Fencer Musashi foi composta por Tsuvoshi Sekito, ex-funcionário da Konami.

 

Referencias bibliográficas:

Wilsom, William Scott. Samurai, o - a Vida de Miyamoto Musashi, Editora Estação Liberdade, 2009

 Sites consultados:

https://mundo-nipo.com/cultura-japonesa/herois-e-guerreiros/12/10/2016/historia-da-vida-real-do-samurai-miyamoto-musashi/ (consultado em 03/08/2020 ás 06:50hs)

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Dokk%C5%8Dd%C5%8D (consultado em 04/08/2020 ás 09:47hs)