Quando alguém diz que "pensou em algo, mas não consegue colocar em palavras", o que isso realmente significa? Se a linguagem fosse a estrutura essencial do pensamento, como sugerem algumas correntes filosóficas, então não conseguir expressar algo seria o mesmo que não ter pensado nisso. Mas sabemos que não é bem assim. Essa questão nos leva a uma teoria fascinante e controversa: a Linguagem do Pensamento (LOT, na sigla em inglês), formulada por Jerry Fodor.
Fodor
propõe que pensar não é simplesmente falar consigo mesmo em um idioma natural,
como o português ou o inglês. Em vez disso, ele argumenta que a mente opera por
meio de um código interno, uma linguagem mental inata e universal, que ele
chama de "mentalês". Segundo Fodor, essa linguagem seria composta por
símbolos e regras combinatórias, funcionando de forma análoga a uma linguagem
formal, como a matemática ou a lógica proposicional. Assim, antes mesmo de
aprendermos a falar, já pensamos nessa estrutura subjacente.
Essa
ideia é revolucionária porque desafia o pressuposto de que o pensamento depende
da linguagem natural. Se a mente opera por meio de símbolos internos, isso
explicaria como podemos aprender novas palavras e conceitos sem que já os
tivéssemos expressado antes. Além disso, reforça a hipótese de que certos
aspectos do pensamento são universais, independentes da cultura e da língua
falada.
No
entanto, a teoria de Fodor também enfrenta objeções. Um dos desafios é explicar
a origem e a natureza dos símbolos mentais. Como a mente estabelece a relação
entre esses símbolos internos e os objetos do mundo real? Outra crítica
relevante vem dos defensores da cognição incorporada, que argumentam que o
pensamento não pode ser reduzido a um sistema computacional de regras formais,
pois depende do corpo, da experiência sensorial e da interação com o ambiente.
Ainda
assim, a LOT continua sendo uma das teorias mais influentes na filosofia da
mente e na ciência cognitiva. Ela nos obriga a reconsiderar a relação entre
pensamento e linguagem, questionando até que ponto o que dizemos reflete de
fato o que pensamos. Se Fodor estiver certo, muito do que pensamos nunca chega
a ser verbalizado, permanecendo oculto na estrutura silenciosa da mente.
Afinal,
o que pensamos quando não estamos falando? Talvez, como sugere Fodor, estejamos
processando mentalês sem perceber – uma língua invisível que estrutura nossa
compreensão do mundo muito antes de proferirmos a primeira palavra.