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sábado, 10 de setembro de 2011

Philocine - Filosofia e Cinema


 Nesta tarde de sábado participei do evento mensal realizado pelos alunos de Filosofia do IPA, foi exibido o filme O Feitiço do Tempo, com a presença de nosso brilhante professor Dr. Norberto Garin, realizando ao final da exibição considerações e bate papo com o pessoal presente. Foi uma bela oportunidade para discutirmos assuntos relevantes a moda da Ágora, foram citados filósofos como Sto Agostinho, Aristóteles, Hume e o pai da psicanálise Freud. Para quem não conhece o filme ai vai a sinopse:

Um repórter que cobre o clima (Bill Murray) é enviado para uma pequena cidade para cobrir uma festa local. Isso acontece há anos, e ele não esconde sua frustração com tal serviço. Mas algo mágico acontece: os dias estão se repetindo, sempre que ele acorda no hotel é o mesmo dia da festa. Agora somente mudando seu caráter é que ele terá chance de seguir em frente na vida. Antes disso, claro, ele aproveita a situação a seu favor, mas logo descobre o amor com sua colega de trabalho, para quem sempre foi mal humorado.
Direção: Harold Ramis; Gênero: Comédia/Fantasia/Romance; Tipo: Longa-metragem; Produzido em 1993; Ator principal Bill Murray


Havia bastante tempo que tinha visto este filme, e vendo-o novamente, percebi que o filme traz diversos vieses antes passados desapercebidos, o que durante nossa discussão ficou ainda mais evidente.
Em primeiro lugar é preciso trazer a baila a questão da inclusão inovadora do cinema como medida sócio-educativa, a atratividade que a tela exerce sobre nossa juventude é inegável, estamos todos conectados de alguma maneira a uma tela de LCD, a imagem traz muita informação, o cinema é uma arte-educativa, é uma forma atual de mediação e ferramenta pedagógica. Para quem não sabe desde a década de 30 o cinema se faz presente na educação, estamos no século XXI e os avanços tecnológicos nos seduzem e nos envolvem cada vez mais, temos o computador, internet, fotografia, cinema, TV, Vídeo, CD, DVD, aulas em EAD, enfim a telinha esta muito presente, veio para ficar, basta sabermos utilizar, é necessário responsabilidade para que a ferramenta não se transforme no foco do ensino, a educação é o foco do ensino, a informática, a mídia, todo aparato são apenas ferramentas.
Em segundo lugar cinema é arte, e trazendo para cá as duas principais idéias acerca da arte temos Platão que considerou a arte uma forma de conhecimento, porem de um conhecimento inferior, pois ela é uma imitação das coisas sensíveis, aqui faço um parênteses e explico melhor o que são coisa sensíveis para Platão:

Platão parte do pressuposto que existem dois mundos. O primeiro é constituído por idéias eternas, invisíveis e dotadas de uma existência diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das idéias (coisas sensíveis). Com base neste pressuposto afirmou que os sentidos estão permanentemente a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos, mas só pode ser intuída através da razão, e está no mundo das idéias. Esta teoria surge em diálogos como Fédon, como um pressuposto aceite pelos vários interlocutores.

A outra idéia é de Aristóteles, que tomou a arte como uma atividade prática.
A concepção de Platão foi retomada na renascença, onde a arte era vista como um meio para acessar o conhecimento verdadeiro e divino, e no romantismo, onde a arte encontrou seu apogeu ao ser concebida como “o órgão geral da filosofia”. A concepção aristotélica, que parte da diferença entre o entre o teórico e o prático, volta a ser defendida no século XIX por aqueles que afirmam a utilidade social das artes (em especial a arquitetura) e aqueles que percebem o caráter lúdico das artes (como exemplo, Nietszhe).
O cinema tem a característica de tornar presente fatos históricos que são melhor percebidos por aqueles que acostumaram a vista a telinha.
Questões filosóficas estão presentes nos filmes, trabalhar questões de ética, moral, política, teoria do conhecimento, estética, formas, perguntas existenciais, questões de bioética, comportamento, culturas, enfim uma gama infindável de questões que assolam a mente humana, estão estampadas nos filmes, em afirmações feitas por Hugo Munsterberg, para quem não o conhece, ele foi representante da teoria formativa (em vigor de 1915 à 1935), a qual vê no cinema a importância primordial da forma e da estética, Munsterberg sempre foi considerado em primeiro lugar um filósofo, um idealista da escola neokantiana, sendo na estética de Kant que baseará suas teorias e publicará sua única obra “ The Photoplay: A Psychological Study” (1916), onde também analisa o “belo” como tema, Munsterberg argumenta que nossa experiência do realmente belo coloca-nos em posição de confronto com um objeto ou experiência que se justifica em si mesmo. Mas falar em Munsterberg, nos obrigaria a ir até Kant, não quero me exceder, vou ficar por aqui.
Meu recado: Procurem aproveitar as oportunidades na moda da Ágora do século XXI, proporcionada na exibição dos filmes em nosso philocine, aproveitem a conversa que ocorre após a exibição para discutir questões que povoam a mente em nosso cotidiano, é sempre uma bela oportunidade para todos trazerem questões e pontos de vista, para quem não teve contato com a filosofia é uma bela oportunidade para acessar este mundo apaixonante que foi e é o pensamento humano.

domingo, 4 de setembro de 2011

Saber Envelhecer


Neste belo domingo de setembro, com o sol brilhando, um céu azul maravilhoso, nos dirigimos a Eldorado do Sul, com destino a casa do meu sogro. Ele tem 82 anos de idade, viúvo, mora sozinho, cuida das coisas da casa, das plantações que são sua ocupação, e vive apenas na companhia de seus dois cães, que parecem mais parentes que os próprios parentes de pouca visita. Sabemos que nesta idade o corpo já começa a falhar e dar sinais de que precisa de mais alguém por perto, mesmo assim ele é firme em seu propósito, defende sua individualidade e sua autonomia, de fato lá há mais espaço para seus afazeres que lhe ocupam e tomam o tempo, é lá que se sente produtivo, a cabeça funciona, faz suas contas de cabeça, sabe de cor quando deve plantar mandioca, couve, milho, feijão, sabe o tempo e a lua para poda, toda esta sabedoria que não se importa em compartilhar, faz gosto quando alguém se interessa por estes assuntos. Conversa bastante quando estamos por lá, fazemos uma visita a cada quinze dias e nos falamos por telefone durante a semana para saber como as coisas estão, quando estamos juntos lhe pergunto como esta de saúde e se não se incomoda de morar sozinho, se a dona solidão não lhe perturba e aquela melancolia não esta lhe exigindo muito, a resposta é de pronto, claro que a solidão as vezes fala alto, mas enquanto puder viver como vive, produzindo e sabedor de que o trabalho lhe é companheiro a solidão se torna aceitável. Como gosta de trabalhar na terra, par o agricultor a terra sempre responde aos bons tratos e as mãos que se dedicam a ela, para quem é produtivo nada mais prazeroso do que colher os frutos de sua dedicação. Dá para entender sua escolha, demonstra maturidade e lucidez, sabedoria que não encontramos nos livros, basta olharmos e enxergarmos o exemplo, pelo exemplo que aprendemos. Esta sempre muito bem informado, ouve radio e não assiste televisão, tem televisão com parabólica mas não demonstra interesse em ficar parado na frente de uma tela, sempre que conversamos sabe tudo de futebol, de política então dá um nó. Isto demonstra estar atento as coisas do mundo externo, tem opinião própria e seus conceitos e valores consolidados, ainda hoje falamos de algumas tradições e mitos que estão se perdendo com  saída de cena dos mais velhos, como a semana santa, a sexta-feira santa, Páscoa, sete de setembro com o desfile das escolas, o ensaio e aprendizado do Hino Nacional, coisa que sabíamos na ponta da língua, enfim falamos de outras datas que modificavam o cotidiano das famílias, atualmente existe muita preocupação no adquirir, estamos perdendo a felicidade pela simplicidade, as coisas parecem ter um sabor muito passageiro sem tradição.
O que vejo por ai e ouço de tantas bocas, é maior expectativa de vida para nossos idosos, de fato, concordo, mas só acontecera se nossos idosos estiverem ocupados, com suas cabeças funcionando, produzindo, não falo só de trabalho, falo de outras coisas que podem ocupar e dar objetivo, sem o compromisso do trabalho alienante. A pouco li pela segunda vez o livro de Cícero, “Saber Envelhecer”, ali encontramos diálogos travados com bastante lucidez, recomendo mesmo para os jovens, dali podemos extrair idéias que vão de encontro a impressão que os jovens tem sobre os idosos, encontrar prazer na convivência que independente da idade a própria convivência por si só tem como diz Cícero, todas as idades tem suas próprias virtudes, e é na convivência que aprendemos a lidar com as diferenças.
Deixo algumas palavras do sábio Cícero, acerca da vontade dos homens em querer viver muito tempo: “Quando esse fim chega, o passado desapareceu. Dele vos resta apenas o que vos puderam trazer a prática das virtudes e as ações bem conduzidas. Quanto ás horas, elas se evadem, assim como os dias, os meses, os anos. O tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for!”.

sábado, 3 de setembro de 2011

Política e Ética


Diariamente somos surpreendidos com absurdos, dentre tantos, trago a baila um assunto que chamou atenção de todos os gaúchos, noticia de ZH Política, pasmem:
ZH 30/08/2011 Politica
TCE suspende aumento de salário dos vereadores de Porto Alegre
Reajuste elevaria os subsídios de R$ 10.335,00 para R$ 14.837,00
Em decisão tomada na tarde desta terça-feira, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), em atenção à representação 003/2011 do Ministério Público de Contas, emitiu decisão cautelar suspendendo o aumento concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre aos subsídios dos vereadores.
A cautelar, expedida pelo relator do processo, conselheiro Iradir Pietrosky, determina que o Legislativo Municipal da Capital abstenha-se de efetuar qualquer pagamento com base no reajuste concedido na Lei Municipal nº 10.560, de 20 de outubro de 2008, na Resolução nº 433/2010, bem como qualquer outro Ato Legislativo que eleve o subsídio dos vereadores de Porto Alegre nos termos das normativas supra citadas.

A mesa diretora da Câmara de Porto Alegre havia decidido 
reajustar os salários dos vereadores dos atuais R$ 10.335,00 para 14.837,00. O valor é o equivalente a 74% sobre os subsídio dos deputados estaduais. O PSol foi a única bancada que votou contra o aumento.
ZERO HORA

Fico me perguntando se existem políticos sérios, homens virtuosos, homens cidadão, enfim, noticia como esta alimenta nossa indignação, abre pelo menos discussão do que podemos esperar de nossos políticos. Fiz a seguinte pergunta mentalmente para Aristóteles, busquei em seus ensinamentos respostas, eis a pergunta que me surgiu: Do que depende ser um politico? Para Aristóteles depende da posse da virtude em grau máximo. É um homem cujas qualidades são as melhores, excelentes, como se diz é tudo de bom. Todo governante na opinião de Aristóteles deveria ser necessariamente um homem bom, era inadmissível para ele que aqueles que exercem o poder Maximo no estado não fossem também as pessoas mais virtuosas. Aristóteles tinha plena consciência de que na comunidade política era impossível que todos os cidadãos fossem igualmente bons.
O governante porem deveria possuir necessariamente as qualidades éticas que o distinguiam acima de todos os demais. Onde somente os homens virtuosos podem aspirar o comando sobre a coletividade. Os medíocres, os falsos, os mentirosos, os desonestos jamais poderiam ser admitidos a vida coletiva. Diante disto, o que podemos dizer de nossos políticos?, uma noticia como a que nos deparamos abre espaço para muita discussão. Se pensarmos que os escritos de Aristóteles foram feitos no século III antes de Cristo, os estudos de Aristóteles, principalmente em sua obra a Política, é como um manual, diferente de Platão, Aristóteles foi um homem cientifico, bem próximo de nosso pensamento. Um principio importantíssimo é o conceito que nosso brilhante pensador dá acerca do que um cidadão, afirmando que o homem realiza sua essência participando da comunidade política, cidadão é aquele que participa dos poderes do Estado, o povo governa, legisla e julga diretamente e quem apenas obedece não é cidadão, o principio do cidadão esta em obedecer e mandar, e não apenas como atualmente procedemos apenas obedecendo, o que fazemos em nossa democracia é delegar todos os poderes nas mãos de quem controla o Estado.
Atualmente o único poder que o cidadão exerce efetivamente é o da escolha de seus representantes, e mesmo assim no Brasil as pessoas dirigem-se as urnas contrariadas e votando de maneira negligente, sem saber em quem votam, e na maioria votam em políticos com ficha suja e envolvidos nos maiores escândalos. Se pensarmos que os eleitos exercerão funções juntamente com outros grupos, como funções judiciárias, que sequer são eleitos pelo povo, então o problema tende a se acentuar.
O que a ética nos ensina é que todos querem ser felizes, porem para alcançar o bem maior que é a felicidade ela precisa ser merecida, e para que isto seja alcançado, implica na obrigação do cidadão dizer livremente sua opinião, de exigir seus direitos garantidos por lei, óbvio cumprir com seus deveres, de inserir-se ativamente nas diferentes formas de organização da sociedade, ou seja, participar ativamente da vida da comunidade. Os políticos de hoje são homens tecnocratas, com sua visão especifica, destituído da múltipla visão do povo, o político é um profissional que realiza projetos de grupos que se diz representante.
Dizia Aristóteles que a política não era uma arte como a medicina, é sim uma arte como a arquitetura e a culinária, nas quais prevalece o ponto de vista do usuário, pois é o usuário, diga-se o cidadão quem decide o que é melhor. Fazer política, se tornou em nossos dias uma função para os ditos especialistas denominados políticos, é profissão, é desta função que recebem salários, a ponto de receberem aposentadoria vitalícia após um certo numero de mandatos.
Os homens que procuram a política, são homens com interesses diferentes daqueles da origem do termo na antiguidade, são interesses financeiros, fazer carreira, benefícios que o cidadão comum não tem. Políticos que elegemos não são homens bons, desprovidos de virtude, quando vereadores como os que foram noticia na ZH do dia 30/08, legislam em causa própria concedendo a si mesmos aumento de salário absurdo, e não estou a falar de propinas e outros favores que recebem, estão legislando em favor do próprio grupo que deveria primar pela ética e assim serem exemplos de virtude a população local e mundial, pois encontramo-nos num planeta redondo mas planificado pela informação. Todos tem direito a aumento de salário, mas para tudo há limite, e no aumento de salários proposto por “nossos políticos vereadores” merecem ganhar o maior prêmio que deve ser dado um político deste calibre que é a expulsão do convívio da comunidade.
Aqui cabe bem o pensamento de Thomas Hobbes, “O Homem é Lobo do Homem”, em seu pensamento nos traz uma mensagem alerta para nossa sociedade, que diante de tanta irregularidade, denuncias, CPIs faz de conta, o pensamento de Hobbes é claro porque entende que o pior mal é insegurança que decorre da fraqueza do poder exercido pelo Estado, a fraqueza esta, estampada na virtude negativa dos políticos tecnicistas.