Nesta tarde de sábado participei do evento mensal realizado pelos alunos de Filosofia do IPA, foi exibido o filme O Feitiço do Tempo, com a presença de nosso brilhante professor Dr. Norberto Garin, realizando ao final da exibição considerações e bate papo com o pessoal presente. Foi uma bela oportunidade para discutirmos assuntos relevantes a moda da Ágora, foram citados filósofos como Sto Agostinho, Aristóteles, Hume e o pai da psicanálise Freud. Para quem não conhece o filme ai vai a sinopse:
Um repórter que cobre o clima (Bill Murray) é enviado para uma pequena cidade para cobrir uma festa local. Isso acontece há anos, e ele não esconde sua frustração com tal serviço. Mas algo mágico acontece: os dias estão se repetindo, sempre que ele acorda no hotel é o mesmo dia da festa. Agora somente mudando seu caráter é que ele terá chance de seguir em frente na vida. Antes disso, claro, ele aproveita a situação a seu favor, mas logo descobre o amor com sua colega de trabalho, para quem sempre foi mal humorado.
Direção: Harold Ramis; Gênero: Comédia/Fantasia/Romance; Tipo: Longa-metragem; Produzido em 1993; Ator principal Bill Murray
Havia bastante tempo que tinha visto este filme, e vendo-o novamente, percebi que o filme traz diversos vieses antes passados desapercebidos, o que durante nossa discussão ficou ainda mais evidente.
Em primeiro lugar é preciso trazer a baila a questão da inclusão inovadora do cinema como medida sócio-educativa, a atratividade que a tela exerce sobre nossa juventude é inegável, estamos todos conectados de alguma maneira a uma tela de LCD, a imagem traz muita informação, o cinema é uma arte-educativa, é uma forma atual de mediação e ferramenta pedagógica. Para quem não sabe desde a década de 30 o cinema se faz presente na educação, estamos no século XXI e os avanços tecnológicos nos seduzem e nos envolvem cada vez mais, temos o computador, internet, fotografia, cinema, TV, Vídeo, CD, DVD, aulas em EAD, enfim a telinha esta muito presente, veio para ficar, basta sabermos utilizar, é necessário responsabilidade para que a ferramenta não se transforme no foco do ensino, a educação é o foco do ensino, a informática, a mídia, todo aparato são apenas ferramentas.
Em segundo lugar cinema é arte, e trazendo para cá as duas principais idéias acerca da arte temos Platão que considerou a arte uma forma de conhecimento, porem de um conhecimento inferior, pois ela é uma imitação das coisas sensíveis, aqui faço um parênteses e explico melhor o que são coisa sensíveis para Platão:
Platão parte do pressuposto que existem dois mundos. O primeiro é constituído por idéias eternas, invisíveis e dotadas de uma existência diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das idéias (coisas sensíveis). Com base neste pressuposto afirmou que os sentidos estão permanentemente a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos, mas só pode ser intuída através da razão, e está no mundo das idéias. Esta teoria surge em diálogos como Fédon, como um pressuposto aceite pelos vários interlocutores.
A outra idéia é de Aristóteles, que tomou a arte como uma atividade prática.
A concepção de Platão foi retomada na renascença, onde a arte era vista como um meio para acessar o conhecimento verdadeiro e divino, e no romantismo, onde a arte encontrou seu apogeu ao ser concebida como “o órgão geral da filosofia”. A concepção aristotélica, que parte da diferença entre o entre o teórico e o prático, volta a ser defendida no século XIX por aqueles que afirmam a utilidade social das artes (em especial a arquitetura) e aqueles que percebem o caráter lúdico das artes (como exemplo, Nietszhe).
O cinema tem a característica de tornar presente fatos históricos que são melhor percebidos por aqueles que acostumaram a vista a telinha.
Questões filosóficas estão presentes nos filmes, trabalhar questões de ética, moral, política, teoria do conhecimento, estética, formas, perguntas existenciais, questões de bioética, comportamento, culturas, enfim uma gama infindável de questões que assolam a mente humana, estão estampadas nos filmes, em afirmações feitas por Hugo Munsterberg, para quem não o conhece, ele foi representante da teoria formativa (em vigor de 1915 à 1935), a qual vê no cinema a importância primordial da forma e da estética, Munsterberg sempre foi considerado em primeiro lugar um filósofo, um idealista da escola neokantiana, sendo na estética de Kant que baseará suas teorias e publicará sua única obra “ The Photoplay: A Psychological Study” (1916), onde também analisa o “belo” como tema, Munsterberg argumenta que nossa experiência do realmente belo coloca-nos em posição de confronto com um objeto ou experiência que se justifica em si mesmo. Mas falar em Munsterberg, nos obrigaria a ir até Kant, não quero me exceder, vou ficar por aqui.
Meu recado: Procurem aproveitar as oportunidades na moda da Ágora do século XXI, proporcionada na exibição dos filmes em nosso philocine, aproveitem a conversa que ocorre após a exibição para discutir questões que povoam a mente em nosso cotidiano, é sempre uma bela oportunidade para todos trazerem questões e pontos de vista, para quem não teve contato com a filosofia é uma bela oportunidade para acessar este mundo apaixonante que foi e é o pensamento humano.