Pesquisar este blog

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O que os filósofos falam sobre o amor

 


O amor é difícil de definir em razão se é que podemos falar de razão quando falamos de amor, é em razão de sua complexidade nas mais complexas relações, em sua consciência o ser humano sabe que precisa do amor para dar sentido a sua vida, o amor é necessário como o ar que respiramos, lembro da fala do filósofo Mario Sérgio Cortella num encontro de psicanálise quando se referia ao amor ele disse: Num amor imaturo: “Eu te amo, porque preciso de você” e num amor maduro eu afirmo: “Eu preciso de você, porque te amo”, se pensarmos um pouco o trocadilho faz todo o sentido por estar abrangendo estágios evolutivos de um ser humano, num estágio inicial do imaturo e num estágio avançado do maduro que aprendeu a viver e a amar.

Muita gente que conheço não fica muito a vontade em falar sobre este tema, a impressão que tenho é que eles tem vergonha em falar deste tema tão importante para o ser humano, se fôssemos perguntar ao filósofo alemão Schopenhauer em seu pessimismo diria que o amor é um mal necessário: Seria de admirar que algo que tem um papel tão significativo na vida humana até agora quase não tenha sido tomado em consideração pelos filósofos e se apresente como matéria não trabalhada?”

O amor é um componente básico da felicidade e a felicidade é, segundo o filósofo grego Platão, um fim em si mesmo. É importante sabermos que não estamos limitados a amar apenas de uma maneira, em nossa complexidade pensamos em várias maneiras de amor e sermos felizes.

Como já disse o amor é difícil de definir, o amor a gente sente ou não sente, ele não é o contrário do ódio, o contrário de amor e falta de amor, quando tentamos falar a respeito do que seja o amor temos a sensação que sempre falta algo a ser dito. Alguns por leviandade pré-socrática em suas formulações dos contrários tendem a pensar que o ódio seria o contrário de amor, isto é, no mínimo uma falácia, falam simplesmente e até sem pensar como odiássemos aquilo que não amamos e vice-versa. Se pensarem um pouquinho, o fato de amar uma pessoa não significa que odeie as demais pessoas, o que pode acontecer é que sejamos indiferentes aos outros, tal como amo meus filhos, mas sou indiferente ao transeunte. Pensando mais um pouquinho, penso que o amor seja até exclusivista, egoísta, possessivo e seletivo, porque se amo alguém loucamente, não quero que este alguém ame outra pessoa (da mesma forma) como ela me ama, esta tese é bem realista, é assim que pensam a maioria das pessoas.

O amor ou a falta dele, tanto um caso como o outro pode ser um sentimento de sofrimento, e quando não é bilateral e reciproco, o ser não correspondido sofre uma das maiores dores humanas, o risco do amor é a separação, mergulhar na relação amorosa supõe a possibilidade de perda, principalmente quando as pessoas vivem a ilusão da ideia de que um dia vão talvez encontrar o amor perfeito verdadeiro, quando encontramos e perdemos passamos a uma vivencia da morte numa situação vital, quando começamos a ouvir o que a filosofia tem a dizer sobre o amor entendemos que nem tudo são flores, a vida não é um filme hollywoodiano, por isto precisamos saber a diferenças entre um tipo de amor e outro, vamos lá.

Os gregos antigos em seu ócio criativo, destinaram bastante tempo imaginando exatamente definições para o que seja o amor, destes diálogos surgiram várias receitas e combinações ou definições de amor, os gregos antigos reconhecem sete tipos de amor. Sendo que cada um é valioso a sua maneira e necessário para se ter uma vida feliz e saudável. E é claro dos antigos gregos para cá muitas outras derivações surgiram, mas vamos ao pensamento grego que já filosofou bastante a respeito. 

Vamos conferir a seguir quais são os 7 tipos de amor e reflita quais precisam de mais atenção.

1. Ágape

O ágape é o sentido universal do amor que todos nós aspiramos a sentir. Diz respeito ao amor incondicional para todos os seres vivos. Neste tipo de amor, desejamos fazer o bem. Este sentimento nos inspira a salvar o planeta, ou então, praticar um simples ato de bondade.  Para completar, o amor ágape inspira as pessoas a terem compaixão e altruísmo. E ainda, nos aproxima de Deus.

2. Eros

Este é o tipo que é mais parecido com a nossa construção moderna de amor romântico. Ele é caracterizado pelo romance, paixão e desejo. Na mitologia grega, Eros é o nome grego para cupido, que atira sua flecha e causa esse tipo de atração e que muitas vezes ataca sem razão. E ainda, esse amor é considerado o mais perigoso, porém, é o que mais perseguimos com o coração. Eros se refere ao amor sexual e apaixonado. Isto é aquele desejo ardente que marca o início da maioria dos relacionamentos.

3. Philia 

Amizade” no grego moderno, diz respeito a um amor virtuoso e desapaixonado. É um amor entre irmãos, amigos próximos. Este está relacionado à amizade, companheirismo, onde não há a presença de Eros. Philia é também conhecido como “amor platônico”, por usualmente não envolver intenção sexual. Entretanto, isto não exclui atração física, já que pode derivar do eros. Neste caso, a atração permanece e um senso de entendimento e dedicação em ajudar um ao outro faz com que a melhor versão de ambos aflore. 

4. Storge

É o amor familiar, além de ser considerado o mais benéfico dos afetos. Ele acontece especialmente na família, entre seus membros. A amor storge inspira os pais a perdoarem seus filhos incondicionalmente. Com o tempo, eros pode se transformar em storge: seu parceiro começa a se sentir com parte inseparável de você, como família. 

5. Philautia

Diz respeito ao amor próprio, que pode ser positivo ou negativo. Já que uma espécie de falso amor próprio gera arrogância e egoísmo, e envolve dinheiro, fama e poder. Já o oposto diz respeito a autoestima, confiança e o compromisso de cuidar de nós mesmos e dos outros. Um problema é que mesmo coisas boas podem ser exageradas. E por esta razão, os gregos diferenciavam a Philautia em 2 tipos: saudável e doentia. O amor próprio saudável é semelhante à autoestima e autocompaixão. Um amor próprio doentio, por outro lado, excessivo orgulho e autoconfiança que pode levar à arrogância e até mesmo o narcisismo. Sempre que você não tiver certeza se você está agindo com amor próprio, eu sugiro fazer a seguinte pergunta: O que uma pessoa que se ama faria nesta situação?

6. Pragma

“Realidade” em grego é uma forma amadurecida e pragmática de amor. Neste caso, muitas vezes o romance e a atração são separados em favor de metas compartilhadas e compatibilidades. E ainda, este tipo de amor pode ser visto em casais que se formaram a partir de um casamento arranjado ou aliança política. Para completar, muitos relacionamentos começam como Eros ou Ludus e mais tarde evoluem para Pragma, quando o amor não é suficiente para sustentá-los. O casal fica então vinculado a objetivos comuns, interesses a longo prazo, compatibilidade, afeição pelas qualidades um do outro. Mas talvez também por coisas mais mundanas como o aluguel, o financiamento ou mesmo as crianças. Este é o amor que você sente todos os dias da sua vida quando você olha seu parceiro de longa data e sente-se satisfeita por ter feito a escolha correta. Este sentimento pode evoluir de Eros ou Ludus. Diferente deles, pragma envolve certo grau de esforço, já que o casal precisa garantir que a chama esteja acesa. 

7. Ludus

É o amor lúdico ou descompromissado. Este tipo de amor pode envolver atividades, por exemplo, dança, flertes. O foco é mais divertido, os relacionamentos são casuais, sem compromisso. E em contraste com o que caracteriza o amor pragmático, o objetivo de Ludus é o prazer. E ainda, ele não pode durar por si próprio e com o tempo pode crescer para Eros ou Philia ou desaparecer. Este é o mais comum em plataformas de namoro online: divertido e desprendido. 

Existe uma crença que diz que nós seres humanos nos apaixonamos por três pessoas ao longo de nossas vidas, e que esses três amores, cada um diferente do outro, são necessários para aprendermos como amar e ser amado da forma correta.

 

O PRIMEIRO AMOR

Geralmente acontece no início da vida, na adolescência, pode ser chamado de “amor de escola” por aparecer mais durante o ensino médio. Esse amor é o típico amor de cinema, tendo mais ideias com base em enredos de filmes do que com o real significado do sentimento. porém, esse amor nos faz sentir como se isso fosse durar pra sempre, como se fosse o sentimento mais real existente, como algo puro e inquebrável, é nesse período que você passa a viver um clichê, planejar um casamento, criar uma família… nesse tempo nem pensamos em outras paixões, e que aquela pessoa a qual julgamos ser o grande amor, provavelmente não significará nada para nós no futuro, e que está servindo apenas para iniciarmos nossas primeiras experiências e preparativos para os amores seguintes.

 

O SEGUNDO AMOR

Esse tipo de amor é um tipo de amor mais difícil, podendo até ser tóxico e perverso, uma amor que nos roubas as energias, e isso nos obriga a compreender quem somos realmente como indivíduos, quem realmente são nossos parceiros e aonde você quer chegar na vida, além disso, isso nos obriga a entender o tipo de pessoa que queremos amar no presente e no futuro, e que seja da mesma forma correspondida, mas também é um amor difícil porque geralmente dói, normalmente existem mentiras, outros enganos e até mesmo manipulações, as pessoas podem ficar “presas” com esse tipo de amor por um longo tempo, nessa fase, às vezes, insistimos em permanecer acreditando que há como consertar a relação, mas chega uma hora em que não resta mais nada do sentimento original, então já é hora de dar um basta nisso.

 

O ÚLTIMO AMOR

Esse amor normalmente é inesperado, acontece com alguém que você não achava ser o certo para sua vida. Porém, diferente do segundo, esse acontece fácil, naturalmente, sem nem perceber, a atração e conexão mútua é inexplicável, mas com certeza existe. Isso pode acontecer porque nenhum dos dois esperava se apaixonar, e ninguém realmente tentou, foi algo sem pressão ou roteiro a ser seguido. Sendo assim, é um tipo de amor que não pode ser negado, explicado ou preparado, simplesmente acontece e te faz se sentir bem, como você nunca havia se sentido, a explicação mais plausível para esse sentimento devastador é que você nunca tinha experimentado um tipo de amor tão forte como esse, porque você realmente nunca entendeu o que era amor. Independente do amor que você esteja experimentando agora, não pare de procurar por um sentimento que te surpreenda, que seja perseverante, e acima de tudo, que seja mútuo.

Muitos são os filósofos que falam de amor, Aristóteles, Ovídio, Platão, Sêneca, dos mais antigos filósofos pensadores até os mais modernos e mais próximos do nosso tempo como Nietzsche, Balzac, Kant, Cortella, entre muitos outros, como já disse há certa complexidade sobre o assunto, cada uma tem suas próprias convicções e inclinações. Por exemplo:

Aristóteles

Aristóteles define o amor como Philia, que nada mais é que alegria, o amor da alegria é aquele que quer que o momento seja eterno, o convívio com a família, esposa, namorada, que se ama, deve ser duradouro, com o curso que faz, com a profissão escolhida, dessa forma não há rejeição ou pressa de que o que se faz acabe.

Balzac

É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música.

Nunca devemos julgar as pessoas que amamos. O amor que não é cego, não é amor.

O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia.

O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada não pode fazer nenhum bem.

O bom marido nunca deve ser o primeiro a adormecer à noite, nem o último a acordar pela manhã.

Nietzsche

O amor, para Nietzsche, é uma insidiosa armadilha do egoísta, que termina por saciar o seu desejo de conquista, abrindo caminho para outras formas de dominação. O egoísta aspira ser o único alvo dos sentimentos da pessoa amada. “O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.”, “Os que mais amaram ao homem lhe fizeram sempre o máximo dano. Exigiram dele o impossível, como todos os amantes.”, “Acabamos por amar nosso próprio desejo, em lugar do objeto desejado.”

Em Gaia Ciência: “Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!

Platão

Para Platão, no nível mais imediato, o amor refere-se à nossa sensibilidade e apetites, principalmente o sexual. Vemos, a partir de um corpo, a beleza, e o desejo de procriar nele. Isso significa, inconscientemente, que o desejo por um corpo belo é a tentativa da matéria de se eternizar. Portanto, o amor philos é um sentimento forte, profundo do coração. Para o filósofo Platão (428 a.C- 348 a.C), o conceito geral sobre o amor está relacionado com a palavra Eros, onde em seu senso comum pode ser associado ao amor apaixonado, unido ao desejo e a atração. Por amor platônico se entende até hoje o amor espiritual, o amor que transcende. É o amor impossível, como dizem, mas na realidade é exatamente o amor que torna possível o impossível e que nos faz sentir irmãos acima das diferenças. Platão insiste que é necessário aprender a amar. É necessário voltar a estender a mão e oferecer algo para comer, para sobreviver e, além disso, para sonhar um Ideal. É necessário um amor que nos faça vencer o medo de dar generosamente o melhor que temos, uma carícia, um sorriso, atenção, tempo, fé, confiança. Necessitamos do amor que nos limpe do barro do materialismo.

Schopenhauer

Acreditava que o amor era um mal necessário. O erro estaria em esperar demais dele e acreditar que só amamos uma vez na vida. “Para ele, o amor era terrível, instável, dilacerante, mas fundamental. Só não poderíamos sofrer tanto por ele”, afirma Douglas Burnham.

O amor é o objetivo último de quase toda preocupação humana; é por isso que ele influência nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e por vezes desorienta as cabeças mais geniais.

O amor é o centro invisível de todos os atos e de todos os fatos.

Quem não experimentou o sentimento primordial do amor materno, muito frequentemente sentirá que lhe falta o amor primitivo pela própria vida. Apenas quem não conseguiu unir-se a tudo quanto vive, porque lhe faltam os laços afetivos indeléveis que lhe permitiriam desenvolver essa simpatia para com o que é vivo, é capaz de distanciar-se de tudo quanto pertence a vida: o corpo, a respiração e a vontade.

Santo Agostinho

As pessoas costumam amar a verdade quando esta as ilumina, porém tendem a odiá-la quando as confronta.

Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.

É o olhar característico do amor que torna a pessoa sensível e atenta para perceber os sinais e demonstrações de afeto, por mais pequenos que sejam ou que aparentemente assim o sejam, que fazem nascer no coração um fundamental sentido de reconhecimento em relação a vida, aos outros, a Deus.

Observa primeiramente se sabes amar-te a ti mesmo; depois, te recomendo que ames o próximo como te amas a ti. Se ainda não sabes amar-te a ti mesmo, enganarás ao próximo como te enganas-te a ti.

Sófocles

Segundo Sófocles, o amor tem um poder de libertação inigualável, ele remove a dor e nos faz voar.

Sêneca

Foi um filósofo estoico e um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como Séneca (ou Sêneca), o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia renascentista, ele como conselheiro do imperador correu muitos riscos, mas teve grandes feitos.

Dentre suas frases célebres sobre o amor temos:

"O amor não se define; sente-se.

Os homens amam e odeiam seus vícios ao mesmo tempo

Se quer ser amado, ame.

A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente.

Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.

Os olhos deixam de ver quando o coração deseja que sejam cegos."

O amor também é um paradoxo, a pessoa madura unida pelo amor tem sua própria personalidade que se caracteriza pela autonomia e a individualidade, o encontro das pessoas supõe o estabelecimento de vínculos, o que pode parecer paradoxal: como é possível um vínculo em que as pessoas não sejam aprisionadas e venham a dissolver a união? O amor sendo o desejo de união com o outro, estabelece um tipo de vínculo paradoxal, porque o amante cativa para ser amado livremente. Num casal maduro, a relação amorosa, coloca-se ao mesmo tempo como desejo de união e preservação da alteridade, havendo o respeito pelo espaço do outro sem a obsessão é possível que se consiga viver numa ambiguidade da união com individualidade.

Fontes:

Aranha, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: introdução a filosofia / Maria Lucia de Arruda aranha, Maria Helena Pires Martins. 2ed. Ver. Atual. – São Paulo: Moderna, 1993

 

https://nova-acropole.org.br/blog-saiba-mais/artigos/o-que-platao-nos-ensina-sobre-o-