Temos entre nós Homens Girassóis.
Vou iniciar minha fala, com uma história para reflexão, neste belíssimo sábado ensolarado, com temperatura primaveril agradável, sob um silencio rompido apenas pelo som dos pássaros:
Havia um cego, sentado junto a uma estação de metrô, com um boné a seus pés e um pedaço de cartão, onde dizia :" Por favor, ajude-me, sou cego".
Mas passa um homem que ao ver aquilo, parou e colocou umas moedas no boné. E sem pedir licença ao cego, pegou no cartão virou-o, escreveu uma pequena frase e foi-se embora.
Pela tarde, o mesmo homem passa junto ao cego, e vê que o boné está cheio de dinheiro. O cego ao reconhecer suas pisadas, perguntou o que ele tinha escrito. O homem respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas por outras palavras". O homem sorriu e foi-se embora.
O cego não soube o que dizia no cartão, mas a frase era a seguinte: "Hoje é Primavera e está um lindo dia, mas eu não posso ver".
Moral história,
Por vezes é preciso mudar de estratégia.
Precisamos sempre escolher a forma mais certa para comunicar com as pessoas.
É uma história instigante, porque nos faz, dar uma brecada, como esta muitas outras histórias, quando as conseguimos ouvir é porque estamos com o espírito mais apaziguado, longe das atribulações do cotidiano alienante.
Especialmente, nesta época do ano, tenho a impressão que os girassóis estão mais lindos, mais do que no resto do ano.
Penso que talvez seja a proximidade do verão, quando o sol é mais intenso. É a proximidade carregada de esperança, este período de proximidade pode ser mais belo que o próprio verão. Neste período vivemos com maior intensidade, por ser alimentado pelas expectativas, e muitas vezes quando chegamos ao final temos a impressão que não é tão belo quanto o tempo que trabalhamos para o fim esperado.
Gosto particularmente do Girassol, planta que recebe esse nome porque sua flor acompanha a trajetória do sol, do nascente ao poente, é uma planta anual que normalmente germina, floresce e morre no período de um ano. Estas plantas podem ainda viver mais de um ano, se não encontrarem as condições apropriadas para se reproduzirem. E, principalmente porque são gigantes belíssimos.
A flor pode ser considerada a planta-símbolo do Novo Milênio. O girassol é um símbolo da páscoa, apesar de poucas pessoas saberem. Girassol é um dos símbolos pascais menos conhecidos em algumas regiões. É, porém, muito rico em conteúdo: assim como para sobreviver a planta precisa ter sua corola voltada para o sol, do nascente ao poente, segundo os cristãos, os seres humanos devem estar voltados para o Sol-Cristo garantindo a luz e a felicidade.
O girassol, representa o homem em busca da luz que ilumine sua consciência, há quem procure as sombras fugindo da luz intensa das verdades, quem procura as sombras é um girassol cego, mas ainda é um girassol, e pode aprender a enxergar as verdades.
Temos entre nós homens girassóis que enxergam a luz do sol da sabedoria, e com sua consciência iluminada, nos dão o privilégio de conviver e aprender com eles. São homens visionários, filósofos na sua praticidade, teólogos praticantes iluminados por sua fé, trabalham com a razão e coração.
Digo Isto, porque quando nos é tirado do convívio, homens girassóis, ficamos como que perturbados, e quando se trata de um amigo, a sensação é mais intensa, a perda é irreparável.
Ainda ontem, estive presente na solenidade de despedida, de um homem girassol, destes que convivem com a gente, e só nos damos conta de sua magnitude quando os perdemos.
Falo de um gigante por sua habilidade no convívio humano, sua impressionante tranqüilidade, mesmo ao final de sua jornada, já fragilizado pela doença, aos 86 anos foi capaz de suportar sem qualquer reclamação. Com serenidade deu seu ultimo suspiro no dia 20/10/2011.
Este Homem Girassol, também nos ensinou a ver a vida de outra maneira, nos ensinou “uma” outra forma de comunicação que é a satisfação da presença, mesmo sem falas, apenas e por si só a satisfação da presença, e foi assim.
Caro David Sopper, “Homem Girassol”, obrigado por aqui existir, obrigado por seu belo exemplo, sentiremos sua falta. Agora que esta entre nossos irmãos na luz divina, e foi ao encontro de nosso Mestre Jesus, peça a Ele, que os girassóis que aqui ficaram tenham olhos e enxerguem e entendam as mensagens do Mestre.
A este amigo que foi o encontro da luz, tenho na lembrança um poema do poeta Fernando Pessoa, um poema que me fará lembrar sempre deste amigo que se despediu, deste amigo que via nos detalhes da vida um pasmo, um espanto essencial nesta arte de viver.
O poeta Fernando Pessoa chama esse espanto de pasmo essencial em seu poema O meu olhar:
O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem um a criança se, ao nascer,
Reparasse que nascesse deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..[
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem um a criança se, ao nascer,
Reparasse que nascesse deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..[
Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio. p. 15.
Minha despedida é por hora, por ainda não possuir a visão do girassol que possa transcender este véu que nos separa, mas que acredito, em minha fé, que mais adiante nos encontraremos nesta caminhada ao encontro da luz divina.
“Para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti; para que sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).
Um Ótimo Fim de Semana Primaveril.
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