Esta pergunta eu me fiz logo que iniciei o primeiro processo de preparo para certificação da ISO9000 e do PBQP-H, a pergunta me serviria como um norte para onde a partir daí pretendíamos chegar. Afinal, certificação não é apenas um certificado na forma de papel para ser simplesmente colocado num quadro, fixado numa parede e servindo de exibicionismo.
A pergunta, é claro não foi
respondida de pronto, foi preciso reflexão e entendimento do que aquilo
representava para a empresa, e para mim como profissional que estaria
responsável por todo o processo.
Inicialmente estabelecemos os
cenários nos quais a empresa estava posicionada naquele instante e aonde se pretendia
chegar, isto é, caso o certificado não representasse simplesmente a
certificação para atender exigências governamentais.
O processo todo começa por questionamentos, a alta direção deve estar totalmente comprometida e preparada para responder questões espinhosas, sabemos que as pessoas não estão muito acostumadas a questionar e nem serem questionadas, muito menos preparadas para ouvir as recomendações e orientações que poderiam mudar radicalmente a forma de ver seu trabalho, ou seja, não estão preparadas para a transparência e aceitar sugestões acerca da maneira que estão “habituadas” a trabalhar, neste caso há uma nítida rejeição devido a intromissão daquilo que dizem “sempre foi assim” e por isto “sempre fizeram desta forma”.
Tem uma parábola bem adequada para reflexão do que significa obter um certificado, trata-se da parábola do faixa preta, é uma parábola muito utilizada na administração de empresas, e por que não na vida?
A parábola do faixa preta
James Collins
Imagine um lutador de artes marciais ajoelhado na frente do mestre numa cerimônia para receber a faixa preta obtida com muito suor.
Depois de anos de treinamento incansável, o aluno finalmente chegou ao auge do êxito na disciplina.
“Antes que lhe dê a faixa, você que passar por um outro teste”, diz o Mestre.
"Estou pronto” responde o aluno, talvez esperando pelo último assalto da luta.
“Você tem que responder à pergunta essencial: Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”.
“O fim da minha jornada”, responde o aluno. “Uma recompensa merecida por meu bom trabalho”.
O Mestre espera mais. É obvio que ainda não esta satisfeito. Por fim, o Mestre fala. “Você ainda não esta pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano”.
Um ano depois, o aluno se ajoelha novamente na frente do Mestre.
“Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”. Pergunta o Mestre.
“Ela é o símbolo da excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte”, responde o aluno.
O Mestre não diz nada durante vários minutos, esperando. É óbvio que ainda não está satisfeito. Por fim, ele fala. “Você ainda não esta pronto para a faixa preta. Volte daqui um ano”.
Um ano depois, o aluno se ajoelha novamente na frente do Mestre. E mais uma vez o Mestre pergunta: “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta”.
“A faixa preta representa o começo – o início de uma jornada sem fim de disciplina, trabalho e a busca por um padrão cada vez mais alto”, responde o aluno.
“Sim. Agora você esta pronto para receber a faixa preta e iniciar o seu trabalho”.
--
Extraído do livro "Feitas para Durar – Práticas bem-sucedidas de
empresas visionárias" de James Collins – Ed. Rocco
http://www.aizen.org/parabola-do-faixa-preta
Bem, deu para subentendermos que a conquista da certificação é apenas o começo de uma longa caminhada, uma caminhada árdua, porem uma caminhada repleta de conquistas positivas por sua imensa abrangência, obviamente não se restringindo apenas ao produto final dentro de padrões de qualidade, na verdade todos ganham, desde os colaboradores, consumidores e a sociedade.
Aderir a um programa de qualidade é uma das melhores maneiras de garantir boas perspectivas de futuro para a empresa, o futuro poderá existir se pensar que os momentos do presente são oportunidades para construir ações, tais ações são ações preventivas, preventivas no sentido de gerenciar os riscos e as consequências previsíveis de suas ações e assumir aas responsabilidades por elas.
Isto me lembrou das ideias de Max Weber, um sociólogo da práxis, ele recomenda a chamada “ética da responsabilidade”. No seu entender, a obrigação ética é descobrir as consequências previsíveis de suas ações e assumir as responsabilidades por elas, portanto ser responsável é o ato de assumir compromissos e obrigações, como também suas consequências e efeitos delas, isto significa que temos de responder seja positiva ou negativamente sobre as ações que realizamos e sobre os resultados que essas ações causaram, logo ao iniciar um programa de qualidade representa o início de uma nova vida e uma nova maneira de olhar o futuro, a medida que a empresa vai evoluindo ela vai crescendo, mais espaço vai ganhando no mercado, assim mais dela será esperado e cobrado.
Neste sentido penso que atingido o nível A de certificação, o processo não ficasse apenas na manutenção deste certificado, que não fosse apenas compulsório impostas pelo governo ou por quaisquer incentivos externos (como fiscais, por exemplo), mas que no processo de manutenção fosse agregado outro passo que seria o da implantação da responsabilidade social por opção visando o maior bem-estar social.
A responsabilidade social nas empresas é de extrema importância para a sociedade, é um tema de alta relevância, e deve estar inserido no planejamento de uma empresa que queira ser sustentável, porque quando o empresário decide implantar a norma SA8000 ele está assumindo responsabilidades que vão além do pagamento de impostos, ele está reforçando seu compromisso com a sociedade e com os valores declarados dentro de seu Código de Ética e de Conduta, a certificação também representa para o empresário e para a empresa um retorno imediato que ficará associado a sua marca, seria um sinal de maior credibilidade aos seus negócios e principalmente porque estará atendendo as necessidades da população e suas próprias, evitando crises, desigualdades e conflitos.
A responsabilidade social é construída através de ações desenvolvidas pelo somatório de atos voluntários e direcionando suas atividades para o bem-estar social, conduzindo seus negócios sempre visando o interesse privado e coletivo e não somente os lucros, visto que priorizam o todo e não só o individual, a sustentação deste processo é parte do que se entende por liderança sustentável, baseado nos três pilares que são o cultural, social e ambiental.
Temos em Kant um dos melhores princípios que podem nortear as atitudes “sociais”, ele sustenta o princípio da universalidade das ações, ou seja, os indivíduos devem agir tendo em vista o princípio válido para todos, isto é, para qualquer ser humano, e porque também não valer para as empresas? A resposta está na responsabilidade social!
A certificação de responsabilidade social é a responsabilização da empresa por seus atos medidos através do impacto, decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, obviamente sempre adotando o comportamento ético, e transparência para evitar mal-entendidos.
As transparências das ações devem estar presentes aos olhos da sociedade, a divulgação das ações deve ser ampla, e as ações tais como: consumo consciente, combate ao desperdício, destinação correta de resíduos para não causar prejuízo ao meio ambiente, aumentar a participação da empresa em projetos sociais, participar de projetos desportivos e culturais, organizar doações de itens usados, construir parcerias com iniciativas de sustentabilidade, dentre outras atividades, evidentemente serem aplicadas em diferentes áreas como por exemplo na assistência social, educação, saúde, moradia, e etc, atingindo tanto interna como externamente ao ambiente da empresa, ou seja, beneficiando os colaboradores e a sociedade.
As ações devem proporcionar bem-estar para a maioria, maioria quer dizer, empresa, colaboradores, família e sociedade, a proposta de John Stuart Mill é um bom fundamento para alicerçar os motivadores, ela fundamenta-se no Utilitarismo, preocupado em definir como corretas e justas as ações dos indivíduos voltadas à busca da maior felicidade para o maior número possível de pessoas, pessoas e o meio ambiente, estes sim serão e deverão ser os maiores beneficiados.
Para o sucesso destas ações é necessário obter o comprometimento dos colaboradores internos e o engajamento da comunidade, onde estão todos englobados agindo como multiplicadores e fiscais na aplicação dos recursos e o retorno destes investimentos, refletindo num bem-estar social e qualidade de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário