O autor Albert Camus, nasceu em 1913 na cidade de Dréan-Argélia e faleceu em 1960 na cidade de Villeblevin-França, foi um escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta franco-argelino. Ele atuou como jornalista militante envolvido na Resistência Francesa, situando-se próximo das correntes libertárias durante as batalhas morais no período pós-guerra, também ligado ao movimento filosófico existencialista.
Foi influenciado pelos filósofos, Jean-Paul Sartre, Friedrich Nietzsche, Kafka, Simone de Beauvoir, Kierkergaar, Fiódor Dostoiévski, Schopenhauer, entre outros grandes pensadores.
Alguns de seus livros viraram filmes tais como: O Estrangeiro; A Peste de Camus; Longe dos Homens; Destino, entre outros.
Camus foi um dos filósofos que se propôs a enfrentar um antigo e também atual tema da filosofia: “o sentido da vida humana”, provavelmente este seja o tema mais complicado de todos os temas abordados pela filosofia. Seu argumento: a condição humana é dada pelo “absurdo”, o absurdo será encontrado nas obras dele com sua forma peculiar de chamar a atenção para a vida e sua relação com o mundo que criamos em nosso entorno.
Quem lê um livro de Camus passa a ter interesse em ler os demais, sua forma genial em abordar assuntos relacionados a nossa rotina nos dá a sensação de sermos parte de algum de seus ensaios, eis uma frase do livro A Queda: “Nenhum homem é hipócrita em seus prazeres”. Ele abordou um dos temas mais pesados da condição humana, o suicídio!
Sinopse
O narrador, autodenominado "juiz-penitente", denuncia a natureza humana paralelamente a um penoso processo de autocrítica. La Chute é o nome do livro em Francês, A Queda é o nome no Brasil e em Portugal, trata-se de um romance filosófico publicado pela primeira vez em 1956, é a última obra completa de ficção do autor. A ação desenrola-se na cidade de Amsterdã/Holanda, a narrativa consiste numa série de monólogos dramáticos do autoproclamado "juiz-penitente" Jean-Baptiste Clamence, o dialogo inicia num bar de Amsterdã e à medida que vai refletindo sobre sua vida em frente a um estranho. No que acaba sendo uma confissão, Clamence conta sobre seu sucesso como um rico advogado de defesa parisiense, altamente respeitado por seus colegas e com sucesso entre as mulheres; a sua crise, e a sua derradeira "queda", tem como meta invocar, em termos seculares, a Queda do Homem, no Jardim do Éden. O livro explora temas como a inocência, o absurdo, a prisão, a não-existência e a verdade.
O autor usou seus personagens principais para se dirigir diretamente aos leitores, foi escrito no tempo presente e na primeira pessoa, assumindo assim que o leitor se juntará ao personagem principal, Clamence, na esfera de discurso imaginada pelo romance. Num elogio a Albert Camus, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre descreveu o romance como "talvez o mais belo e menos compreendido" dos livros de Camus.
A queda é um livro que dialoga com o Mito de Sisifo que também é um livro de Camus, foi escrito em 1941 e A Queda foi publicado pela primeira vez em 1956, portanto posterior, para quem já leu o Mito de Sisifo perceberá o diálogo entre eles, quem ainda não leu vale a pena ler.
No Mito de Sisifo Camus destaca o mundo imerso em irracionalidades e lembra Sisifo, condenado pelos deuses a empurrar incessantemente uma pedra até o alto da montanha, de onde ela tornava a cair, caracterizando seu trabalho como inútil e sem esperança. O autor faz um retrato do vazio em que vivemos e do dilema enfrentado pelo homem contemporâneo: “Ou não somos livres e o responsável pelo mal é Deus Todo-Poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é Todo-Poderoso. ”
Camus pensava que os filósofos se afastavam da vida das pessoas, a filosofia tradicional era incapaz de responder a questão essencial colocada pelo suicídio: “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia. Os filósofos ficavam muito nas abstrações, então a partir desta impressão ele procurava mudar o rumo da filosofia, então vai dialogar com as pessoas através do romance-filosófico, um romance seria uma das melhores formas de levar o pensamento filosófico para a vida das pessoas, como forma de facilitar a compreensão de temas densos e básicos para toda pessoa que se importa com a existência.
Este livro é basicamente um monólogo, ele é denso por estar recheado de reflexões, e a leitura deve ser no seu tempo certo para não perder a riqueza de reflexões, é um livro curto, mas denso e muito interessante, nos sentimos como integrantes da história dialogando mentalmente.
O advogado Jean-Baptiste Clamence é o protagonista, é ele quem fala, é o personagem-narrador, é uma história que inicia num bar de Amsterdã/Holanda, o dialogo é uma espécie de confissão, ele fala que era um advogado bem sucedido profissionalmente, também era bem quisto pelas mulheres, confessou que era uma pessoa que ajudava as pessoas, porem ajudava pensando na imagem e impressão que isto causaria na sociedade e a impressão que iria causar no olhar do outro, não praticava o bem pelo bem, ele admitiu que era muito hedonista, ele praticava o bem para ter uma boa reputação, queria aplausos e holofotes.
Ele presencia um momento trágico, um suicídio, isto vai causar nele uma consciência do absurdo, sabemos que Camus é um filosofo do absurdo tal como Sartre, ele pensa muito no absurdo e na angustia existencialista, o absurdo seria para Camus aquele ponto zero em suas obras, caracterizando uma circularidade de suas obras em torno do tema do absurdo.
Num trecho do livro ele relata que ao passar na Pont des Arts em Paris, ouve risadas, e estas risadas fazem ele voltar a memória do suicídio, ele relembra sua presença no ato do suicídio, o modo como ele age e reage a vida o marca de certa forma, não conseguindo jamais esquecer, isto porque ele vive atormentado, o choque daquela vivencia faz ele ter a consciência do absurdo do mundo, da obviedade, da dubiedade, da ambiguidade, percebeu que não consegue mais viver pelas regras hedonistas e teve uma verdadeira noção de sua falibilidade e da falibilidade humana.
Ele começa a perceber que agia por motivos dúbios, ele começa a refletir sobre tudo que pensava e como agia, ele se dá conta que vivia por falsidades, tinha uma vida ambígua, uma vida falsa, neste auto exame ele também passa a examinar o mundo, se tornando num juiz-penitente, passando a ver as falsidades do mundo e das atitudes das pessoas, ele agora procura dialogar com as pessoas, num diálogo-confissão ele acaba confessando para estranhos estas coisa da vida dele, para que estes estranhos percebam a forma que vivem seu absurdo, ele julga as pessoas de certa forma na medida que ele revela sua baixeza, ele se mostra como um espelho.
Trecho do Livro: "Finalmente, trazem
nossa genebra. À sua prosperidade. Sim, o gorila abriu a boca para me chamar de
doutor. Nesta terra, todo mundo é doutor ou professor. Gostam de mostrar-se respeitosos,
por bondade e por modéstia. Entre eles, pelo menos, a maldade não é uma instituição
nacional. Além disso, não sou médico. Se quer mesmo saber, eu era advogado
antes de vir para cá. Agora, sou juiz-penitente." Pg.9
O interessante é a forma como Clamence vê a si próprio e como vê os outros, não toma distância do objeto para melhor analisá-lo, o foco narrativo parte de si mesmo em direção ao outro, e vendo o conflito e a duplicidade que compõe sua personalidade toma consciência do absurdo, o personagem-narrador passa a perceber todo o mundo conflituoso também fora de si, sua intenção é fazer as pessoas também se enxergarem como personagens do conflito, o espelho é levado até as pessoas como forma de exemplificar e se verem também nos mesmos conflitos, duplicidades e ambiguidades.
Ele diz que os homens não agem como dizem e porque realmente agem, pois, as pessoas e o mundo vivem por falsas razões, as pessoas usariam mascaras sociais construídas a partir das convenções sociais.
Ele acha que o mundo não tem solução, aceita que o mundo é assim mesmo, o mundo é absurdo, que o mundo só tem o mal presente, não existe pecado como prega a consciência cristã, o mundo existe numa ordem do absurdo, não tem uma ordem racional como muitos pensam, mesmo assim Camus não é um irracionalista, não atribui o absurdo á estrutura do mundo (“o absurdo não está no homem [...], nem no mundo, mas na sua presença comum).
Ele então consciente da vida no absurdo decide mudar algumas coisas em sua vida, decide mudar sua forma de viver, ele passa a agir como um homem revoltado. Lembrando que este livro é denso e é um ensaio filosófico, por isto é um pouco mais difícil, é um tema pesado que trata do suicido, e suicídio é um problema da sociedade atual e de difícil solução
Trecho do Livro: "A amizade é menos
simples. Sua aquisição é longa e difícil, mas, quando se obtém, já não há meios
de nos livrarmos dela; temos de enfrentá-la. Sobretudo não acredite que seus
amigos lhe telefonarão todas as noites, como deviam, para saber se não é
precisamente essa a noite em que decidiu suicidar-se ou, mais simplesmente, se
não tem necessidade de companhia, se não está com vontade de sair. Oh, não, se
telefonarem, pode ficar certo, será na noite em que você já não está só e em
que a vida parece bela. Quanto ao suicídio, de preferência eles o levariam a
isso, em virtude do que deve a si próprio, segundo eles." Pg.26
Ele pensa que o homem deve se revoltar contra o absurdo, ele pensa que o suicídio e assassinato não são soluções para saída do absurdo, ele é contra a morte desta forma, pois o homem deve ter a possibilidade de viver conscientemente o absurdo, esta é a verdadeira revolta, tal como Sísifo vivendo em seu eterno absurdo, Sísifo quando se dá conta do absurdo da situação, se torna consciente e abraça seu destino, logo não se sentindo mais vítima, Sísifo então passa a aceitar e passa a levantar a pedra com satisfação, isto é o que irá o tornar num homem revoltado, por tomar conhecimento da situação, acredita não ser uma vítima isto é ser um homem revoltado, já não nega mais o absurdo, vai viver num código moral próprio e especifico.
A queda faz parte de um tempo das desilusões, do afastamento, da solidão, a natureza humana é a culpada pelo absurdo: “Onde começa a confissão, onde começa a acusação? ”.
“Uma única verdade, seja como for, nesse jogo de espelhos estudado: a dor e o que ela promete. ”
Nós todos vivemos num mundo de absurdos, temos noção disto, vivemos conscientes sem negar, isto é ser lúcido, esta lucidez nos liberta da prisão de conveniências, de certa forma nos liberta do enredo de uma série de fios de ambiguidades, estamos então conscientes, pelo menos tentamos nos libertar deste emaranhado, desta teia grudante que são as aparências e convenções sociais.
Fonte:
Camus, Albert. A queda. Tradução de Valerie Rumjanek. – 12ª edição – Rio de Janeiro: BestBolso, 2020
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