Pesquisar este blog

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Resenha do livro “Ideias para adiar o fim do mundo” do autor Ailton Krenak

Ailton Krenak

Sobre o Autor

AILTON KRENAK nasceu em 1953. Filósofo, poeta, líder indígena, ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e professor doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Krenak é autor de vários livros: Ideias para adiar o fim do mundo; A vida não é útil; O amanhã não está à venda; O lugar onde a terra descansa.

O livro Ideias para adiar o fim do mundo foi publicado em Julho de 2020 faz parte da literatura brasileira contemporânea e trata de assuntos relevantes como democracia e meio ambiente, o autor melhor do que ninguém sentiu na pele e na alma os impactos do desamparo e descaso para com a comunidade indígena e ao meio ambiente, tudo em nome da exploração irresponsável e danosa da mineração, os problemas são abordados por Ailton Krenak.

O povo Krenak (crenaque), conhecidos também por Aimorés, são os últimos Botocudos do Leste, denominação dada pelos portugueses no final do século XVIII aos grupos que usavam botoques auriculares e labiais. Vivem hoje numa reserva de quatro mil hectares, nas margens do Rio Doce entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, em Minas Gerais.

 

Sinopse do livro Ideias para adiar o fim do mundo:

 

Uma parábola sobre os tempos atuais, por um de nossos maiores pensadores indígenas.

Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem resinificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo. “Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. [...] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história.” Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak se destaca como um dos mais originais e importantes pensadores brasileiros. Ouvi-lo é mais urgente do que nunca. Esta nova edição de Ideias para adiar o fim do mundo, resultado de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019, conta com posfácio inédito de Eduardo Viveiros de Castro.

 

Trechos do livro:

“A primeira vez que desembarquei no aeroporto de Lisboa, tive uma sensação estranha. Por mais de cinquenta anos, evitei atravessar o oceano por razões afetivas e históricas. Eu achava que não tinha muita coisa para conversar com os portugueses — não que isso fosse uma grande questão, mas era algo que eu evitava. Quando se completaram quinhentos anos da travessia de Cabral e companhia, recusei um convite para vir a Portugal. Eu disse: “Essa é uma típica festa portuguesa, vocês vão celebrar a invasão do meu canto do mundo. Não vou, não”. Porém, não transformei isso numa rixa e pensei: “Vamos ver o que acontece no futuro”. Pg.7

 

Quando a gente quis criar uma reserva da biosfera em uma região do Brasil, foi preciso justificar para a Unesco por que era importante que o planeta não fosse devorado pela mineração. Para essa instituição, é como se bastasse manter apenas alguns lugares como amostra grátis da Terra. Se sobrevivermos, vamos brigar pelos pedaços de planeta que a gente não comeu, e os nossos netos ou tataranetos — ou os netos de nossos tataranetos — vão poder passear para ver como era a Terra no passado. Essas agências e instituições foram configuradas e mantidas como estruturas dessa humanidade. E nós legitimamos sua perpetuação, aceitamos suas decisões, que muitas vezes são ruins e nos causam perdas, porque estão a serviço da humanidade que pensamos ser. Pg. 8

 

Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% estão totalmente alienados do mínimo exercício de ser? A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade. Se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.

“Ideias para adiar o fim do mundo” — esse título é uma provocação. Eu estava no quintal de casa quando me trouxeram o telefone, dizendo: “Estão te chamando lá da Universidade de Brasília, para você participar de um encontro sobre desenvolvimento sustentável”. Pg. 9

 

Num outro livro também de autoria de Ailton Krenak, A vida não é útil. Publicado pela Companhia das Letras; 1ª edição (7 agosto 2020)

 

Sinopse do livro “A vida não é útil”:

 

Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global. Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia. Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os “paraquedas coloridos” descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020. Pesquisa e organização de Rita Carelli.

Nem precisa dizer que Krenak luta pela democracia, vida e pelo meio ambiente, e luta em uma era onde ela nunca esteve tão frágil, falo da democracia e do meio ambiente, o ser humano ainda pensa ser o centro do universo e estaria dissociado da natureza, Krenak nos faz lembrar disso e afirma que somos nós que dependemos da natureza, e não é a natureza que depende de nós, como ativista e indígena ele acredita não fazer parte dessa humanidade, afirma sentir-se excluído dela, e não é para menos, o povo indígena Crenaque/Krenak ou Botocudos (antigamente conhecidos como Botocudos, Aimorés ou Borun, e autodenominados Gren ou Kren são um grupo indígena brasileiro, localizados em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso) foram dizimados ou quase extintos, sua luta pela sobrevivência é anterior a chegada dos portugueses no Brasil, com a chegada dos colonizadores foi iniciado o processo de extinção de milhões de indígenas em nosso pais.

Conforme Fundação Nacional da Saúde em 2010 o senso contabilizou que restavam apenas 350 indígenas Krenak’s, já através do senso 2010 (https://censo2010.ibge.gov.br/terrasindigenas/) o número é ainda menor, falam em 270 indígenas, realmente o baixo número é assustador, a capacidade de destruição e extinção daqueles que são os mais frágeis em nossa sociedade é fato que nos causa asco e vergonha, aos poucos tudo está se perdendo, sua língua que representa a identidade coletiva daquele povo (crenaque), valores étnicos e culturais e principalmente os seres humanos que vivem desde os primórdios deste pais estão em iminência de desaparecer.

Em 2015 ocorreu a tragédia de Mariana (MG) dando visibilidade nacional ao povo Krenak, foi quando a barragem da Mineradora Samarco se rompeu trazendo uma enxurrada de lama toxica que percorreu mais de 200 km de distância, foi a pá de cal sobre qualquer perspectiva de melhora daquele povo, foi uma pancada forte sobre o corpo e a alma, eles que já viviam em alta vulnerabilidade, então após o desastre proferido pela empresa Samarco, que é controlada pela Vale e a australiana BHP Billiton, inviabilizou o uso do Rio Doce pelos Krenak, o rio era a principal fonte de subsistência, agora o futuro se havia algum determinou um final de história desastroso para a história brasileira.

Os livros de Ailton Krenak vão além da filosofia ou da literatura em si, são na verdade gritos de alerta ao que poderá acontecer a toda vida humana se assim continuarmos nesta caminhada de exploração e destruição.

Há um documentário que trata do tema Krenak, sobreviventes do Vale, o documentário conta a história de resiliência e determinação do povo indígena, visite o link: https://canaisglobo.globo.com/c/futura/

Assista agora “Krenak: sobreviventes do vale” no Futura Play!

 

Fontes:

  • KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição (24 julho 2020)
  • KRENAK, Ailton. A vida não é util. São Paulo: Companhia das Letras, 1ª edição (07 agosto 2020)

·         https://www.futura.org.br/krenak-sobreviventes-do-vale/

·         https://www.greenpeace.org/brasil/blog/rio-doce-impactos-da-lama-no-corpo-e-na-alma-do-povo-krenak/

Nenhum comentário:

Postar um comentário