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sexta-feira, 11 de junho de 2021

Resenha do livro “A cidade do sol” – Khaled Hosseini

O autor deste livro é Khaled Hosseini, um romancista e médico afegão, com naturalização estadunidense. Ele também é o autor do romance best-seller, The Kite Runner (O Caçador de Pipas). Hosseini nasceu em Cabul, no Afeganistão. Depois do sucesso do comentado best seller ‘’O caçador de pipas’’, Khaled produziu esta história fictícia, baseada em fatos de maneira a retratar a história de vida de pessoas no Afeganistão e suas diversas etnias que compõem aquele belo pais, trouxe mais uma história afegã no livro ‘’A cidade do sol’’, publicado no ano de 2007.

Sinopse

Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rasheed, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Mas as pessoas não controlam seu destino. Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz - 'Você pode ser tudo o que quiser'. Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Confrontadas pela História, o que parecia impossível acontece - Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. E a partir desse momento, embora a História continue a decidir os destinos, uma outra história começa a ser contada, aquela que ensina que todos nós fazemos parte do 'todo humano', somos iguais na diferença, com nossos pensamentos, sentimentos e mistérios.

Trechos do livro:

 

— Aprenda isso de uma vez por todas, filha: assim como uma bússola precisa

apontar para o norte, assim também o dedo acusador de um homem sempre

encontra uma mulher a sua frente. Sempre. Pg.12

 

Nesse verão, Cabul foi tomada pela febre do Titanic. As pessoas contrabandeavam cópias pirata do filme lá do Paquistão, por vezes escondendo-as na roupa de baixo. Depois do toque de recolher, todos trancavam as próprias casas, apagavam as luzes, baixavam ao máximo o volume das televisões e voltavam a chorar por Jack, Rose e os demais passageiros do navio que naufragou. Quando não estava faltando luz, Mariam, Laila e as crianças também viam o filme. Por dez vezes, ou mais, desenterraram a TV lá do quintal, tarde da noite, com a casa toda às escuras e umas mantas penduradas nas janelas.

Vendedores desciam ao leito ressecado do rio Cabul. Em pouco tempo, era possível comprar ali dentro, nos buracos esturricados pelo sol, tapetes e roupasTitanic, que enchiam carrinhos de mão.

Havia desodorante Titanic, pasta de dentes Titanic, perfume Titanic, pakora

Titanic e até mesmo burqas Titanic. Um mendigo particularmente persistente passou a se autodenominar "Pedinte Titanic". Pg. 267

 

Até que, um belo dia, Rashid declarou que não ia mais levá-la ao orfanato.

— Estou cansado demais de ficar andando pela rua para cima e para baixo, procurando emprego — disse ele.

— Então, vou sozinha — retrucou Laila. — Você não pode me impedir, Rashid.

Esta me ouvindo? Pode me bater o quanto quiser, mas vou continuar indo lá.

— Como quiser. Mas não vai conseguir passar pelos talibãs. Depois, não venha me dizer que não avisei...

— Vou com você — interveio Mariam. Mas Laila não deixou.

— Não. Você tem que ficar em casa com Zalmai. Se formos detidas... não quero que ele veja essa cena. Pg. 282

 

Tinha sido uma esposa infiel? Foi a pergunta que se fez. Uma esposa complacente? Uma mulher indigna? Infame? Vulgar? Que mal tinha feito, deliberadamente, a esse homem para justificar sua maldade, seus repetidos ataques, o prazer que ele sentia em atormentá-la? Não tinha cuidado dele quando estava doente? Não tinha lhe dado comida, a ele e a seus amigos, e limpado as coisas dele com todo cuidado? Não tinha entregado a sua juventude a esse homem? Por uma única vez que fosse, tinha merecido a sua crueldade?

Ouviu o barulho do cinto caindo no chão quando Rashid o soltou e veio para cima dela.

Algumas tarefas devem ser feitas só com as mãos, foi o que disse aquele ruído. Pg.307

O livro mexe com o psicológico das pessoas, principalmente com o psicológico ocidental, os acontecimentos que por lá acontecem são parte do cotidiano, por aqui seria impensável, podemos ter um vislumbre das imensas diferenças culturais, lembrando que o Afeganistão faz parte do Grande Oriente Médio no mundo islâmico. Este é um livro que traz de perto a história e cultura do Afeganistão; o desenrolar da história das duas mulheres ocorre na época e tem como pano de fundo a Guerra com os soviéticos, a chegada do Talibã, e o regime talibã é exposto em sua brutalidade. 

A leitura nos causa impacto a medida que tomamos conhecimento das normas que transformaram a mulher num mero acessório do homem, são como animais de estimação, é chocante e revoltante. Fala da história de um povo, de suas perdas durante aquele período de dificuldades. Muitos são obrigados a fugir do próprio país, e viverem dispersos no mundo como refugiados. No meio disto tudo o livro se torna ainda mais dramático, ele fala de mulheres neste mundo caótico fundamentalista.  

A cidade do Sol é um romance envolvente, contado em primeira pessoa, são muitas fotografias de vidas em momentos históricos, ele leva o leitor para a fascinante cultura islâmica com todos os seus contrastes, polêmicas e belezas, o autor conseguiu dar vida as palavras e movimento as suas memórias, é possível que muitas mulheres se vejam nos papéis destas mulheres, sentindo-se num beco sem saída.

O livro é dividido em duas partes. A primeira parte conta a história de Mariam, ela nasceu em 1959, na cidade de Herat, Herat (Herate) é a terceira e mais populosa cidade do Afeganistão. Ela era filha de sua mãe com um homem já casado com três esposas (fato normal naquele lugar e naquela época), portanto, era fruto de um adultério e era nada mais do que uma filha ilegítima.

No decorrer de toda a história, o autor nos coloca em contato com inúmeras palavras e expressões da língua afegã, que podem ser reconhecidas e encaixadas no contexto. Mariam, é descrita como uma ‘’harami’’, que significa filha ilegítima ou bastarda.

Aos quinze anos de idade, após a morte de sua mãe, Mariam é forçada pelo pai Jalil a se casar com Rashid, um sapateiro de Cabul, de quarenta e cinco anos de idade. A partir desse casamento, é que todos os sofrimentos ainda mais horríveis do que os já conhecidos, começam a surgir na vida de Mariam.

A segunda parte do livro conta a história de Laila, ela nasceu em 1978, ou seja, dezenove anos mais velha que Mariam. Laila tinha um amigo desde sua infância chamado Tariq, que estava sempre com ela, a acompanhava em todos os momentos.

Depois de um tempo, com quatorze anos, Laila e Tariq descobrem-se apaixonados um pelo outro. Mas, Tariq chega com a notícia de que precisará ir embora do país, juntamente com seus pais. Laila é convidada, mas é incapaz de deixar os pais. E os dois se entregam um ao outro, mesmo sem casamento e Tariq parte, deixando Laila.

Quando os pais de Laila decidem ir embora do país, a casa é atacada por um bombardeio e a menina fica órfã, ela é a única sobrevivente. Laila recobra os sentidos muito tempo depois e se descobre na casa dos vizinhos, Mariam e Rashid, que a acolheram e cuidaram-na enquanto estava inconsciente. Para autorizar que Laila permaneça na casa, Rashid lhe propõe casamento. A menina que não tem outra alternativa por se tratar de uma norma rígida, aceita, tudo porque estava grávida de outro, ela se torna a segunda esposa de Rashid, após o casamento Rashid diz que o filho é dele. Antes do casamento, Laila já havia recebido a notícia de que Tariq havia falecido por conta da guerra.

 

Nasce a filha de Laila, Aziza que passa a ser criada pela mãe e por Mariam, esta que nunca conseguiu dar um filho a Rashid. O homem, não gostava da criança, porque sempre desejou ter um filho e ele parecia sempre estar desconfiado de alguma coisa, talvez reflexo da própria vida de absurdos vividos por aquele povo sofrido e sempre envolvido em guerras.

 

Rashid sempre que podia maltratava as duas mulheres. Tudo era motivo para castigos e espancamentos, ele agia sempre com muita crueldade e agressividade.

E assim foi a rotina dessas duas mulheres, unidas pelo difícil destino e passaram a compartilhar de uma vida igualmente sofrida, mesmo diante de tantas dificuldades estas duas mulheres não perdem a determinação, dignidade e esperança, ensinam o verdadeiro sentido da palavra superação.

São vidas que tiveram um final surpreendente, o final não se conta para não tirar o suspense e a curiosidade.

Super recomendo, é uma história comovente, surpreendente, emocionante e ao mesmo tempo revoltante, é ficção, mas é a realidade de muitas mulheres naquele pais, este é um livro que nos permite viajar sentimental e culturalmente.

Fonte:

Hosseini, Khaled. A cidade do sol; Tradução Maria Helena Rouanet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

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