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sábado, 10 de junho de 2023

As utopias de um gato

 



As vezes precisamos nos colocar no lugar do outro para haver entendimento, mesmo em se tratando de um gato, porém não se trata de um gato qualquer, estou me referindo ao gato filósofo, Remo o gato esteiense que é parte desta família.

Ele já nos mostrou que não é um gato qualquer, já o flagramos em seus devaneios com seus olhos semiabertos piscando levemente como se estivesse vendo uma miragem, como se estivesse vivendo em sua mente uma utopia.

Ele sabe que utopia e miragem são conceitos distintos, mas podem estar relacionados de certa forma, ele sabe que utopia se refere a uma ideia, um lugar ou um estado ideal e perfeito que é imaginado, mas geralmente é inatingível na realidade, por outro lado as miragens são ilusões enganosas, uma vez que a realidade é diferente do que nossos olhos percebem.

Ele também sabe que embora a utopia seja uma construção imaginária de um estado ideal, ela pode ser comparada a uma miragem no sentido de que a utopia também pode ser uma ilusão ou algo que não pode ser totalmente alcançado na prática. Assim como uma miragem parece real, mas na verdade é apenas uma ilusão, a utopia pode parecer perfeita e desejável, mas muitas vezes é difícil ou impossível de se alcançar completamente na realidade. No entanto, a utopia pode servir como um ponto de referência para orientar e inspirar a busca por melhorias e transformações na sociedade é também por causa dela que aprendemos a seguir em frente.

Ele sabe disto tudo e muito mais, ele não possui os órgãos da fala como nós seres humanos possuímos, mas ele tem sua própria natureza e possui uma rica linguagem, a linguagem do contato, sensibilidade e intuição apurada, ele em sua utopia também imagina cenários muito parecidos com os nossos, para saber basta que nos coloquemos no lugar dele.

As utopias de um gato podem ser imaginadas como cenários ideais onde um gato teria todas as condições favoráveis para uma vida plena e feliz, o Remo por sua vez já elencou em sua mente filosófica algumas possíveis utopias que são muito parecidas com as nossas.

A começar pela utopia alimentar, ele em seu mundo ideal sempre teria acesso a uma variedade infinita de comida deliciosa, fresca e nutritiva. Não haveria escassez de alimentos, e todas as suas preferências gastronômicas seriam atendidas sempre que quisesse, independente de ter apetite ou não, estariam lá a sua disposição e de todos os outros gatos, como numa republica onde todos vivem em comunhão voltados para a harmonia e justiça dos interesses de todos.

Seguindo nesta republica de gatos, em seguida viria a utopia da saúde, ele estaria imune a todas as doenças, parasitas e lesões. Não haveria necessidade de visitas ao veterinário ou tratamentos desconfortáveis, mas se precisasse teria todo o tipo de assistência voltados para seu bem estar. O Remo teria uma saúde perfeita e uma vida longa sem os infortúnios que nos assombram seja na juventude ou na velhice.

Como não poderia faltar, a utopia do conforto, o Remo teria uma infinita variedade de lugares macios e aconchegantes para descansar, como camas de pelúcia, almofadas fofas e cobertores quentes. Não haveria desconforto físico nem falta de espaço para relaxar, nada melhor do que viver o ócio em berço macio e aconchegante.

Agora vem a utopia da diversão e lazer, ele já se imagina num ambiente repleto de brinquedos interativos, arranhadores, túneis e áreas para explorar. Seria um verdadeiro paraíso de entretenimento felino, onde o tédio seria inexistente, atividade física recreativa também é uma forma de vencermos o tédio, conforto em exagero e ócio sem limites trazem consigo o tédio e angustia, o gato filósofo sabe disto também, ele cuida do corpo e sabe que estará cuidando de sua mente.

Por último ficou a utopia que é a mais cara e difícil de se ter, a liberdade. O gato filósofo sabe o quanto este item é caro, vive muitos momentos de sua curta vida meditando a respeito disto, em seu caso ele pensa imediatamente em ter acesso a um espaço amplo e seguro, onde pudesse explorar livremente sem medo de perigos externos. Não haveria cercas, coleiras ou restrições, permitindo que todos os gatos vivessem uma vida verdadeiramente selvagem livre de imposições.

Essas são apenas algumas das possíveis utopias do Remo, o gato filósofo, é importante lembrarmos que a natureza dos gatos é complexa e individual. O que pode parecer uma utopia para um gato pode não ser o mesmo para outro. Cada gato tem suas próprias preferências e necessidades, e a utopia de um gato pode variar de acordo com sua personalidade e experiências de vida, quanto disto tudo me é familiar, cada qual em sua natureza e suas próprias medidas, no fundo todos nós precisamos destas utopias nem que seja um pouquinho de cada uma e de outra em nosso mundo real, sejam felinos ou humanos, nem demais, nem de menos.

O Remo me parece ser um gato admirador de Platão, ele deve se imaginar um gato filósofo-rei, ele deve se imaginar no mundo de Platão, ele deve viver na Republica, pois suas utopias estão descritas de maneira como viveria numa cidade ideal governada por filósofos-reis, onde a justiça, a igualdade e a harmonia são fundamentais.

Nosso gato filósofo é republicano, em seu republicanismo ele muitas vezes reflete sobre filosofia política, mesmo sem saber ler nenhuma linha daquilo que consta nos milhares de livros de filosofia política, ele é esperto e inteligente, já chegou por seu próprio esforço intelectual felino as mesmas conclusões que nossos mais renomados filósofos chegaram, ele tem suas próprias teorias, algumas e em sua maioria convergem na direção de Platão, Aristóteles, Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke, Rousseau, Stuart Mill, ele não deixaria de enfatizar a importância da liberdade, do bem comum e da participação ativa, em sua independência e liberdade conseguiu construir no seu próprio mundo felino suas regras de convivência segundo sua realidade.

Em sua sabedoria observou por muitos anos as discussões dos humanos vivendo a experiência da "república de promessas de um governo gato por lebre", a expressão para ele parece combinar os conceitos de um governo que faz promessas enganosas e a ideia de uma república possível, no entanto, ele que é um gato sábio já entendeu que as promessas utópicas e claro a miragem são engodos criados para conquistar o apoio e se manter no poder, fazem promessas ilusórias em vez de implementar mudanças reais e efetivas. 

Outras vezes me parece ser simpatizante de Thomas More, a maneira que descreve lá na sua mente, ele deve se imaginar numa sociedade imaginária em uma ilha, onde há igualdade social, liberdade religiosa, educação igualitária e propriedade comum, neste ultimo caso ele colocou um ingrediente que só nos seres humanos inventamos, a religião, ele pensa como somo paradoxais, o que inventamos para nos ligar é justamente o que nos afasta e separa, as leituras fundamentalistas só poderiam ser coisa de humanos, ele sabe também que quando excluímos, ao mesmo tempo estamos nos excluindo e sendo excluídos, assim uma sociedade não pode sobreviver com harmonia, por final ele concluiu, ainda bem que sou gato e vivo na republica dos gatos. 



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