Sou fã de Zé Ramalho, assisto com frequência e repetidamente suas exibições em shows, neste final de semana não foi diferente. Zé Ramalho é cantor, compositor e músico brasileiro cuja música é uma mistura única de diversos estilos e influências, tornando difícil categorizá-lo em um único gênero musical. Ele é conhecido por fundir elementos de rock, folk, música nordestina, música regional brasileira e letras poéticas.
As letras das musicas de Zé Ramalho muitas vezes apresentam uma abordagem poética e introspectiva, onde ele explora temas como espiritualidade, misticismo, amor, crítica social e questões existenciais. Suas composições frequentemente incorporam metáforas, símbolos e referências culturais, e são ricas em imaginação e profundidade. O estilo das letras de Zé Ramalho é fortemente influenciado pela cultura nordestina do Brasil, com referências a lendas, mitos, figuras históricas e paisagens do Nordeste. Ele também incorpora elementos de literatura, filosofia e espiritualidade em suas letras, o que contribui para a complexidade e riqueza de sua obra.
Em termos de estrutura poética, Zé Ramalho muitas vezes utiliza versos livres e métrica variada para se adequar à melodia e ao ritmo da música. Sua habilidade de transmitir emoções profundas através das palavras e sua voz distintiva contribuem para a atemporalidade e a universalidade de suas canções, logo, ele consegue conectar-se com todos que deram ouvidos a sua arte.
Musicas: https://www.youtube.com/watch?v=z_gMhoDbF3E
DA SAGRADA ESCRITURA DOS VIOLEIROS…
A defesa é natural:
cada qual para o que nasce,
cada qual com sua classe,
seus estilos de agradar.
Um nasce para trabalhar,
outro nasce para briga,
outro vive de intriga,
E outro de negociar.
Outro vive de enganar -
o mundo só presta assim:
é um bom outro ruim,
e eu não tenho jeito pra dar.
Pra acabar de completar:
Quem tem o mel, dá o mel.
Quem tem o fel. dá o fel.
Quem nada tem, nada dá.
Zé Ramalho
“Quem tem o mel, dá o mel. Quem tem o fel, dá o fel. Quem nada tem, nada dá”
Com essa máxima Zé Ramalho nos faz refletir sobre a ideia de que as pessoas compartilham o que possuem, seja algo positivo (como o mel, representando coisas boas) ou algo negativo (como o fel, representando coisas ruins). Também destaca a ideia de que quem não possui nada não pode oferecer nada. É uma maneira de expressar a noção de que as ações e as ofertas de uma pessoa refletem o que ela tem dentro de si. No contexto filosófico, isso pode ser interpretado como uma reflexão sobre a influência que nossa condição, experiências e emoções exercem sobre nossas ações e interações com o mundo ao nosso redor. A máxima enfatiza que as ações são moldadas pela condição interna e pelo que possuímos, seja positivo ou negativo, e isso impacta nossa capacidade de compartilhar com os outros.
A máxima "Quem tem o mel, dá o mel. Quem tem o fel, dá o fel. Quem nada tem, nada dá" encapsula uma sabedoria que tem ecoado através das gerações. Esta afirmação simples, no entanto, carrega uma profundidade filosófica significativa que pode ser analisada à luz das teorias de diversos filósofos. Este ensaio explora a dualidade da natureza humana, representada pelo mel e pelo fel, e como as ações dos indivíduos são moldadas por aquilo que possuem.
A Dualidade Humana Segundo Aristóteles: Virtudes e Vícios
O filósofo grego Aristóteles destacou a importância das virtudes e dos vícios na ética. Segundo sua ética das virtudes, o "mel" representa as virtudes, que são qualidades positivas como a coragem, a temperança e a sabedoria. Aqueles que possuem virtudes são inclinados a compartilhar bondade e benevolência com outros. Por outro lado, o "fel" representa os vícios, tais como a raiva, a avareza e a crueldade. Quem está imerso nos vícios é propenso a disseminar negatividade e dor.
O Existencialismo de Jean-Paul Sartre: Liberdade e Responsabilidade
O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre argumentou que os seres humanos são "condenados à liberdade". Eles têm a responsabilidade de criar seu próprio significado e valores na vida. Na perspectiva de Sartre, "ter o mel" pode ser interpretado como a responsabilidade de fazer escolhas éticas e altruístas, enquanto "ter o fel" representa a escolha de agir de maneira egoísta e prejudicial aos outros.
A Filosofia Budista: Desapego e Nirvana
Na tradição budista, o "mel" pode ser associado ao apego aos desejos e posses materiais, enquanto o "fel" simboliza o desapego e a renúncia. A sabedoria budista ensina que aqueles que estão livres do apego estão mais inclinados a compartilhar, pois não são escravos das aquisições materiais. Nessa ótica, quem nada possui está mais próximo do caminho para a libertação do sofrimento (Nirvana).
A máxima "Quem tem o mel, dá o mel. Quem tem o fel, dá o fel. Quem nada tem, nada dá" ilustra uma profunda reflexão sobre a natureza humana e a ética de suas ações. Através das lentes filosóficas de pensadores como Aristóteles, Sartre e a filosofia budista, percebemos que as escolhas e ações dos indivíduos são intrinsecamente ligadas ao que possuem e valorizam em suas vidas. Seja virtude ou vício, apego ou desapego, as ações de uma pessoa são moldadas pela natureza dual e complexa da condição humana. Compreender essa dualidade é crucial para promover uma sociedade mais ética e compassiva, onde o "mel" possa ser compartilhado e o "fel" possa ser transformado em sabedoria e compreensão.
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