Mandala
Quantas vezes nos pegamos tentando articular pensamentos, sentimentos ou experiências, apenas para nos darmos conta de que há algo que escapa às palavras? Em um daqueles momentos de reflexão, percebi que nem tudo o que experimentamos pode ser encaixado confortavelmente em frases ou parágrafos, nem mesmo nos confins da nossa imaginação. Parece que existe um vasto território do inexprimível, um lugar onde as palavras hesitam, as canetas vacilam e até mesmo a mente dá um passo atrás, admitindo humildemente: "Isso está além de mim."
Pensando a respeito dos limites resolvi ingressar nesta jornada de reflexões e tentar caminhar pelos meandros desse terreno intrigante, onde o silêncio muitas vezes fala mais alto do que as palavras e onde a expressão completa da nossa experiência escapa ao alcance dos nossos esforços verbais. De fato, é um desafio de comunicar o inefável, de abraçar a beleza e a complexidade que residem nos limites da linguagem, escrita e até mesmo do pensamento. É uma viagem rumo ao desconhecido, onde as palavras são apenas guias e o inexprimível é o verdadeiro protagonista.
A ideia de escrever a respeito deste tema surgiu a partir da expressão que me veio à mente quando tentava escrever sobre pensamentos oriundos de um episódio: "nem tudo pode ser escrito" sugere que há aspectos da experiência humana ou da realidade que não podem ser expressos completamente por meio da linguagem escrita. Isso pode se referir a sentimentos profundos, experiências subjetivas, ou elementos complexos que escapam à capacidade das palavras de transmitir totalmente. A linguagem escrita é uma ferramenta poderosa, mas tem suas limitações. Algumas experiências são tão pessoais, sutis ou transcendentes que não podem ser totalmente capturadas por palavras. Além disso, há situações em que a comunicação não verbal, como expressões faciais, gestos e tom de voz, desempenha um papel crucial na transmissão de significado.
Essa ideia também pode apontar para o fato de que a linguagem é sempre uma representação e, portanto, pode haver lacunas entre o que é expresso e a totalidade da experiência. Em alguns contextos, as limitações da linguagem podem levar a mal-entendidos ou a uma falta de comunicação completa. A expressão destaca a complexidade da comunicação e a incapacidade da linguagem escrita de abranger completamente todos os aspectos da experiência humana.
Se acrescentarmos "nem tudo pode ser dito" à expressão "nem tudo pode ser escrito", estamos ampliando a ideia para além da forma escrita da linguagem e reconhecendo que há limitações na comunicação verbal em geral. Isso sugere que nem toda experiência, sentimento ou conhecimento pode ser completamente expresso por meio de palavras faladas ou articuladas.
Essa ampliação da ideia encontra eco em filósofos que também exploraram as limitações da linguagem falada, além da escrita, como Ludwig Wittgenstein, Martin Heidegger e Jacques Derrida, abordaram questões relacionadas à fala e à oralidade. Adicionar "nem tudo pode ser dito" à equação destaca a complexidade da comunicação verbal e as barreiras que enfrentamos ao tentar compartilhar experiências profundas, subjetivas ou complexas. Além disso, filósofos que se dedicaram à fenomenologia e à hermenêutica, como Jean-Paul Sartre e Hans-Georg Gadamer, também exploraram as nuances da comunicação verbal e as maneiras pelas quais a compreensão é influenciada pelo contexto, pela interpretação e pela experiência subjetiva. Então ao considerarmos "nem tudo pode ser dito" em conjunto com "nem tudo pode ser escrito", estamos destacando as limitações gerais da linguagem, independentemente de sua forma, ao tentar abranger toda a complexidade da experiência humana.
Seguindo adiante, se adicionarmos a ideia de "nem tudo pode ser pensado" à expressão "nem tudo pode ser escrito" e "nem tudo pode ser dito", estamos expandindo ainda mais a compreensão das limitações humanas na representação e compreensão completa da realidade. Isso sugere que há aspectos da existência, experiência e conhecimento que estão além da capacidade do pensamento humano de apreender totalmente. Essa adição à expressão reflete uma perspectiva que vai além das limitações das formas de comunicação externas, como a linguagem escrita e falada, para incluir as próprias limitações do pensamento humano. Essa abordagem encontra eco em algumas correntes filosóficas, como a fenomenologia, que destaca a importância da experiência direta e imediata que não pode ser totalmente reduzida a conceitos ou pensamentos.
Filósofos como Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty, dentro da tradição fenomenológica, exploraram a natureza da experiência pré-linguística e pré-conceitual, enfatizando que a compreensão não é apenas uma questão de pensamento, mas também envolve a totalidade da nossa relação com o mundo. Por outro lado, ao incorporarmos "nem tudo pode ser pensado" à expressão ressalta a humildade epistêmica, reconhecendo que há mistérios, complexidades ou dimensões da realidade que podem estar além da capacidade total de apreensão do pensamento humano. Isso também pode ecoar ideias presentes em correntes filosóficas orientais, como o taoísmo, que muitas vezes destacam a importância da experiência direta e intuitiva que transcende as categorias do pensamento.
Em um mundo onde a comunicação se desdobra em palavras, expressões faciais, gestos e pensamentos, ainda nos deparamos com o desafio de transmitir plenamente a complexidade da experiência humana. A frase "nem tudo pode ser escrito, nem tudo pode ser dito, nem tudo pode ser pensado" nos convida a irmos além das limitações das palavras, explorando os territórios misteriosos da linguagem, da oralidade e, inclusive, dos limites do próprio pensamento. De maneira resumida vou buscar apoio em filósofos brilhantes que pensaram a respeito do tema e ver o que eles têm a nos dizer.
"O Silêncio da Escrita", comecemos pelas palavras escritas, onde Ludwig Wittgenstein nos alerta para o silêncio que paira sobre aquilo que transcende a capacidade da linguagem de descrever. Ao mergulhar nas páginas de "Tractatus Logico-Philosophicus", somos instigados a refletir sobre as fronteiras da escrita, onde o inexprimível se manifesta e desafia nossa compreensão convencional.
"A Dança da Oralidade" Ao adicionar "nem tudo pode ser dito" à equação, expandimos nossa exploração para a oralidade. Martin Heidegger nos convida a dançar no espaço entre as palavras faladas, onde a linguagem muitas vezes obscurece o verdadeiro significado das coisas. Poderia a verdade se esconder no não dito? Essa seção nos convida a refletir sobre os espaços vazios entre as palavras e a riqueza do não verbal na comunicação humana.
"Além dos Limites do Pensamento" Agora, elevemos nosso olhar para além das fronteiras do pensamento. Maurice Merleau-Ponty nos guia através da experiência pré-conceitual, desafiando a noção de que tudo pode ser pensado. Nesse reino, a compreensão transcende a lógica, abraçando a totalidade da experiência sensorial e direta que escapa à categorização do pensamento.
Em nossa caminhada através da escrita, da oralidade e do pensamento, percebemos que a busca pela expressão completa da experiência humana é uma viagem interminável. Ao abraçarmos as limitações da linguagem e do pensamento, encontramos um convite para contemplar o mistério e a complexidade que residem para além das palavras. Afinal, é na aceitação do inexprimível que talvez descubramos as verdadeiras nuances da nossa existência. Tudo se complica ainda mais pela complexidade do ser humano em seu processo de humanização que vai se construindo até o “derradeiro” momento de sua morte, sua última experiência a ser vivida, depois disto para escrever sobre ela em seu desenlace, só numa reunião mediúnica.