O Segredo
da Flor de Ouro é um livro de vida chinês, é um livro sobre meditação
e alquimia chinesa traduzido pelo sinólogo Richard Wilhelm e comentado pelo
psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung. O livro
faz referência a uma metáfora na qual cada um de nós é levado a refletir,
convidado a meditar, e iniciar uma caminhada na conquista das chaves que
permitirão abrir a consciência na direção da Luz interna, trata-se de uma
abertura primordial, simbolizada pela flor de ouro, é um centro de poder e
iluminação no qual tudo circula e transcende.
Falar dessa
obra é se referir a um dos textos mais importantes sobre a religião taoísta, e também
um dos mais polêmicos, não se trata de um livro para simples leitura, trata-se
de um livro para estudos, existe nele uma carga imensa de simbolismos de
difícil interpretação para nós ocidentais, é importante dar ouvidos e atenção a
interpretação de Jung e Wilhelm, mesmo assim o livro ainda é uma tradução
“ocidentalizada” de um dos legados espirituais mais relevantes oriente, muitos
detalhes foram simplificados para transformá-lo em um manual chinês sobre ioga
que o mundo ocidental conseguiria entender perfeitamente em nossa linguagem,
sabemos que nossa linguagem não contempla total significado da linguagem
oriental, nesta transposição também se perde muito no caminho, no entanto assim
como a mandala o estudo nos leva a locais ainda inexplorados, logo se faz
necessário estudo e reflexão, trata-se de um trabalho de paciência, trata-se de
um retorno para dentro do silêncio e desprendimento das “coisas”.
Graças ao
trabalho do psicoterapeuta Jung e do sinólogo Wilhelm, foi publicado podemos
ter um conhecimento traduzido a nossa linguagem mais atualizada, ele consegue
estabelecer uma tradução, uma transposição de uma simbologia o qual atualmente
temos maior dificuldade para entender o caminho em direção ao nosso interior, o
caminho que nos leva para uma caminhada até a flor de ouro que habita dentro
nós.
Como vemos,
é um livro de grande importância, cada vez mais o mundo e principalmente o
ocidente vem direcionando maior atenção a ele, já existem muitos grupos de
estudos voltados para compreensão da mensagem do caminho para iluminação
interior. No entanto, a complexidade de sua religião é imensa, é milenar e como
se sabe carregada de simbolismos próprios as crenças culturais. Fala do
processo alquímico através do qual iluminaríamos a morada da consciência
espiritual, a flor de ouro é um símbolo mandálico, é a luz e a luz do céu o
Tao. Para isso, devemos voltar nossa atenção a um recinto sacro interno, à flor
dourada que é, ao mesmo tempo, nossa origem e nossa meta. Por sua vez, Wilhelm
e Jung, embora tenham deixado alguns conceitos
para trás, conseguiram
nos oferecer uma obra na qual podemos nos iniciar nessas ideias, nessa
filosofia espiritual.
“A Flor de Ouro é a Luz,
e a Luz do Céu é o Tao. Aí está a ‘vesícula germinal’, na qual a essência e a
vida ainda são uma unidade. O nascimento do processo alquímico ocorre quando o
escuro dá lugar à Luz”.
A obra trata do nascimento da flor de ouro
dentro de nós, o livro é uma referência a necessidade de transmitir o milenar conhecimento
oral para um registro mais confiável sem deturpações, principalmente porque vivemos
num mundo de desconfiança e insegurança daquilo que chega até nós, nossa
capacidade atual de entendimento deste tipo de linguagem é muito questionável,
portanto é necessário muita dedicação e mudanças iniciando por vencermos o
campo do preconceito muito enraizado em nossa cultura que é contrário as coisas
espirituais de origem oriental.
Esta obra é extremamente simbólica e exige
inúmeras chaves para seu entendimento, os símbolos referidos são linguagens da
alma, as chaves são as formas de entender a simbologia que irá compor o
processo de individuação, o processo da individuação depende de nossa própria
conquista, é a conquista de nós mesmos, é a presença consciente do estar
presente, é o estar inteiro no presente, atento aos nossos movimentos e
pensamentos, ações e pensamentos devem estar ligados.
A compreensão do ser humano é dividida em
duas partes principais no entendimento de Jung que tem uma visão própria e bem
fundamentada, ele pensa que as experiências do inconsciente não é só um bolsão
de experiências de nossas vivencias, é também que o ser humano não nasce apenas
das experiências conscientes, pensa haver algo a priori, que existe algo dentro
de cada um de nós e este algo gera o consciente, neste caso seria o self para
Jung.
Ser – eu mesmo – self – inconsciente -
superior (Triangulo)
Personalidade – pensamentos – mente-
emoções – corpo físico – inferior
Este self de Jung é este algo do
inconsciente a priori que irá se manifestar, e é algo extremamente simples,
poderíamos de maneira simples proporcionar que está semente se expresse e está
realização aflore, sem a necessidade de buscar fora a realização através de
coisas que irão apenas nos desconectar com nosso interior, não é possível
manter a chama da felicidade acesa com o desenraizamento do eu consciente do eu
inconsciente, na verdade nós complicamos nossa vida tornando-a mais complexa
pela busca desesperada lá fora, interrompendo o curso natural da vida, criamos
bloqueios que nos prejudicarão levando a morte em vida, ou seja, um morto vivo
é aquele que está perdido e vive com um autômato, nega seus instintos naturais,
delega para outros e outras coisas o comando de sua vida.
Os fundadores do budismo e do taoísmo
ensinaram que devemos olhar para a ponta do nariz. Não quiseram dizer com isso
que devemos fixar os pensamentos na ponta do nariz. Também não quiseram dizer
que enquanto olhamos a ponta do nariz os pensamentos devem concentrar-se no
centro amarelo. Para onde o olhar se dirige, para o mesmo ponto se dirige o
coração. Como é possível olhar simultaneamente para cima (centro amarelo) e
para baixo (ponta do nariz) ou, alternadamente, ora para cima e ora para baixo?
Mas tudo isso significa confundir o dedo com o qual apontamos a lua, com a
própria lua.
O que quer isto dizer? A palavra
ponta do nariz foi escolhida com muita agudeza. O nariz deve servir como uma
linha diretriz para os olhos. Quando abrimos os olhos bem abertos e olhamos
para a distância de modo a não ver o nariz, ou então baixamos demasiadamente as
pálpebras, de modo que os olhos se fecham e também não vemos o nariz, não nos
orientamos por este último. Mas se abrirmos demais os olhos, cometeremos o erro
de dirigi-los para fora, o que nos distrai facilmente. Por outro lado, se os
fecharmos demais, cometeremos o erro de vertê-los para dentro, o que nos
induzirá a um devaneio absorvente. Só quando baixamos as pálpebras na justa
medida vemos a ponta do nariz de um modo adequado. É por isso que devemos
tomá-la como linha diretriz. Tudo depende de baixarmos corretamente as
pálpebras, deixando a luz irradiar para dentro por si mesma, sem pretender que
a nossa concentração determine a irradiação da luz para dentro. Olhar para a
ponta do nariz serve apenas no começo da concentração interior, a fim de
dirigir os olhos na direção correta e nela se manter. Depois, isto não tem mais
importância. É como o pedreiro, suspendendo o seu fio de prumo. Assim que o
pedreiro o suspende, seu trabalho se orienta por ele, sem que se preocupe em
olhar constantemente para o fio de prumo.
O caminho do indivíduo na busca pelo
despertar da flor de ouro, é um caminho com uma consciência mais alta, o
caminho é de integridade, a segurança é interior, a segurança exterior deixa de
ter tanto valor, a segurança tem valores internos, é um caminho de entrega
total a vida, não é possível haver separação ou dualidade, é necessário focar
no interior, não é possível alimentar duas pessoas internamente, a intenção
deverá ser legitima, sejamos um só, a meta é o uni, trata-se de uma postura de
integridade em tudo que fazemos, sejam em minhas relações de trabalho, de
família, de amigos, esta é a maneira de caminhar em direção a flor de ouro, por
isto realmente é uma proposta muito séria que irá proporcionar mudanças.
Nossa consciência quando voltada para o
exterior fica preso as coisas, as coisas acabam me prendendo e me torno um
escravo delas, é o que Jung chama de participação mística, quando as pessoas conseguem
livrar-se desta prisão é quando há desprendimento das coisas do mundo, é quando
sente que já não dá tanta importância, então este é um estado de felicidade
pela integridade do ser.
O passo que conduz a uma consciência mais
alta deixa-nos sem qualquer segurança, com a retaguarda desguarnecida. O
indivíduo deve entregar-se ao Caminho com toda a sua energia, pois só mediante
sua integridade poderá prosseguir e só ela será uma garantia de que tal caminho
não se torne uma aventura absurda.
Quer receba seu destino de fora ou de
dentro, as vivências e os acontecimentos do Caminho são os mesmos. Por isso,
nada preciso dizer acerca dos múltiplos acontecimentos externos ou internos,
cuja variedade infinita não pode ser abarcada. Em relação ao texto comentado,
isso não teria também qualquer importância.
A consciência não é mais dominada por
intenções compulsivas em adquirir ou manter coisas como realizações, por isso é
importante voltar nossa atenção para o nosso centro e sair do centro dos
objetos, a questão é quem me possui são meus objetos ou eu possuo meus
objetos?, quando me desprendo e desapego
destas coisas extramundanos me aproximo do meu centro onde se encontra semente
do meu centro, é onde encontra-se a semente da flor de ouro, vejamos que aqui
não se trata de uma fuga do mundo, na verdade é estabelecer o lugar de cada um
e cada coisa, é na verdade evitar a influência destas coisas e deste caminho do
ter sem ser, mantenha-se só e isolado, o que se quer dizer é manter sua
consciência alta num lugar que não baixe sua vibração e com maior visão para colaborar
com as soluções, evitando o entrelaçamentos de mundos que não cabem por serem
diferentes, evitamos nos projetar nas coisas, pois caso contrário acabamos retirando
energia de nós mesmos.
Uma chave para abrir a porta do interior é
através da contemplação e meditação:
A contemplação pela fixação é
indispensável, ela produz o fortalecimento da iluminação. Só que não podemos
ficar sentados rigidamente quando despertam os pensamentos mundanos, mas
devemos examinar onde se acham tais pensamentos, como surgiram e onde se
extinguem. Mas levando adiante esta ponderação não chegamos ao fim. Devemos
limitar-nos a ver de onde surgiram esses pensamentos, sem procurar muito além
de sua origem; pois achar o coração (consciência), descobrir a consciência pela
consciência, eis algo de irrealizável. Pretendemos pôr em repouso os estados do
coração, conjuntamente: tal é a verdadeira contemplação. O que for contrário a
isto é uma falsa contemplação. Não leva a meta alguma. Quando, apesar de tudo,
continua incessantemente o fluxo dos pensamentos, devemos parar e entrar em
contemplação. Então contemplemos e recomecemos a meditação pela fixação. É o
duplo cultivar do fortalecimento da iluminação. A isto se denomina movimento
circular da luz. Movimento circular é fixar. A luz é contemplação. Fixar sem
contemplação é um movimento circular sem luz. Contemplação sem fixar é luz sem
movimento circular. Lembrai-vos disto!
Outra chave muito importante é o movimento
circular da luz, e deixar a vida fluir, permitir que nossos potencias latentes
se desenvolvam, não negar, nem reprimir, ver as coisas como são, evitar o domínio,
mas entender para dominar.
O deixar-acontecer (Sichlassen), na
expressão de Mestre ECKHART, a ação da não-ação foi, para mim, uma chave que
abriu a porta para entrar no caminho: Devemos deixar as coisas acontecerem psiquicamente.
Eis uma arte que muita gente desconhece. É que muitas pessoas sempre parecem
estar querendo ajudar, corrigindo e negando, sem permitir que o processo
psíquico se cumpra calmamente.
O movimento circular da luz é o que irá
através de nossas experiências fazer despertar está luz, e a faz circular em
nossa vida e em nossa espiritualidade, é o fluxo natural da vida que está
acontecendo, toda a energia circula, é a vida circulando, a luz do centro é
algo natural que faz brotar seus potenciais através da vida, para fazer isto
que é próprio do ser vai iniciar somente quando o obrigarmos a iniciar, ele
inicia quando já demos o máximo de nós e quando aparentemente não temos mais
solução, a vida só irá nos dar algo que precisamos e quando precisarmos, a vida
não irá nos dar algo que ainda não precisamos, é necessário ir até nossos
limites, quando dou toda minha atenção com disciplina, é quando a vida nos dá
algo mais para prosseguirmos na caminhada.
Atualmente, o saber externo é o maior
obstáculo à introspecção, mas a necessidade anímica ultrapassará todas as
obstruções. Já estamos construindo uma psicologia, uma ciência que nos dará a
chave das coisas que o Oriente só descobriu através de estados anímicos
excepcionais!
O movimento circular da luz é alimentado
por nossa força em querer de verdade enfrentar as situações, não negar, não
fugir, evitar relacionamentos e situações, então se fujo das tensões, tiramos
as necessidades e acabo desobrigando a vida nos oferecer mais daquilo que a
vida pode nos dar, fugir e negar seriam atitudes erradas em dar movimento
circular da luz, esta lei de chegar ao limite é uma das leis do movimento
circular da luz, viver no mundo é viver sem os valores do mundo e sim com os
potenciais do ser que vive em contato com a luz.
A grande chave do corpo humano é
concentrar a flor-semente em cima, no olho. Filhos, refleti sobre isto! Se não
cultivardes um dia a meditação, esta luz se derramará, quem sabe para onde. Se
cultivardes a meditação apenas durante um quarto de hora, com isso podeis
cumprir os dez mil eons e mil nascimentos. Todos os métodos desembocam na tranquilidade.
Impossível imaginar este maravilhoso processo mágico.
Fixar o pensamento no espaço entre os dois
olhos produz a entrada da luz. Depois, o espírito se cristaliza e entra no
centro em meio às circunstâncias. O centro em meio às circunstâncias é o campo
de Elixir inferior, o espaço da força (plexo solar).
O mestre indica tudo isto secretamente ao
dizer: Ao iniciar o trabalho devemos sentar-nos numa sala tranquila, o corpo
como madeira seca, o coração como cinza fria. Baixemos então as pálpebras dos
dois olhos e olhemos para dentro; purifiquemos o coração, lavemos o pensar,
interrompamos os prazeres e preservemos a semente. Diariamente devemos
sentar-nos no chão, de pernas cruzadas, para meditar. Detenha-se a luz dos
olhos, cristalize-se o poder auditivo do ouvido, e restrinja-se o poder
gustativo da língua, isto é, a língua deve ficar apoiada no céu da boca. A
respiração pelo nariz deve ser ritmada e os pensamentos devem fixar-se no
portal escuro. Se o ritmo da respiração não for previamente estabelecido, é de
temer-se que haja perturbações respiratórias, com obstruções. Ao fecharmos os
olhos, devemos voltar-nos, como ponto de referência, para um lugar situado no
dorso do nariz; tal lugar fica pouco menos de meia polegada abaixo da
interseção das linhas visuais, lá onde o nariz possui uma saliência. Então se
começa a concentrar os pensamentos, torna-se rítmica a respiração, corpo e
coração devem estar à vontade e harmônicos. A luz dos olhos deve brilhar tranquilamente,
de modo prolongado, sem que haja sonolência ou distração. O olho hão vê o que
acontece fora, mas baixa as pálpebras e ilumina o interior. Este é então
iluminado. A boca não fala, nem ri. Os lábios encontram-se cerrados e a
respiração é interiorizada. A respiração fica neste lugar. O nariz não sente
nenhum odor. O olfato fica neste lugar (interno). O ouvido não ouve o ruído
exterior. A audição está neste lugar. O coração inteiro vigia o interior. Sua
vigilância está neste lugar.
Os pensamentos não se precipitam para fora,
os pensamentos verdadeiros duram por si mesmos. Se os pensamentos são
duradouros, a semente torna-se duradoura; se a semente é duradoura, a força
torna-se duradoura; se a força é duradoura, o espírito torna-se duradouro. O
espírito é o pensamento, o pensamento é o coração, o coração é o fogo, o fogo é
o Elixir. Quando se contempla o interior desse modo, o milagre de abrir e
fechar dos portais do céu torna-se inesgotável. Mas sem tornar rítmica a
respiração, não é possível efetuar os segredos mais profundos.
Para entrar em conta com o movimento
circular da luz é preciso meditar, a meditação nos proporcionara momentos
maravilhosos, momentos ímpares onde para cada um há uma experiência diferente e
única, é o momento de bebermos na fonte e carregarmos nosso corpo e alma da
mais bela e luminosa energia, é momento de nos prepararmos para enfrentar as
trevas e tirar das trevas aqueles que ainda insistem em permanecer nelas.
Às vezes podemos experimentar o seguinte:
logo que se entra em tranquilidade, a luz dos olhos começa a chamejar, de modo
que diante de nós tudo se torna iluminado, tal como se estivéssemos dentro de
uma nuvem. Se abrirmos os olhos e procurarmos o nosso corpo, não o
encontraremos. Chama-se a isto: "O aposento vazio torna-se luminoso".
Dentro e fora, tudo fica igualmente luminoso. Este é um sinal muito favorável.
Quando nos sentamos para meditar, o
corpo carnal torna-se inteiramente brilhante, como seda ou jade. É difícil
permanecer sentados, pois sentimo-nos como que arrebatados. Isto significa:
"O espírito regressa e bate no céu". Com o tempo podemos ter a
vivência de que verdadeiramente levitamos.
O movimento circular da luz precisa de
condições para se manifestar e campo fértil para brotar, a semeadura depende de
disciplina, a disciplina é respeito a mandamentos que norteiam seus peregrinos,
permanecer firme na caminhada é também não esmorecer quando os resultados
demorem a chegar, se demoram é porque ainda não criamos os elementos
necessários para a semente germinar, pense no que esta bloqueando.
Mas quem não tiver as condições
necessárias, poderá encontrar algo, porém o céu não lhe concederá o seu Tao.
Por quê? As condições interiores necessárias pertencem ao Tao como uma asa de
pássaro à outra; faltando uma, a outra nada poderá fazer. Por isso são
necessárias fidelidade e veneração, bondade e justiça e uma obediência pura aos
cinco mandamentos4; somente depois podemos ter a esperança de alcançar algo.
Mas todas as sutilezas e todos os segredos são apresentados neste Livro da
Consciência e da Vida, como objeto de meditação e reflexão, de modo que tudo
possa ser alcançado em sua verdade. Os
cinco mandamentos budistas são: 1) não matar; 2) não roubar; 3) não cometer
adultério; 4) não mentir; 5) não beber, nem comer carne.
Quando não se compreende o ensinamento da
consciência e da vida, recitando-se apenas seca e isoladamente as fórmulas da meditação,
como seria possível deixar o Julai surgir do próprio corpo aparecendo radioso,
sentado na magnífica flor de lótus, em seu corpo espiritual?! Muitos dizem ser
o espírito da luz um ensinamento diminuto, mas como pode um ensinamento do
Senhor do mundo ser diminuto? Revelei agora, com estas palavras, o mais
profundo segredo do Long Yen, a fim de ensinar aos futuros discípulos. Quem
compreender este caminho, elevar-se-á imediatamente até o segredo obscuro e não
submergirá mais na poeira do cotidiano.
Percebemos
que ao ingressar neste caminho de conhecimento metafisico estamos caminhando em
direção a iluminação, estamos caminhando em direção ao divino, quando nos
voltamos para dentro entendemos que estamos mais fora que dentro, voltar-nos
para dentro é conhecer-nos a nós mesmos, conhece-te a ti mesmo é isto, é
voltar-se para dentro, quando entendermos isto, encontramos nossa harmonia e nos
faz perceber que Deus está fora e está dentro de nós e é percebido por nossos próprios
atributos, percebe-se que Deus não está mais fora e dentro, o que existe é a
unidade, o que existe é que somos um digito de Deus, agora entendemos que somos
parte da natureza, finalmente construímos nosso amadurecimento psicológico e vemos
a verdadeira realidade, são nossos olhos da alma que tiram o véu da ilusão.
A
obra tem um valor inestimável, a leitura básica não é suficiente para captar a
imensidão de simbolismos, precisamos estar preparados para entender as
mensagens, primeiramente deixar de lado os preconceitos criados por nosso modo racional
e material de ver o mundo e a nós mesmos, os resultados serão obtidos conforme
o grau de evolução de cada um, é preciso disciplina, reflexões e meditações.
Fonte: Jung, Carl Gustav. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês/ C.G.Jung, R. Wilhelm; tradução de Dora Ferreira da Silva e Maria Luiza Appy. 15.ed.-Petrópolis, RJ ; Vozes, 2013