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domingo, 22 de setembro de 2024

Rebaixar o Outro

Outro dia quando caminhava no parque estava pensando como é mais fácil rebaixar o outro, durante a caminhada lembrei de uma circunstância em que não gostei, os colegas estavam conversando entre si quando ouvi uma fala que entrou “quadrada” em meus ouvidos. Você já percebeu como é mais fácil rebaixar o outro do que reconhecer suas qualidades? Parece que há uma certa facilidade em desmerecer quem está ao nosso redor, como se isso nos elevasse automaticamente. Quando alguém brilha, é comum ver ao redor uma sombra de ciúme, e a reação quase automática de muitos é criticar, apontar erros, ou minimizar o esforço do outro. “Ah, foi sorte”, “ele só conseguiu isso porque tinha contatos”, “nem é tudo isso”.

Essa atitude tem a ver com a nossa própria fragilidade interna. Muitas vezes, ao invés de lidar com nossas inseguranças, projetamos no outro nossos medos e frustrações. É uma defesa primitiva, como se derrubar o outro fosse uma forma de proteção para o nosso ego. Rebaixar o outro nos faz sentir, por um instante, que somos melhores, mesmo que isso não passe de uma ilusão temporária. Não é que a pessoa criticada se torne menor; na verdade, a crítica diz mais sobre quem a faz.

O filósofo contemporâneo Slavoj Žižek tem uma visão interessante sobre essa dinâmica. Segundo ele, o ato de criticar o outro muitas vezes serve como uma forma de escapar de nossos próprios problemas. Em sua visão, muitas de nossas interações sociais são baseadas no ressentimento e na inveja, e isso está profundamente enraizado no modo como enxergamos a sociedade. Em vez de admirar o sucesso alheio, muitas vezes somos consumidos por um desejo de ver os outros fracassarem, para não termos que lidar com o desconforto de questionar nossas próprias vidas e escolhas.

Em vez de projetar essa negatividade, Žižek sugere que deveríamos usar o sucesso dos outros como uma oportunidade de autocrítica construtiva. O que aquele sucesso nos diz sobre as nossas limitações e como podemos crescer a partir disso? Mas claro, essa é uma tarefa difícil. É muito mais fácil colocar o outro para baixo do que fazer essa reflexão interna.

No dia a dia, isso aparece nas pequenas coisas: aquela colega de trabalho que consegue um elogio do chefe, e a gente já pensa "ela só está se mostrando"; o vizinho que compra um carro novo e logo surgem os comentários "ele deve estar se endividando até o pescoço". São exemplos cotidianos de como tentamos invalidar as conquistas alheias. 

E assim seguimos, rebaixando o outro para tentar preservar uma imagem que, no fundo, sabemos ser frágil. A questão é: será que, ao invés de criticar, não poderíamos tentar aprender? Afinal, como Žižek aponta, o sucesso do outro pode ser um espelho para o nosso próprio potencial, se conseguirmos deixar de lado o ressentimento. 

terça-feira, 23 de julho de 2024

Segredos Obscuros

Segredos obscuros são aqueles detalhes escondidos, muitas vezes guardados no fundo de nossas mentes, dos quais evitamos falar ou lembrar. Podem ser eventos passados, sentimentos reprimidos, ou verdades que preferimos deixar nas sombras. Mas, e se esses segredos vierem à tona? O que nos dizem sobre nós mesmos e sobre a vida?

Imagine você, sentado em um café, aquele lugar de refúgio onde as ideias fluem entre goles de café ou mate. Ali, enquanto observa o movimento ao seu redor, um pensamento inesperado surge: um segredo que você manteve guardado por anos. Talvez algo que tenha feito ou dito, uma verdade incômoda que nunca teve coragem de encarar. Nesse momento, o café não é mais apenas uma bebida, mas um catalisador para uma viagem introspectiva.

Slavoj Žižek, o filósofo esloveno, argumenta que os segredos obscuros podem ser reveladores. Para ele, o que escondemos pode dizer mais sobre nossa verdadeira natureza do que aquilo que mostramos ao mundo. É como se nossas ações, muitas vezes impulsionadas por nossos segredos, fossem um reflexo de nossos desejos e medos mais profundos. Segundo Žižek, enfrentar esses segredos pode ser uma forma de autoconhecimento, uma maneira de entender melhor quem realmente somos.

Em um dia comum, talvez você esteja no trabalho, rodeado por colegas, quando de repente uma memória antiga surge. É um pequeno detalhe que você preferiu esquecer, mas que agora ressurge com uma clareza desconcertante. Nesse instante, você percebe que aquele segredo influenciou suas escolhas, seus relacionamentos e até mesmo sua maneira de ver o mundo. Enfrentar essa memória, por mais doloroso que seja, pode ser a chave para uma transformação pessoal.

Olavo Bilac, em seu poema "Velhas Árvores", fala sobre a força e a resiliência das árvores antigas, que permanecem de pé apesar das tempestades. Assim como essas árvores, nossos segredos obscuros podem ser vistos como raízes profundas, partes de nossa história que nos sustentam mesmo nos momentos mais difíceis. Reconhecê-los e aceitá-los é um passo importante para a nossa evolução.

No cotidiano, esses segredos podem se manifestar de várias maneiras. Talvez você evite certos lugares ou pessoas, sem entender bem o motivo. Ou quem sabe, suas reações emocionais em situações específicas sejam mais intensas do que o esperado. Tudo isso pode estar ligado a esses segredos que, apesar de ocultos, moldam nossa realidade.

A filosofia budista nos ensina a importância de enfrentar nossos medos e aceitar nossas imperfeições. Segundo essa visão, os segredos obscuros são parte do nosso caminho para a iluminação. Encará-los com compaixão e compreensão pode nos ajudar a encontrar a paz interior e a harmonia.

Portanto, quando estiver no seu refúgio, com uma xícara de café ou mate nas mãos, permita-se refletir sobre esses segredos obscuros. Eles não são apenas sombras do passado, mas peças fundamentais do quebra-cabeça que é a sua vida. Enfrentá-los pode ser o primeiro passo para uma nova jornada de autodescoberta e crescimento pessoal.


sábado, 29 de junho de 2024

Café com Žižek

Imagine uma tarde ensolarada em um café charmoso no centro da cidade. Estou sentado em uma mesa na calçada, esperando por alguém. De repente, ele aparece: Slavoj Žižek, o filósofo esloveno com seu jeito despojado e olhar inquisitivo. Com uma xícara de café na mão, ele se senta e começa a falar, trazendo suas ideias filosóficas para temas atuais e situações do cotidiano.

O Início da Conversa: Política e Memes

Antes mesmo de dar o primeiro gole no café, Žižek já está falando sobre política. "Vivemos em uma era de superficialidade", ele diz. "A política se transformou em um espetáculo, onde memes têm mais impacto do que discursos bem elaborados." Ele menciona como os memes sobre figuras políticas moldam opiniões de forma rápida e eficaz, muitas vezes distorcendo a realidade.

Lembro de uma discussão recente no trabalho, onde um meme sobre um político gerou uma grande polêmica. "Isso mostra como o humor pode ser uma arma poderosa", comento. "Mas também nos deixa vulneráveis à manipulação."

Cotidiano Digital e Ansiedade

O café chega, e a conversa se volta para o impacto da tecnologia no dia a dia. Žižek fala sobre como as redes sociais criam uma ilusão de conexão, mas, na verdade, intensificam a sensação de isolamento. "Estamos sempre online, mas muitas vezes nos sentimos mais sozinhos do que nunca", ele observa.

Compartilhei minha experiência de ficar rolando o feed do Instagram antes de dormir, o que só aumenta minha ansiedade. Žižek concorda: "A busca constante por validação nas redes sociais é exaustiva e, muitas vezes, contraproducente. Precisamos encontrar maneiras de desconectar e nos reconectar com o mundo real."

A Cultura do Cancelamento

Outro tema quente na mesa é a cultura do cancelamento. Žižek tem uma visão crítica sobre isso. "Embora seja importante responsabilizar as pessoas por suas ações, a cultura do cancelamento pode se tornar um tipo de tribunal público sem direito a defesa", ele argumenta. "Isso pode sufocar o diálogo e a possibilidade de redenção."

Lembrei de um amigo que foi 'cancelado' por um comentário insensível no Twitter. "Ele mudou de emprego e teve que começar do zero", digo. "Exatamente", responde Žižek. "Precisamos de um equilíbrio entre responsabilização e a possibilidade de aprender e crescer."

O Futuro do Trabalho

Enquanto o café esfria, a conversa se volta para o futuro do trabalho. "A automação e a inteligência artificial estão mudando a paisagem do emprego", diz Žižek. "Isso pode ser uma oportunidade para repensarmos o que significa trabalhar e viver."

Mencionei como o trabalho remoto se tornou uma realidade para muitos, trazendo tanto liberdade quanto novos desafios. "A linha entre vida pessoal e profissional está cada vez mais tênue", observo. Žižek sorri e diz: "Talvez seja hora de repensarmos nosso valor como seres humanos, além de nossas funções produtivas. A vida deve ser mais do que apenas trabalhar."

O Encerramento de nosso bate papo: Esperança e Reflexão

Com o café quase no fim, a conversa se torna mais introspectiva. Žižek fala sobre a importância de manter a esperança e a curiosidade. "Mesmo em tempos turbulentos, a filosofia nos ajuda a fazer perguntas importantes e buscar respostas significativas."

Despedi-me de Žižek com a mente cheia de novas ideias e uma sensação renovada de curiosidade sobre o mundo ao meu redor. Ao sair do café, percebo que essa conversa não foi apenas um encontro com um grande pensador, mas um convite para olhar mais profundamente para as questões do dia a dia com uma perspectiva filosófica. E assim, uma tarde comum se transforma em um momento de reflexão e inspiração, graças à companhia de um filósofo que consegue transformar até mesmo uma xícara de café em um banquete para a mente.