Outro dia quando caminhava no parque estava pensando como é mais fácil rebaixar o outro, durante a caminhada lembrei de uma circunstância em que não gostei, os colegas estavam conversando entre si quando ouvi uma fala que entrou “quadrada” em meus ouvidos. Você já percebeu como é mais fácil rebaixar o outro do que reconhecer suas qualidades? Parece que há uma certa facilidade em desmerecer quem está ao nosso redor, como se isso nos elevasse automaticamente. Quando alguém brilha, é comum ver ao redor uma sombra de ciúme, e a reação quase automática de muitos é criticar, apontar erros, ou minimizar o esforço do outro. “Ah, foi sorte”, “ele só conseguiu isso porque tinha contatos”, “nem é tudo isso”.
Essa
atitude tem a ver com a nossa própria fragilidade interna. Muitas vezes, ao
invés de lidar com nossas inseguranças, projetamos no outro nossos medos e
frustrações. É uma defesa primitiva, como se derrubar o outro fosse uma forma
de proteção para o nosso ego. Rebaixar o outro nos faz sentir, por um instante,
que somos melhores, mesmo que isso não passe de uma ilusão temporária. Não é
que a pessoa criticada se torne menor; na verdade, a crítica diz mais sobre
quem a faz.
O
filósofo contemporâneo Slavoj Žižek tem uma visão interessante sobre essa
dinâmica. Segundo ele, o ato de criticar o outro muitas vezes serve como uma
forma de escapar de nossos próprios problemas. Em sua visão, muitas de nossas
interações sociais são baseadas no ressentimento e na inveja, e isso está
profundamente enraizado no modo como enxergamos a sociedade. Em vez de admirar
o sucesso alheio, muitas vezes somos consumidos por um desejo de ver os outros
fracassarem, para não termos que lidar com o desconforto de questionar nossas
próprias vidas e escolhas.
Em
vez de projetar essa negatividade, Žižek sugere que deveríamos usar o sucesso
dos outros como uma oportunidade de autocrítica construtiva. O que aquele
sucesso nos diz sobre as nossas limitações e como podemos crescer a partir
disso? Mas claro, essa é uma tarefa difícil. É muito mais fácil colocar o outro
para baixo do que fazer essa reflexão interna.
No dia a dia, isso aparece nas pequenas coisas: aquela colega de trabalho que consegue um elogio do chefe, e a gente já pensa "ela só está se mostrando"; o vizinho que compra um carro novo e logo surgem os comentários "ele deve estar se endividando até o pescoço". São exemplos cotidianos de como tentamos invalidar as conquistas alheias.
E assim seguimos, rebaixando o outro para tentar preservar uma imagem que, no fundo, sabemos ser frágil. A questão é: será que, ao invés de criticar, não poderíamos tentar aprender? Afinal, como Žižek aponta, o sucesso do outro pode ser um espelho para o nosso próprio potencial, se conseguirmos deixar de lado o ressentimento.