Otelo e Desdêmona
“Otelo, O mouro de Veneza”,
é uma peça de teatro composta por William Shakespeare por volta do ano de 1603,
é classificado como tragédia por envolver, ciúme, drama, traição, a presença da
morte, o nome do personagem principal que empresta seu nome a obra é Otelo, um grande
general mouro trabalhando muito bem defendo Veneza contra os invasores e na conquista
de novos territórios, ele era um cara muito bem-sucedido para inveja e despeito
de alguns. A história gira em torno de quatro personagens principais: Otelo
(um general mouro que serve o reino de Veneza), sua esposa Desdêmona, seu
tenente Cássio, e seu sub-oficial Iago.
É uma obra muito atual, por causa dos seus
temas variados, tais como: preconceito racial (racismo), religioso e contra
estrangeiros (xenofobia), amor, ciúme injustificado, inveja e traição, temas
que continuam a desempenhar relevante papel para os dias atuais, motivos de
muitas tragédias e dramas, nem todos com finais felizes. Exemplos disso está no
problema da xenofobia enfrentado por povos, em geral muçulmanos provenientes do
Oriente Médio, na Europa e nos Estados Unidos e no Brasil o problema está
relacionado majoritariamente ao racismo, pois a intolerância religiosa é
praticada contra os adeptos das religiões africanas.
A amplitude desta obra também se presta a
estudos sobre o psicológico das fraquezas humanas, as emoções abordadas na
tragédia por Shakespeare são emoções pertinentes ao campo de batalha no
cotidiano da vida, desde o momento em que os seres humanos começaram a se
relacionar socialmente.
O autor, William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon, no ano de
1564. A maior parte da sua obra
foi produzida em Londres entre
os anos de 1590 e 1613. Ele é autor de várias obras de sucesso como Romeu e
Julieta, Hamlet, Macbeth, A megera domada, Sonho de uma
noite de verão, O mercador de Veneza e A tempestade. No caso de Otelo, a peça possui duas
possibilidades de data para a sua composição, quais sejam: entre o final de
1601 e 1602 ou como data comumente adotada, 1603 ou 1604.
Personagens
O Doge de Veneza.
BRABÂNCIO, senador. Outros
senadores.
GRACIANO, irmão de Brabâncio.
LUDOVICO, parente de Brabâncio.
OTELO, mouro nobre, a serviço da
República de Veneza.
CÁSSIO, seu tenente.
IAGO, seu alferes.
RODRIGO, fidalgo veneziano.
MONTANO, governador de Chipre antes
de Otelo.
BOBO, criado de Otelo.
DESDÊMONA, filha de Brabâncio e
esposa de Otelo.
EMÍLIA, esposa de Iago.
BIANCA, amante de Cássio.
Marinheiro, oficiais, gentis-homens,
mensageiros, músicos, arautos, criados.
Otelo é uma tragédia,
portanto os acontecimentos são dramáticos, cheio de intrigas e manipulações, a
leitura requer que antecipadamente tenhamos presente que se trata de uma
tragédia e que não tem um final feliz, o drama gira em torno de orgulho,
infidelidade e ciúme, fala muito sobre confiança e falta de confiança, muito do
que ocorre no drama é dentro de um núcleo familiar, a ideia é que tudo se passa
dentro de poucos dias, o desenrolar da história é rápido, até haverá dúvidas
quanto a consumação do casamento de Otelo e Desdêmona, diante de tanta intriga e
maldade a ordem para ser restaurada precisará da presença da morte dos
personagens, o que é típico das tragédias de Shakespeare.
Otelo é um homem mouro e negro,
apesar de sua aparência rude, ele era um homem nobre em seus sentimentos e
atitudes, porém muito ingênuo ao ponto de ser engano, infelizmente não acreditava
o suficiente em seu amor e também sua insegurança foi suficiente para se deixar
envolver por intrigas, ele tinha opositores desde os seus soldados subordinados
até dentre os nobres, não entendiam como um mouro e negro tinha tanto poder,
mesmo tendo se convertido ao cristianismo, como mouro ele tinha sua procedência
e origem barbara, sua origem é que era o maior problema, era mais uma questão
de povo civilizado X povo bárbaro, e a exclusão do estrangeiro era muito forte
naqueles tempos, a cor da sua pele para eles ainda não era o maior problema,
até porque a noção de escravização naquela época ela mais por conquista de
povos e espólios de guerra, a “civilização” ainda não tinha emburrecido tanto
ao ponto de escravizar alguém por sua cor da pele, coisa que foi tomar forma por
iniciativa dos portugueses no século XV com a exploração da costa africana.
Os mouros eram povos que
habitavam e estavam instalados na península ibérica durante a idade média, os
mais conhecidos são os árabes, berberes, entre outros.
Desdêmona é uma jovem nobre,
linda, religiosa, recatada, tinha vários pretendentes de boas famílias, naquela
época um casamente representava um negócio e a união entre famílias importantes,
no entanto ela por ter a confiança do seu pai conquistou o direito de escolher
seu marido, sua escolha pelo mouro foi um passo além do que seu pai poderia
imaginar, para aquela época sua atitude seria incompreensível, pois abriu mão
do conforto e nobreza para viver uma vida aventurosa de um militar. Seu final
foi difícil, assassinada por Otelo em razão da desconfiança de sua fidelidade, morreu
com sua imagem maculada, sem também ter um desfecho cristão, deve ter se
sentido abandonada por Deus, morreu sem o consolo da religião, coisa que para a
época eram muito importantes.
A peça é repleta de
preconceitos em virtude de origens, etnia, há outro caso Xenofobia o de Cassio
que era um jovem matemático Florentino, que nunca havia comandado um soldado em
guerra, foi promovido a tenente, coisa que também incomodavam os venezianos,
eles não aceitam que alguém de fora de Veneza tivesse algum cargo de importância,
o preconceito contra Otelo é maior por ele ser um bárbaro, por ser mouro e
negro, como podemos observar nas palavras de Rodrigo um apaixonado não
correspondido por Desdêmona, Rodrigo ao pé da janela de Brabâncio (pai de
Desdêmona), inflado por Iago denuncia a fuga de Desdêmona com Otelo para se
casarem as escondidas, no entanto eles dizem a Brabâncio que ela havia sido raptada
por Otelo, levada a força:
RODRIGO — Responderei por tudo. Mas
pergunto-vos, senhor, se foi com vosso assentimento, vosso sábio conselho —
como quase fico a pensar — que vossa linda filha, na calada de noite tão
escura, saiu em companhia de um sujeito nem melhor nem pior do que um velhaco
por qualquer alugado, num gondoleiro, para aos abraços torpes entregar-se de um
Mouro luxurioso; se, realmente, sabeis de tudo e concordais com isso, bem:
nesse caso é certo vos fazermos inominável e atrevida ofensa. Mas se
desconheceis o que se passa, ensina-me o costume que não tendes razão de
censurar-nos desse modo. Não creiais que tão falho eu me revele de cortesia,
para vir agora zombar de vossa grande reverência. Vossa filha — de novo vos
declaro — se não lhe destes permissão, mui grave pecado cometeu, unindo o
espírito, a beleza, o dever e seus haveres a um estrangeiro andejo e desgarrado
daqui e de toda parte. Pag.13
O maior vilão da peça é Iago – o honesto, talvez o maior vilão
dos vilões da literatura, ele é o principal antagonista da peça, tudo que ele
trama contra Otelo é devido a seu orgulho ferido, é como se Iago incorpora-se
Satã, são tantas as suas tramas e maldades que é possível fazer esta afirmação,
tudo que Iago faz é em nome do mal, aproveitando-se da insegurança e
desconfianças de Otelo, um ciúme sexual, Otelo tem medo da traição como da
morte, é o que faz mover muitas tragédias, porém muito de suas atitudes,
reações e emoções são por nós reconhecidos como não nefastos ou maléficos, como
alguns dos motivos que movem os atos de Iago, o prazer que se tem pelo
exercício de habilidades e aptidões, como desejo de poder, desejo de aprovação,
coisa que não seriam de todo coisas más, pois fazem parte daquilo que as
pessoas admiram e buscam em seu cotidiano, os artifícios de Iago toma um rumo
da manipulação, artifícios que são maquiavélicos e o transformam de honesto a
traiçoeiro.
Iago é
o alferes (no regime militar atual seria o posto 2º tenente) de Otelo, ele
odiava Otelo por ele ter promovido Cassio para o posto de tenente, posto que
Iago almejava e se julgava mais habilitado para a função, além disto ele odiava
Otelo por ser mouro e ser negro e odiava a Cassio por ser uma pessoa sem as
qualidades para exercer o cargo. Iago era casado com Emília, que por sua vez era assistente de Desdêmona.
Iago
em seu ódio por Otelo elabora um plano para o destruir, fazendo-o acreditar que
a sua esposa está a ter um caso com o Cassio, coisa que não seria muito de difícil
de fazer pois a fragilidade de Otelo estava em sua autoestima, ele se achava
abaixo socialmente de Desdêmona, logo sua insegurança poderia ser alvo das intrigas
e manipulações diabólicas de Iago.
Quem plantou a primeira
sementinha de dúvidas quanto a fidelidade de Desdêmona foi o próprio pai dela
como vemos neste dialogo, entre o sogro e Otelo:
BRABÂNCIO — Cuidado, Mouro! Se olhos
tens, abre-os bem em toda a parte; se o pai ela enganou, pode enganar-te. Pg.
37
Otelo havia dado um mimo para
Desdêmona, deu de presente para ela um lencinho que se tornou inseparável e seu
objeto de adoração, muitas vezes beijava seu lencinho e conversava com ele como
se falasse com Otelo, naquela época o lencinho feminino era objeto que
representava muita finura e delicadeza, mal sabiam eles que este objeto seria utilizado
como armação de intrigas de Iago, seria o objeto que selaria o suposto
envolvimento amoroso entre Desdêmona e Cassio. Com ajuda de Emilia, Cassio
conseguiu obter a posse clandestina do lencinho e o plantou junto as roupas de
Cassio, Iago procurou Otelo e insinuou que Desdêmona e Cassio estariam o
traindo e a prova seria o lencinho dado por Desdêmona a Cassio, o golpe deu
certo.
IAGO — Acautelai-vos senhor, do
ciúme; é um monstro de olhos verdes, que zomba do alimento de que vive. Vive
feliz o esposo que, enganado, mas ciente do que passa, não dedica nenhum afeto
a quem lhe causa o ultraje. Mas que minutos infernais não conta quem adora e
duvida, quem suspeitas contínuas alimenta e ama deveras! Pag. 92 Ato III – Cena
III: Iago
Cego de ciúme, Otelo
mata Desdêmona e só depois descobre que ela era inocente. Então, cheio de
culpa, ele se suicida.
Ésquilo que é o pai da
tragédia veria nesta obra de Shakespeare o ápice de uma tragédia muito bem
desenvolvida, trabalhando as fraquezas humanas como coisas do cotidiano que se
perdermos o domínio de nós mesmos tais fraquezas poderão terminar em tragédia
sem final feliz, a acomodação só se deu com a morte dos personagens, cada um em
sua própria tragédia.
A leitura é obrigatória
por sua riqueza de emoções e sentimentos, tão próximos e intensos em nosso
cotidiano, ler esta obra é de verdade uma oportunidade para reflexão, ao final da
leitura com certeza haverá uma sensação estranha que nos incomoda quando não
tem aquele final feliz tão esperado, mas afinal a vida nem sempre nos reserva
um final feliz, principalmente quando fazemos ou sofremos com alguma intriga,
viver também é estar vigilante, é saber o que fazer com o que pensamos e
sentimos.
Fonte:
Shakespeare, William. Otelo, O Mouro de Veneza. Edição Ridendo
Castigat Mores
Versão para eBook eBooksBrasil.com. Fonte Digital www.jahr.org