Se tem uma coisa que o tempo ensina, é que a arrogância sempre chega antes da queda. Mas, por algum motivo, continuamos a tropeçar nela. Sabe aquele colega que fala com a certeza de um profeta, como se carregasse a verdade universal no bolso? Ou o amigo que não ouve ninguém porque já decidiu que só ele entende do assunto? Pois é. Esse tipo de postura parece ser quase um princípio regente da humanidade: a crença exagerada na própria infalibilidade. E isso não acontece apenas no nível individual; vemos esse fenômeno na política, na ciência, na cultura e até nas pequenas interações cotidianas. Mas o que está por trás desse princípio da arrogância?
A
arrogância nasce da ilusão de controle e conhecimento absoluto. Como observou
Sócrates, a verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância. Mas,
paradoxalmente, quanto menos uma pessoa sabe, mais tende a achar que sabe tudo.
O chamado efeito Dunning-Kruger explica isso bem: indivíduos com pouca
competência em determinado tema tendem a superestimar seu próprio conhecimento,
enquanto os mais experientes frequentemente têm humildade para reconhecer o
quanto ainda ignoram.
No
campo filosófico, a arrogância tem raízes profundas. Nietzsche, por exemplo,
alertava sobre os perigos da vontade de poder que cega o indivíduo e o faz
acreditar que pode definir unilateralmente o que é verdade. O problema não está
na busca pela verdade, mas na ilusão de que já a possuímos por completo. Da
mesma forma, Kant argumentava que o conhecimento humano é limitado pelas
estruturas da própria mente, sendo impossível acessar a "coisa em
si", ou seja, a realidade pura e objetiva. A arrogância, nesse sentido, é
um engano duplo: presume-se não apenas que se conhece, mas que se conhece sem
limites.
O
princípio da arrogância também se reflete na sociedade contemporânea, onde a
opinião virou mercadoria e a certeza virou moeda de troca. Nas redes sociais,
por exemplo, a humildade intelectual é quase um defeito. Quem titubeia, pondera
ou revisa suas próprias ideias perde espaço para quem brada certezas
inabaláveis. Mas essa necessidade de parecer certo o tempo todo não é apenas
uma questão de ego; ela se alimenta da ansiedade de um mundo hiperconectado,
onde admitir dúvida pode parecer fraqueza.
Como
escapar desse princípio? A resposta passa, inevitavelmente, por um compromisso
radical com a humildade intelectual. Isso não significa submissão ou
relativismo absoluto, mas um reconhecimento sincero de que nosso conhecimento
sempre será parcial. Um bom antídoto contra a arrogância é a curiosidade:
questionar mais, ouvir mais, e duvidar mais de nossas certezas. Como dizia
Montaigne, "só sei que nada sei", mas ao menos isso já é um começo.
No
fim das contas, a arrogância é um paradoxo: ela tenta nos fazer parecer mais
fortes, mas nos torna mais frágeis. E, assim como Ícaro, que voou alto demais,
a queda é apenas uma questão de tempo.