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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Estigma por Erving Goffman



Quem gosta de Filosofia também gosta de Sociologia, isto é, falo por mim, Sociologia e a Filosofia são disciplinas irmãs, ambas se preocupam em explorar e compreender a condição humana e a sociedade, mas cada uma destas disciplinas possui seus métodos e abordagens específicas. A sociologia por exemplo se baseia em pesquisas empíricas e utiliza uma abordagem científica, enquanto a filosofia busca uma compreensão mais abstrata e conceitual por meio do questionamento e da reflexão crítica, ambas se completam e em seu conjunto nos auxiliam na compreensão do mundo.

Atualmente quem lê e estuda os clássicos de sociologia não pode deixar de ler as obras de Erving Goffman, uma sugestão de leitura deste autor é o Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada; ao final deixarei um breve resumo desta obra que é muito interessante e muito atual.

Vou falar um pouco da Sociologia e em seguida de nosso grande sociólogo, é necessário fazermos uma introdução sobre Sociologia e sua importância em nossas vidas, são muitas as razões pelas quais estudamos sociologia, vivemos num mundo cada vez mais globalizado e somos diariamente bombardeados por informações que precisam de nosso conhecimento, compreensão, analise e fundamentação. Já me perguntaram por que estudar Sociologia, motivos não faltam.

Inicialmente, a sociologia busca compreender a estrutura, as dinâmicas e os processos sociais que moldam nossas vidas. Ela nos ajuda a compreender como as instituições sociais, como a família, a educação, a economia e a política, funcionam e como elas afetam os indivíduos e grupos.

- Ela se dedica a estudar as desigualdades sociais, incluindo aquelas relacionadas à classe social, gênero, raça, etnia, orientação sexual e outros fatores. Ela fornece uma perspectiva crítica sobre as disparidades e injustiças existentes na sociedade, buscando promover uma maior igualdade e justiça social.

- Ajuda a entender fenômenos sociais complexos, como globalização, urbanização, movimentos sociais, migração, transformações tecnológicas, mudanças culturais e outros processos que moldam nossas sociedades contemporâneas.

- A pesquisa sociológica fornece insights valiosos para a formulação de políticas públicas eficazes. Por meio do estudo dos problemas sociais, da análise das necessidades das comunidades e da compreensão das consequências de políticas específicas, a sociologia pode contribuir para a tomada de decisões informadas e para a implementação de políticas mais justas e equitativas.

- Ajuda a refletir sobre identidades individuais e coletivas, como elas são construídas e como influenciam nossas experiências sociais. Ela nos permite compreender a diversidade cultural, os processos de formação de identidades e a importância do reconhecimento e respeito à pluralidade de perspectivas e vivências.

- Por fim, a sociologia permite analisar as mudanças sociais e os desafios que enfrentamos em um mundo em constante transformação. Ela nos ajuda a entender as implicações sociais de avanços tecnológicos, mudanças econômicas, crises ambientais, movimentos sociais emergentes e outros fenômenos que moldam nosso futuro coletivo.

Esses são apenas alguns aspectos que destacam a importância contínua da sociologia na compreensão e enfrentamento dos desafios sociais e na promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva. A sociologia nos ajuda a desenvolver uma consciência crítica, questionar o status quo e buscar uma compreensão mais profunda dos sistemas sociais nos quais estamos inseridos.

Sociologia no Cotidiano

A sociologia do cotidiano é um ramo da sociologia que se concentra no estudo das interações e práticas sociais que ocorrem no dia a dia das pessoas. Ela busca compreender como as estruturas sociais, as normas e os valores influenciam e moldam as atividades cotidianas dos indivíduos.

Essa abordagem sociológica considera que a vida social não se restringe apenas a grandes eventos ou instituições, mas é construída por meio das interações diárias, dos hábitos, das rotinas e das práticas culturais que ocorrem nos espaços públicos e privados. Ela analisa como as pessoas constroem significados, estabelecem relações sociais e negociam suas identidades em contextos cotidianos.

A sociologia do cotidiano se baseia em teorias e conceitos sociológicos, como a teoria da ação social de Max Weber, a teoria interacionista de George Herbert Mead e a análise do simbólico de Erving Goffman. Essas perspectivas teóricas fornecem ferramentas para compreender como os indivíduos interpretam o mundo ao seu redor, como se relacionam com os outros e como negociam suas identidades em situações cotidianas.

Alguns temas de pesquisa na sociologia do cotidiano incluem a interação social em espaços públicos, as práticas de consumo, os rituais e cerimônias, as relações familiares, o trabalho e a construção de identidades sociais. Esses estudos podem revelar as formas como as estruturas sociais, como gênero, classe social, etnia e idade, influenciam as experiências cotidianas e as relações sociais.

Em suma, a sociologia do cotidiano busca entender como as interações e práticas sociais ordinárias moldam a vida social, contribuindo para uma compreensão mais completa das dinâmicas sociais e das relações entre indivíduos e sociedade.

Análise do simbólico de Erving Goffman

A análise do simbólico de Erving Goffman é uma abordagem teórica desenvolvida pelo sociólogo canadense Erving Goffman (1922 – 1982), que se concentra no estudo das interações sociais e na maneira como os indivíduos constroem significados e negociam suas identidades em situações cotidianas. Goffman argumenta que as interações sociais são como performances teatrais, em que os indivíduos desempenham papéis e utilizam símbolos para transmitir informações e estabelecer relações com os outros.

Segundo Goffman, a interação social ocorre em cenários específicos chamados de "frentes", que podem ser espaços físicos, como uma sala de aula ou um escritório, ou espaços virtuais, como as redes sociais. Nestas frentes, os indivíduos desempenham papéis sociais, como o de professor, aluno, colega de trabalho, amigo, etc. Esses papéis são moldados pelas expectativas sociais e pelas normas culturais, e os indivíduos devem seguir certas regras para desempenhá-los adequadamente.

Goffman introduziu o conceito de "manutenção da face" para descrever os esforços que os indivíduos fazem para preservar uma imagem positiva de si mesmos durante as interações sociais. Ele argumenta que as pessoas estão constantemente envolvidas em um processo de gestão de impressões, tentando controlar a maneira como são percebidas pelos outros. Isso envolve a apresentação de uma "fachada" social, que consiste nas expressões faciais, linguagem corporal, vestimentas e outros sinais visíveis que projetam uma imagem desejada.

Além disso, Goffman também destaca a importância dos "significados compartilhados" na interação social. Ele argumenta que os símbolos e os significados culturais desempenham um papel crucial na comunicação e na construção de realidades sociais. Os indivíduos interpretam os sinais e símbolos presentes na interação para atribuir significado às ações e comportamentos dos outros. A compreensão compartilhada desses símbolos é fundamental para a cooperação e para o estabelecimento de uma ordem social.

A análise do simbólico de Goffman tem sido aplicada em várias áreas de estudo, como a sociologia da saúde, a sociologia da educação, a sociologia do gênero e a sociologia das organizações. Sua abordagem enfatiza a importância das interações sociais cotidianas na construção da realidade social e destaca a agência dos indivíduos na construção de suas identidades por meio de performances simbólicas.

A análise do simbólico de Erving Goffman enfatiza a natureza performática da interação social, o papel dos símbolos na comunicação e a importância da gestão de impressões na construção das identidades sociais. Essa abordagem oferece uma perspectiva rica para compreender as dinâmicas das interações sociais e a maneira como os indivíduos se engajam na construção de significados compartilhados.

Erving Goffman não define uma lista específica de símbolos em sua análise do simbólico. No entanto, ele enfatiza a importância dos símbolos na comunicação e na construção de significados compartilhados durante as interações sociais. Esses símbolos podem variar de acordo com o contexto social e cultural, e sua interpretação depende da compreensão coletiva entre os participantes da interação.

Alguns exemplos de símbolos que podem ser relevantes na análise do simbólico de Goffman incluem:

- Expressões faciais: As expressões faciais, como sorrisos, franzir a testa ou levantar uma sobrancelha, são símbolos que comunicam emoções e atitudes. Esses sinais faciais podem ser usados para expressar felicidade, raiva, surpresa, entre outros sentimentos, e desempenham um papel importante na interação social.

- Linguagem corporal: A postura, gestos, movimentos do corpo e a distância física entre os indivíduos são exemplos de símbolos não verbais que transmitem mensagens e informações durante a interação. Por exemplo, uma pessoa cruzando os braços pode indicar uma atitude defensiva ou de fechamento, enquanto alguém se inclinando para frente pode demonstrar interesse e envolvimento.

- Vestimentas e adereços: A maneira como as pessoas se vestem e os acessórios que usam também podem ser símbolos que comunicam informações sobre sua identidade, status social, filiação a grupos e valores pessoais. A escolha de roupas formais ou informais, o estilo, as marcas e os objetos que uma pessoa usa podem transmitir mensagens simbólicas sobre sua posição na sociedade e seu pertencimento a determinados grupos.

- Espaço físico: A maneira como as pessoas ocupam e organizam o espaço físico durante a interação também é um elemento simbólico importante. Por exemplo, a posição de destaque em uma sala de reuniões pode indicar autoridade ou poder, enquanto a escolha de sentar ao lado de alguém pode sinalizar proximidade ou intimidade.

Os símbolos podem ser interpretados de maneira diferente por diferentes indivíduos ou em diferentes contextos culturais. A análise do simbólico de Goffman enfoca a negociação desses símbolos durante as interações sociais e como eles contribuem para a construção de significados compartilhados entre os participantes.

Erving Goffman, como sociólogo que desenvolveu a análise do simbólico, não pôde abordar diretamente os símbolos atuais, já que sua obra foi publicada principalmente nas décadas de 1950 e 1960. No entanto, a análise do simbólico de Goffman continua sendo aplicada e adaptada por pesquisadores contemporâneos para entender os símbolos e as práticas simbólicas nas sociedades atuais.

Na sociedade atual, os símbolos e as práticas simbólicas podem variar dependendo do contexto social, cultural e tecnológico. Alguns exemplos de símbolos atuais que podem ser analisados dentro do quadro teórico de Goffman incluem:

- Símbolos digitais: Com o advento da era digital e das mídias sociais, surgiram novos símbolos e práticas simbólicas relacionadas à comunicação online. Emojis, hashtags, memes e GIFs são exemplos de símbolos digitais que as pessoas utilizam para expressar emoções, identificar-se com comunidades específicas e comunicar mensagens rápidas e concisas.

- Autoapresentação nas redes sociais: As redes sociais desempenham um papel significativo na construção das identidades online. As pessoas selecionam cuidadosamente as fotos, postagens, atualizações de status e descrições de perfil para criar uma imagem desejada de si mesmas e gerenciar a percepção dos outros. Essa autoapresentação nas redes sociais envolve o uso de símbolos visuais, como fotos e vídeos, além de símbolos textuais, como palavras e hashtags.

- Marcas e produtos: As marcas e os produtos continuam a desempenhar um papel importante como símbolos na sociedade atual. Roupas de grife, logotipos de marcas famosas e produtos icônicos podem transmitir mensagens sobre status, estilo de vida, preferências e afiliações. O consumo de determinadas marcas e produtos também pode servir como uma forma de expressão simbólica e identidade social.

- Movimentos sociais e ativismo: Os símbolos também são utilizados nos movimentos sociais e no ativismo contemporâneo como formas de identificação e mobilização. Bandeiras, logotipos, cores e gestos simbólicos são usados para representar causas, expressar solidariedade e chamar a atenção para questões específicas.

Esses são apenas alguns exemplos de como os símbolos e as práticas simbólicas continuam a desempenhar um papel importante na sociedade atual. A análise do simbólico de Goffman pode ser aplicada para compreender como esses símbolos são utilizados, interpretados e negociados nas interações sociais contemporâneas. No entanto, é importante adaptar a análise às mudanças sociais, culturais e tecnológicas que ocorreram desde a época em que Goffman desenvolveu sua teoria.

Erving Goffman é considerado um dos principais sociólogos do século XX, e sua obra continua sendo relevante e influente na sociologia contemporânea. Embora tenha sido publicada principalmente nas décadas de 1950 e 1960, suas ideias e conceitos ainda são amplamente estudados, debatidos e aplicados atualmente.

A análise do simbólico de Goffman, em particular, é uma abordagem teórica que continua sendo aplicada em diversos campos da sociologia, como sociologia da interação, sociologia da comunicação, sociologia da cultura e sociologia das emoções. Sua ênfase nas interações sociais cotidianas, na performance social, na gestão de impressões e na construção de identidades permanece relevante para compreender as dinâmicas sociais contemporâneas.

Além disso, a obra de Goffman também oferece insights valiosos para a compreensão das mídias sociais, da sociedade digital e das novas formas de interação social que surgiram com a tecnologia. Pesquisadores têm adaptado e aplicado os conceitos de Goffman para analisar a construção de identidades online, a apresentação de si mesmo nas redes sociais, as interações virtuais e as práticas simbólicas no ambiente digital.

Embora Goffman não tenha abordado diretamente os desenvolvimentos mais recentes da sociedade, suas teorias e conceitos fundamentais continuam sendo uma referência importante para analisar as dinâmicas sociais contemporâneas. Os sociólogos ainda se baseiam em suas contribuições teóricas para entender a vida social e as interações humanas. Portanto, pode-se dizer que Goffman é considerado um autor clássico cujas ideias permanecem relevantes e aplicáveis no contexto atual da sociologia.

Goffman tem varia obras publicadas: A Representação do Eu na vida cotidiana; Manicômios, Prisões e Conventos; Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada; Os Quadros da Experiência Social: Uma Perspectiva de analise entre outros.

O livro “Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada” é relevante e atual

Vivemos numa sociedade que luta contra os diversos tipos de preconceitos e estigmas, vez por outra nos vemos diante de notícias que nos deixam atônitos, para entendermos melhor do que se trata o estigma social, é preciso entender o sofrimento do estigmatizado, a dor é emocional e psicológica experimentada por pessoas que são estigmatizadas ou marginalizadas devido a certas características, comportamentos ou identidades que são percebidas como diferentes, inferiores ou socialmente inaceitáveis pela sociedade em geral.

Erving Goffman escreveu e publicou em 1963, o livro "Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada", escrito por, ele é pedagógico e continua sendo relevante e atual. Nesta obra, Goffman analisa o conceito de estigma social e examina como a sociedade lida com pessoas que possuem características ou identidades consideradas desviantes ou negativamente estigmatizadas.

O conceito de estigma, como definido por Goffman, refere-se a um atributo pessoal que é profundamente desvalorizado e leva à desqualificação social. Ele aborda diferentes formas de estigma, como estigma físico (deficiências, deformidades), estigma moral (comportamentos considerados moralmente condenáveis) e estigma tribal (pertencer a um grupo estigmatizado).

A análise de Goffman sobre o estigma continua sendo relevante para a compreensão de como as pessoas são estigmatizadas e marginalizadas em várias esferas da vida social, como o emprego, a educação, o sistema de justiça criminal e os relacionamentos pessoais. O estigma pode ter impactos significativos na vida das pessoas, afetando sua autoestima, oportunidades de vida e interações sociais.

Além disso, o livro de Goffman destaca como os indivíduos estigmatizados gerenciam sua identidade e lidam com as percepções negativas que a sociedade tem sobre eles. Ele explora estratégias de gerenciamento de impressões, como a criação de fachadas para esconder ou minimizar o estigma, ou a busca por espaços e grupos onde possam encontrar apoio e aceitação.

O conceito de estigma continua sendo aplicado em diversas áreas da sociologia contemporânea, como estudos sobre preconceito e discriminação, estudos de gênero, estudos sobre saúde mental, estudos de deficiência e estudos de minorias. O livro de Goffman fornece uma base teórica para entender as dinâmicas do estigma e sua influência nas interações sociais e na vida das pessoas estigmatizadas.

Embora tenha sido escrito há várias décadas, o trabalho de Goffman sobre o estigma ainda é considerado uma leitura fundamental para entender os processos de estigmatização na sociedade atual e as consequências para aqueles que são estigmatizados.

Erving Goffman não especificou uma lista específica de estigmas em seu livro "Estigma", publicado em 1963. No entanto, o conceito de estigma que ele discute pode ser aplicado a uma ampla gama de características ou identidades que são socialmente desvalorizadas ou desqualificadas em contextos contemporâneos, como por exemplo temos os estigmas atuais que incluem:

- Estigma relacionado à saúde mental: Pessoas que lidam com transtornos mentais, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtornos alimentares ou vícios, podem enfrentar estigmas e discriminação, resultando em marginalização social e dificuldades em buscar tratamento adequado.

- Estigma relacionado à orientação sexual e identidade de gênero: Indivíduos que são lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros ou que possuem identidades de gênero não conformes podem enfrentar estigmas e preconceitos, levando a formas de exclusão social, discriminação e violência.

- Estigma relacionado à aparência física: Pessoas que não se enquadram nos padrões de beleza socialmente aceitos podem ser estigmatizadas com base em sua aparência, peso, altura, cor da pele, cicatrizes ou características físicas diferentes, enfrentando discriminação e exclusão.

- Estigma relacionado a doenças e deficiências: Indivíduos que vivem com doenças crônicas, deficiências físicas ou mentais podem ser estigmatizados, encontrando barreiras no acesso a oportunidades educacionais, emprego, serviços de saúde e inclusão social.

- Estigma racial e étnico: Pessoas pertencentes a grupos raciais ou étnicos minoritários podem enfrentar estigmas, preconceitos e discriminação sistêmica com base em sua origem racial ou étnica, limitando suas oportunidades e experiências de vida.

- Estigma relacionado ao vício: Indivíduos que lutam contra o vício em substâncias, como drogas ilícitas ou álcool, muitas vezes enfrentam estigmas que podem dificultar o acesso ao tratamento adequado, apoio social e reintegração na sociedade.

Esses são apenas alguns exemplos de estigmas atuais que as pessoas podem enfrentar. É importante ressaltar que os estigmas podem variar em diferentes contextos sociais, culturais e geográficos. A compreensão e a análise dos estigmas atuais exigem um exame cuidadoso dos contextos específicos em que ocorrem e das consequências sociais, emocionais e econômicas que eles podem impor sobre aqueles que são estigmatizados.

Então fica aí a sugestão de leitura para entender um pouco do pensamento de Erving Goffman:

- Resumo do livro: Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, o resumo do livro é o seguinte:

Estigma, marca ou impressão, desde os gregos emprega-se como indicativo de uma degenerescência: os estigmas do mal, da loucura, da doença. Na Antiguidade Clássica, através do estigma, procurava-se tornar visível qualquer coisa de extraordinário, mau, sobre o status de quem o apresentasse. O estigma "avisava" a existência de um escravo, de um criminoso, de uma pessoa cujo contato deveria ser evitado.

Na Era Cristã, dois níveis foram acrescentados à metáfora do estigma: num, de natureza sagrada, o estigma era sinal corporal de graça divina; no outro, era uma alusão médica de distúrbio físico. Com o desenvolvimento dos estudos de patologia social, a palavra voltou a ser conotada à degradação. Fez-se esse retorno ao sentido condenatório do termo, mas não se procedeu ao estudo ou mesmo à simples descrição das precondições estruturais do estigma, nem se cuidou de precisar o conceito. Tomou-se o estigmatizado como protótipo do banido social, banido por exclusiva culpa sua. Ao defini-lo, penalizaram-no, colocando-o à margem da sociedade. Nesse incessante forjar de proscritos, não se cuidou sequer de perguntar, por exemplo, quem verdadeiramente é o marginal: o estigmatizado que a sociedade marginaliza ou a própria sociedade.

Este impressionante, veemente e lúcido livro reexamina os conceitos de estigma e identidade social, o alinhamento grupal e a identidade pessoal, o eu e o outro, o controle da informação, os desvios e o comportamento desviante, detendo-se em todos os aspectos da situação da pessoa estigmatizada: dos boêmios aos delinquentes, das prostitutas aos músicos de jazz, dos ciganos aos malandros de praia, do mendigo a quantos são considerados "engajados numa espécie de negação coletiva da ordem social", os que integram a "comunidade dos estigmatizados", todos têm, neste livro, sua imagem humanamente explicada à luz da antropologia social.

Fonte:

Goffman, Erving: Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada; Editora ‏LTC; 4ª edição (7 janeiro 2021)

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Resenha do livro: A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas 1 Pierre Bourdieu, Jean Ciaude Chamboredon, Jean-Ciaude Passeron


 

O livro “A Profissão de Sociológo: Preliminares epistemológicas” da 3ª edição do livro de Bourdieu, Chamboredon e Passeron, não é um livro para leitura na forma simples e corrida, mas sim para uma leitura reflexiva, na forma de um passo de cada vez, num indo e vindo, dialogando com o texto, como em toda discussão conceitual e interpretativa, inclusive nos dando ao direito de explorar invadindo um novo espaço levando conosco toda uma carga de conhecimentos conquistados, assimilada ao longo de minhas experiências e estudos das outras ciências, porém é importante saber de antemão que se entrando numa nova casa denominada por sociologia.

A leitura leva-nos a refletir acerca das práticas de vigilância focadas nas operações conceituais e metodológicas voltados a tentar sanar os entraves epistemológicos que acabam criando dificuldades na construção científica.

Dentre paradigmas da sociologia como em geral, há contrariedades e diferenças entre as correntes na pluralidade e singularidades e, ainda mais se tratando da Sociologia uma nova ciência (já não tão novinha assim, pois surgiu no século XIX como disciplina científica) abrindo espaço dentro do mundo científico, enfrentando desafios pertinentes a sociologia contemporânea e como jovem ciência encarando os desafios inerentes do que é novo em princípio é rejeitado, principalmente quando há questionamento dos velhos paradigmas, paradigmas que procuram explicar a realidade a seu tempo com o conhecimento valido na sua época.

A realidade estudada e explicada pela visão da sociologia, com seus respectivos instrumentos reconfiguram o conhecimento sociológico a partir de instrumentos que darão validade capazes de conferir credibilidade a jovem ciência, com objetividade reduzindo e superando os obstáculos epistemológicos, isto é construído a partir de reflexão e vigilância sobre as verdades universais e os relativismos.

A conquista do espaço no mundo das ciências e, seu relevo junto a sociedade contemporânea ocorre e ocorreu gradualmente, a conquista deste espaço vai além dela própria, pois é a conquista da própria consciência que se da sua importância e, assim o reconhecimento se torna necessária, resultando num maior reconhecimento capazes de transformar a vida social das populações.

 Um ponto muito importante levantado a partir da reflexão é que as pessoas falam palavras muitas vezes sem o nexo devido, sua fala carregada de intenção e imagens, porem com outro sentido epistemológico, a lógica da fala interpretada antes de falada tenta extrair de expressões típicas e muitas vezes até banais, os paradigmas construídos na linguagem comum, e a verdade não é coisa isolada, única e individual, a comunicação se valida através daquilo que é entendido pelo outro a partir daquilo que é dito.

Na linguagem comum e em geral em suas ações as pessoas desconhecem que são motivadas inconscientemente, quando a consciência surge os argumentos aparentemente racionais tentam justificar de maneira lógica decisões tomadas por impulso sem maneira lógica, como por exemplo um empresário pode contratar funcionários levando em conta aspectos irracionais ou até numa relação pessoal podemos ter afinidade ou antipatia gratuita por alguém, sem aparentemente ter qualquer motivo, é o inconsciente funcionando.

Somos alvo constante da mídia, os comerciais de TV manipulam a vontade a partir de objetos de desejo universal ou dirigida a persuasão de um grupo especifico, no entanto, o verdadeiro objeto são aqueles desejantes ou não, que inconscientemente despertarão interesse ou alimentará mais ainda a intenção de adquirir, e do poder ter.

Sabemos que somos seres desejantes e sabemos que somos manipulados, mesmo assim a sociedade age inconscientemente, temos as pesquisas que são ferramentas de trabalho da sociologia, tais pesquisas analisam resultados como por exemplo: “Num comercial de TV, a venda é realizada ou não nos três ou quatros segundos iniciais, assim como num anuncio impresso, 75% das decisões acontecem na leitura do cabeçalho. Numa demonstração promocional, a venda é feita ou não nos três minutos iniciais”. Estes dados são resultados de estudos feito por John Caples, “Tested advertising methods, Englewood Cliffs, NJ, Prentice-HALL.Inc.,1974 “, citados no livro “O Mito do Empreendedor”, (Editora Saraiva, 1986), de Michael E. Gerber. Estes são exemplos de decisões que tomamos diariamente sem termos consciência disto.

Outro exemplo é nos anos 70, a Pepsi lançou um ataque competitivo contra a Coca-Cola, na famosa campanha dos testes cegos. Foram veiculados pela TV, comerciais em que várias pessoas eram testadas, com vendas nos olhos, para escolherem o melhor refrigerante entre os dois. Apesar de a Coca-Cola ser a preferida do público, nos testes com venda nos olhos as pessoas preferiram, numa proporção de 3 a 2, a Pepsi. Isto é o que se pode chamar de uma decisão inconsciente.

Outro exemplo muito presente no dia a dia são as entrevistas de empregos que muitas vezes o recrutador comete erros por se deixar influenciar excessivamente pela aparência das pessoas e deixar de lado aspectos relevantes de sua competência profissional, isto não nos causa tanta estranheza, visto que vivemos numa sociedade dos retoques e filtros fotográficos na busca pela imagem perfeita. Ele defende que as entrevistas de empregos deveriam acontecer inicialmente por telefone ou na leitura de currículos e só na reta final, quando houver apenas dois ou três concorrentes aptos a assumir o cargo, é que deveria haver a entrevista pessoal, é mais ou menos a utilização da habilidade do deficiente visual, guiaríamos pelo histórico da experiência, isto é se a experiência fosse uma das exigências para função e também nos guiaríamos pelas mensagens contidas na voz do candidato, mas será que com tudo isto não idealizaríamos inconscientemente a imagem de alguém e na hora do cara a cara a ilusão mental não estaria a atrapalhar? Como vimos são muitas as teorias, muitas as condicionantes que compõem o quadro num mundo em constantes mudanças, é crucial tentar escapar a modelos prontos.

O sociólogo entende que se estamos inclinados a cometer erros irracionalmente, a maneira de agirmos desta forma não é apenas o resultado da determinação do acumulado das teorias passadas, sabendo disto o sociólogo rompe com os paradigmas do discurso epistemológico, que oferecem a todo tempo o risco de incorrer em modelos prontos. Essa atitude é a forma científica de agir e implica na submissão dos procedimentos metodológicos à uma razão epistemológica cética, questionadora e vigilante.

É questionando a pratica que rompemos com o saber imediato, aquele saber inconsciente e banal, rompendo com as relações aparentes e independente das opiniões e intenções do sujeito que o objeto da investigação, cujos pressupostos foram assimilados inconscientemente.

A tarefa da sociologia é desvendar incansavelmente as diversas modalidades de atuação das diferentes formas de dominação veladas e dissimuladas nos diversos mundos sociais, trazendo à tona fatos que estão escondidos sob o manto da ilusão e das aparências. É necessário, ainda, voltar-se contra a teoria tradicional e repetitiva, posto que estas, pretensamente universais, porem superficiais, porque tiram da lógica do senso-comum seu projeto fundamental, e não mais do estudo cientifico atualizado. Bourdieu propõe uma teoria do conhecimento sociológico capaz de superar as armadilhas do objetivismo, determinismo sociológico, do subjetivismo e voluntarismo individualista.

A sociologia é uma ciência que acaba incomodando, pois rompe com a tradição, tira o véu do senso comum, criticando muitas vezes de forma feroz, colocando problemas e trazendo à baila recalques que são ocultados e escondidos propositadamente, as vezes o sociólogo é acusado de querer destruir o sistema onde ele mesmo está inserido com suas peculiaridades e interesses.

O livro é uma ótima introdução aos conceitos da sociologia, suas reflexões aproximam o leitor ao mundo critico, elevando a capacidade de melhor enxergar o mundo e os fatos que estão escondidos nas mais simples ações cotidianas, extraindo o sujeito da posição que ocupa como apenas um mero reprodutor de informações, o conteúdo é denso, porém tem uma linguagem que permite um bom entendimento, penso que esta leitura seja importantíssima se quisermos entender o que seja a profissão do sociólogo.

Fontes:

Bourdieu, Pierre, 1930- A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas 1 Pierre Bourdieu, Jean Ciaude Chamboredon, Jean-Ciaude Passeron ; tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. - Petrópolis, RJ: vozes, 1999.

https://administradores.com.br/artigos/decisoes-inconscientes