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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O Andar do Bêbado

 


Você já parou para pensar sobre como o acaso molda as nossas vidas de maneiras que nem sempre percebemos? Se nunca pensou muito sobre isso, ou se já refletiu e quer explorar mais a fundo, eu tenho uma sugestão para você: dê uma chance ao livro "O Andar do Bêbado: Como o Acaso Determina Nossas Vidas" de Leonard Mlodinow. Este livro é como um convite para uma viagem fascinante pelo mundo da probabilidade e da aleatoriedade, usando exemplos do dia a dia para nos mostrar como o imprevisível pode afetar desde as nossas escolhas mais simples até os eventos mais complexos. Prepare-se para questionar suas próprias crenças sobre destino, livre-arbítrio e o papel do acaso em nossas vidas. Prometo que vai ser uma leitura cativante e reveladora!

"O Andar do Bêbado: Como o Acaso Determina Nossas Vidas" é um livro fascinante que explora o papel do acaso em nossas vidas de uma maneira envolvente e acessível. Escrito por Leonard Mlodinow, físico e autor, o livro leva os leitores por uma jornada pela matemática do acaso e como ela influencia desde os eventos mais simples até os mais complexos.

Mlodinow usa uma abordagem informal e cheia de exemplos do cotidiano para explicar conceitos complexos de probabilidade, mostrando como eles se aplicam em diversas áreas, desde a economia até a biologia e a psicologia. O título intrigante, "O Andar do Bêbado", refere-se à ideia de que o comportamento aleatório de uma pessoa embriagada pode ser modelado matematicamente, o que nos leva a entender melhor como o acaso pode afetar nossas vidas.

Ao longo do livro, Mlodinow desafia a visão tradicional de que somos totalmente responsáveis pelo nosso destino, argumentando que o acaso desempenha um papel significativo em nossas escolhas e resultados. Ele explora como as flutuações aleatórias podem influenciar desde o desempenho de um atleta até o sucesso de uma empresa, destacando a importância de reconhecer e lidar com a incerteza em nossas vidas.

Com uma linguagem leve e muitos exemplos práticos, "O Andar do Bêbado" convida os leitores a refletirem sobre a natureza imprevisível do mundo ao nosso redor e a considerarem como podemos aprender a conviver com o acaso de forma mais consciente. É um livro que desafia as concepções tradicionais de determinismo e livre-arbítrio, oferecendo uma visão instigante sobre o papel do acaso em nossas vidas.

Fonte:

Mlodinow, Leonard. O Andar do Bêbado: Como o Acaso Determina Nossas Vidas. Tradução Diego Alfaro. Consultoria: Samuel Jurkiewicz Coppe-UFRJ. eLivros. Zahar, Rio de Janeiro, 2009.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Os Demônios de Dostoievsky


Imagine-se embarcando em uma jornada literária que te leva a explorar as complexidades da alma humana e a desvendar os enigmas de uma sociedade em ebulição. Foi exatamente assim que me encontrei ao iniciar a leitura de "Os Demônios" de Dostoievsky. Cativado pela promessa de uma narrativa que transcende o tempo, me vi imerso em um mundo de personagens intrigantes e debates intensos sobre ideologias, liberdade e as sombras que habitam nossas próprias naturezas. Poucas obras têm o poder de capturar a essência da condição humana de maneira tão profunda, e é com entusiasmo que compartilho as reflexões inspiradas por este clássico literário que, mesmo escrito há mais de um século, continua a ressoar nas complexidades do nosso cotidiano.

"Os Demônios" (ou "Os Possessos"), escrito por Fyodor Dostoievsky e publicado em 1872, é uma obra complexa e profunda que mergulha nas complexidades da sociedade russa do século XIX, explorando temas como revolução, niilismo e a luta entre o bem e o mal. A narrativa, rica em personagens intrigantes, oferece uma visão penetrante das tensões políticas e ideológicas da época, ao mesmo tempo em que mergulha nas profundezas da psique humana.

O enredo se desenrola em uma pequena cidade russa onde um grupo de intelectuais radicais, liderados por Piotr Verkhovensky, busca instigar a revolução como uma resposta à decadência moral e social percebida. Os personagens representam diferentes facetas da sociedade, e suas interações complexas lançam luz sobre as contradições e os conflitos inerentes à condição humana. Nikolai Stavrogin, um personagem enigmático e central na trama, é retratado como um "demônio" em uma perspectiva metafórica, simbolizando a corrupção moral e espiritual. Sua presença influencia o curso dos eventos de maneiras imprevisíveis, e sua complexidade psicológica adiciona camadas profundas à narrativa.

Dostoievsky utiliza "Os Demônios" como uma plataforma para explorar a natureza da liberdade, a responsabilidade individual e as consequências sociais das ideologias extremas. Ele tece um retrato crítico das ideias niilistas e radicais que estavam em ascensão na Rússia, alertando sobre os perigos de seguir cegamente utopias políticas sem considerar as implicações morais e éticas. A escrita de Dostoievsky é caracterizada por sua riqueza psicológica, diálogos intensos e observações perspicazes sobre a condição humana. "Os Demônios" desafia os leitores a refletirem sobre questões profundas relacionadas à sociedade, à moralidade e à busca do significado na vida. Esta obra magistral continua a ser uma leitura relevante e provocativa, oferecendo uma visão inesquecível da complexidade da natureza humana e das tensões sociais que moldam o destino das nações.

"Os Demônios" de Dostoievsky, apesar de situado em uma Rússia do século XIX, oferece analogias intrigantes com aspectos do nosso cotidiano atual. A obra aborda temas universais que transcendem o tempo e o espaço, permitindo-nos encontrar paralelos com questões contemporâneas. Aqui estão algumas analogias que podem ser traçadas:

Extremismo Ideológico e Polarização Política: Assim como no livro, onde personagens extremistas buscam instigar a revolução com base em ideologias radicais, podemos observar paralelos com a polarização política e o extremismo ideológico em nosso tempo. A ascensão de movimentos radicais, debates acalorados e a busca por mudanças sociais muitas vezes refletem as tensões políticas e ideológicas descritas por Dostoievsky.

Consequências das Ideologias Extremas: A obra alerta sobre as consequências imprevisíveis e perigosas das ideologias extremas. Isso pode ser relacionado a movimentos ou ideias contemporâneas que, quando seguidos sem questionamento crítico, podem resultar em consequências não desejadas e, por vezes, prejudiciais para a sociedade.

Corrupção Moral e Espiritual: A representação de Nikolai Stavrogin como um "demônio" simbolizando corrupção moral e espiritual pode ser associada a figuras públicas ou a questões sociais que desafiam os valores éticos fundamentais. A corrupção, seja ela moral, política ou institucional, é uma preocupação constante em várias sociedades.

Desafios da Liberdade Individual: A discussão sobre a natureza da liberdade e a responsabilidade individual é relevante em nosso cotidiano, especialmente em meio a debates sobre direitos individuais, liberdade de expressão e o equilíbrio entre a autonomia pessoal e o bem comum.

Impacto da Tecnologia e Comunicação: Embora não seja um tema central na obra, a dinâmica da comunicação e da tecnologia pode ser associada à forma como as ideias se espalham e ganham força na sociedade contemporânea. A influência das redes sociais e da mídia na formação de opiniões pode ser comparada à disseminação de ideias no contexto do romance.

Ao fazer essas analogias, é importante reconhecer que as comparações são sempre simplificações e que as obras literárias podem ser interpretadas de várias maneiras. No entanto, encontrar conexões entre "Os Demônios" e nosso cotidiano permite uma reflexão mais profunda sobre os desafios sociais e éticos que persistem ao longo do tempo. A literatura tem destas coisas, carregam mensagens, ensinamentos, histórias que a posteridade se apropria e a partir delas faz leituras e analogias da realidade e do cotidiano. Realmente é uma bela obra, vale muito a pena ler e desfrutar da beleza literária.

Fonte:

Dostoievski, Fiódor. Os Demônios. Tradução Paulo Bezerra. Editora 34 Ltda. São Paulo.Ed. 2013

 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Resenha do livro: A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas 1 Pierre Bourdieu, Jean Ciaude Chamboredon, Jean-Ciaude Passeron


 

O livro “A Profissão de Sociológo: Preliminares epistemológicas” da 3ª edição do livro de Bourdieu, Chamboredon e Passeron, não é um livro para leitura na forma simples e corrida, mas sim para uma leitura reflexiva, na forma de um passo de cada vez, num indo e vindo, dialogando com o texto, como em toda discussão conceitual e interpretativa, inclusive nos dando ao direito de explorar invadindo um novo espaço levando conosco toda uma carga de conhecimentos conquistados, assimilada ao longo de minhas experiências e estudos das outras ciências, porém é importante saber de antemão que se entrando numa nova casa denominada por sociologia.

A leitura leva-nos a refletir acerca das práticas de vigilância focadas nas operações conceituais e metodológicas voltados a tentar sanar os entraves epistemológicos que acabam criando dificuldades na construção científica.

Dentre paradigmas da sociologia como em geral, há contrariedades e diferenças entre as correntes na pluralidade e singularidades e, ainda mais se tratando da Sociologia uma nova ciência (já não tão novinha assim, pois surgiu no século XIX como disciplina científica) abrindo espaço dentro do mundo científico, enfrentando desafios pertinentes a sociologia contemporânea e como jovem ciência encarando os desafios inerentes do que é novo em princípio é rejeitado, principalmente quando há questionamento dos velhos paradigmas, paradigmas que procuram explicar a realidade a seu tempo com o conhecimento valido na sua época.

A realidade estudada e explicada pela visão da sociologia, com seus respectivos instrumentos reconfiguram o conhecimento sociológico a partir de instrumentos que darão validade capazes de conferir credibilidade a jovem ciência, com objetividade reduzindo e superando os obstáculos epistemológicos, isto é construído a partir de reflexão e vigilância sobre as verdades universais e os relativismos.

A conquista do espaço no mundo das ciências e, seu relevo junto a sociedade contemporânea ocorre e ocorreu gradualmente, a conquista deste espaço vai além dela própria, pois é a conquista da própria consciência que se da sua importância e, assim o reconhecimento se torna necessária, resultando num maior reconhecimento capazes de transformar a vida social das populações.

 Um ponto muito importante levantado a partir da reflexão é que as pessoas falam palavras muitas vezes sem o nexo devido, sua fala carregada de intenção e imagens, porem com outro sentido epistemológico, a lógica da fala interpretada antes de falada tenta extrair de expressões típicas e muitas vezes até banais, os paradigmas construídos na linguagem comum, e a verdade não é coisa isolada, única e individual, a comunicação se valida através daquilo que é entendido pelo outro a partir daquilo que é dito.

Na linguagem comum e em geral em suas ações as pessoas desconhecem que são motivadas inconscientemente, quando a consciência surge os argumentos aparentemente racionais tentam justificar de maneira lógica decisões tomadas por impulso sem maneira lógica, como por exemplo um empresário pode contratar funcionários levando em conta aspectos irracionais ou até numa relação pessoal podemos ter afinidade ou antipatia gratuita por alguém, sem aparentemente ter qualquer motivo, é o inconsciente funcionando.

Somos alvo constante da mídia, os comerciais de TV manipulam a vontade a partir de objetos de desejo universal ou dirigida a persuasão de um grupo especifico, no entanto, o verdadeiro objeto são aqueles desejantes ou não, que inconscientemente despertarão interesse ou alimentará mais ainda a intenção de adquirir, e do poder ter.

Sabemos que somos seres desejantes e sabemos que somos manipulados, mesmo assim a sociedade age inconscientemente, temos as pesquisas que são ferramentas de trabalho da sociologia, tais pesquisas analisam resultados como por exemplo: “Num comercial de TV, a venda é realizada ou não nos três ou quatros segundos iniciais, assim como num anuncio impresso, 75% das decisões acontecem na leitura do cabeçalho. Numa demonstração promocional, a venda é feita ou não nos três minutos iniciais”. Estes dados são resultados de estudos feito por John Caples, “Tested advertising methods, Englewood Cliffs, NJ, Prentice-HALL.Inc.,1974 “, citados no livro “O Mito do Empreendedor”, (Editora Saraiva, 1986), de Michael E. Gerber. Estes são exemplos de decisões que tomamos diariamente sem termos consciência disto.

Outro exemplo é nos anos 70, a Pepsi lançou um ataque competitivo contra a Coca-Cola, na famosa campanha dos testes cegos. Foram veiculados pela TV, comerciais em que várias pessoas eram testadas, com vendas nos olhos, para escolherem o melhor refrigerante entre os dois. Apesar de a Coca-Cola ser a preferida do público, nos testes com venda nos olhos as pessoas preferiram, numa proporção de 3 a 2, a Pepsi. Isto é o que se pode chamar de uma decisão inconsciente.

Outro exemplo muito presente no dia a dia são as entrevistas de empregos que muitas vezes o recrutador comete erros por se deixar influenciar excessivamente pela aparência das pessoas e deixar de lado aspectos relevantes de sua competência profissional, isto não nos causa tanta estranheza, visto que vivemos numa sociedade dos retoques e filtros fotográficos na busca pela imagem perfeita. Ele defende que as entrevistas de empregos deveriam acontecer inicialmente por telefone ou na leitura de currículos e só na reta final, quando houver apenas dois ou três concorrentes aptos a assumir o cargo, é que deveria haver a entrevista pessoal, é mais ou menos a utilização da habilidade do deficiente visual, guiaríamos pelo histórico da experiência, isto é se a experiência fosse uma das exigências para função e também nos guiaríamos pelas mensagens contidas na voz do candidato, mas será que com tudo isto não idealizaríamos inconscientemente a imagem de alguém e na hora do cara a cara a ilusão mental não estaria a atrapalhar? Como vimos são muitas as teorias, muitas as condicionantes que compõem o quadro num mundo em constantes mudanças, é crucial tentar escapar a modelos prontos.

O sociólogo entende que se estamos inclinados a cometer erros irracionalmente, a maneira de agirmos desta forma não é apenas o resultado da determinação do acumulado das teorias passadas, sabendo disto o sociólogo rompe com os paradigmas do discurso epistemológico, que oferecem a todo tempo o risco de incorrer em modelos prontos. Essa atitude é a forma científica de agir e implica na submissão dos procedimentos metodológicos à uma razão epistemológica cética, questionadora e vigilante.

É questionando a pratica que rompemos com o saber imediato, aquele saber inconsciente e banal, rompendo com as relações aparentes e independente das opiniões e intenções do sujeito que o objeto da investigação, cujos pressupostos foram assimilados inconscientemente.

A tarefa da sociologia é desvendar incansavelmente as diversas modalidades de atuação das diferentes formas de dominação veladas e dissimuladas nos diversos mundos sociais, trazendo à tona fatos que estão escondidos sob o manto da ilusão e das aparências. É necessário, ainda, voltar-se contra a teoria tradicional e repetitiva, posto que estas, pretensamente universais, porem superficiais, porque tiram da lógica do senso-comum seu projeto fundamental, e não mais do estudo cientifico atualizado. Bourdieu propõe uma teoria do conhecimento sociológico capaz de superar as armadilhas do objetivismo, determinismo sociológico, do subjetivismo e voluntarismo individualista.

A sociologia é uma ciência que acaba incomodando, pois rompe com a tradição, tira o véu do senso comum, criticando muitas vezes de forma feroz, colocando problemas e trazendo à baila recalques que são ocultados e escondidos propositadamente, as vezes o sociólogo é acusado de querer destruir o sistema onde ele mesmo está inserido com suas peculiaridades e interesses.

O livro é uma ótima introdução aos conceitos da sociologia, suas reflexões aproximam o leitor ao mundo critico, elevando a capacidade de melhor enxergar o mundo e os fatos que estão escondidos nas mais simples ações cotidianas, extraindo o sujeito da posição que ocupa como apenas um mero reprodutor de informações, o conteúdo é denso, porém tem uma linguagem que permite um bom entendimento, penso que esta leitura seja importantíssima se quisermos entender o que seja a profissão do sociólogo.

Fontes:

Bourdieu, Pierre, 1930- A profissão de sociólogo: preliminares epistemológicas 1 Pierre Bourdieu, Jean Ciaude Chamboredon, Jean-Ciaude Passeron ; tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. - Petrópolis, RJ: vozes, 1999.

https://administradores.com.br/artigos/decisoes-inconscientes

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sete Saberes


RESENHA do TEXTO “OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO” DE EDGAR MORIN
 

A presente resenha foi por mim elaborada e apresentada para atender tarefa solicitada pela professora Camila Dalcin junto a disciplina de A transversalidade dos temas filosóficos na Educação Básica I (Modulo 5) relativo ao curso de Pos Graduação em Filosofia na UFPEL - Universidade Federal de Pelotas.


            Propõe-se apresentar, neste trabalho resenha crítica do texto escrito por Edgar Morin, intitulado: “Os sete saberes necessários à educação do futuro”. Inicialmente cabe breve apresentação de Morin. Edgar Morin é um sociólogo e filósofo francês, pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formou-se em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia, Epistemologia e Educação. Autor de mais de trinta livros, entre eles o tema da presente resenha.
O livro intitulado Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro foi o resultado de uma solicitação da UNESCO, em 1999, a Edgar Morin com o propósito de que ele aprofundasse a visão transdisciplinar da educação, que expusesse suas ideias sobre a educação do amanhã.  Com esse fim, o autor após profunda reflexão expõe os seus sete saberes imprescindíveis a uma educação integral e de qualidade como desejava a UNESCO.
Partindo da ideia de que a educação do futuro deve se aproximar mais das questões humanas, englobando cada vez mais aspectos do quotidiano e tomando o ser humano como referencial para o ensino, Morin nos apresenta caminhos que se abrem a todos os que pensam e fazem educação, e que estão preocupados com o futuro das crianças e adolescentes.
No texto, Morin lista sete aspectos que denomina de “saberes” para a educação. Tais aspectos ou saberes são ideias que proporcionariam uma priorização na humanização da educação e tirariam os atuais processos educativos do estado de inércia, fazendo com que esses evoluíssem de forma compassada com as atuais e novas realidades sociais a nós apresentadas.

Os “sete saberes” descritos por Morin são os seguintes:

O primeiro saber: “As cegueiras do conhecimento” – O erro e a ilusão, convida o educando e educador a compreender a essência e a origem dos processos de conhecimento. Inicialmente Morin trabalha a ideia de erro, a ideia de que todo conhecimento comporta o risco do erro e também da ilusão, porque a ciência sempre buscou afastar o erro de sua concepção, sendo assim tudo aquilo que era considerado como erro deveria ser retirado da criação do conhecimento. Conforme Morin, "O dever principal da educação é preparar cada um para enfrentar os não saberes com lucidez", ou seja, a necessidade de integrar os erros nas concepções para que o conhecimento possa avançar.
O outro fator abordado neste saber seria a ilusão, ou como somos iludidos sobre o mundo e sobre nossa realidade, que o acaba sendo permeado por nossas percepções, acaba traduzindo o conhecimento de acordo como nós entendemos. Ao buscar e considerar os erros e as ilusões deste conhecimento constantes nas concepções, conseguiríamos compreender e avançar para um conhecimento verdadeiro;
Conforme Morin, “A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro seria subestimar o problema do erro: a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão”;

O segundo saber: “Os princípios do conhecimento pertinente” focam na necessidade de inserir os conhecimentos assimilados em questões dos micros e macro-ambientes, estabelecendo as mútuas relações entre as partes, buscando trabalhar a ideia de conhecimento pertinente, o qual entre em contraposição com a ideia que para aprendemos temos que fragmentar, ou seja quando mais nos fragmentamos as disciplinas mais o conhecimento consegue avançar, ou seja, Morin defende a ideia que não é preciso acabar com a ideia da disciplina, mas rearticular a ideia de disciplina em outros contextos. A ideia central deste saber remonta a necessidade de que o todo é mais que a soma das partes temos que "pensar as relações entre o todo e as partes", onde a educação do futuro busca estimular a inteligência geral e o conhecimento do todo, portanto o conhecimento pertinente é uma ideia contra a fragmentação e o isolamento disciplinar.

O terceiro saber: “Ensinar a condição humana” tem a ideia de retornar à educação ao seu principal foco que é o ser humano, fazendo com que as diversas disciplinas convirjam nesse único objetivo. É necessário aprender que o ser humano possui multidimensionalidades, além de seres culturais que somos, também somos naturais, psíquicos, físicos, míticos e imaginários, toda esta unidade complexa é desintegrada na educação por meio de disciplinas, tornando-se difícil aprender o que realmente significa ser humano. Para situar o ser humano no universo é preciso então, conhecê-lo com e em sua complexidade, se quisermos avançar para um ensino que não seja “apenas fragmentado e não conectado”.

O quarto saber: “Ensinar a identidade terrena” é preciso determinar a necessidade da promoção do estudo da história da humanidade, identificando seus principais aspectos “evolutivos” e a “identidade planetária” constituída a partir de então, bem como os problemas em comum de todas as nações originários destes aspectos, tal como a ideia da sustentabilidade, precisamos ver que nosso pequeno planeta precisa ser sustentado, afinal a Terra é a nossa pátria e daqui não temos para onde sair. As próximas gerações dependerão de nossas atitudes, a educação deve abraçar o conceito de sustentabilidade de maneira que entendam a ideia desta condição ser primordial para sobrevivência de todo ser vivo na Terra.

O quinto saber: “Enfrentar as incertezas” tem o intuito de advertir que os empregos da ciência nos processos educativos apenas nos fizeram entrar em contato com certezas geradas por ela, mas ignoraram as várias incertezas que também foram descobertas nesses mesmos casos, culminou por excluir a possibilidade de um preparo para o enfrentamento de imprevistos. É cabível o ensinamento do princípio da incerteza no qual o conhecimento cientifico nunca é o produtor absoluto de certezas, ao contrário, tudo aquilo que foi criado pelo homem foi a partir da ideia de incerteza. A incerteza pode comandar o avanço preparando educador e educando para enfrentar as situações imprevistas.

O sexto saber: “Ensinar a compreensão” recomenda e propõe a compreensão mútua entre os seres humanos, afim de gerar bases mais seguras de educação para a paz, promovendo, para isso, reformas das mentalidades. A reforma das mentalidades é no sentido de que a compreensão deva ser o meio e o fim da comunicação humana, e a comunicação voltada para compreensão, num ciclo onde as disciplinas que brigam entre si, departamentos que não se entendem com os outros, áreas de conhecimento que não se falam com outras, finalmente consigam se comunicar, portanto a comunicação humana é imprescindível e entenda não apenas o micro, mas entenda o macro ambientes de educação. É preciso entender e trabalhar a nova mentalidade de que é necessário introduzir o ensino da compreensão nas unidades de ensino em qualquer nível que elas exerçam, inclusive e principalmente a ideia da compreensão pode e de ser estendido ao nosso planeta que precisa de mais compreensão, onde infelizmente o que prejudica o avanço é a atual incompreensão politicas, ideológicas e econômicas.

E finalmente, o sétimo saber: “A ética do gênero humano” tem a intenção de conduzir a educação através do caminho da “antropoética”, que é a ética do gênero humano (ética pode ser resumida em: não desejar para os outros, aquilo que não desejo para mim, ideia presente no imperativo categórico kantiano), sendo ensinada e reintroduzida nas escolas, fazendo com que a ética seja formada nas mentes, não através e apenas de lições de moral, mas com base na pedra fundamental instalada na consciência de que o ser humano é indivíduo (micro) e, ao mesmo tempo, parte da sociedade e a espécie (macro). A religação do indivíduo, sociedade e espécie, dependem da construção de uma antropoética.

Morin apresentou suas ideias como inspirações que motivariam o educador a repensar seu posicionamento na docência, com sua relação com os outros discentes, frente a grade curricular, na relação da disciplina em si e na sua relação com o processo avaliativo, no entanto Morin não resolveu o problema do “como” aplicar os sete saberes na esperada reforma da educação, na qual ainda se está a discutir e tentando decidir junto as instituições de ensino soluções para o problema. Em princípio estamos cientes que os sete saberes poderão contribuir para união das disciplinas fragmentadas, o que foi proposto por Morin seria uma redefinição dos currículos que integram os saberes e assim propiciem a formação e as ações de um novo educador, inclusive estimulando o diálogo entre “diferentes”, reconhecendo que poderá haver relações de tensão entre os opostos (singular e universal, local e global, sujeito e objeto).
Entretanto, vejo a implementação de tais saberes com dúvida e relativa descrença, pois isto deveria promover uma verdadeira mudança na consciência e comportamento social das pessoas e não apenas dos processos educativos, o que sabemos seja difícil, pois vivemos numa sociedade individualista, consumista e pouco solidária, onde valores éticos estão como que amortecidos.
A sociedade tem se importado mais com os casos de corrupção do que com a educação (veja-se que STF trabalha quase todo o tempo para discutir casos de corrupção, onde as decisões do STF são vistas com profundo ceticismo), os noticiários do mundo relatam fatos da falta de ética, falta de compreensão, dificuldades de comunicação. Nas escolas encontramos o desmantelamento do ensino com baixos índices de aprendizagem, currículo confuso, desestímulo dos docentes em prosseguir na carreira de docentes, a quebra da autoridade da escola e consequentemente dos docentes que seria o mínimo necessário para contribuir numa melhor educação, isto tudo está afetando os processos educativos que ora estão bastante aquém da contemplação dessas necessidades.
Entendo que a difusão dos “sete saberes” de Morin deve tornar-se um referencial para cada educador em suas ações, que a sociedade (macro) ampare e assimile urgentemente a proposta de Morin, e que por atitudes possam chegar no educando (micro). Estamos cientes que será desencadeado um processo lento de mudança de mentalidade, até que esses “saberes” realmente exerçam alguma influência na forma de educar e, consequentemente, nas bases da sociedade nacional e mundial.

Bibliografia:
Morin, Edgar, 1921- Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin ; tradução de
Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.