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terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Resenha Critica "As Teorias Selvagens" de Pola Oloixarac

 

As Teorias Selvagens de Pola Oloixarac

Sinopse

As teorias selvagens é uma mistura entre ironia e zombaria da vida intelectual na era dos blogs, da pornografia virtual, do videogame, das pílulas coloridas e da junk food. É uma compilação de histórias cheias de referências por todos os lados - um gato chamado Yorick, uma militante de esquerda que escreve cartas para Mao Tse-Tung, chamado por ela de Moo (na carta confessa que a ideia de amor livre de revolucionário, para ela, entra em choque com o desejo de um relacionamento baseado na fidelidade com o seu companheiro, o que leva a acusação de rendição a sentimentos burgueses), uma estudante de filosofia que persegue o professor pela universidade. É um compilado de histórias sempre esclarecidas por teorias que explicam tudo, ao menos aos olhos dos jovens contemporâneos, que viajam pelo mundo do ciberespaço.

O primeiro livro, Las teorías salvajes (no Brasil, As teorias selvagens) escrito por Pola Oloixarac, sua obra de estreia foi traduzida para o inglês, francês, holandês e finlandês, ela é escritora e tradutora argentina, nasceu em Buenos Aires em 13 de setembro de 1977. Pola estudou Filosofia na Universidade de Buenos Aires e escreve artigos sobre arte e tecnologia para diversos veiculos na Argentina, Espanha e Brasil.

Pola Oloixarac

O livro conseguiu dividir a crítica e amealhou uma legião de fãs, polêmico e atual, encontra seu alvo na modernidade e no sujeito universal, o romance transita entre o erudito e o pop, entre a filosofia, a filologia, o humor negro, a pornografia, a cultura geek e a etnografia urbana, é realmente bem complexo, por estas razões acaba conquistando e dividindo opiniões entre os que amam e odeiam com a mesma facilidade, alguns agradou a outros incomodou. Pola recebeu o título de musa geek, em razão de seu romance tratar de assuntos como blogs, videogames com seus jogos e o universo hacker. Ele traz assuntos diversos indo da antropologia à cultura pop, da pornografia à filosofia e humor negro, assemelha-se a uma patchwork que passeia do erudito ao cotidiano com rapidez, e nem sempre com a fluidez, as estórias (mais de uma) não tem contato entre si. Ao tratar de um ambiente intelectualizado, como o curso de Filosofia da Universidade de Buenos Aires, Pola pratica um exercício de galhofa e desmitificação da vida acadêmica em tempos de agrupamentos frágeis e identidades cambiantes através da complexidade dos personagens, dá estocadas críticas contra a doxa do humanismo progressista, torna-se até hermético por usar um linguajar um pouco mais complexo obrigando ao leitor não familiarizado a frear a leitura para interpretar o sentido e até pesquisar do que se trata para poder prosseguir, pois o patchwork contem pedaços de Rousseau, Wittgenstein, Bauman. Nietzsche e até Humbert-Humbert (lembram-se de Lolita de Vladimir Nabokov?)

É, entre outras coisas, uma trama diferenciada, com um tratado da guerra da sedução na era dos blogs, trata do sujeito universal contemporâneo, um romance ácido, demencial e extremamente divertido, a sua tese não é novidade, pois propõe que o discurso que nos anos 70 era sinônimo de resistência, mudança e revolução converteu-se atualmente no dogma oficial do pensamento, da cultura oficial com seus valores eternos e da pedagogia.

São três os personagens centrais, personagens que falam de teorias filosóficas como se encenassem uma comédia:

Kamtchowsky, ou K., e Pablo, cujo apelido é Pabst, são jovens inteligentes que não possuem beleza física (por isto eles se aproximam), são muito feios, são fanáticos por tecnologia, vivem da promoção de suas próprias orgias e recriam a guerrilha esquerdista argentina em um jogo de computador montado graças à habilidade de hackear o Google Earth, são entediados e cuja diversão principal pode ser denominada como a de destilar uma sagacidade mordaz a respeito do comportamento dos que os cercam, (os nerds têm gostos propositadamente adaptados ao século 21). Adoram filmar suas orgias e disponibilizar as imagens na rede. A obra é carregada de exageros, como por exemplo ao narrar que Kamtchowski foi estuprada por dois garotos com síndrome de down e virar assim uma pequena celebridade pornô cibernética.

E a estudante dissimulada compara suas ações a uma pesquisa de campo antropológica a narradora Rosa Ostreech, uma bela estudante de filosofia, que nutre uma paixão obsessiva pelo professor García Roxler, ela tem a pretensão de conquistar o velho professor e de completar as pesquisas que este desenvolveu sobre a teoria das transmissões egóicas do antropólogo holandês Johan Van Vliet, que versa sobre o comportamento humano e como as transformações sociais ocorreram na tensão entre o ser humano e a fera, da passagem da espécie humana de perseguida à predadora (a maldade do homem ou sua aptidão para a violência é explicada pela necessidade de sobrevivência à bestialidade de uma época pré-civilizatória).

Tirando os exageros cruéis, o estilístico de Pola é altamente refinado e filosófico, referencial ao extremo, traz à tona um olhar sobre os costumes sociais, sexuais e virtuais de uma geração que, por falta de convicções políticas, enseja divertimentos e jogos narcisistas e perversos, no qual o “outro” é objeto de constantes e perspicazes afrontas intelectuais como desafios que terminam em frustração ou tédio e que não preenchem o vazio existencial (alimentado com boas doses de arrogância) que transforma angústia em indiferença ou vaidade. Para Kamtchowsky e Pabst, a guerra é contra certa assepsia intelectual e o modo como a beleza superficial é erguida como corolário do reconhecimento social (transitar de um lado para outro em busca de satisfação e, consequentemente, descartá-la e rumar para uma nova forma de prazer é um mecanismo da sociedade de consumo, no qual até a desilusão e o desajustamento são cooptados para a vida de “mercadoria”). Ao se unirem a Andy e Mara, dois sedutores jovens, K. e Pabst podem exercer a aproximação insidiosa pautada na desconfiança e liberdade possíveis das relações contemporâneas. Com a desconstrução do amor romântico, como afirma Bauman em “Amor líquido: a fragilidade dos laços humanos”, o amor perde o sentido e qualquer coisa serve para ser camuflada como se o fosse, mas sem a exigência de sê-lo realmente. Uma vez vivido pode ser descartado, já que nada mais será duradouro em um mundo liquefeito, considera o “cidadão de nossa líquida sociedade moderna” como Der Mannohne Verwandtschaften - que o homem não tem família, o homem sem vínculos, isto remete-me, ao aforisma 489 de Humano, demasiado humano, indo até profundamente demais:

“Pessoas que compreendem algo em toda a sua profundeza raramente lhe permanecem fiéis para sempre. Elas justamente levaram luz à profundeza: então há muita coisa ruim para ver” (NIETZSCHE, 2000, p. 266).

 

Críticas da Imprensa

“Pola é uma menina linda com uma mente perigosa. Rodolfo Viana, Revista Vip

A prosa de Pola Oloixarac é o grande acontecimento da nova narrativa argentina. Seu romance é inesquecível, filosófico, selvagem e muito sereno.” Ricardo Piglia, escritor e crítico literário argentino

“Oloixarac irrompeu no mundo literário elevando a voz e com a espada em riste, derramando à esquerda e à direita (sobretudo à esquerda) suas doses efusivas de estilo, precisão analítica e rancor lúdico.” Alan Pauls, escritor argentino

“Uma das melhores narradoras jovens em espanhol.” Revista Granta

“Uma comédia com Katharine Hepburn mas sem Cary Grant. A arqueóloga Oloixarac leva a cabo uma reconstrução dos códigos de socialização dos anos 70... 90... e assim sucessivamente, de vinte em vinte anos.” Mario Bellatin

“Um romance com vocação de obra total, um patchwork requintado da contemporaneidade escrito com uma prosa dotada de variadíssimos registos como há muito não se lia em língua castelhana.” Carolina León

“Monstruosamente inteligente e terrivelmente divertida. Mais que um primeiro romance, parece o livro que muitos de nós passámos a vida inteira a tentar escrever.” Javier Calvo

 

Três Perguntas Para Pola Oloixarac:

1.      A crítica Beatriz Sarlo identificou As teorias selvagens como um trabalho de microetnografia cultural. O que seria isso para você?

Beatriz Sarlo disse coisas muito boas e interessantes do livro. Em geral, é moda os críticos maiores na Argentina falaram em "etnografia". O que antes era apenas "romance realista" agora é uma variante da etnografia, como se houvesse registro "científico" do presente (e também porque o romance realista em espanhol não poderia descrever somente as inovações no século 20). Além de mostrar as coisas, estes romances tentariam dar uma luz sobre o porquê das coisas. No caso do meu livro, se trata de uma comédia sobre o mundo da cultura: como funciona, quais são seus valores, como pensam os julgadores, como se medem as superioridades.

2.      O livro é também uma crítica à intelectualidade portenha de esquerda? Por quê?

É uma crítica a certa intelectualidade argentina que nunca realizou uma revisão crítica das ações, da estratégia militar e do pensamento violento por trás das ações armadas da guerrilha dos anos 1970. Quando comecei a escrever o livro, essa ausência não me deixava dormir. Tinha que fazer algo e minha reação foi escrever esse romance. Depois, o que aconteceu foi justamente que essa ausência de autocrítica se converteu no núcleo triunfal do discurso oficial do governo, uma reciclagem de meias verdades sobre os anos 1970 que articulam o presente político da Argentina.

3.       É possível dizer que as novas gerações de autores argentinos se permitem rever a história com postura crítica, mesmo que se trate de rever o pensamento das esquerdas?

Pode ser, não sei. A América Latina tem uma relação complexa com suas esquerdas: em certos casos encarnam um populismo subnormal (Chávez), em outros um futuro que trabalha pelo crescimento e inclusão social e em outros um discurso que convive abertamente com políticas neoliberais apenas renovadas. Na Argentina, toda a política passa pelo discurso: sua criação, manipulação, reciclagem, e nesse sentido é natural que os escritores se vejam atraídos por algo que trabalha com suas mesmas técnicas!!

Fonte Escritora argentina Pola Oloixarac dispara contra a guerrilha esquerdista (correiobraziliense.com.br)

 

Trecho de As teorias selvagens, de Pola Oloixarac.

“ O que está ao redor sempre pode dar permissão para que você seja um estupido, mas nem todas as permissões são validas. Quero dizer, subscrever-se a uma ética menos facilitante para o ingresso da imbecilidade pode ser congelante, seu efeito pode ser percebido imobilizador, mas pelo menos conserva a dignidade da reflexão e da autoconsciência. Claro que me refiro á classe média, a uma juventude de classe média mais saudavelmente entregue a introspecção.

Kamtchowsky observou que a diferença talvez se apoiasse na distância entre sufixos e prefixos. Uma geração de sufixos, como exibe a morfologia de “consciência-em-si” ou “consciência-para-si”, centra sua atenção naquilo que resulta, que se solta a posteriori (a sintaxe não mente) da consciência; pelo contrário, uma geração seguinte que coloca a questão da consciência nos preconceitos inerentes de seu olhas opta pelo prefixo, pela característica previa e intrínseca da mesma capacidade de raciocínio (p.ex. autoconsciência). P.43 As Teorias Selvagens

Em resumo e no geral, Pola escreveu um livro difícil de penetrar, de certa forma hermético para aqueles leitores não familiarizados com teorias e ensaios filosóficos, tornando a leitura até difícil de entender, ela conseguiu chocar e ser polêmica, atual no sentido que incomoda e continua a incomodar tanto, e por vários motivos e razões as quais concordo com ela: pela fruição sem culpa com que reconecta a política e o saber com o mundo das paixões baixas tal como a inveja, rivalidade, discórdia, vingança. Ela tenta mostrar também o vazio e a futilidade da juventude que ela quis representar, no entanto eu não concordo com ela no que tange ao modo de ver a juventude, penso e vejo uma juventude vibrante e em sua maioria cheia de projetos de vida e também ativa politicamente, em sua diversidade vivendo cada um conforme as condições sociais pertinentes as classes sociais a que estão inseridos, culturais (etnias, identidades religiosas, valores), de gênero, bem como das regiões geográficas, entre outros aspectos a que todos nós um dia enfrentamos nossos desafios.

 Fontes:

OLOIXARAC, Pola. As Teorias Selvagens; tradução Marcelo Brandão. São Paulo: Saraiva, 2011. 240 p: 1ªed. 2ªtiragem

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004

Nietzsche, Friedrich. Humano, Demasiado Humano. Coleção O Essencial de Nietzsche; 9 Editora Companhia de Bolso, 2006

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2011/04/26/interna_diversao_arte,249508/escritora-argentina-pola-oloixarac-dispara-contra-a-guerrilha-esquerdista.shtml

http://lounge.obviousmag.org/nostalgicas_primicias/2013/11/as-teorias-selvagens-de-pola-oloixarac.html

https://lerateaexaustao.wordpress.com/2014/12/11/as-teorias-selvagens-pola-oloixarac/

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2805201129.htm

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2805201129.htm

 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

O Guia do Mochileiro das Galáxias – DON’T PANIC (Não entre em Pânico) Leve Junto Sua Toalha

O livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” escrito pelo britânico Douglas Adams é considerado um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica, vem encantando gerações de leitores ao redor do mundo com seu humor (uma veia cômica proposital) e insights geniais, em pouco tempo se tornou mundialmente conhecido, ganhando adaptações para a televisão e até mesmo para o cinema. Inicialmente esta série de ficção-cientifica-cômica foi concebida em 1978 como uma rádio-novela, dado ao sucesso, lhe foi solicitado que escrevesse um livro sendo então compilado em 1979, a série foi exibida em live action em 1981, e em 2005 ganhou um filme.


Dizem que o livro é muito manjado, mas não é assim, muitos se recusam a ler só por isto e, perdem a chance de ler um livro interessante, cheio de humor, sarcasmo e, principalmente altamente filosófico, repleto de sacadas geniais trazendo questões sobre a vida e a existência, em suas várias camadas de condicionamentos, nem é preciso dizer que os nossos condicionamentos são os principais obstáculos à realização plena de nossa vida, inclusive a recusa em ler um livro dito manjado, que inclusive talvez você nunca o tenha lido, este é um tipo de preconceito que limita nossos horizontes. É uma oportunidade de ler um livro meio maluco que traz uma crítica filosófica bastante forte e atual em relação a humanidade e o que estamos fazendo das nossas vidas. É tudo muito irônico e termina tudo de maneira desastrada com resultados terríveis e até engraçados, no entanto tem muita coisa séria, que mexe com nossos neurônios.

Adams é também descrito como um ativista ambiental, um assumido ateísta radical e amante dos automóveis possantes, câmeras, computadores Macintosh e outros 'apetrechos tecnológicos'. O biólogo Richard Dawkins dedicou-lhe seu livro The God Delusion e nele descreve como Adams compreendeu a teoria da evolução e, tornou-se um ateísta. Adams era um entusiasta de novas tecnologias, tendo escrito sobre email e usenet antes de tornarem-se amplamente conhecidos. Até o fim de sua vida, Adams foi um requisitado professor de tópicos que incluíam ambiente e tecnologia. (Wikipédia)

Até a morte do autor foi irônica, ele era uma pessoa sedentária e não fazia qualquer exercício, estava todo ferrado, e disseram para ele que deveria cuidar mais da saúde e fazer exercícios, ele resolveu procurar uma academia, e ao fazer esteira ironicamente morreu de ataque cardíaco, morreu jovem com 59 anos.

O Guia do Mochileiro da Galáxias narra as aventuras de Arthur Dent com seu estranho amigo Ford Prefect que, por motivos de: os Vogons (são naturais do planeta Vogsfera, tidos como um equívoco evolucionário, extremamente burocráticos, insensíveis, brutais, vagamente humanoides e conhecidos por escreverem a pior e aterrorizante poesia) explodem a Terra para dar espaço à construção de uma passagem espacial, Arthur e Prefect se veem forçados a fugir do planeta Terra.


Vogon

Vamos falar de Prefect, ele era o vizinho e agora o inseparável companheiro de Arthur, na verdade um alienígena, colaborador e escritor para uma das maiores revistas espaciais do universo voltada para caroneiros interespaciais, “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. A revista tem bilhões de tiragens, e é uma tela com milhões de dicas e verbetes, com uma frase escrita em letras garrafais em cores berrantes DON’T PANIC (Não entre em Pânico) – que serve de conselho para todas as situações que o mochileiro pode vir a passar. O Guia do Mochileiro das Galáxias, tem todos os detalhes de vários planetas e coisas, e ali se encontra um verbete sobre a Terra.

Prefect ao observar os humanos reparou que era hábito destes afirmar e repetir continuamente o óbvio mais óbvio do tipo: Está um belo dia; ou Como você é alto; ou Ah, meu Deus, você caiu num poço de 10 metros de profundidades, você está bem?, De início Prefect desenvolveu uma teoria, uma teoria que vou chamar de teoria de Prefect: ele faz uma crítica a nossa “humanidade” que diz: “Se os seres humanos não ficarem constantemente exercitando seus lábios – pensou ele -, seus cérebros começam a funcionar.” Vemos muito disso hoje em dia, diante da liquidez das notícias cada vez mais rasas e a necessidade extrema da exposição e o não aprofundamento dos assuntos, deixando assim de se questionar sobre o real significado daquilo que se está propagando, sem falar em fake news e na desinformação que polui a atmosfera mental. Obviamente lembrei do que Bauman já havia teorizado a respeito, a liquidez e sua volatilidade seriam características que vieram desorganizar todas as esferas da vida social como o amor, a cultura, o trabalho, etc. tal qual a conhecíamos até o momento.


Outro bom motivo para ler é que na estória tem um robô chamado Marvin, ele é um depressivo muito querido, a depressão do robô é um ponto de contato com o sofrimento de muita gente e nos leva a refletir sobre a velha questão: Depressão ou crise existencial? Ele entediado e deprimido não se conforma em ter uma enorme inteligência e sente seu potencial desperdiçado em tarefas que não exige muita inteligência. Nós de vez em quando entramos no “modo Marvin”, pois sabemos da nossa capacidade e temos de nos submeter a realizar trabalhos que muitas vezes não gostamos e que exigem o mínimo de nossa capacidade mental.

São muitos os insights que nos são apresentados, dentre tantos ele coloca outra questão na mesa, a tal da inteligência emocional artificial, como e que emoções serão essas que as maquinas irão expressar? O ser biológico que somos com grande capacidade de imaginação, inventores da inteligência artificial, poderá o produto de nossa imaginação e criatividade nos superar em todos os aspectos?

Marvin consegue aprofundar a questão do depressivo, no caso dele, ele afirma que foi “construído contra seus próprios desejos”, e ele sempre expressa da seguinte forma: “Eu nunca pedi para ser feito: ninguém me consultou ou considerou meus sentimentos sobre isso”, esta frase nos remete novamente ao existencialismo tão estudado e debatido pela Filosofia, esta questão aparece principalmente nos nossos momentos de angustia, o questionamento sobre o real motivo da nossa existência: como, e porque existimos e qual o real propósito de tudo isso, qual é o sentido de nossas vidas. Mas como já disse o Pensador Profundo no livro: “Quando vocês souberem qual é exatamente a pergunta, vocês saberão o que significa a resposta”, e assim que a Filosofia aparece e revela sua grande importância na vida de todos nós.

A interpretação do conteúdo de um livro nos faz perceber que ler um livro é mais do que decifrar o código de leitura, ler é apoderar-se, entender e tirar da leitura o sentido que o autor pretendeu, é fazer parte da grande mágica da imaginação, e mais ainda, a partir de nossa própria interpretação crítica ver um sentido todo pessoal. E, este livro, maluco ou não, nos tira fora da mesmice, pois a cada vez que é lido novamente reparamos em detalhes que antes não foram percebidos, dando a impressão da estória ter sido repaginada, tal como quando passado o calor do momento e olhamos no retrovisor percebemos e entendemos coisas que antes não havíamos visto e, que talvez tivéssemos entendido de forma diferente. Assim como a vida foi nos dada, mas não nos foi dada feita, depende bastante de nossa leveza da forma que a encaramos cada momento vivido, para dar um sentido conforme o fenômeno que é o viver.

A trilogia é composta por 5 livros, não entre em pânico, sim, são 5 livros até nisto o autor Adam Douglas foi diferente, pensou em escrever 3 e escreveu 5! Olhem eles logo abaixo:


Use a imaginação, coloque-se na posição do personagem Arthur Dent e, imagine que você ao acordar em uma bela manhã, senta-se a mesa para tomar o café e, percebe um alvoroço no seu quintal, você percebe que está prestes a ter sua casa demolida por empreiteiros para a construção de uma via expressa. Do nada, Ford Prefect seu amigo (um ator desempregado que na verdade era um alienígena ilhado na Terra) aparece dizendo que vocês precisam dar no pé o mais rápido possível e, que ele não tem como te explicar agora, mas diz que a Terra será destruída e, pede para que você confie nele, a dupla escapa da destruição da Terra pegando carona numa nave alienígena. É tudo muito louco, Arthur Dent, de repente se depara com uma simples decisão: sobreviver ou não a destruição da Terra. Arthur não possuí a melhor vida, pois sempre está reclamando da mesma, mas quando se depara com a possibilidade da não existência, ele se arrisca numa aventura intergaláctica. Vá dizer que você nunca se deparou com situações bizarras? (claro que não com esta intensidade!)

Não pense que Arthur concorda imediatamente em sair correndo, na verdade ele se vê arrastado, apesar de seus protestos histéricos, vemos Arthur Dent em estado de negação causado por seu apego na zona de conforto, ele reage automaticamente preferindo se prender as coisas triviais como por exemplo sua obsessão em ficar tomando uma xícara de chá, pois é algo que lhe remete ao passado onde tudo era “normal”,  com este pensamento e atitude ele pode assim manter o mínimo de sanidade que resta, porém esse conformismo o impede de compreender e solucionar problemas mais complexos durante sua jornada, diminuindo a sua capacidade de crescimento como pessoa. Neste viés, a Filosofia nos ajuda a entender porque pensamos e agimos assim, através do estudo sobre “existencialismo”, partilha em suas doutrinas a existência concreta o núcleo de sua reflexão começa com o sujeito humano, não meramente o sujeito pensante, mas as suas ações, sentimentos e a vivência de um ser, tem como ideia a “liberdade do homem bem como sua eterna aflição diante a falta de algo que o guiaria para sua caminhada como ser humano, deixando-o a mercê de suas próprias atitudes e decisões”.

Neste momento em que a humanidade está obrigada a viver confinada, se assim não proceder, sob pena de se contaminar com a Covid 19 e podendo até perder a própria vida, está chocada com a perda de liberdade do ir e vir, muitos em negação ainda presos em sua zona de conforto permitem que ele (aqui me refiro ao Arthur) – assim como nós – na maioria das vezes, optamos pelo ” caminho mais fácil”, porém de alto risco, sempre tendo o hábito de reclamar do outro caminho que seria o mais seguro, “se puder não saia, proteja-se e proteja os outros, no caso de Arthur a decisão é sair imediatamente de casa e do planeta. Somos livres e obrigados a refletir constantemente sobre nossas vidas e decidir por nós mesmos o que queremos fazer dela, inclusive teimar contrariando os conselhos dos cientistas (infectologistas) e ir na contramão da possibilidade de existir.

Então finalmente, Arthur parte para uma grande aventura à bordo da nave Coração de Ouro pilotada por Zaphod Beeblebrox e Trillian – uma garota que é uma antiga paixão de Arthur e, é óbvio que teria de haver na estória um clima de paixão ligado ao cotidiano humano das pessoas.

Em 11 de maio de 2001 Douglas Adams faleceu ao ter um ataque cardíaco enquanto se exercitava numa academia. Como já dissemos ele ficou famoso por misturar ficção científica e humor em sua famosa “trilogia de cinco livros”. Seus fãs queriam homenageá-lo de maneira tão bem-humorada e satírica quanto são os livros do autor, e por isso foi combinado que no dia 25 daquele mês, duas semanas depois da morte de Adams, todos sairiam de casa com suas toalhas e não se separariam delas por um dia inteiro. A homenagem aconteceu naquele e em todos os outros anos. Além dos próprios leitores de Adams, programas de televisão e jornais também apoiaram a iniciativa e até mesmo universidades estenderam toalhas em suas janelas para lembrar o autor e o fazem atualmente.

Um dos grandes momentos do “Dia da Toalha” foi quando, em 2005, em Innsbruck, cidade austríaca que Adams usou como inspiração para sua história. Foram colocadas toalhas vermelhas em postes nas ruas com a frase “Não entre em pânico!”, uma das mais famosas citações do autor. A comemoração acontece todos os anos e, já são mais de dez anos de homenagens à vida e a obra de Douglas Adams.

Vamos ao item mais importante para um mochileiro: a “toalha”, ela é objeto imprescindível na vida de um mochileiro, ela pode ser utilizada em todas as situações que se possa imaginar. Pode parecer engraçado e exagerado esse fascínio pela toalha, mas isso mostra que não precisamos de tanto para sermos felizes ou simplesmente permanecer em nossa jornada, por isso DON’T PANIC! A veia minimalista é sempre bem vinda, quanto menos é melhor!

Adams explica em sua obra que a toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar, porque, entre outras funções, pode ser usada como agasalho quando se atravessa luas frias de Beta de Jagla, quando molhada vira uma arma de combate corpo a corpo, enrolada em torno da cabeça ela protege a pessoa de emanações tóxicas e pode até servir para enxugar o corpo - se estiver limpa o suficiente, é possível deitar-se sobre ela nas praias de Santagrino V; cobrir-se com a toalha é uma excelente opção para apreciar as estrelas no desértico Kakrafoon; funciona também como uma vela de uma mini-jangada necessária para a descida. Porém, segundo o autor, o mais importante é a segurança psicológica que a toalha dá ao mochileiro. Se a leva com ele, também conclui que tem tudo o que precisa, como escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, bússola, mapa, canivete suíço,  barbante, capa de chuva e traje espacial. Para Adams, se o viajante é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar com os obstáculos, superar todos os infortúnios e ainda assim souber onde está sua toalha, ele é alguém que merece respeito.

Não poderia deixar de falar sobre o número 42, ele é uma referência importante do livro. No livro, ele fala sobre uma civilização que busca resposta para tudo, e para isso constrói um robô superinteligente que era capaz de responder qualquer dúvida. Ao questionarem o robô sobre qual o sentido da vida, o universo e tudo mais, ele deu um prazo de milhares de anos para realizar os cálculos e descobrir a resposta. Essa resposta, irônica como toda a obra de Adams, foi apenas: 42.

Esta é outra ideia interessante, o número 42 foi pensado como resposta para a questão da vida, do universo e tudo mais dada pelo Pensador Profundo. Ela vem como uma crítica referente a liquidez humana, onde se quer respostas para tudo, preferencialmente rapidas, porém devido à falta de conhecimento e instrução, não se sabe formular bem seus questionamentos e, quando se é dado a resposta, não se sabe o que fazer com ela, logo o que é mais importante é a pergunta e não a resposta. O fato de estarmos constantemente em busca da resposta e a resposta que surge parece ainda ser vazia é porque ainda temos uma longa caminhada e aprendizado das lições carmicas, e é evidente que a resposta não vai ser fácil de encontrar, você já achou a sua resposta?

Douglas Adams explicou certa vez de onde veio esse número:

“A resposta é muito simples. Foi uma brincadeira. Tinha que ser um número, um ordinário, pequeno e eu escolhi esse. Representações binárias, base 13, macacos tibetanos são totalmente sem sentido. Eu sentei à minha mesa, olhei para o jardim e pensei “42 vai funcionar” e escrevi. Fim da história.”

Então, se você já leu o “Guia do Mochileiro das Galáxias” ou pelo menos já ouviu falar sobre o livro, já deve saber que você nunca deve sair de casa sem ele – ou sem uma toalha. Afinal, ele é a obra mais útil para um viajante intergaláctico e pode salvá-lo em diversas situações. Se não leu, agora já sabe o que está perdendo!

Fontes:

Adams, Douglas. O Mochileiro Das Galáxias. Editora Brasiliense, 1986

https://geekness.com.br/entenda-historia-guia-mochileiro-da-galaxias/

https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/05/9-fatos-sobre-douglas-adams-autor-do-guia-do-mochileiro-das-galaxias.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Douglas_Adams

https://garotasnerds.com/dia-da-toalha-a-filosofia-por-tras-do-guia-do-mochileiro-das-galaxias/

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Reflexões sobre a obra “Senhor das Moscas” de William Golding

A obra “Senhor das Moscas” é voltada para o gênero infanto-juvenil, foi vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 1983, a trama enfoca um grupo de meninos britânicos que ficam presos em uma ilha desabitada. Em meio a evacuação em tempo de guerra o avião britânico cai na ilha desabitada e apenas um grupo de meninos sobrevive, ao longo da estória é narrada a tentativa desastrosa de se autogovernar, pois a luta pela liderança divide a frágil sociedade "democrática" e instaura um violento conflito entre os meninos.

A estória mostra jovens concentrados em detalhes domésticos da sobrevivência, tal como fazer comida, construir abrigos, indumentária, higiene e etc., os meninos parecem ser bons moços, representantes de crianças bem-comportadas e educadas nos padrões britânicos de colonizadores.

O título da obra parece ser um tanto estranho e à prima facie não parece se relacionar com a história, porém, o título “Senhor das Moscas” é a tradução literal da palavra hebraica Ba'alzebul, ou em português, Belzebu, que, conforme o Dicionário Aurélio, significa o nome de um dos demônios, o chefe dos espíritos malignos, o que mostra a visão pessimista do autor em relação à humanidade, e que atravessa toda sua obra. O título está ligado a ideia de Belzebu/Leviatã o demônio associado ao orgulho e à guerra, os dois assuntos centrais da trama. Além disso, o clássico é uma sátira à narrativa problemática de que os conhecimentos dos europeus eram superiores a quaisquer outros. Golding através da história aborda isso na obra transformando os garotos em nativos selvagens que destroem uns aos outros em busca de poder, funciona como uma metáfora ao relacionamento humano. A luta dos meninos é a luta pelo poder tal como acontece no mundo dos adultos, onde forças tentam estabelecer seu domínio custe o custar, marcados por oposição, conflito e disputa, nesta disputa pelo poder e as discordâncias referentes à sobrevivência dão lugar à violência e a selvageria.

 


A obra pode ser interpretada sob várias perspectivas, tal como uma analogia da luta entre a democracia, na qual todos podem expressar suas ideias, mas que, por outro lado, tantas vozes culminam em decisões arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano se estabelece sem o consentimento dos governados formado a partir de um sistema hierárquico baseado na punição e no medo. Percebe-se que a obra vai além do gênero infanto-juvenil, agradando aos demais gêneros proporcionando uma produtiva reflexão sobre a liderança democrática e autoritária, motivando reflexões em algumas áreas das ciências humanas, especialmente filosofia, direito e psicanálise, voltadas à discussão sobre a maldade e desumanidade.

Não foi por acaso que Golding desenvolveu a trama, a história de vida de William Golding e o que o levou a escrever esse clássico, foram os responsáveis pela construção da obra na forma de protesto. Golding dava aulas de filosofia em uma escola particular para garotos, em seguida serviu a bordo de um destróier britânico durante a guerra e se tornou um tenente da Marinha Real. Quando ele voltou da guerra, encontrou duas maiores potências do mundo ameaçando uma a outra com bombas nucleares. Isso fez com que o professor começasse a questionar as origens da natureza humana. Essas constantes reflexões sobre a violência (talvez) inevitável do ser humano o levaram e escrever o tão famoso “Senhor das Moscas”.

Enredo

No meio de uma evacuação em tempo de guerra, um avião britânico bate em uma ilha isolada ou próxima a ela em uma região remota do Oceano Pacífico. Os únicos sobreviventes são meninos na pré-adolescência. Dois meninos - o loiro Ralph e um garoto com excesso de peso e óculos, apelidado de "Piggy" - encontram uma concha, que Ralph usa como apito para reunir todos os sobreviventes em uma área. Ralph parece responsável por reunir todos os sobreviventes, então imediatamente comanda alguma autoridade sobre os outros garotos e é rapidamente eleito seu "chefe". Ele não recebe os votos dos membros de um grupo de meninos, liderado pelo ruivo Jack Merridew, mas permite que eles formem uma turma separada de caçadores. Ralph estabelece três políticas principais: divertir-se, sobreviver e manter constantemente um sinal de fumaça que poderia alertar os navios que passavam sobre sua presença na ilha e, assim, resgatá-los. Os meninos estabelecem uma forma de democracia, declarando que quem quer que tiver segurar a concha também poderá falar nas reuniões formais e receber o silêncio atento do grupo. Jack organiza uma equipe de caça responsável por descobrir uma fonte de alimento. Ralph, Jack e um garoto quieto e sonhador chamado Simon logo formam um triunvirato de líderes, com Ralph como a autoridade suprema. Após a inspeção da ilha, os três determinam que ela possui frutas e porcos selvagens como alimento.

A aparência de ordem deteriora-se rapidamente à medida que a maioria dos meninos fica ociosa; eles ajudam pouco na construção de abrigos, passam o tempo se divertindo e começam a desenvolver paranoias sobre a ilha, sendo a principal delas a que se refere a um suposto monstro que eles chamam de "besta", que todos lentamente começam a acreditar que existe na ilha. Ralph insiste que não existe tal fera, mas Jack, que iniciou uma luta pelo poder com Ralph, ganha um nível de controle sobre o grupo ao prometer ousadamente matar a criatura. A certa altura, Jack convoca todos os seus caçadores para caçar um porco selvagem, afastando os designados de manter o sinal de fogo. Um navio passa perto da ilha, mas sem o sinal de fumaça dos meninos para alertar sua tripulação, ele continua sua viagem. Ralph, com raiva, confronta Jack sobre sua falha em manter o sinal aceso.

Uma noite, uma batalha aérea ocorre perto da ilha enquanto os meninos dormem, durante os quais um piloto de caça ejeta de seu avião e morre na descida. Seu corpo desce para a ilha em seu paraquedas; ambos se enroscam em uma árvore perto do topo da montanha. Mais tarde, enquanto Jack continua planejando contra Ralph, os gêmeos Sam e Eric, agora encarregados da manutenção do sinal de fogo, veem o cadáver do piloto de caça e seu paraquedas no escuro. Confundindo o cadáver com a besta, eles correm para o aglomerado de abrigos que Ralph e Simon ergueram, para avisar os outros. Esse encontro inesperado novamente levanta tensões entre Jack e Ralph. Pouco tempo depois, Jack decide liderar uma festa para o outro lado da ilha, onde uma montanha de pedras, mais tarde chamada Castle Rock, forma um lugar onde ele afirma que o animal reside. Apenas Ralph e um garoto silencioso e suspeito, Roger, o mais próximo defensor de Jack, concordam em ir; Ralph se vira um pouco antes dos outros dois garotos, mas eventualmente os três veem o corpo do piloto, cuja cabeça se eleva pelo vento. Eles então fogem, agora acreditando que o monstro é real. Quando eles chegam aos abrigos, Jack convoca uma assembleia e tenta virar os outros contra Ralph, pedindo que removam Ralph de sua posição de poder. Não recebendo apoio, Jack sai sozinho para formar sua própria tribo. Roger imediatamente foge para se juntar a Jack, e lentamente um número crescente de meninos mais velhos abandonam Ralph para se juntar à tribo de Jack. A tribo de Jack continua a atrair recrutas do grupo principal, prometendo festas de porco cozido. Os membros começam a pintar o rosto e encenar rituais bizarros, incluindo sacrifícios à besta. Uma noite, Ralph e Piggy decidem ir a uma das festas de Jack.

Simon, que desmaia com frequência e provavelmente é epilético, tem um esconderijo secreto onde fica sozinho. Um dia, enquanto ele está lá, Jack e seus seguidores erguem uma oferenda para a besta: uma cabeça de porco, montada em uma vara afiada e rodeada de moscas. Simon conduz um diálogo imaginário com a cabeça, que ele chama de "Senhor das Moscas". A cabeça zomba da noção de Simon de que ela é uma entidade real, "algo que você poderia caçar e matar", e revela a verdade: eles, os meninos, são a besta; está dentro de todos eles. O Senhor das Moscas também adverte Simon que ele está em perigo, porque representa a alma do homem e prevê que os outros o matarão. Simon sobe a montanha sozinho e descobre que a "besta" é o paraquedista morto. Ele corre para contar aos outros garotos, que estão envolvidos em uma dança ritual. Os meninos frenéticos confundem Simon com a besta, o atacam e o espancam até a morte. Tanto Ralph quanto Piggy participam da confusão e ficam profundamente perturbados por suas ações depois de voltarem de Castle Rock.

Jack e sua tribo rebelde decidem que o verdadeiro símbolo do poder na ilha não é a concha, mas os óculos de Piggy - o único meio que os meninos têm para criar fogo. Eles invadem o acampamento de Ralph, confiscam os óculos e retornam à Castle Rock. Ralph, agora abandonado pela maioria de seus apoiadores, viaja para Castle Rock para enfrentar Jack e proteger os óculos. Tomando a concha e acompanhado apenas por Piggy, Sam e Eric, Ralph encontra a tribo e exige que eles devolvam o objeto valioso. Confirmando sua total rejeição à autoridade de Ralph, a tribo captura e prende os gêmeos sob o comando de Jack. Ralph e Jack se envolvem em uma luta. Qualquer senso de ordem ou segurança é permanentemente corroído quando Roger, agora sádico, deliberadamente deixa joga uma pedra que mata Piggy e quebra a concha. Ralph consegue escapar, mas Sam e Eric são torturados por Roger até que concordem em se juntar à tribo de Jack.

Ralph secretamente confronta Sam e Eric, que avisam que Jack e Roger o odeiam e que Roger afiou um graveto nos dois extremos, o que implica que a tribo pretende caçá-lo como um porco e decapitá-lo. Na manhã seguinte, Jack ordena que sua tribo comece uma caçada por Ralph. Os selvagens de Jack ateiam fogo na floresta, enquanto Ralph avalia desesperadamente suas opções de sobrevivência. Após uma longa perseguição, a maior parte da ilha é consumida pelas chamas. Com os caçadores logo atrás dele, Ralph tropeça e cai. Ele olha para um adulto uniformizado - um oficial da Marinha Real Britânica cujo grupo desembarcou de um cruzador que veio investigar o incêndio. Ralph começa a chorar pela morte de Piggy e pelo "fim da inocência". Jack e os outros meninos, imundos e desleixados, também voltam à sua verdadeira idade e começam a chorar. O oficial expressa sua decepção ao ver meninos britânicos exibindo um comportamento feroz e bélico antes de se virar para encarar desajeitadamente seu próprio navio de guerra.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Senhor_das_Moscas

Li este livro fazem três anos, lembrei dele ao ver repetidamente nos noticiários da selvageria, corrupção e maldade, apreensões de quantidades gigantescas de drogas e o envolvimento cada vez mais cedo de jovens no mundo do tráfico e consumo de drogas, é chocante como a juventude vem concebendo o momento ímpar de sua existência, muitos estão mergulhando profundamente no mundo obscuro e sombrio do mal que assola a humanidade, a entrada neste submundo acaba roubando-lhes o brilho da juventude e a chance de futuro.

Sabemos através das pesquisas que o motivo citado pelos jovens para justificar a entrada no tráfico e de todo o mal contido neste submundo é principalmente a questão financeira, a dificuldade em conseguir empregos, e aqueles que conseguem emprego encontram condições precárias de trabalho, tornando no entendimento destes jovens a opção pela atividade ilícita mais atraente. Muitos também vão em busca por adrenalina e aceitação deles como “alguém” num grupo, muitas vezes através da ligação com amigos, no entanto, sentindo-se fora do contexto em que foram criados, os seus modos e educação vão se esvaindo e os jovens vão revelando seus impulsos mais viscerais, acabam refugiando-se num mundo à parte, tal como uma ilha onde eles têm suas leis e suas regras, são convidados a ocupar os espaços vazios deixados ou abandonados pela sociedade, na desordem do estado os donos da Nova Ordem orquestram os acontecimentos e a desordem é ordenada, os jovens são os soldados que lutam nestes espaços.

Perguntamo-nos se o problema do tráfico de drogas seria especificamente culpa e falha das instituições e da legislação deficiente, ou se a relação família, escola e o mundo do trabalho não estariam integrados suficientemente para conduzir os jovens ao rumo certo. Penso que todos estes fatores formam um processo, nestas falhas estaríamos deixando margem para grupos de traficantes aproveitarem-se dos jovens que tornam-se presa fácil dos comandos de traficantes experientes, ordenam aos seus “head Hunters” mirarem nos jovens como possibilidade de exploração protegidos pela legislação.

As leis, os regramentos e o consenso não estão sendo suficientes para conter o âmago da natureza humana, os representantes da lei trabalham arduamente no combate ao tráfico, mas a luta é desigual, pois lutam contra as consequências, a origem não é combatida, eles prendem, a justiça liberta graças a legislação incompetente de nossos legisladores, o ciclo vicioso se repete diariamente, alimentado pela ideia de que o crime compensa.

Ao final perguntamo-nos o que é o “senhor das moscas”?, aqueles que lerem o livro poderão entender que a resposta está na metáfora, a metáfora vai além de uma contraposição dogmática entre civilização democrática e a barbárie, porque nos dá a possibilidade de conhecer os dilemas da fragilidade humana. O subterrâneo bárbaro eternamente presente na civilização também está em cada um de nós, pronto para nos destruir e consumir, ele não vem de fora, não é tão estranho quanto desejam os apologistas ingênuos da civilização. A narrativa de ficção de Golding nos apresenta, de modo simbólico, uma verdade atual: os dilemas de nossa revolta, nosso duelo contemporâneo entre dois titãs: um deus mortal, o Leviatã, e outro deus imortal, o coletivo Behemot (Figura da escatologia judaica de origem babilônica, na qual designava dois monstros terríveis. Behemoth reina sobre a terra e Leviatã, sobre os mares). O Senhor das Moscas - que a tudo vê é a lei da Nova Ordem. Mesmo extinguindo-se em sua forma física, sua presença permanece sendo sentida – assim como os seus efeitos. O Senhor das Moscas é a Lei da Nova Ordem! Lutar contra este mal deve ir além da fé de mãos levantadas, vamos abrir os olhos, e atuarmos ficando atentos ao rumo dos jovens, toda atenção a eles para os apoiarmos a dizer não para o que parece ser fácil e glamoroso do portar uma arma e um boné de grife!

 

Filme: Além do livro a trama também se tornou conhecida indo em duas oportunidades para as telas do cinema: em 1963, sob a direção de Peter Brook, e em 1990, de Harry Hook.

Filme disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=9Br9RAXvioU

 

Fontes:

Golding, William. Senhor das Moscas – tradução Sergio Flaksman. 1ª.ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.224p.

http://www.salacriminal.com/home/o-senhor-das-moscas-a-lei

https://tmjuntos.com.br/comunicacao/reflexoes-sobre-a-natureza-humana-em-o-senhor-das-moscas/

https://amenteemaravilhosa.com.br/senhor-das-moscas/