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segunda-feira, 21 de junho de 2021

Leis que regem o universo Murphyano

 


Major Edward Alvar Murphy foi um engenheiro aeroespacial e trabalhou em sistemas de segurança-críticas. Ele é mais conhecido pela Lei de Murphy que diz que "qualquer coisa que pode correr mal, vai correr mal".

Você acredita nisso?

É importante que você seja realista, otimista ou pessimista?

Penso que a três formas de agir e pensar sejam três formas corretas dependendo do dia: somos uma pitada de cada uma delas: o pessimista é aquele nosso lado ranzinza, mal-humorado, as vezes até chato, porém é cauteloso; o otimista, tem um bom humor e aquela energia empolgante que ajuda na superação das dificuldades; e o realista, o que vai à luta, tem os pés no chão e paciência, não se deixa levar pelo pessimismo, nem pelo otimismo, por mais elevada que esteja a prostração ou a empolgação, sabe que não adianta querer pular etapas fundamentais, a mais importante delas é avaliar e ter uma pitada de cada um.

A lei de Murphy diz que se algo pode dar errado, dará. Esse Murphy era o engenheiro aeroespacial Edward Aloysius Murphy e formulou sua lei em 1949 depois de descobrir que estavam mal conectados todos os eletrodos de um equipamento para medir os efeitos da aceleração e desaceleração em pilotos.

Lei de Murphy é um adágio ou epigrama da cultura ocidental que normalmente é citada como: "Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível".

Dentre seus adágios temos:

As paixões fazem menos mal que o tédio, pois elas tendem a diminuir e ele a aumentar.

Se você não está confuso, então não está prestando atenção!

Se você está se sentindo bem, não se preocupe. Isso passa.

O melhor lance da partida acontece quando você está olhando pro placar ou comprando uma cerveja. Tudo sendo igual para dois adversários, você perde. Obs.: Leis do Esporte.

Se algo é confidencial, será esquecido na máquina de xerox.

Os primeiros 90% de uma tarefa demora 90% de tempo a executar. Os restantes 10% demora outros 90%.

Não é possível sanar um defeito antes das 17:30h da sexta-feira. O defeito será facilmente sanado as 9:01h da segunda-feira.

Se você está se sentindo bem, não se preocupe, logo passa.

Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará.

Deixadas ao acaso, as coisas tendem a ir de mal a pior.

Constante de Murphy: As coisas são danificadas proporcionalmente ao seu valor.

Revisão quantizada da lei de Murphy: Tudo dá errado ao mesmo tempo.

 

Lei da relatividade documentada

Nada é tão fácil quanto parece e nem tão difícil quanto a explicação do manual.

 

Lei da administração do tempo

Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.

 

Lei da procura indireta

O modo mais rápido de encontrar uma coisa é procurar outra.

Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

 

Lei da telefonia

Quando te ligam:

- Se você tem caneta, não tem papel,

- Se tiver papel, não tem caneta,

- Se tiver ambos, ninguém liga.

Quando você ligar para um número de telefone errado, ele nunca estará ocupado.

Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.

 

Lei da gravidade

Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo a deles, provavelmente você não entende a gravidade da situação.

 

Lei da experiência

Só sabe a profundidade da poça quem cai nela.

 

Regulamentação do especialista

Especialista é aquele cara que sabe cada vez mais sobre menos coisas.

Superespecialista é aquele que sabe absolutamente tudo sobre absolutamente nada.

 

Guia prático para a ciência moderna

Se mexer, pertence à biologia.

Se feder, pertence à química.

Se não funcionar, pertence à física.

Se ninguém entende, é matemática.

Se não faz sentido, é economia ou psicologia.


Lei dos cursos, provas e afins

Se o curso que você mais desejava fazer só tem "25" vagas, pode ter certeza de que você

será o aluno "26" a tentar se matricular.

80% do exame final será baseado na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu.

Cada professor parte do pressuposto de que você não tem mais o que fazer senão estudar a matéria dele.

A citação mais valiosa para a sua redação será aquela que você não consegue lembrar o nome do autor.

 

Lei das unidades de medida

Se estiver escrito "tamanho único" é porque não serve em ninguém.

 

Lei da queda livre

Qualquer esforço para agarrar um objeto em queda provocará mais destruição do que se deixássemos o objeto cair naturalmente.

A probabilidade do pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

O gato sempre cai em pé.

Não adianta amarrar o pão com manteiga nas costas do gato e jogá-lo no carpete, pois o gato comerá o pão antes de cair em pé.

 

Lei das filas e engarrafamentos

A fila ao lado sempre anda mais rapidamente.

Não adianta mudar de fila.

A outra é sempre mais rápida.


Lei do esparadrapo

Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

Lei da vida

Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.

Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

 

Lei da atração de partículas

Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

 

Leis de Murphy para a Programação

Todo programa, quando acabado, estará obsoleto.

Todo programa custa mais e demora mais tempo.

Se um programa é útil, ele deve ser modificado.

Se um programa é inútil, ele deve ser documentado.

Os programas expandem de forma a encher toda a memória disponível.

O valor de um programa é proporcional ao peso de seus relatórios.

A complexidade de um programa cresce até exceder a capacidade do programador que deve mantê-lo.

Todo programa não trivial possui pelo menos um bug.

Erros não-detectáveis são infinitos, ao contrário dos erros detectáveis que são, por definição, limitados.

Adicionar mais pessoas a um projeto de software atrasado o tornará ainda mais atrasado.

 

Leis militares de Murphy

Nunca fique na mesma trincheiro com alguém mais valente que você.

Nenhum plano de batalha sobrevive a um contato com o inimigo.

Fogo amigo não é amigo.

A coisa mais perigosa na zona de combate é um oficial com um mapa.

O problema em usar a saída mais fácil e que ela já foi minada pelo inimigo

O companheirismo é essencial à sobrevivência. Ele dá ao inimigo outra pessoa em quem atirar.

Quanto mais você avança em suas posições, menor é a distância da artilharia do inimigo. O fogo do inimigo tem a preferencial.

Se você avança facilmente, você está indo para uma emboscada.

O quartel tem apenas dois tamanhos: pequeno demais e grande demais.

Se você precisa de um oficial urgente, tire uma soneca.

O único lugar onde o cessar fogo funciona é em quando ele é usado em posições abandonadas. A única coisa mais certeira que o fogo inimigo é o fogo amigo.

Não existe nada mais agradável do que quando alguém atira em você, e erra.

Se seu sargento consegue lhe ver, o inimigo também.

 

Comentário do ator britânico Peter James O’Toole: Murphy era otimista

sexta-feira, 18 de junho de 2021

O que significa a certificação de um programa de qualidade dentro de uma empresa e para sociedade?

 

Esta pergunta eu me fiz logo que iniciei o primeiro processo de preparo para certificação da ISO9000 e do PBQP-H, a pergunta me serviria como um norte para onde a partir daí pretendíamos chegar. Afinal, certificação não é apenas um certificado na forma de papel para ser simplesmente colocado num quadro, fixado numa parede e servindo de exibicionismo.

 

A pergunta, é claro não foi respondida de pronto, foi preciso reflexão e entendimento do que aquilo representava para a empresa, e para mim como profissional que estaria responsável por todo o processo.

 

Inicialmente estabelecemos os cenários nos quais a empresa estava posicionada naquele instante e aonde se pretendia chegar, isto é, caso o certificado não representasse simplesmente a certificação para atender exigências governamentais.

 

O processo todo começa por questionamentos, a alta direção deve estar totalmente comprometida e preparada para responder questões espinhosas, sabemos que  as pessoas não estão muito acostumadas a questionar e nem serem questionadas, muito menos preparadas para ouvir as recomendações e orientações que poderiam mudar radicalmente a forma de ver seu trabalho, ou seja, não estão preparadas para a transparência e aceitar sugestões acerca da maneira que estão “habituadas” a trabalhar, neste caso há uma nítida rejeição devido a intromissão daquilo que dizem “sempre foi assim” e por isto “sempre fizeram desta forma”.

 

Tem uma parábola bem adequada para reflexão do que significa obter um certificado, trata-se da parábola do faixa preta, é uma parábola muito utilizada na administração de empresas, e por que não na vida?

A parábola do faixa preta

James Collins


Imagine um lutador de artes marciais ajoelhado na frente do mestre numa cerimônia para receber a faixa preta obtida com muito suor.

Depois de anos de treinamento incansável, o aluno finalmente chegou ao auge do êxito na disciplina.

“Antes que lhe dê a faixa, você que passar por um outro teste”, diz o Mestre.

"Estou pronto” responde o aluno, talvez esperando pelo último assalto da luta.

“Você tem que responder à pergunta essencial: Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”.

“O fim da minha jornada”, responde o aluno. “Uma recompensa merecida por meu bom trabalho”.

O Mestre espera mais. É obvio que ainda não esta satisfeito. Por fim, o Mestre fala. “Você ainda não esta pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano”.

Um ano depois, o aluno se ajoelha novamente na frente do Mestre.

“Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?”. Pergunta o Mestre.

“Ela é o símbolo da excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte”, responde o aluno.

O Mestre não diz nada durante vários minutos, esperando. É óbvio que ainda não está satisfeito. Por fim, ele fala. “Você ainda não esta pronto para a faixa preta. Volte daqui um ano”.

Um ano depois, o aluno se ajoelha novamente na frente do Mestre. E mais uma vez o Mestre pergunta: “Qual é o verdadeiro significado da faixa preta”.

“A faixa preta representa o começo – o início de uma jornada sem fim de disciplina, trabalho e a busca por um padrão cada vez mais alto”, responde o aluno.

“Sim. Agora você esta pronto para receber a faixa preta e iniciar o seu trabalho”.

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Extraído do livro "Feitas para Durar – Práticas bem-sucedidas de empresas visionárias" de James Collins – Ed. Rocco

http://www.aizen.org/parabola-do-faixa-preta

Bem, deu para subentendermos que a conquista da certificação é apenas o começo de uma longa caminhada, uma caminhada árdua, porem uma caminhada repleta de conquistas positivas por sua imensa abrangência, obviamente não se restringindo apenas ao produto final dentro de padrões de qualidade, na verdade todos ganham, desde os colaboradores, consumidores e a sociedade.

Aderir a um programa de qualidade é uma das melhores maneiras de garantir boas perspectivas de futuro para a empresa, o futuro poderá existir se pensar que os momentos do presente são oportunidades para construir ações, tais ações são ações preventivas, preventivas no sentido de gerenciar os riscos e as consequências previsíveis de suas ações e assumir aas responsabilidades por elas.

Isto me lembrou das ideias de Max Weber, um sociólogo da práxis, ele recomenda a chamadaética da responsabilidade”. No seu entender, a obrigação ética é descobrir as consequências previsíveis de suas ações e assumir as responsabilidades por elas, portanto ser responsável é o ato de assumir compromissos e obrigações, como também suas consequências e efeitos delas, isto significa que temos de responder seja positiva ou negativamente sobre as ações que realizamos e sobre os resultados que essas ações causaram, logo ao iniciar um programa de qualidade representa o início de uma nova vida e uma nova maneira de olhar o futuro, a medida que a empresa vai evoluindo ela vai crescendo, mais espaço vai ganhando no mercado, assim mais dela será esperado e cobrado.

Neste sentido penso que atingido o nível A de certificação, o processo não ficasse apenas na manutenção deste certificado, que não fosse apenas compulsório impostas pelo governo ou por quaisquer incentivos externos (como fiscais, por exemplo), mas que no processo de manutenção fosse agregado outro passo que seria o da implantação da responsabilidade social por opção visando o maior bem-estar social.

A responsabilidade social nas empresas é de extrema importância para a sociedade, é um tema de alta relevância, e deve estar inserido no planejamento de uma empresa que queira ser sustentável, porque quando o empresário decide implantar a norma SA8000 ele está assumindo responsabilidades que vão além do pagamento de impostos, ele está reforçando seu compromisso com a sociedade e com os valores declarados dentro de seu Código de Ética e de Conduta, a certificação também representa para o empresário e para a empresa um retorno imediato que ficará associado a sua marca, seria um sinal de maior credibilidade aos seus negócios e principalmente porque estará atendendo as necessidades da população e suas próprias, evitando crises, desigualdades e conflitos.

A responsabilidade social é construída através de ações desenvolvidas pelo somatório de atos voluntários e direcionando suas atividades para o bem-estar social, conduzindo seus negócios sempre visando o interesse privado e coletivo e não somente os lucros, visto que priorizam o todo e não só o individual, a sustentação deste processo é parte do que se entende por liderança sustentável, baseado nos três pilares que são o cultural, social e ambiental.

Temos em Kant um dos melhores princípios que podem nortear as atitudes “sociais”, ele sustenta o princípio da universalidade das ações, ou seja, os indivíduos devem agir tendo em vista o princípio válido para todos, isto é, para qualquer ser humano, e porque também não valer para as empresas? A resposta está na responsabilidade social!

A certificação de responsabilidade social é a responsabilização da empresa por seus atos medidos através do impacto, decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, obviamente sempre adotando o comportamento ético, e transparência para evitar mal-entendidos.

As transparências das ações devem estar presentes aos olhos da sociedade, a divulgação das ações deve ser ampla, e as ações tais como: consumo consciente, combate ao desperdício, destinação correta de resíduos para não causar prejuízo ao meio ambiente, aumentar a participação da empresa em projetos sociais, participar de projetos desportivos e culturais, organizar doações de itens usados, construir parcerias com iniciativas de sustentabilidade, dentre outras atividades, evidentemente serem aplicadas em diferentes áreas como por exemplo na assistência social, educação, saúde, moradia, e etc, atingindo tanto interna como externamente ao ambiente da empresa, ou seja, beneficiando os colaboradores e a sociedade.

As ações devem proporcionar bem-estar para a maioria, maioria quer dizer, empresa, colaboradores, família e sociedade, a proposta de John Stuart Mill é um bom fundamento para alicerçar os motivadores, ela fundamenta-se no Utilitarismo, preocupado em definir como corretas e justas as ações dos indivíduos voltadas à busca da maior felicidade para o maior número possível de pessoas, pessoas e o meio ambiente, estes sim serão e deverão ser os maiores beneficiados.

Para o sucesso destas ações é necessário obter o comprometimento dos colaboradores internos e o engajamento da comunidade, onde estão todos englobados agindo como multiplicadores e fiscais na aplicação dos recursos e o retorno destes investimentos, refletindo num bem-estar social e qualidade de vida.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Resenha do livro “Ideias para adiar o fim do mundo” do autor Ailton Krenak

Ailton Krenak

Sobre o Autor

AILTON KRENAK nasceu em 1953. Filósofo, poeta, líder indígena, ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e professor doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Krenak é autor de vários livros: Ideias para adiar o fim do mundo; A vida não é útil; O amanhã não está à venda; O lugar onde a terra descansa.

O livro Ideias para adiar o fim do mundo foi publicado em Julho de 2020 faz parte da literatura brasileira contemporânea e trata de assuntos relevantes como democracia e meio ambiente, o autor melhor do que ninguém sentiu na pele e na alma os impactos do desamparo e descaso para com a comunidade indígena e ao meio ambiente, tudo em nome da exploração irresponsável e danosa da mineração, os problemas são abordados por Ailton Krenak.

O povo Krenak (crenaque), conhecidos também por Aimorés, são os últimos Botocudos do Leste, denominação dada pelos portugueses no final do século XVIII aos grupos que usavam botoques auriculares e labiais. Vivem hoje numa reserva de quatro mil hectares, nas margens do Rio Doce entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, em Minas Gerais.

 

Sinopse do livro Ideias para adiar o fim do mundo:

 

Uma parábola sobre os tempos atuais, por um de nossos maiores pensadores indígenas.

Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem resinificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo. “Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. [...] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história.” Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak se destaca como um dos mais originais e importantes pensadores brasileiros. Ouvi-lo é mais urgente do que nunca. Esta nova edição de Ideias para adiar o fim do mundo, resultado de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019, conta com posfácio inédito de Eduardo Viveiros de Castro.

 

Trechos do livro:

“A primeira vez que desembarquei no aeroporto de Lisboa, tive uma sensação estranha. Por mais de cinquenta anos, evitei atravessar o oceano por razões afetivas e históricas. Eu achava que não tinha muita coisa para conversar com os portugueses — não que isso fosse uma grande questão, mas era algo que eu evitava. Quando se completaram quinhentos anos da travessia de Cabral e companhia, recusei um convite para vir a Portugal. Eu disse: “Essa é uma típica festa portuguesa, vocês vão celebrar a invasão do meu canto do mundo. Não vou, não”. Porém, não transformei isso numa rixa e pensei: “Vamos ver o que acontece no futuro”. Pg.7

 

Quando a gente quis criar uma reserva da biosfera em uma região do Brasil, foi preciso justificar para a Unesco por que era importante que o planeta não fosse devorado pela mineração. Para essa instituição, é como se bastasse manter apenas alguns lugares como amostra grátis da Terra. Se sobrevivermos, vamos brigar pelos pedaços de planeta que a gente não comeu, e os nossos netos ou tataranetos — ou os netos de nossos tataranetos — vão poder passear para ver como era a Terra no passado. Essas agências e instituições foram configuradas e mantidas como estruturas dessa humanidade. E nós legitimamos sua perpetuação, aceitamos suas decisões, que muitas vezes são ruins e nos causam perdas, porque estão a serviço da humanidade que pensamos ser. Pg. 8

 

Como justificar que somos uma humanidade se mais de 70% estão totalmente alienados do mínimo exercício de ser? A modernização jogou essa gente do campo e da floresta para viver em favelas e em periferias, para virar mão de obra em centros urbanos. Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador chamado humanidade. Se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.

“Ideias para adiar o fim do mundo” — esse título é uma provocação. Eu estava no quintal de casa quando me trouxeram o telefone, dizendo: “Estão te chamando lá da Universidade de Brasília, para você participar de um encontro sobre desenvolvimento sustentável”. Pg. 9

 

Num outro livro também de autoria de Ailton Krenak, A vida não é útil. Publicado pela Companhia das Letras; 1ª edição (7 agosto 2020)

 

Sinopse do livro “A vida não é útil”:

 

Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.

Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global. Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, “civilizar-se” não é um destino. Sua crítica se dirige aos “consumidores do planeta”, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia. Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os “paraquedas coloridos” descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020. Pesquisa e organização de Rita Carelli.

Nem precisa dizer que Krenak luta pela democracia, vida e pelo meio ambiente, e luta em uma era onde ela nunca esteve tão frágil, falo da democracia e do meio ambiente, o ser humano ainda pensa ser o centro do universo e estaria dissociado da natureza, Krenak nos faz lembrar disso e afirma que somos nós que dependemos da natureza, e não é a natureza que depende de nós, como ativista e indígena ele acredita não fazer parte dessa humanidade, afirma sentir-se excluído dela, e não é para menos, o povo indígena Crenaque/Krenak ou Botocudos (antigamente conhecidos como Botocudos, Aimorés ou Borun, e autodenominados Gren ou Kren são um grupo indígena brasileiro, localizados em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso) foram dizimados ou quase extintos, sua luta pela sobrevivência é anterior a chegada dos portugueses no Brasil, com a chegada dos colonizadores foi iniciado o processo de extinção de milhões de indígenas em nosso pais.

Conforme Fundação Nacional da Saúde em 2010 o senso contabilizou que restavam apenas 350 indígenas Krenak’s, já através do senso 2010 (https://censo2010.ibge.gov.br/terrasindigenas/) o número é ainda menor, falam em 270 indígenas, realmente o baixo número é assustador, a capacidade de destruição e extinção daqueles que são os mais frágeis em nossa sociedade é fato que nos causa asco e vergonha, aos poucos tudo está se perdendo, sua língua que representa a identidade coletiva daquele povo (crenaque), valores étnicos e culturais e principalmente os seres humanos que vivem desde os primórdios deste pais estão em iminência de desaparecer.

Em 2015 ocorreu a tragédia de Mariana (MG) dando visibilidade nacional ao povo Krenak, foi quando a barragem da Mineradora Samarco se rompeu trazendo uma enxurrada de lama toxica que percorreu mais de 200 km de distância, foi a pá de cal sobre qualquer perspectiva de melhora daquele povo, foi uma pancada forte sobre o corpo e a alma, eles que já viviam em alta vulnerabilidade, então após o desastre proferido pela empresa Samarco, que é controlada pela Vale e a australiana BHP Billiton, inviabilizou o uso do Rio Doce pelos Krenak, o rio era a principal fonte de subsistência, agora o futuro se havia algum determinou um final de história desastroso para a história brasileira.

Os livros de Ailton Krenak vão além da filosofia ou da literatura em si, são na verdade gritos de alerta ao que poderá acontecer a toda vida humana se assim continuarmos nesta caminhada de exploração e destruição.

Há um documentário que trata do tema Krenak, sobreviventes do Vale, o documentário conta a história de resiliência e determinação do povo indígena, visite o link: https://canaisglobo.globo.com/c/futura/

Assista agora “Krenak: sobreviventes do vale” no Futura Play!

 

Fontes:

  • KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2ª edição (24 julho 2020)
  • KRENAK, Ailton. A vida não é util. São Paulo: Companhia das Letras, 1ª edição (07 agosto 2020)

·         https://www.futura.org.br/krenak-sobreviventes-do-vale/

·         https://www.greenpeace.org/brasil/blog/rio-doce-impactos-da-lama-no-corpo-e-na-alma-do-povo-krenak/