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sexta-feira, 31 de março de 2023

Resenha da Divina Comédia de Dante Alighieri, Religioso e Politico

 



Dante foi um político representante de Florença, na época Florença era um polo cultural e econômico muito importante, era uma época em que a Itália que conhecemos hoje não era unificada, nem a língua era a mesma, o processo de unificação da Itália como estado-nação só se deu no século XIX e Dante viveu no século XIV.

Dante passou por muitas dificuldades em sua vida, ele foi exilado em 1301, quando segundo os críticos ele começa a escrever a Divina Comédia em Florentino.

Ele dá o título de comedia para contrapor a tragédia, a comédia tem um começo ruim e um fim bom, pois começa no inferno, passa pelo purgatório e chega ao céu, é um poema religioso e político.

Importante falar que a partir desta forma de escrever, se passou a escrever em florentino que passou a ser a língua italiana.

A obra divide o universo medieval em várias partes, a obra escrita tem 100 cantos, por sua vez dividiu em 33 cantos para cada etapa, introdução, 33 para o inferno, 33 para o purgatório e 33 para o céu.

Ele escreve esta obra por se ver extraviado do caminho certo, num contexto medieval cristão, imagina-se numa selva escura a noite, impedido de seguir cercado por três animais selvagens, seres naturais e imaginários com significado muito forte, do ponto de vista histórico ele se encontrava angustiado, de fato exilado, perseguido e pobre não era nada fácil, em sua caminhada pelos dois primeiros reinos inferno e purgatório ele recebe uma ajuda inusitada de Virgílio o poeta romano auxilia este homem angustiado, recebe uma ajuda sobrenatural, que havia sido enviado por sua musa inspiradora Beatrice desde sua tenra juventude quando a viu prela primeira vez, ela na obra representa a força libertadora das agruras da vida, um sentido para viver e porque não o amor platônico.

Em seu ingresso no primeiro reino, no portão do inferno de Dante tem a famosa inscrição "abandone toda esperança aquele que por aqui entrar", no entanto ele também não deixa sem solução, pois sabemos que sempre há uma solução para qualquer dificuldade, saindo do inferno através da cloaca inicia um processo de subida que é a montanha do purgatório a própria experiência de redenção por pior que estejamos, angustiados ou desesperados sempre há uma esperança de redenção, passado pelo purgatório Virgílio já não pode seguir a caminha ao terceiro e último patamar que é o paraíso, pois ele era pagão, o céu onde encontra-se Beatrice, local de imensa amplitude onde os seres humanos tem maior dificuldade de penetrar.

Ler é sempre uma porta que abrimos para um mundo onde a literatura nos conduz a riquezas e ao pote de ouro da felicidade, este é um livro que faz parte do cânone ocidental, a obra é importante por sua riqueza e imaginação, sendo um livro que inspirou outros autores e obras.

Dante foi arrojado e bastante corajoso ao propor uma viagem ao mundo subterrâneo do inferno, passando pela purificação do purgatório e mostrando que é possível se chegar ao mundo místico do paraíso.

 

Trecho do Paraíso de Dante (Canto I)

À glória de quem tudo, aos seus acenos,
Move, o mundo penetra e resplandece,
Em umas partes mais em outras menos.

No céu onde sua luz mais aparece,
Portentos vi que referir, tornando,
Não sabe ou pode quem à terra desce;

Pois, ao excelso desejo se acercando,
A mente humana se aprofunda tanto
Que a memória se esvai, lembrar tentando.

Os tesouros, porém, do reino santo,
Que arrecadar-me pôde o entendimento,
Serão matéria agora de meu canto.

 

Ele de certa forma nos auxilia na busca de sentido dos sofrimentos e purificações que passamos nesta vida, com sua visão religiosa mostra o caminho, os erros e desenganos dos seres humanos, nos convida para um exame de consciência, ele trata das mazelas dos seres humanos como exemplo a traição e a desilusão imensa para aqueles que sofrem com ela.

 

Fonte:

Alighieri, Dante. 1265-1321. A divina comédia. Tradução de Fábio M. Alberti. Porto Alegre: L&PM, 2004

terça-feira, 28 de março de 2023

Fiódor Dostoiévski, o desejo pela vida em forma de pensamentos

Ler é sempre uma oportunidade de ingressar num mundo novo, ler as obras de Dostoiévski são oportunidades únicas para uma mudança de pensamento e atitudes, sua vida tem muito a nos ensinar, é impossível ler suas obras e ao final sairmos como entramos ao folhear a primeira página, suas obras possuem um caráter psicológico determinante, sua alma está desnudada deixando transparecer seus traumas e alegrias, assim a partir de sua realidade podemos nos identificar com seus escritos até os dias de hoje.

Sua infância foi difícil, filho de pai severo ao extremo ele chegou a desejar a morte do pai, isto aconteceu, o pai foi assassinado possivelmente por seus empregados que eram maltratados, a morte do pai foi muito marcante na vida de Fiódor, ele acabou se culpando até o fim de sua vida. Esse fato foi muito estudado por Sigmund Freud em seu conhecido artigo “Dostoievski e o Parricídio” de 1928, objeto de estudo até hoje.

Ele foi militar, porem abandonou a carreira militar, tinha outras aspirações, Dostoievski atuou junto a um grupo socialista denominado Círculo Petrashevski que denunciava o abuso de poder cometido pelo governo autoritário do Tsar Nicolau I e em abril de 1849, como consequência do seu envolvimento com a política, foi preso e condenado à pena de morte, ele chegou a ser levado para o pátio de fuzilamento com outros presos, mas de última hora, sua condenação foi trocada por 5 anos de trabalhos forçados na Sibéria, onde permaneceu até 1854, este período na prisão foi muito traumático, ao ponto de levá-lo a relatar algumas de suas experiências na obra Memórias da Casa dos Mortos, publicada em 1862.

Dostoievski em sua vida amorosa foi marcada por amor e traição, dor causada por perdas e decepções, por último em 1867, Fiódor casou-se novamente. Sua segunda esposa foi Anna Grigoriévna, que era sua secretária e o auxiliou na produção do seu livro O Jogador, tornando-se um sucesso de vendas.

As obras de Dostoievski possuem uma profunda carga psicológica, provavelmente por isto seus personagens em sua maioria estão sempre questionando a validade da moral e da ética seus atos percorram uma linha tênue entre o bem e o mal, dentre os perfis dos protagonistas de suas obras temos pessoas doentes, sejam eles físicos ou mentais, donos de uma mente febril; infiéis; decadentes, criminosos; a angústia sempre percorre os seus pensamentos, provavelmente sua vida que foi difícil tenha sido refletida em suas obras, desde sua infância, a convivência com o pai extremamente severo, a perda da mãe ainda muito jovem, seu tempo de prisão, o trauma da sentença de morte que no derradeiro minuto a mudança para encarceramento por cinco anos numa prisão na Sibéria, as pessoas com que conviveu e conheceu ao longo de sua vida são retratos que serviram como base para suas reflexões e a biografia para seus livros, afinal a vida de cada um sempre tem histórias a serem contadas e se analisarmos bem a vida tem esta forma de ensinar, a vida de cada um é uma tônica que pode inspirar uma vida literária como inspirou a vida de Fiódor.

Suas principais obras foram: Memórias do Subsolo (1864); Crime e Castigo (1866); O Idiota (1869); Os Demônios (1872); Os Irmãos Karamazov (1881).

Sua escutatória habilidosa o permitiu ouvir a consciência dos humanos em suas dignidades, indignidades, ambiguidades e peculiaridades, isto o tornou um ser universal e atemporal, seus pensamentos condensados em frases tornaram-se símbolos
e meditações para aqueles que buscam uma luz no entendimento, o que nos legou foi trabalhado junto a natureza dos homens que estiveram presentes em seu convivio do cotidiano.

Então, alguma frases de Fiódor para refletir:

            A falta de liberdade não consiste jamais em estar segregado, e sim em estar em promiscuidade, pois o suplício inenarrável é não se poder estar sozinho.

A vida é um paraíso, mas os homens não o sabem e não se preocupam em sabê-lo.

A fé e as demonstrações matemáticas são duas coisas inconciliáveis.

Não será preferível corrigir, recuperar e educar um ser humano que cortar-lhe a cabeça?

Se alguém me provasse que Cristo está fora da verdade, e se realmente ficasse estabelecido que a verdade está fora de Cristo, eu preferiria Cristo à verdade.

Todas as mulheres sabem que os ciumentos são os primeiros a perdoar.

A verdadeira verdade é sempre inverossímil.

Não há assunto tão velho que não possa ser dito algo de novo sobre ele.

Podem ter a certeza de que não foi quando descobriu a América, mas sim quando estava a descobri-la, que Colombo se sentiu feliz.

Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente.

Quanto mais gosto da humanidade em geral, menos aprecio as pessoas em particular, como indivíduos.

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Nem homem nem nação podem existir sem uma ideia sublime.

Às vezes o homem prefere o sofrimento à paixão.

A purificação pelo sofrimento é menos dolorosa que a situação que se cria a um culpado por uma absolvição impensada.

A tragédia e a sátira são irmãs e estão sempre de acordo; consideradas ao mesmo tempo, recebem o nome de verdade.

Nada serviu tanto o despotismo como as ciências e os talentos.

Não há ideia nem fato que não possam ser vulgarizados e apresentados a uma luz ridícula.

Aos olhos do artista, o público é um mal necessário; é preciso vencê-lo, nada mais.

A melhor definição que posso dar de um homem é a de um ser que se habitua a tudo.

O criminoso, no momento em que pratica o seu crime, é sempre um doente.

Compara-se muitas vezes a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas.

A maior felicidade é quando a pessoa sabe porque é que é infeliz.

Todos somos responsáveis de tudo, perante todos.

Deus, no Céu, cada vez que vê um pecador o invocar com todo o coração tem a mesma alegria que uma mãe quando vê o primeiro sorriso no rosto do filho.

A mentira é o único privilégio do homem sobre todos os outros animais.

Se queres vencer o mundo inteiro, vence-te a ti mesmo.

Se Deus não existisse, tudo seria permitido.

A beleza salvará o mundo.


Ler é abrir uma porta e uma janela, é ingressar num novo ambiente, o mundo de Fiódor se revela e nos conta como sua alma peregrinou em seu tempo e chegou até nós, sua mensagem nunca deixou de impressionar aqueles que o procuram.

 

segunda-feira, 13 de março de 2023

Estoicismo é contemporâneo, nunca saiu de moda

 


A Escola dos Estoicos é muito importante até hoje, muito atual, contemporânea, modernizada e adaptada aos nossos tempos é muito falada em todos os campos, a escola é de origem grega do período helenístico, surgiu lá pelo século 3 do período, Zenão de Citio foi seu fundador, Zenão veio da escola cínica que pregava o total desapego aos bens matérias, num sentido bem diferente ao entendimento moderno do que se refere ao cinismo como coisa falsa, ele foi mais além do que pregar o desapego total, ele fez coisas diferentes, ele dava aulas ao público sob o pórtico da cidade, ele foi além, pois ele começou a falar de leis da natureza, leis inevitáveis e imutáveis, como por exemplo a morte que é o destino de todas as coisas vivas, já dizia que combater e temer o que é inevitável é perder tempo, devemos parar de contrariar as leis da natureza.

 

O grande objetivo do estoico é a felicidade, porem a felicidade conquistada através da compreensão das leis da natureza, ciente que existe um logos, uma grande racionalidade que permeia o logos, as coisas acontecem dentro de uma racionalidade por leis determinadas, por isto devemos aceitar as leis universais, portanto a força da mudança deve ser dirigida aquilo que se pode alterar como a qualidade de vida, sem idealizar o mundo, aceitar como ele é, precisamos evitar medos e desejos, pessoas como os grandes mestres, o escravo grego Epiteto, o senador romano Sêneca e Marco Aurélio, imperador e general romano falavam que o estoico está tão seguro de si mesmo em sua fortaleza interior, que não sofre com as coisas que as pessoas comuns sofrem, esta é uma força fantástica, eles foram ilustres estoicos, cada um com sua importância em sua época, nos deixaram seus legados até hoje estudados por serem preciosos por sua sabedoria.

 

O estoico tem a certeza de que é soberano sobre o que pode mudar, por isto deve se concentrar no que pode mudar, cultivar a cabeça com pensamentos bons, cultivar as virtudes e a felicidade são seus objetivos, ciente que quem deve ser feliz sou eu e não o mundo, trata-se de uma filosofia materialista, pressupõe regras do universo material e natural, busca realizar desejos de acordo com a realidade e necessidade.  

 

O estoicismo prega enfrentarmos as adversidades da vida com serenidade, persistência, resiliência. A ambição é uma das maiores formas de frustração por ser enganosa, principalmente por não sabermos os limites e querermos sempre mais, despreza o poder e a sedução do mundo, o desapego exagerado só causam dissabores e frustrações.

O cristianismo simpatizou com o pensamento estoico e adaptou a filosofia estoica conforme sua linha de pensamento, houve adaptação também a nossa moda de sucesso muito utilizada por coaching, pois a filosofia parte do princípio que o estoico busca no interior de cada pessoa a fortaleza em seus princípios e suas virtudes, o foco e a ideia está no discernimento de seu ato, fazer boas escolhas por valores éticos, esta fundada no bem cívico, no bem moral, instalado em suas filosofias de vida pessoal e profissional, por isto o estoicismo é muito atual, contemporâneo.

 

segunda-feira, 6 de março de 2023

Eremitas dos tempos modernos, Hikikomoris no século XXI

Recém saímos do confinamento causado pela pandemia de covid-19, aos poucos estamos retomando nossas atividades cotidianas, socializando-nos, trabalhando, estudando, vivendo entre as pessoas além das quatro paredes de nosso lar, recuperando-nos dos males causados pelo isolamento social, um mal que mexeu com nossa mente, no entanto, atualmente há milhões de jovens, adultos e idosos cada vez mais vivendo em extremo isolamento doméstico, a pandemia só agravou ainda mais uma tendência que atinge grande parte de nosso mundão afora.

 

"Hikikomori” é um termo de origem japonesa que designa este comportamento de extremo isolamento doméstico, em princípio tenha sido circunscrito à síndrome característica da população japonesa, porem estudos já mostram inúmeros casos semelhantes em vários países no mundo, inclusive no Brasil.

 

Não deveria ser algo comum entre os seres humanos, pois somos seres sociais por natureza, nossa personalidade é formada através do convívio social, sentimos muita falta das pessoas, portanto quando encontramos alguém que vá ao extremo do isolamento social doméstico é porque o problema atingiu um ponto dramático e sair deste casulo é coisa que levará muito tempo de analises e terapias.

 

Quando tomamos conhecimento da existência deste comportamento começamos a perceber quanta gente vive desta forma, seja jovem, adulto ou idoso, lembro de um caso que me marcou muito, um jovem de 22 anos, filho de um amigo, em nossas conversas este amigo me confidenciou, quase um desabafo, que estava enfrentando o problema com seu filho, que já tinha gasto muito verbo tentando convencer o filho a sair para o mundo, o filho sempre se negava a sair, não queria estudar, nem trabalhar, queria mesmo era ficar somente no quarto. O jovem tem diabetes tipo 1, toma regularmente insulina, as vezes exagera na dose, as vezes come o que não deve ou até fica muito tempo sem comer, tem momento em que quase entra em coma e todas as vezes a SAMU é chamada para prestar socorro. Seu pai observou que seu filho é ansioso, reservado, inseguro, insatisfeito com seu porte físico, em várias vezes que trabalhou acabou desistindo do trabalho e em seguida dos estudos, o contato social se dava somente através da internet, quando muito jogava on-line com os amigos virtuais, as namoradas também virtuais vão e vem sem interesse num contato pessoal, talvez por não ter nada há oferecer, sem trabalho e sem formação educacional, vive num círculo vicioso sem fim. Um dos motivos para o confinamento voluntário foi que seu filho acabou se sentindo frustrado por ter que seguir uma dieta rigorosa e por ter que praticar exercícios todos os dias. Ele começou a perder a motivação para se cuidar e a sentir-se triste por ter que seguir uma rotina tão rigorosa. Outro fator que veio para acrescentar maior preocupação foi a Covid-19, no entanto, o pai também confinado pode dar maior atenção para o filho, pois passava mais tempo em casa e conseguiu aos poucos penetrar no universo do filho. Atualmente ambos encontram-se lutando a cada dia para sair do confinamento e aos poucos procurando melhorar a autoestima, motivação para enfrentar os rigores do problema que agora é compartilhado com o pai que se esmera e se dedica ao máximo para ver o filho superando os desafios que são rigorosos. Esta história de vida é mais uma dentre as milhões que existem neste mundão, cheio de dores, tristezas, lutas e alegrias nos menores detalhes. O pai com muita insistência conseguiu levar o filho para consultar com psicólogo e atualmente vem se tratando com psiquiatra. Quando se tratam dos filhos o sofrimento dos pais é algo que só mesmo os pais para saberem que sentimento é este.

Lidar com a diabetes por si só é uma aventura, a cada minuto tudo pode mudar, principalmente quem tem diabetes do tipo 1 que é a mais severa, são tantos os cuidados a tomar que o stress é inevitável, é uma bolha dentro de outra bolha. Em se tratando de um jovem realmente pode ser uma grande aventura! É importante que o jovem se conscientize de suas responsabilidades, mantenha-se comprometido com sua saúde e divirta-se ao longo do caminho. É preciso ter estilo para ser diabético, é preciso manter um estilo de vida saudável, praticar exercícios regularmente, comer alimentos saudáveise monitorar os níveis de glicose no sangue são fundamentais para manter a saúde geral, em se tratando de jovens a rebeldia da idade dos hormônios a flor da pele os torna resistentes a tanta disciplina e cuidados, a juventude tem suas próprias peleias de egos, desejos e vontades, o stress nesta idade infla e esvazia rapidamente, tudo é muito dinâmico e veloz. Aprender a lidar com o stress é o que fará a diferença no rumo da própria vida, por isto é importante procurar aprender técnicas de relaxamento para lidar com o estresse da vida com diabetes, uma forma de se conectar com o mundo é encontrar um mentor, outra pessoa com diabetes para obter apoio e compartilhar suas experiências, alguém fora de casa as vezes é melhor ouvido e escutado do que os próprios pais, os eremitas desta bolha sofrem muito até se encontrarem, para se encontrar não pode ser resistente ao que faz bem, e o bem esta na ajuda que quem esta fora pode oferecer.

A pandemia de Covid-19, obrigou muita gente a se reinventar, muitos jovens não puderam sair de casa para conhecer novas pessoas, explorar novos lugares ou viver sua vida como adultos. Enquanto se sentiam confinados em sua casa, descobriram que existem muitas maneiras de se divertir enquanto se está isolado, como por exemplo aprender algo novo todos os dias, como a tocar um instrumento musical, ler um livro, assistir a filmes e séries, aprender a cozinhar e muito em voga fazer filminhos da vida pessoal como autoajuda, isto tudo acontece com a pessoas que estão bem psicologicamente.

 

Quando não se está bem psicologicamente as coisas tendem a ficar mais complicadas e o mundo complexo demais, até o convívio social tão necessário torna-se uma tarefa árdua e dolorida, estamos inseridos numa sociedade que cobra muito e espera dos jovens altos graus de perfeição, nem todos estão preparados para enfrentar esta selva de exigências e bullyngs na escola e no trabalho, segundo a Wikipédia, “esse tipo de comportamento é atualmente tido como problema de saúde pública no Japão, onde milhares de jovens se encontram nesta situação devido ao alto grau de perfeição exigido das pessoas em tarefas diárias e à pressão acarretada por tal exigência, o que acaba levando muitas pessoas a problemas psicológicos de baixa autoestima e em alguns casos extremos tendências psiquiátricas graves”.

 

A pandemia por um lado nos proporcionou um teste de sanidade ao ficarmos tanto tempo isolados, foi de fato um período muito difícil, a liberdade do ir e vir, confraternizar, visitar, esta proibido, a liberdade que é um de nossos bens mais preciosos estava proibido sob pena de ficarmos gravemente doentes ou levarmos alguém a ficar doente ou até vir a óbito, ficamos psicologicamente abalados, no entanto, para os nossos eremitas hikikomoris, não os abalou muito, o que mudou na vida deles foi a presença constante dos pais em confinamento perturbando sua rotina do quarto para a cozinha e o banheiro.

 

Muitos pais reagiram expulsando os filhos, colocando-os porta a fora, alguns tentaram retomar o passo de suas vidas, outros se tornaram moradores de rua, outros desapareceram, a solução deste problema social é muito sério abrangendo toda a sociedade, muito sofrimento poderia ser poupado se tivéssemos mais empatia.

 

O termo hikikomoris não surgiu a toa no Japão, as estatísticas apontam que sejam entre 500.000 a impressionantes 10 milhões de pessoas no Japão. Os números oficiais são muito baixos, porque esses indivíduos se escondem da sociedade, e fica complicado registrar sua real existência. Em geral são do sexo masculino, são reclusos que a partir de um determinado momento (ou um incidente) simplesmente deixam de sair de casa, obtendo tudo que precisam para viver pela internet ou telefone. Em muitos casos, os hikikomori passam vários anos sem se atrever a sair de casa.

 

Estudos apontam que como característica, também, que a maioria teve uma infância com pais super protetores que criaram adultos e crianças isolados por conta da pressão exercida por eles ao longo da vida, já existem jovens com 15 anos, homens com mais de 40 anos e até idosos que se negam a sair de casa, muitas vezes idosos morrem solitariamente vindo a ser descoberto seu falecimento por algum vizinho reclamando do mal cheiro devido ao corpo do falecido estar em decomposição. Realmente é algo horrível.

 

O isolamento algumas vezes é temporário e outras vezes torna-se definitivo, como se fossem escolhas de vida, outras são circunstancias que as obrigam a ficar em casa pela dificuldade de arrumar emprego fixo, outras veem a possibilidade de escolher fazer o que gostam, quase um tempo sabático, com pouco contato social, mas com a tranquilidade de viver bem e protegido.

 


 

O Jornal Tribuna apresentou um artigo interessante, informam dentre outras coisas que as pesquisas sobre o fenômeno são muito controversas, mas um tema parece recorrente: a influência das tecnologias modernas sobre o desejo de isolamento. As comunicações digitais estariam substituindo os contatos humanos reais, e o isolamento permitiria uma “bolha de segurança” para pessoas introvertidas e tímidas, que se sentem intimidadas pelas expectativas e cobranças das escolas e locais de trabalho.

 

A situação é vista com preocupação pelas famílias e autoridades japonesas. Em algumas cidades, foram criados centros de ajuda dedicados aos hikikomori, para estimular o contato dessas pessoas com o mundo externo e interessa-las em atividades do cotidiano, como fazer compras em lojas, frequentar escolas e trabalhar fora de casa.

 

A tecnologia também pode ajudar os eremitas a mudar sua condição. A crescente interconexão dos mundos online e off-line oferece algumas saídas: no Japão, o jogo para smartphone Pokemon Go estimulou alguns hikikomori a sair de casa para caçar os bichinhos virtuais do jogo.

 

Mesmo assim, é uma situação muito complexa, que não dá sinais de melhora. Segundo o especialista Saito Tamaki, a real população de hikikomori no Japão pode superar 10 milhões de pessoas. Saito também alerta que a condição não afeta apenas adolescentes e jovens adultos: seus estudos indicam que há muitos hikikomori com mais de 50 anos.

 

Saito diz que é difícil realizar uma contagem precisa dos reclusos, porque muitos deles vivem com seus pais e não precisam se preocupar questões de abrigo e alimentação. Por conta disso, os reclusos permanecem trancados em casa, até chegar à meia-idade ou mesmo a velhice. Saito diz que existe o “problema 80/50” relacionado aos hikikomori: pessoas na casa dos 50 anos que vivem com seus pais na casa dos 80 anos.

 

Saito observa que a sociedade japonesa dá muito valor ao envolvimento das pessoas em grupos, mas não valoriza os indivíduos. Pessoas que não se sentem à vontade para se envolver com atividades sociais se sentem inúteis, desprezadas pela sociedade.

 

Saito disse que em países com forte senso de individualismo como os EUA ou a Inglaterra, onde é incomum que os filhos adultos vivam com seus pais, o problema parece menor. Mas há muitos jovens sem-teto nesses países, que também vivem um tipo de isolamento social.

 

Saito aponta que a solução para esse problema deve partir das famílias dos reclusos. Uma atitude que estimule o hikikomori a buscar mais independência pode dar resultado, mesmo que isso signifique negar o conforto do lar para uma pessoa assustada com o mundo. Os grupos de ajuda também estão se multiplicando no Japão e outros países da região. Segundo Saito, se os pais forem firmes e decididos a ajudar, o hikikomori pode romper gradualmente seu isolamento e recuperar o contato com a sociedade exterior.

 

Como disse anteriormente, quando nossa atenção volta-se para alguém próximo damos maior importância para o fato, por pensar que o problema esteja longe nos dá a falsa impressão de que aqui não chegara, no entanto quando alguém que queremos bem sofre passamos a admitir a existência deste problema social, passamos a observar com mais atenção em nosso entorno, começamos a lembrar de passagens doloridas de nossos amigos, geralmente o que podemos fazer é não dar pitaco furado na dor do outro, a não ser orientar a buscar ajuda profissional de quem realmente entende e que o faça quanto antes, os quadros de isolamento levam a depressão e aos limites humanos que são trágicos, todo tempo perdido é um minuto a mais de dor e tristeza.

 

Precisamos ter mais empatia, menos números estatísticos e mais afeto.

 

Fontes:

Wikipédia

https://jornaltribuna.com.br/2022/09/os-eremitas-do-seculo-21/