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terça-feira, 11 de março de 2025

Infinitivos e Gerúndios

Pensar Pensando e os Modos de Existir

A gente sempre está entre começar algo e continuar fazendo. Entre o desejo de ser e o ato de estar sendo. No fundo, a forma como pensamos já carrega em si um tempo, um modo, uma disposição. Há quem viva no infinitivo, sonhando sem executar. Outros se perdem no gerúndio, ocupados demais fazendo para perceber para onde estão indo. Mas será que o pensamento também oscila entre essas formas? Será que somos condicionados por uma estrutura linguística a viver mais no futuro ou no presente contínuo?

O infinitivo é uma promessa. Pensar, agir, decidir, mudar. Ele paira no ar como um horizonte de possibilidades, um impulso inicial que não se compromete com a realização. "Eu preciso começar a escrever um livro" ou "Quero aprender a tocar piano" são frases que moram no limbo do que poderia ser. É a mente aberta para a escolha, mas também para a fuga. No infinitivo, o pensamento é potencialidade, mas também hesitação. Não se compromete com a sujeira do real. Fica ali, polido e perfeito como uma ideia antes de ser testada pelo mundo.

Já o gerúndio é movimento. É estar fazendo, estar sendo, estar sentindo. Ele não dá margem para o adiamento: "Estou mudando", "Estou aprendendo", "Estou construindo". A fluidez da vida aparece aqui, porque o gerúndio nos coloca dentro do processo, e o processo nunca é estático. Mas há um risco: o gerúndio também pode ser uma armadilha de continuidade infinita, um ciclo onde a ação nunca se conclui. "Estou tentando", "Estou resolvendo", "Estou esperando" — frases que indicam que algo está acontecendo, mas talvez nunca chegue a acontecer de fato.

O pensamento humano parece oscilar entre esses dois estados. Alguns filósofos construíram sistemas inteiros baseados na ideia de um pensamento no infinitivo: Platão, por exemplo, enxergava a realidade como um reflexo de um mundo ideal, uma perfeição nunca plenamente alcançada. Já pensadores como Nietzsche preferiam o gerúndio — um eterno devir, uma existência que se faz e se refaz a cada instante.

E nós? Será que pensamos mais no infinitivo, sempre projetando um futuro que nunca chega? Ou vivemos no gerúndio, presos a processos que nunca se resolvem? Talvez a resposta esteja em aprender a transitar entre os dois. Há momentos para o infinitivo — para desejar, para planejar, para conceber a ideia pura. E há momentos para o gerúndio — para agir, para experimentar, para sentir o peso do tempo nas mãos.

Pensar é, afinal, um jogo de tempos verbais. Há quem prefira permanecer na promessa, e há quem não consiga sair do fazer contínuo. Mas talvez o segredo seja encontrar a justa medida entre pensar e estar pensando — entre conceber e construir, entre ser e estar sendo.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Muleta do Ideal

Vivemos em uma sociedade que constantemente nos incentiva a perseguir ideais elevados de sucesso, beleza e felicidade. Embora esses ideais possam nos motivar a crescer e melhorar, também podem se tornar muletas que nos afastam de nossa verdadeira essência. Vamos explorar como essa busca pelo ideal pode nos distanciar de quem realmente somos, trazendo situações cotidianas para ilustrar essa dinâmica.

A Busca pelo Corpo Perfeito

Imagine alguém que passa horas na academia e segue dietas rigorosas, tudo em busca do corpo perfeito promovido pela mídia e pelas redes sociais. Esse ideal de beleza pode se tornar uma muleta, levando a pessoa a negligenciar sua saúde mental e bem-estar emocional. Em vez de se concentrar em como se sente e em sua saúde geral, essa pessoa pode ficar obcecada com a aparência externa, distanciando-se de seu verdadeiro eu.

No entanto, ao invés de se apoiar nesse ideal, é importante encontrar um equilíbrio entre o desejo de melhorar fisicamente e o reconhecimento de que a verdadeira beleza vem de dentro, da aceitação e do amor próprio.

A Carreira dos Sonhos

Outra situação comum é a busca pela carreira dos sonhos. Alguém pode se esforçar incansavelmente para subir na hierarquia corporativa, perseguindo uma posição de prestígio e altos salários. Esse ideal de sucesso profissional pode se tornar uma muleta, levando a pessoa a sacrificar relacionamentos, hobbies e até mesmo a saúde.

Ao focar apenas em alcançar essa posição ideal, a pessoa pode perder de vista o que realmente lhe traz alegria e satisfação. Encontrar um equilíbrio entre ambição e realização pessoal é crucial para não se afastar de si mesmo.

A Vida Perfeita nas Redes Sociais

Nas redes sociais, é fácil cair na armadilha de criar uma imagem de vida perfeita. Alguém pode passar horas editando fotos, escolhendo os ângulos certos e planejando postagens para manter uma aparência de felicidade constante. Esse ideal de perfeição pode se tornar uma muleta, afastando a pessoa de sua verdadeira vida e experiências autênticas.

Em vez de se concentrar em manter uma fachada perfeita, é importante lembrar que a autenticidade e as imperfeições são o que nos tornam humanos e conectam-nos verdadeiramente aos outros.

A Relação Ideal

Muitas pessoas têm uma visão idealizada do relacionamento perfeito, baseado em contos de fadas e filmes românticos. Alguém pode procurar incessantemente um parceiro que corresponda a todos os critérios dessa imagem ideal, ignorando conexões reais e imperfeitas que poderiam trazer felicidade genuína.

A busca pelo parceiro ideal pode se tornar uma muleta, afastando a pessoa de relacionamentos verdadeiros e significativos. Aceitar que nenhum relacionamento é perfeito e que as imperfeições são parte da jornada pode levar a conexões mais profundas e autênticas.

O Filósofo Fala: Jean-Paul Sartre e a Autenticidade

Jean-Paul Sartre, um dos filósofos existencialistas mais influentes, falou sobre a importância de viver uma vida autêntica e evitar a "má-fé" (self-deception). Para Sartre, ser autêntico significa reconhecer e aceitar nossa liberdade de escolha e responsabilidade por nossas ações. Ele alertava contra a tentação de se esconder atrás de ideais externos e expectativas sociais, pois isso nos afasta de nossa verdadeira essência e potencial.

A busca por ideais pode ser motivadora, mas também pode se tornar uma muleta que nos afasta de quem realmente somos. Seja na busca pelo corpo perfeito, pela carreira dos sonhos, pela vida perfeita nas redes sociais ou pelo relacionamento ideal, é importante encontrar um equilíbrio e lembrar que a autenticidade e a aceitação são fundamentais para uma vida plena e significativa.

Ao reconhecer nossas verdadeiras necessidades e desejos, podemos evitar nos perder em ideais inalcançáveis e, em vez disso, viver de maneira mais autêntica e conectada com nosso verdadeiro eu. Afinal, é na aceitação de nossas imperfeições e na busca de nossa própria verdade que encontramos a verdadeira liberdade e felicidade.


quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Sombras de Tolos

"Sob a luz do dia, todos somos iguais", dizia um sábio anônimo de esquina, enquanto o sol se punha lentamente. Mas à medida que a luz se desvanece, as sombras começam a crescer, revelando o outro lado de nós mesmos, aquele que nem sempre mostramos, ou melhor, aquele que preferimos esconder.

As sombras de tolos não são apenas meros contornos alongados projetados no chão ao entardecer. Elas são reflexos de escolhas, omissões, e muitas vezes de uma persistente ignorância que se recusa a reconhecer a verdade. O tolo é aquele que, em sua cegueira voluntária, prefere a escuridão à luz, camuflando-se em uma sombra confortável que distorce a realidade.

No dia a dia, quantas vezes nos pegamos seguindo a sombra de nossas próprias inseguranças? Às vezes, agimos como tolos ao ignorar conselhos, ao nos recusarmos a aprender com os erros, ou ao não ver o óbvio que está bem diante de nós. Quantas decisões tomamos baseadas no medo de enfrentar a verdade, preferindo a segurança de uma sombra que nos protege temporariamente, mas que no final só nos aprisiona?

Um filósofo diria que a sombra do tolo é aquela que se alimenta da ignorância, cresce na arrogância e se perpetua na negação. Ela não é apenas a ausência de luz, mas a ausência de desejo pela luz. O tolo, ao invés de encarar o mundo com coragem, esconde-se atrás de sua sombra, preferindo o conforto de suas falsas certezas e que ainda acredita no mundo ideal do Instagram.

Mas nem tudo está perdido. Mesmo o tolo tem a oportunidade de sair das sombras. Basta que ele decida, com coragem, olhar para o sol e encarar a luz da verdade, mesmo que ela seja dura e ofuscante. Porque, no fim das contas, a luz é o único caminho para deixar de ser sombra, para deixar de ser tolo. Assim, quando você se encontrar hesitando, pense nas sombras que está criando. São elas reflexos de sua sabedoria ou simplesmente as sombras de um tolo?

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Eros em Solidão

 

Sábado à tarde, sentado na cafeteria, observo o movimento ao redor. Pessoas vêm e vão, conversas se entrelaçam, risos e olhares se cruzam. Em meio a esse cenário, reflito sobre a solidão e o amor — mais especificamente, sobre Eros em solidão.

Eros, o deus grego do amor e do desejo, é frequentemente retratado como uma força que une, que liga indivíduos em busca de intimidade e conexão. Porém, e quando Eros se encontra sozinho? Como ele lida com a ausência daquilo que deveria buscar incessantemente?

A solidão, muitas vezes, é vista como a antítese do amor. Mas, paradoxalmente, é na solidão que muitos encontram o verdadeiro sentido de Eros. A busca pelo amor começa dentro de nós, no espaço silencioso e introspectivo da solidão. É nesse estado que entendemos nossos desejos, anseios e o que realmente procuramos no outro.

Penso na frase de Rainer Maria Rilke: "O amor consiste em que duas solidões se protejam, se toquem e se saúdem." Rilke sugere que a verdadeira conexão amorosa nasce quando duas pessoas, conscientes de suas próprias solidões, se encontram e respeitam essa individualidade. Assim, Eros em solidão não é um estado de desespero, mas um momento de preparação e autoconhecimento.

A solidão não precisa ser temida. Ela pode ser um período frutífero para o desenvolvimento pessoal e para a compreensão do que significa amar e ser amado. É na solidão que aprendemos a apreciar a nossa própria companhia, a valorizar quem somos sem a necessidade constante da validação externa.

Penso em meus próprios momentos de solidão. Às vezes, eles surgem no meio de uma multidão, outras vezes em casa, num silêncio quase palpável. E é nesses momentos que percebo a força de Eros dentro de mim, não como um desejo desesperado por conexão, mas como uma chama tranquila que ilumina meu caminho interno.

Aristóteles dizia que "o homem é um animal social". No entanto, para que nossas interações sociais sejam significativas, precisamos primeiro entender e aceitar nossa solidão. Eros em solidão nos ensina a apreciar a nós mesmos, a cultivar uma relação saudável com quem somos, para que, quando finalmente encontrarmos o outro, possamos oferecer uma versão completa e autêntica de nós mesmos.

Enquanto tomo meu café e observo as pessoas ao redor, percebo que cada um carrega sua própria solidão, seus próprios anseios e desejos. Eros caminha entre nós, ora sozinho, ora em busca de união, sempre nos lembrando da importância de abraçar nossa própria companhia antes de nos lançarmos aos braços de outro.

A solidão não é o fim de Eros, mas o começo de uma jornada mais profunda e significativa. É um convite para mergulharmos em nós mesmos, para descobrirmos quem somos e o que realmente desejamos, para que possamos, um dia, encontrar e abraçar o outro com verdade e plenitude.

E você, já encontrou seu Eros em solidão?

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Intuição e Desejo


Você já teve aquele sentimento estranho, aquela sensação profunda de que deveria tomar uma decisão, seguir um caminho ou aceitar um desafio, mesmo quando a lógica gritava o contrário? Bem, meu amigo, isso pode ser a sua intuição dando um sinalzinho, uma espécie de farol interior iluminando o caminho na grande estrada da vida.

A intuição é como aquele amigo que sempre parece saber o que é melhor para você, mesmo quando você não tem certeza. É aquele "sexto sentido" que nos faz seguir uma corrente de pensamento que não pode ser totalmente explicada, mas que, de alguma forma, parece certa.

Agora, coloque essa intuição numa dança com a força do desejo. Imagine que o desejo é a música pulsante que guia seus passos, uma batida constante que ressoa no ritmo de seus sonhos e aspirações. Quando esses dois começam a dançar, é como se o universo estivesse conspirando para criar algo mágico.

Vamos falar de uma situação do cotidiano que muitos de nós já vivenciamos: a escolha de carreira. Suponha que você esteja preso em um trabalho que paga as contas, mas não alimenta sua paixão. Seu desejo ardente é dedicar sua vida a algo que realmente ama, como escrever ou pintar.

Então, a intuição entra em cena. Você começa a sentir aquele empurrãozinho, aquela voz suave dizendo que há algo mais lá fora para você. Mesmo que não haja garantias, sua intuição sussurra que seguir sua paixão pode ser o caminho.

A força do desejo, nesse caso, é a chama que queima dentro de você, alimentando o sonho de uma carreira mais gratificante. Cada vez que você imagina escrevendo um best-seller ou expondo suas obras de arte, sente uma onda de emoção e motivação.

Quando a intuição e o desejo começam a se entrelaçar, você pode encontrar coragem para dar o salto. Pode ser assustador abandonar a segurança do conhecido, mas é como se a intuição estivesse dizendo: "Vá em frente, siga o que faz seu coração bater mais forte."

Ao fazer essa escolha, você pode descobrir oportunidades que nunca imaginou. Talvez um editor veja seu trabalho e ofereça um contrato, ou talvez suas pinturas chamem a atenção de um galerista. É como se a dança entre intuição e desejo desbloqueasse portas que estavam esperando pacientemente por você. Claro, isso não significa que tudo será um conto de fadas. Haverá desafios, tropeços e momentos de incerteza. No entanto, a magia acontece quando a intuição e o desejo persistem, quando você escolhe continuar dançando, mesmo quando a música fica um pouco mais difícil.

Vamos ver o que um filósofo tem a dizer a respeito, um filósofo, ao abordar a interação entre intuição e desejo, poderia oferecer diversas perspectivas baseadas em diferentes correntes filosóficas. Então vamos trazer para nossas reflexões duas abordagens filosóficas distintas, uma de Arthur Schopenhauer e outra de Jean-Jacques Rousseau, para ilustrar como diferentes filósofos podem interpretar essa relação.

Arthur Schopenhauer: A Vontade e a Representação

Schopenhauer, influente filósofo alemão do século XIX, desenvolveu uma filosofia que enfatizava a "Vontade" como a força motriz subjacente a todas as coisas. Ele argumentava que a Vontade é uma força cega e irracional que impulsiona a existência. Nesse contexto, a intuição seria a manifestação imediata da Vontade. Schopenhauer poderia argumentar que a intuição é a expressão direta da Vontade, uma compreensão imediata e não mediada da realidade. No caso da força do desejo, a Vontade é a fonte primordial desse desejo, e a intuição seria a forma pela qual experimentamos e compreendemos a energia pulsante que impulsiona nossos desejos mais profundos. Ao analisar a dança entre intuição e desejo, Schopenhauer poderia sugerir que, ao seguir a intuição, estamos, de fato, capitulando diante da Vontade subjacente. Seguir nossos desejos, então, seria uma expressão da Vontade em ação, um jogo cósmico no qual a intuição é a narrativa imediata dessa força universal.

Jean-Jacques Rousseau: A Vontade Geral e a Autenticidade

Rousseau, filósofo do Iluminismo, tinha uma visão diferente, centrada na noção de "Vontade Geral" e na busca da autenticidade. Para Rousseau, a intuição poderia ser vista como a expressão pura da Vontade Geral, o desejo coletivo e autêntico da sociedade. Em termos de força do desejo, Rousseau poderia argumentar que a autenticidade de nossos desejos é crucial. Seguir a força do desejo, quando alinhada com a Vontade Geral, seria o caminho para uma existência mais plena e harmoniosa. A intuição, nesse contexto, seria o guia interior que nos conecta à Vontade Geral e nos ajuda a discernir desejos autênticos de meras convenções sociais. Portanto, para Rousseau, a dança entre intuição e desejo seria uma jornada em direção à realização pessoal e social, na medida em que nossos desejos autênticos se alinham com a Vontade Geral, levando a uma vida mais genuína e satisfatória.

Essas interpretações destacam como filósofos diferentes podem oferecer perspectivas diversas sobre a relação entre intuição e desejo, influenciadas por suas distintas visões filosóficas sobre a natureza humana e a realidade. Para cada indivíduo há uma maneira de ver oportunidades e problemas, depende obviamente da maturidade de cada um, as decisões são só nossas e a consequências também.

Então, na próxima vez que sentir aquele calorzinho no peito, aquela voz suave dizendo que há algo mais para você lá fora, preste atenção. Deixe a música do desejo guiar seus passos e permita que a intuição seja seu parceiro de dança. Quem sabe que surpresas mágicas a vida pode ter reservado para você na pista de dança do cotidiano?