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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Acordar do Sonho

Acordar de um sonho é uma metáfora poderosa que atravessa a nossa existência. Quem nunca, ao despertar, carregou por alguns segundos a sensação de que o sonho ainda era real? Essa mistura de confusão e clareza revela algo interessante: o quanto, muitas vezes, vivemos presos a um "sonho" que parece ser realidade, mas que, quando olhamos com mais atenção, se desfaz. E isso vai muito além do sono.

No dia a dia, somos constantemente levados por sonhos que construímos ao longo da vida — expectativas sobre quem deveríamos ser, o que devemos conquistar, as pessoas com quem nos relacionamos. Essas ideias são como camadas de um véu que cobre a realidade e, às vezes, precisamos "acordar" para perceber que estamos vivendo uma ilusão.

O filósofo indiano N. Sri Ram, em suas reflexões sobre a busca pela verdade, sugere que esse despertar é essencial para que possamos enxergar a realidade como ela é. Ele afirma que a maioria das pessoas vive em um estado de semi-consciência, agarradas a noções pré-estabelecidas que limitam o potencial de viver plenamente. Para ele, a verdadeira liberdade começa quando conseguimos nos libertar dessas ilusões e reconhecemos a realidade mais profunda e sutil da vida. Em seu livro O Homem, Deus e o Universo, ele explora essa jornada de despertar da ilusão, sugerindo que só quando rompemos com o véu do ego e da mente condicionada é que podemos ter um vislumbre da verdade.

No cotidiano, esse "despertar" pode acontecer em momentos simples, como quando enfrentamos uma crise pessoal. Perder um emprego, por exemplo, pode ser o choque necessário para percebermos que estávamos investindo nossa energia em algo que não trazia satisfação real. Ou, quem sabe, ao terminar um relacionamento, temos a oportunidade de enxergar a nós mesmos sem a imagem que o outro projetava. São nesses momentos que a vida nos convida a despertar.

Acordar de um sonho, no sentido filosófico, é entender que vivemos imersos em narrativas que criamos ou que nos foram impostas pela sociedade. E ao despertar, vemos que essas histórias não são a verdade última. O processo é, muitas vezes, doloroso, pois abandonar o conforto de uma ilusão pode ser assustador. Contudo, como Sri Ram aponta, só ao atravessar essa dor podemos tocar o verdadeiro significado de liberdade e consciência.

Essa reflexão filosófica nos lembra que, muitas vezes, a vida nos dá pequenos empurrões para acordarmos de nossos sonhos — sejam eles sobre quem achamos que somos ou sobre o que acreditamos que o mundo deve ser. E quando despertamos, um novo horizonte se abre, onde podemos ver as coisas como realmente são, livres dos véus que nos cegavam.


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