Acordar de um sonho é uma metáfora poderosa que atravessa a nossa existência. Quem nunca, ao despertar, carregou por alguns segundos a sensação de que o sonho ainda era real? Essa mistura de confusão e clareza revela algo interessante: o quanto, muitas vezes, vivemos presos a um "sonho" que parece ser realidade, mas que, quando olhamos com mais atenção, se desfaz. E isso vai muito além do sono.
No
dia a dia, somos constantemente levados por sonhos que construímos ao longo da
vida — expectativas sobre quem deveríamos ser, o que devemos conquistar, as
pessoas com quem nos relacionamos. Essas ideias são como camadas de um véu que
cobre a realidade e, às vezes, precisamos "acordar" para perceber que
estamos vivendo uma ilusão.
O
filósofo indiano N. Sri Ram, em suas reflexões sobre a busca pela verdade,
sugere que esse despertar é essencial para que possamos enxergar a realidade
como ela é. Ele afirma que a maioria das pessoas vive em um estado de
semi-consciência, agarradas a noções pré-estabelecidas que limitam o potencial
de viver plenamente. Para ele, a verdadeira liberdade começa quando conseguimos
nos libertar dessas ilusões e reconhecemos a realidade mais profunda e sutil da
vida. Em seu livro O Homem, Deus e o Universo, ele explora essa jornada de
despertar da ilusão, sugerindo que só quando rompemos com o véu do ego e da
mente condicionada é que podemos ter um vislumbre da verdade.
No
cotidiano, esse "despertar" pode acontecer em momentos simples, como
quando enfrentamos uma crise pessoal. Perder um emprego, por exemplo, pode ser
o choque necessário para percebermos que estávamos investindo nossa energia em
algo que não trazia satisfação real. Ou, quem sabe, ao terminar um
relacionamento, temos a oportunidade de enxergar a nós mesmos sem a imagem que
o outro projetava. São nesses momentos que a vida nos convida a despertar.
Acordar
de um sonho, no sentido filosófico, é entender que vivemos imersos em
narrativas que criamos ou que nos foram impostas pela sociedade. E ao
despertar, vemos que essas histórias não são a verdade última. O processo é,
muitas vezes, doloroso, pois abandonar o conforto de uma ilusão pode ser
assustador. Contudo, como Sri Ram aponta, só ao atravessar essa dor podemos
tocar o verdadeiro significado de liberdade e consciência.
Essa
reflexão filosófica nos lembra que, muitas vezes, a vida nos dá pequenos
empurrões para acordarmos de nossos sonhos — sejam eles sobre quem achamos que
somos ou sobre o que acreditamos que o mundo deve ser. E quando despertamos, um
novo horizonte se abre, onde podemos ver as coisas como realmente são, livres
dos véus que nos cegavam.
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