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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Falar por Falar



Gosto muito de ouvir música, e quem não gosta? Estava ouvindo "Palavras ao Vento" de Cássia Eller. A letra fala sobre a frustração com palavras ditas sem sinceridade ou que não correspondem a ações, explorando a ideia de que algumas falas são vazias e não têm impacto real na vida ou nos sentimentos. Esta música reflete sobre a importância de palavras com significado e sobre como falas sem intenção, como "palavras ao vento", podem não ter peso nem valor na vida real, como “falar por falar”, ao ouvir me fez pensar.

“Falar por falar.” Quantas vezes nos pegamos em conversas que não vão a lugar nenhum, palavras que parecem flutuar no ar sem deixar rastro, preenchendo o silêncio apenas porque ele nos incomoda? Seja em uma reunião de trabalho, em uma fila de supermercado ou até em um bate-papo com amigos, o ato de falar pode se tornar automático, vazio de intenção, quase como um reflexo para evitar o desconforto da quietude. Mas será que falar sem pensar, sem propósito, realmente nos conecta com os outros — ou apenas nos mantém na superfície, sem profundidade?

O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em suas reflexões sobre a existência e a autenticidade, nos oferece uma perspectiva interessante. Ele acreditava que a linguagem, assim como muitos outros aspectos da vida moderna, muitas vezes perde seu valor quando usada sem reflexão. Para Kierkegaard, viver de forma autêntica exigia uma consciência do que se diz, uma intenção por trás das palavras, pois, caso contrário, caímos em uma espécie de "fala vazia" que nos distancia da nossa essência e da verdade.

No cotidiano, vemos isso o tempo todo. Há uma pressão sutil para preencher cada momento com palavras, seja em encontros sociais ou no ambiente de trabalho. Quando alguém pergunta "Como você está?" em uma conversa casual, raramente espera uma resposta genuína. Já temos as respostas prontas: "Tudo bem", "Na correria", ou qualquer outra frase de efeito que fecha o assunto sem realmente abri-lo. É falar por falar, sem nos conectarmos de verdade com o outro ou conosco.

Kierkegaard argumentaria que, quando falamos sem intenção ou profundidade, estamos fugindo de uma verdade maior: a de que o silêncio também tem seu valor. Para ele, o silêncio pode ser um espaço de reflexão, onde conseguimos ouvir a nós mesmos e entender melhor o mundo ao nosso redor. O ruído constante das palavras, por outro lado, pode nos distrair dessa introspecção necessária. Ele não estava defendendo o mutismo total, claro, mas a ideia de que devemos falar com propósito, de forma a dar sentido à comunicação e às relações que criamos.

A vida moderna, no entanto, parece nos empurrar para o oposto. Nos dias de hoje, com redes sociais e conversas instantâneas, o "falar por falar" se espalhou em todos os cantos. Compartilhamos frases prontas, opiniões rasas e reações automáticas, muitas vezes sem parar para refletir sobre o que realmente queremos expressar. O filósofo dinamarquês diria que esse comportamento nos afasta da autenticidade, transformando a comunicação em algo superficial.

No cotidiano, é interessante observar como muitas das conversas mais significativas acontecem quando há espaço para o silêncio, quando permitimos que a pausa entre as palavras crie uma abertura para o pensamento genuíno. Já reparou como os momentos mais reveladores em uma conversa podem vir depois de uma pausa, quando alguém está realmente refletindo antes de falar? Nessas horas, o falar deixa de ser apenas uma formalidade e se torna uma ponte para algo mais profundo.

Mas é claro que não dá para eliminar todo "falar por falar". Ele tem sua função. É uma ferramenta social, muitas vezes usada para quebrar o gelo ou evitar constrangimentos. No entanto, quando se torna o modo predominante de comunicação, pode nos impedir de ir além da superfície. Kierkegaard nos convidaria a fazer o exercício de falar com mais consciência, de dizer algo que realmente ressoe com quem somos ou que pelo menos nos conecte de forma mais sincera com o outro.

Então, quando nos encontrarmos prestes a "falar por falar", talvez valha a pena parar e pensar: o que realmente quero expressar aqui? Estou fugindo do silêncio ou estou criando uma conexão real? Afinal, se as palavras têm poder, que usemos esse poder com intenção, e não apenas para preencher o vazio.

Link da música “Palavras ao Vento” com Cássia Eller:

https://www.youtube.com/watch?v=cRoqDFKb17A 

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