A vida tem uma forma curiosa de nos apresentar perguntas que não queremos ou sabemos como responder. É como procurar um par de meias no escuro – você sente que está perto, mas, ao esticar a mão, descobre que é apenas um par de luvas. Recentemente, me peguei pensando no que, afinal, é "inerentemente inencontrável." Algo que, por sua própria natureza, não pode ser encontrado. Será que falamos de um objeto, um estado de espírito, ou até mesmo de nós mesmos?
A
busca pelo inalcançável
Na
filosofia, a ideia de algo que não pode ser encontrado é um tema recorrente.
Para Platão, o "Bem" – aquela perfeição ideal – é algo inalcançável
pelos sentidos. Mesmo que nos esforcemos, só podemos captá-lo de maneira
parcial. Já no existencialismo, figuras como Sartre destacam que, na nossa
busca por sentido, criamos um "eu" idealizado, mas que nunca seremos
de fato. Somos eternamente projetados para algo além de nós, mas nunca o
alcançamos.
Essa
sensação de estar sempre buscando algo que não pode ser encontrado é palpável
no cotidiano. Pense no conceito de felicidade. Ela não é uma coisa que se pega
e guarda no bolso. É mais como um horizonte: conforme nos aproximamos, ele se
move, e lá vamos nós outra vez.
O
paradoxo do encontro
O
inerentemente inencontrável carrega um paradoxo interessante: ele só é valioso
porque não pode ser encontrado. Imagine se houvesse um mapa definitivo para a
"felicidade" ou a "plenitude". Seguiríamos as instruções,
alcançaríamos o destino e, de repente, perderíamos o que dava sabor à busca.
Como dizia o filósofo Checo-brasileiro Vilém Flusser, a vida é feita de
interrogações, e não de respostas prontas. O sentido da existência está no
movimento, não no ponto final.
No
entanto, o que torna algo inencontrável não é necessariamente sua complexidade,
mas o fato de que talvez estejamos procurando no lugar errado. Assim como o
mito da caverna de Platão sugere que vivemos em um mundo de sombras, podemos
estar buscando a verdade ou nós mesmos em reflexos distorcidos da realidade.
Quando
a busca é o próprio encontro
A
ideia do "inerentemente inencontrável" também pode ser vista de uma
forma mais poética. N. Sri Ram, um pensador da tradição teosófica, afirma que a
essência da vida não é algo que podemos captar plenamente com a mente, mas algo
que sentimos em momentos de profundo silêncio interior. Ele argumenta que a
busca em si transforma o buscador; o que parece inencontrável não é algo para
ser "achado," mas algo que nos acha, quando estamos prontos.
No
dia a dia, isso aparece em situações simples: aquela resposta que surge do nada
enquanto lavamos a louça ou um entendimento profundo que floresce após anos de
confusão. O que antes parecia inalcançável se revela quando paramos de procurar
desesperadamente e apenas vivemos.
O
inerentemente inencontrável não é um erro do universo, mas uma parte essencial
de sua estrutura. Ele nos lembra que a vida não é sobre respostas, mas sobre as
perguntas que nos movem. É a busca que nos dá significado, não o destino.
Então, talvez o que devemos fazer não é buscar desesperadamente encontrar algo,
mas nos abrir para sermos encontrados – pela verdade, pelo momento ou por nós
mesmos. Afinal, o que é a vida senão um jogo de esconde-esconde com o infinito?