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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Mais Velhos

Há histórias que, mesmo contadas há séculos, continuam a nos ensinar valiosas lições sobre respeito, sabedoria e a importância das relações familiares. Um desses contos é "O Velho Avô e Seu Neto", dos Irmãos Grimm, que nos leva a refletir sobre como tratamos os mais velhos e como podemos aprender com sua experiência.

Na narrativa, um avô idoso, devido aos tremores das mãos, era frequentemente relegado a comer em um canto da mesa para evitar derramar comida. Seu neto, longe de sentir vergonha ou desdém pela situação do avô, teve uma atitude admirável. Ele não só aceitou a condição do avô com respeito, como também teve uma ideia brilhante: construir um cocho de madeira para que seus pais pudessem usar quando envelhecessem.

Este gesto simples, mas profundamente significativo, nos ensina muito sobre empatia e planejamento para o futuro. Quantas vezes, em nossa vida diária, somos impacientes com os idosos ao nosso redor? Quantas vezes ignoramos suas histórias, suas experiências acumuladas ao longo dos anos? O conto nos lembra que a idade não é apenas um número, mas uma fonte de sabedoria valiosa, que devemos valorizar e respeitar.

No mundo contemporâneo, onde muitas vezes estamos imersos em nossas vidas agitadas e tecnológicas, é fácil esquecer o valor do conhecimento transmitido de geração em geração. Assim como o neto no conto, podemos aprender a reconhecer e honrar a sabedoria dos mais velhos. Podemos encontrar maneiras criativas de aplicar seu conhecimento à nossa vida cotidiana, seja em questões práticas ou em decisões mais complexas.

Imagine, por exemplo, estar enfrentando um problema no trabalho ou em casa. Em vez de buscar apenas soluções imediatas, podemos nos inspirar na paciência e na perspectiva dos mais velhos. Às vezes, a resposta para nossos dilemas pode estar em uma história antiga ou em um conselho sábio que ouvimos em algum momento.

Além disso, o conto nos convida a pensar no cuidado que devemos ter com aqueles que um dia cuidaram de nós. Preparar um "cocho de madeira" para nossos pais ou avós pode não ser literalmente construir um objeto, mas sim demonstrar nosso cuidado e antecipação das necessidades que podem surgir com o tempo.

Em suma, "O Velho Avô e Seu Neto" nos lembra que a verdadeira sabedoria não se mede apenas pelos anos de vida, mas pela maneira como usamos esse tempo para aprender, crescer e cuidar uns dos outros. Que possamos todos encontrar inspiração nesse conto simples e atemporal, e aplicar suas lições em nosso próprio cotidiano, valorizando cada pessoa e sua história única.


sábado, 21 de dezembro de 2024

Massa de Quimera

A ideia de "massa de quimera" evoca uma imagem poderosa: algo moldável, imaginativo, mas que também se dissolve facilmente ao toque da realidade. Como um mito da Grécia Antiga, a quimera é um ser híbrido e impossível, uma junção de partes que não deveriam coexistir. A quimera é um ser híbrido com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente ou dragão, que tem a capacidade de lançar fogo pelas narinas. A palavra vem do grego khímaira,as e significa "monstro extraordinário". 

Transportando essa metáfora para o campo filosófico, podemos refletir sobre como lidamos com nossos sonhos, criações e aspirações que, muitas vezes, parecem igualmente híbridas e inalcançáveis.

O Sonho Como Construção

Desde a infância, somos mestres em criar quimeras internas. Montamos nossos desejos como escultores de barro, com pedaços de histórias, influências culturais e sentimentos. A "massa de quimera" simboliza essa capacidade de imaginar o impossível, de projetar mundos que desafiam a lógica. Mas, como Platão já sugeriu em seu "Mito da Caverna", nem tudo que imaginamos é real, e as sombras que criamos podem ser enganosas.

Por outro lado, a imaginação também é um motor criativo. Sem ela, não haveria avanços na ciência, na arte ou mesmo no cotidiano. Construímos "massas de quimera" para depois tentar dar-lhes forma mais sólida, algo que toque a realidade e se torne significativo.

A Fragilidade do Irreal

Se tudo o que moldamos é feito de uma massa maleável e indefinida, surge a questão: até onde podemos confiar em nossas criações? O filósofo brasileiro Vilém Flusser, ao refletir sobre as imagens técnicas, alerta para o perigo de confundirmos o símbolo com o real. Para Flusser, a tecnologia e a cultura contemporânea criaram uma realidade cada vez mais "quimérica", onde a ficção muitas vezes suplanta a verdade.

Da mesma forma, no nível individual, há sonhos que, quando confrontados com a realidade, desmoronam como castelos de areia. É um lembrete de que nem todas as quimeras são destinadas a sobreviver fora do mundo da imaginação.

A Utilidade do Impossível

Porém, seria um erro descartar a "massa de quimera" como inútil. Se os sonhos são frágeis, também são transformadores. Simone Weil, filósofa francesa, certa vez disse que "o impossível é o único caminho para o possível." A construção de sonhos aparentemente inalcançáveis é o que nos impulsiona a transcender nossos próprios limites.

A massa de quimera, mesmo sendo instável, nos obriga a experimentar, a esculpir e a refazer incessantemente. É uma metáfora para o processo humano de tentativa e erro, para a criação de sentido em um mundo frequentemente caótico.

No Cotidiano: Nossas Pequenas Quimeras

No dia a dia, as quimeras se manifestam em situações triviais. Planejamos uma viagem que nunca acontece, idealizamos relações que não correspondem à realidade, ou até imaginamos versões melhores de nós mesmos que, por vezes, nos escapam. A quimera é tanto uma aspiração quanto uma frustração.

Mas essas pequenas quimeras não são inúteis. Elas dão cor à vida, servindo como faróis que iluminam caminhos, mesmo que nunca os sigamos por completo. Elas nos fazem sonhar, e sonhar é o primeiro passo para criar.

O Equilíbrio Entre Realidade e Ilusão

A "massa de quimera" nos ensina que a vida é feita de paradoxos. Precisamos do impossível para dar sentido ao possível, da imaginação para alimentar a realidade. Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer a fragilidade de nossas criações, para não nos perdermos nelas.

Assim como o escultor que trabalha com argila, moldamos nossas quimeras sabendo que nem todas resistirão ao tempo. Mas, ao final, o que importa não é apenas o produto final, mas o ato de moldar, de criar e de sonhar. Afinal, como já dizia Fernando Pessoa, "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." A massa de quimera, por mais efêmera que seja, é parte essencial dessa jornada.