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sábado, 21 de dezembro de 2024

Massa de Quimera

A ideia de "massa de quimera" evoca uma imagem poderosa: algo moldável, imaginativo, mas que também se dissolve facilmente ao toque da realidade. Como um mito da Grécia Antiga, a quimera é um ser híbrido e impossível, uma junção de partes que não deveriam coexistir. A quimera é um ser híbrido com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente ou dragão, que tem a capacidade de lançar fogo pelas narinas. A palavra vem do grego khímaira,as e significa "monstro extraordinário". 

Transportando essa metáfora para o campo filosófico, podemos refletir sobre como lidamos com nossos sonhos, criações e aspirações que, muitas vezes, parecem igualmente híbridas e inalcançáveis.

O Sonho Como Construção

Desde a infância, somos mestres em criar quimeras internas. Montamos nossos desejos como escultores de barro, com pedaços de histórias, influências culturais e sentimentos. A "massa de quimera" simboliza essa capacidade de imaginar o impossível, de projetar mundos que desafiam a lógica. Mas, como Platão já sugeriu em seu "Mito da Caverna", nem tudo que imaginamos é real, e as sombras que criamos podem ser enganosas.

Por outro lado, a imaginação também é um motor criativo. Sem ela, não haveria avanços na ciência, na arte ou mesmo no cotidiano. Construímos "massas de quimera" para depois tentar dar-lhes forma mais sólida, algo que toque a realidade e se torne significativo.

A Fragilidade do Irreal

Se tudo o que moldamos é feito de uma massa maleável e indefinida, surge a questão: até onde podemos confiar em nossas criações? O filósofo brasileiro Vilém Flusser, ao refletir sobre as imagens técnicas, alerta para o perigo de confundirmos o símbolo com o real. Para Flusser, a tecnologia e a cultura contemporânea criaram uma realidade cada vez mais "quimérica", onde a ficção muitas vezes suplanta a verdade.

Da mesma forma, no nível individual, há sonhos que, quando confrontados com a realidade, desmoronam como castelos de areia. É um lembrete de que nem todas as quimeras são destinadas a sobreviver fora do mundo da imaginação.

A Utilidade do Impossível

Porém, seria um erro descartar a "massa de quimera" como inútil. Se os sonhos são frágeis, também são transformadores. Simone Weil, filósofa francesa, certa vez disse que "o impossível é o único caminho para o possível." A construção de sonhos aparentemente inalcançáveis é o que nos impulsiona a transcender nossos próprios limites.

A massa de quimera, mesmo sendo instável, nos obriga a experimentar, a esculpir e a refazer incessantemente. É uma metáfora para o processo humano de tentativa e erro, para a criação de sentido em um mundo frequentemente caótico.

No Cotidiano: Nossas Pequenas Quimeras

No dia a dia, as quimeras se manifestam em situações triviais. Planejamos uma viagem que nunca acontece, idealizamos relações que não correspondem à realidade, ou até imaginamos versões melhores de nós mesmos que, por vezes, nos escapam. A quimera é tanto uma aspiração quanto uma frustração.

Mas essas pequenas quimeras não são inúteis. Elas dão cor à vida, servindo como faróis que iluminam caminhos, mesmo que nunca os sigamos por completo. Elas nos fazem sonhar, e sonhar é o primeiro passo para criar.

O Equilíbrio Entre Realidade e Ilusão

A "massa de quimera" nos ensina que a vida é feita de paradoxos. Precisamos do impossível para dar sentido ao possível, da imaginação para alimentar a realidade. Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer a fragilidade de nossas criações, para não nos perdermos nelas.

Assim como o escultor que trabalha com argila, moldamos nossas quimeras sabendo que nem todas resistirão ao tempo. Mas, ao final, o que importa não é apenas o produto final, mas o ato de moldar, de criar e de sonhar. Afinal, como já dizia Fernando Pessoa, "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." A massa de quimera, por mais efêmera que seja, é parte essencial dessa jornada.


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