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sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Evanescência da Consciência

A evanescência da consciência é um fenômeno curioso, quase como uma névoa que, ao se dispersar, revela os contornos de algo mais profundo, mais essencial. Essa ideia nos faz pensar em como, muitas vezes, nossa consciência parece flutuar, diluir-se, e quase desaparecer, como se fosse apenas um lampejo passageiro em meio ao fluxo constante da vida. Essa transitoriedade levanta uma questão: o quanto da nossa percepção, do que consideramos "eu", é verdadeiramente estável?

No dia a dia, há muitos momentos em que a consciência parece escorregar de nossas mãos. Pense em situações cotidianas como andar até o supermercado ou dirigir para o trabalho. Estamos fisicamente presentes, mas nossa mente vaga por mil direções diferentes: um problema do trabalho, uma discussão do dia anterior ou até aquela dúvida persistente sobre o futuro. Nesses instantes, nossa consciência está lá, mas ao mesmo tempo, não está. Ela flutua, passa, se esvai, e somos levados por uma maré de pensamentos, sensações e distrações.

O filósofo Henri Bergson tem uma contribuição interessante para essa discussão. Para ele, a consciência é um fluxo contínuo de experiências, uma “duração” (duração real) que não pode ser aprisionada em instantes fixos. É como tentar capturar a água de um rio com as mãos – ela sempre escapa, pois está em constante movimento. Segundo Bergson, nossa tentativa de congelar momentos de consciência é ilusória, pois essa experiência interna está sempre se transformando. Assim, a evanescência da consciência não é uma falha, mas a sua verdadeira natureza.

A ideia de que a consciência é fugaz também nos lembra de momentos em que entramos em estado de fluxo, quando o tempo parece desaparecer e nós nos fundimos com a atividade que estamos realizando. É como se, nesses momentos, a consciência de nós mesmos deixasse de importar; estamos totalmente imersos, seja em uma tarefa criativa, em um exercício físico ou até em uma conversa envolvente. O que resta é apenas a experiência pura.

Há uma metáfora interessante quando pensamos no sono. Dormir é como se nossa consciência desse um salto para longe, apenas para retornar em sonhos ou ao acordar. E, no entanto, entre esses momentos de sono profundo, onde parece que "desaparecemos", a mente continua trabalhando, processando e reorganizando memórias e experiências. Isso reforça a ideia de que a consciência tem sua própria dinâmica, aparecendo e sumindo ao ritmo das necessidades do corpo e da mente.

Essa evanescência também pode ser vista na maneira como lidamos com a passagem do tempo. Com o passar dos anos, certas memórias se tornam difusas, enquanto outras se destacam. A consciência, em sua fragilidade, faz escolhas. Relegamos ao esquecimento o que não parece importante, mas, de vez em quando, uma lembrança quase esquecida retorna como um fantasma, trazendo consigo sensações que pensávamos ter perdido.

A evanescência da consciência nos desafia a pensar na nossa própria existência de maneira diferente. Se a consciência é tão fluida, tão passageira, o que significa "ser"? A resposta talvez esteja na aceitação dessa transitoriedade. A vida não é feita de instantes fixos, mas de um fluxo constante que nos convida a abraçar o movimento. Como Bergson argumenta, a verdadeira riqueza da experiência não está no controle ou na fixação de momentos, mas na aceitação de sua natureza mutável.

O que podemos fazer, então, diante dessa consciência que vai e vem? Talvez a chave esteja em simplesmente viver o agora, abraçar a transitoriedade e aproveitar cada momento, mesmo sabendo que ele, como a própria consciência, logo se tornará uma vaga lembrança. Afinal, na dança entre o presente e o evanescente, é que encontramos a beleza da experiência humana. 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Superlativizando a Instantaneidade

Na sociedade contemporânea, estamos imersos em uma cultura da instantaneidade, onde a pressa parece ser a norma e a espera torna-se uma raridade. Neste turbilhão de velocidade e eficiência, até mesmo a instantaneidade é superlativizada, levando-nos a refletir sobre as implicações desse fenômeno.

Imagine-se em um mundo onde tudo acontece em um piscar de olhos. As informações são transmitidas em tempo real, as respostas são esperadas instantaneamente e as expectativas de produtividade atingem novos patamares. Nesse ambiente frenético, a instantaneidade não é apenas valorizada, é exaltada como o padrão máximo de eficiência.

Para entender melhor essa tendência, podemos olhar para a ascensão da tecnologia digital e das redes sociais. Com a proliferação de smartphones e mídias sociais, estamos constantemente conectados e acessíveis. Mensagens são respondidas em segundos, notícias se espalham em questão de minutos e a demanda por gratificação instantânea é incessante.

No entanto, essa obsessão pela instantaneidade vem com um custo. Perdemos a capacidade de desacelerar, de saborear o momento presente e de nos conectar verdadeiramente com os outros. Estamos sempre correndo para o próximo grande acontecimento, sem pausa para contemplação ou reflexão.

Além disso, a superlativização da instantaneidade pode distorcer nossa percepção da realidade. Esperamos resultados imediatos em todas as áreas de nossas vidas, desde nossas carreiras até nossos relacionamentos pessoais. Essa mentalidade de "tudo agora" pode levar a uma sensação de insatisfação constante e à busca interminável por mais.

Para contrabalançar essa tendência, é importante cultivar a arte da paciência e da contemplação. Devemos aprender a apreciar os momentos de pausa e silêncio, a valorizar a jornada tanto quanto o destino final. Em um mundo onde a instantaneidade é rei, a verdadeira riqueza está em encontrar a beleza na espera e a sabedoria na contemplação.

Portanto, enquanto navegamos nessa era de instantaneidade superlativizada, devemos lembrar que nem tudo pode ser reduzido a um momento fugaz. Algumas coisas - como amor, amizade e crescimento pessoal - requerem tempo, esforço e dedicação. Ao abraçar essa verdade, podemos encontrar um novo equilíbrio entre a rapidez do mundo moderno e a profundidade da experiência humana.