Neste finalzinho de terça-feira, estava pensando nos compromissos de amanhã, pensei cá comigo: "Amanhã, quando chegar o meu agora" é uma frase curta, mas cheia de camadas. Parece paradoxal: como o "agora" pode chegar "amanhã"? Mas é justamente nessa contradição que mora a poesia.
A
gente vive fazendo planos, promessas para o dia seguinte, para segunda-feira,
para o ano que vem, para “quando tudo se ajeitar”. A vida vira um eterno
ensaio. É como se estivéssemos sempre esperando que o nosso verdadeiro momento
chegue. Só que, quando o amanhã se torna hoje, ele ainda parece não ser o agora
certo. Ainda não é o momento ideal, ainda falta alguma coisa.
Talvez
porque o “agora” de verdade não seja uma data no calendário, mas uma disposição
interior. Um instante de presença plena, quando a gente decide que esse é o
momento. Não porque tudo está perfeito, mas porque a gente para de adiar.
Amanhã,
quando chegar o meu agora, pode ser o instante em que deixo de esperar por mim
mesmo.
Como
disse o filósofo Kierkegaard, “a vida só pode ser compreendida
olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente.” Talvez o
nosso agora nunca chegue se a gente continuar o empurrando para amanhã.