A evanescência da consciência é um fenômeno curioso, quase como uma névoa que, ao se dispersar, revela os contornos de algo mais profundo, mais essencial. Essa ideia nos faz pensar em como, muitas vezes, nossa consciência parece flutuar, diluir-se, e quase desaparecer, como se fosse apenas um lampejo passageiro em meio ao fluxo constante da vida. Essa transitoriedade levanta uma questão: o quanto da nossa percepção, do que consideramos "eu", é verdadeiramente estável?
No
dia a dia, há muitos momentos em que a consciência parece escorregar de nossas
mãos. Pense em situações cotidianas como andar até o supermercado ou dirigir
para o trabalho. Estamos fisicamente presentes, mas nossa mente vaga por mil
direções diferentes: um problema do trabalho, uma discussão do dia anterior ou
até aquela dúvida persistente sobre o futuro. Nesses instantes, nossa
consciência está lá, mas ao mesmo tempo, não está. Ela flutua, passa, se esvai,
e somos levados por uma maré de pensamentos, sensações e distrações.
O
filósofo Henri Bergson tem uma contribuição interessante para essa discussão.
Para ele, a consciência é um fluxo contínuo de experiências, uma “duração”
(duração real) que não pode ser aprisionada em instantes fixos. É como tentar
capturar a água de um rio com as mãos – ela sempre escapa, pois está em
constante movimento. Segundo Bergson, nossa tentativa de congelar momentos de
consciência é ilusória, pois essa experiência interna está sempre se
transformando. Assim, a evanescência da consciência não é uma falha, mas a sua
verdadeira natureza.
A
ideia de que a consciência é fugaz também nos lembra de momentos em que
entramos em estado de fluxo, quando o tempo parece desaparecer e nós nos
fundimos com a atividade que estamos realizando. É como se, nesses momentos, a
consciência de nós mesmos deixasse de importar; estamos totalmente imersos,
seja em uma tarefa criativa, em um exercício físico ou até em uma conversa
envolvente. O que resta é apenas a experiência pura.
Há
uma metáfora interessante quando pensamos no sono. Dormir é como se nossa
consciência desse um salto para longe, apenas para retornar em sonhos ou ao
acordar. E, no entanto, entre esses momentos de sono profundo, onde parece que
"desaparecemos", a mente continua trabalhando, processando e
reorganizando memórias e experiências. Isso reforça a ideia de que a
consciência tem sua própria dinâmica, aparecendo e sumindo ao ritmo das
necessidades do corpo e da mente.
Essa
evanescência também pode ser vista na maneira como lidamos com a passagem do
tempo. Com o passar dos anos, certas memórias se tornam difusas, enquanto
outras se destacam. A consciência, em sua fragilidade, faz escolhas. Relegamos
ao esquecimento o que não parece importante, mas, de vez em quando, uma
lembrança quase esquecida retorna como um fantasma, trazendo consigo sensações
que pensávamos ter perdido.
A evanescência da consciência nos desafia a pensar na nossa própria existência de maneira diferente. Se a consciência é tão fluida, tão passageira, o que significa "ser"? A resposta talvez esteja na aceitação dessa transitoriedade. A vida não é feita de instantes fixos, mas de um fluxo constante que nos convida a abraçar o movimento. Como Bergson argumenta, a verdadeira riqueza da experiência não está no controle ou na fixação de momentos, mas na aceitação de sua natureza mutável.
O que podemos fazer, então, diante dessa consciência que vai e vem? Talvez a chave esteja em simplesmente viver o agora, abraçar a transitoriedade e aproveitar cada momento, mesmo sabendo que ele, como a própria consciência, logo se tornará uma vaga lembrança. Afinal, na dança entre o presente e o evanescente, é que encontramos a beleza da experiência humana.
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