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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Tempo Perdido

Não era mais o mesmo. Quem nunca sentiu isso? Em algum momento, a gente se pega refletindo sobre quem éramos e quem nos tornamos, como se houvesse uma quebra entre o antes e o agora. Parece que certas experiências, decisões ou até mesmo os dias comuns moldaram algo fundamental dentro de nós. Talvez seja a maturidade que chegou, ou quem sabe, apenas o peso da rotina. O que é certo é que, de alguma forma, nos tornamos estranhos a nós mesmos. Me flagrei pensando sobre isto enquanto ouvia a música “Tempo Perdido”, da banda Legião Urbana, Renato Russo fala sobre a passagem do tempo e como, ao longo dos anos, as pessoas mudam e evoluem, refletindo o sentimento de não ser mais o mesmo. A canção lida com as inevitáveis transformações da vida e a percepção de que o tempo nos molda, trazendo essa noção de que estamos em constante mudança.

Link da música no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=tI9kSZgMLsc

Vamos pensar em algo bem cotidiano. Lembra daquela época em que você não conseguia sair de casa sem arrumar cada detalhe do visual, ou fazia questão de ter a última palavra em uma discussão? E hoje, você se pega saindo de chinelo para ir ao mercado, sem se importar com o que os outros pensam, ou simplesmente deixa o outro falar, percebendo que não vale a pena discutir. Não era mais o mesmo.

Esse sentimento de mudança, de deslocamento interno, é uma sensação que muitos filósofos já discutiram. Heráclito, por exemplo, nos lembra que "ninguém se banha duas vezes no mesmo rio." Isso porque, assim como o rio, nós estamos em constante movimento. O rio flui, muda, e mesmo que tentemos entrar nas mesmas águas, elas já não são as mesmas. Da mesma forma, a pessoa que fomos ontem já não é a mesma hoje. Nossas experiências, emoções, pensamentos – tudo isso é dinâmico.

É curioso observar como pequenos detalhes do dia a dia mostram essas mudanças. Sabe aquela amizade que você cultivou por anos e que, de repente, não parece mais fazer tanto sentido? Ou aquele trabalho que antes te desafiava e agora parece apenas uma sequência de tarefas automáticas? Nesses momentos, percebemos que crescemos, mudamos e que talvez o mundo ao nosso redor não acompanhou esse ritmo. Ou quem sabe, fomos nós que tomamos um caminho diferente.

Schopenhauer, com seu pessimismo filosófico, diria que essa transformação é parte do sofrimento inerente à vida. Ele acreditava que, em nossa busca incessante por realização e sentido, acabamos inevitavelmente nos desapontando com as realidades do mundo. O "não ser mais o mesmo" seria, então, a constatação de que a vida não cumpre as promessas que um dia pensamos que ela faria. Mas há beleza nisso também. É nesse desencontro entre o que esperávamos e o que recebemos que crescemos, nos tornamos mais resilientes, mais complexos.

E, se a gente for um pouco mais longe, dá para pensar em Nietzsche. Ele acreditava que as mudanças em nós não deveriam ser vistas com melancolia, mas como parte da nossa potencialidade. Ele fala sobre o conceito de "eterno retorno" – a ideia de que a vida é cíclica, e que devemos abraçar cada mudança e cada versão de nós mesmos como algo necessário para a nossa evolução. Ou seja, não era mais o mesmo, e isso é bom! Faz parte do processo de se reinventar.

Então, quando perceber que não é mais o mesmo – seja ao tomar decisões diferentes, rever antigas paixões, ou até na maneira de encarar o mundo – talvez seja hora de celebrar. Afinal, é um sinal de que a vida está em movimento, que você está crescendo. Como Heráclito disse, não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, e ainda bem que não podemos.