Não era mais o mesmo. Quem nunca sentiu isso? Em algum momento, a gente se pega refletindo sobre quem éramos e quem nos tornamos, como se houvesse uma quebra entre o antes e o agora. Parece que certas experiências, decisões ou até mesmo os dias comuns moldaram algo fundamental dentro de nós. Talvez seja a maturidade que chegou, ou quem sabe, apenas o peso da rotina. O que é certo é que, de alguma forma, nos tornamos estranhos a nós mesmos. Me flagrei pensando sobre isto enquanto ouvia a música “Tempo Perdido”, da banda Legião Urbana, Renato Russo fala sobre a passagem do tempo e como, ao longo dos anos, as pessoas mudam e evoluem, refletindo o sentimento de não ser mais o mesmo. A canção lida com as inevitáveis transformações da vida e a percepção de que o tempo nos molda, trazendo essa noção de que estamos em constante mudança.
Link
da música no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=tI9kSZgMLsc
Vamos
pensar em algo bem cotidiano. Lembra daquela época em que você não conseguia
sair de casa sem arrumar cada detalhe do visual, ou fazia questão de ter a
última palavra em uma discussão? E hoje, você se pega saindo de chinelo para ir
ao mercado, sem se importar com o que os outros pensam, ou simplesmente deixa o
outro falar, percebendo que não vale a pena discutir. Não era mais o mesmo.
Esse
sentimento de mudança, de deslocamento interno, é uma sensação que muitos
filósofos já discutiram. Heráclito, por exemplo, nos lembra que "ninguém
se banha duas vezes no mesmo rio." Isso porque, assim como o rio, nós
estamos em constante movimento. O rio flui, muda, e mesmo que tentemos entrar
nas mesmas águas, elas já não são as mesmas. Da mesma forma, a pessoa que fomos
ontem já não é a mesma hoje. Nossas experiências, emoções, pensamentos – tudo
isso é dinâmico.
É
curioso observar como pequenos detalhes do dia a dia mostram essas mudanças.
Sabe aquela amizade que você cultivou por anos e que, de repente, não parece
mais fazer tanto sentido? Ou aquele trabalho que antes te desafiava e agora
parece apenas uma sequência de tarefas automáticas? Nesses momentos, percebemos
que crescemos, mudamos e que talvez o mundo ao nosso redor não acompanhou esse
ritmo. Ou quem sabe, fomos nós que tomamos um caminho diferente.
Schopenhauer,
com seu pessimismo filosófico, diria que essa transformação é parte do
sofrimento inerente à vida. Ele acreditava que, em nossa busca incessante por
realização e sentido, acabamos inevitavelmente nos desapontando com as
realidades do mundo. O "não ser mais o mesmo" seria, então, a
constatação de que a vida não cumpre as promessas que um dia pensamos que ela
faria. Mas há beleza nisso também. É nesse desencontro entre o que esperávamos
e o que recebemos que crescemos, nos tornamos mais resilientes, mais complexos.
E,
se a gente for um pouco mais longe, dá para pensar em Nietzsche. Ele acreditava
que as mudanças em nós não deveriam ser vistas com melancolia, mas como parte
da nossa potencialidade. Ele fala sobre o conceito de "eterno
retorno" – a ideia de que a vida é cíclica, e que devemos abraçar cada
mudança e cada versão de nós mesmos como algo necessário para a nossa evolução.
Ou seja, não era mais o mesmo, e isso é bom! Faz parte do processo de se
reinventar.
Então,
quando perceber que não é mais o mesmo – seja ao tomar decisões diferentes,
rever antigas paixões, ou até na maneira de encarar o mundo – talvez seja hora
de celebrar. Afinal, é um sinal de que a vida está em movimento, que você está
crescendo. Como Heráclito disse, não podemos nos banhar duas vezes no mesmo
rio, e ainda bem que não podemos.