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sexta-feira, 9 de julho de 2021

Resenha do Livro “A Morte de Ivan Ilitch” de Liév Tolstói

O autor do Livro “A Morte de Ivan Ilitch” é o renomado escritor russo Liév Tolstói ou mais conhecido em português por Leon Tolstói (1828-1910), profundo pensador social e moral é considerado um dos mais importantes autores da narrativa realista. Realista porque consegue mostrar toda a fragilidade do ser humano, muitas vezes ele choca pela forma como expressa a brutal realidade, suas obras nos fazem analisar a importância de nossos valores e nos conscientiza que eventualmente estejamos vivendo e passando pelos mesmos dramas, por esta razão a leitura de suas obras se tornam importantes e mais interessantes, além de ser muito atual, elas quando tratam do tema da morte o tratam como um elemento catártico.

Nasceu em 1828, em uma família aristocrática, Tolstói é conhecido pelos romances Guerra e Paz (1869) e Anna Karenina (1877), muitas vezes citados como verdadeiros pináculos da ficção realista. Ele alcançou aclamação literária ainda jovem, primeiramente com sua trilogia semi-autobiográfica, Infância, Adolescência e Juventude (1852-1856) e por suas Crônicas de Sebastopol (1855), obra que teve como base suas experiências na Guerra da Crimeia. A ficção de Tolstói inclui dezenas de histórias curtas e várias novelas como A Morte de Ivan Ilitch (1886), Felicidade Conjugal (1859) e Hadji Murad (1912). Ele também escreveu algumas peças e diversos ensaios filosóficos.


Depois de ler O Mundo como Vontade e Representação do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, Tolstói converteu-se gradualmente à moral ascética. Para ele, esse seria o caminho espiritual ideal a ser traçado pela alta-classe.

Nas palavras de Tolstói: “Estou convencido de que Schopenhauer é o mais genial dos homens. (…) Ao lê-lo não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes, de que há quase só idiotas no mundo.”

No capítulo VI de A Confissão, Tolstói citou o último parágrafo do trabalho de Schopenhauer. Nele, Schopenhauer explica como o nada que resulta da completa "negação de si mesmo" é apenas um nada relativo, e, portanto, não deve ser temido. O romancista ficou impressionado com a descrição da renúncia ascética cristã, budista e hindu como o caminho da santidade. Depois de ler essas passagens, que são abundantes nos capítulos éticos de Schopenhauer, o nobre russo escolheu a pobreza e a negação formal da vontade:

“Já encontramos um caminho para o ascetismo, ou negação do querer propriamente dito, entendendo eu por tal expressão precisamente aquilo que o Evangelho chama renunciar a si mesmo e levar a própria cruz (Mateus XVI). Tal caminho se acentuou sempre mais e deu origem aos penitentes, aos anacoretas e ao estado monacal, que, puro e santo primeiro, e, portanto, fora de proporção com a natureza da maior parte dos homens, não podia conduzir senão à hipocrisia e à abominação, porque abusus optimi, pessimus (torna-se péssimo o abuso do ótimo). Desenvolvendo-se o cristianismo, vemos este embrião ascético germinar e atingir o florescimento nos escritos dos santos e dos místicos cristãos. Estes, além do mais puro amor, pregam a resignação absoluta, a pobreza voluntária, a verdadeira calma, a completa indiferença pelas coisas da terra, o dever de morrer para a vontade e de renascer em Deus, o olvido total da própria pessoa para a absorção na contemplação do Senhor.”

"Assim, Sidarta Gautama nasceu um príncipe, mas voluntariamente passou a viver como mendigo; e Francisco de Assis, o fundador das ordens mendicantes que, foi criado numa redoma, e poderia escolher dentre qualquer filha de qualquer nobre. No entanto, quando lhe fora perguntado 'Agora, Francisco, você não vai fazer sua escolha agora dessas beldades?' ele: 'Eu fiz uma escolha muito mais bonita!' 'Qual?' 'La povertà (a pobreza)': depois disso ele abandonou tudo e perambulou pela terra como um mendicante."

Eis algumas obras de Tolstói:

  • Infância (1852)
  • Adolescência (1854)
  • Juventude (1856)
  • Felicidade Conjugal (1859)
  • Os cossacos (1863)
  • Guerra e Paz (1869)
  • Anna Karenina (1877)
  • A Morte de Ivan Ilitch (1886)
  • A Sonata a Kreutzer (1889)
  • O Diabo (1889)
  • Ressurreição (1899)
  • Falso Cupom (1904)
  • Hadji Murat (1904)


Então, vamos falar da obra objeto desta resenha o livro A Morte de Ivan Ilitch, esta obra mergulha na turbulência de nosso interior, lá existe uma forte luta de forças internas onde habita a angustia de se viver entre a vida e a morte sentida muito próxima, o livro é um retrato muito realista dessa angustia de se viver e morrer, pressentindo o desenlace muito próximo ele faz analises e passa a examinar a vida que levou, o drama é intensificado pelo combate a uma doença terminal subjugando-o e extraindo suas forças e a própria vontade de viver.

É um livro curto, trata-se de uma pequena novela de 80 páginas, a história acompanha a trajetória de vida e que levou à morte de Ivan Ilitch. Ivan é um burocrata, um juiz que viveu uma vida bem dentro de um padrão esperado na sua época, seu lema era ter uma vida “leve, agradável, alegre e sempre decente e aprovada pela sociedade”: formou-se em direito, progrediu em cargos nos empregos que ocupou, casou-se não por amor, mas por achar que era o que a sociedade aprovaria e era isto o melhor a fazer, teve filhos e comprou uma casa. Enquanto decorava sua nova sala de estar, Ivan leva um escorregão e bate com as costas em uma quina, não levando a sério as consequências que o acidente lhe poderia ter causado. Achando que fora somente um acidente leve, continua com suas rotinas diárias normalmente, o acidente nos sugere que seja este o causador da doença inexplicável.

Diante da morte iminente, Ivan é confrontado e tem que encarar sua própria fragilidade, assim como ele, que achava que a morte era algo distante e intocável, agora a vê batendo a sua porta, a maioria das pessoas também pensam como ele. Um dos seus conflitos era ver seus familiares seguindo a vida de certa forma normal, aparentemente vividos e sem preocupar-se ou sensibilizar-se com seu drama, ele esperava que seus familiares fossem mais atenciosos com ele, ele encontra apoio apenas em Guerrássim, o humilde copeiro, que passa horas conversando com o enfermo e tratando-o como ele realmente é: uma pessoa, que cuida dele como a um doente terminal, um moribundo, que o trata como igual, sem escalas sociais, que limpa as suas fezes sem reclamar ou fazer ares de nojo, ele é o como um representante dos humildes trabalhadores, que na sua simplicidade são mais sábios e humanos. As vezes encontramos nos estranhos o apoio que mais precisamos nos momentos mais frágeis de nossas vidas!

As reflexões de Ilitch são reflexões que atingem a todos os seres humanos, ela é de cunho global, porque são dúvidas e sofrimentos naturais a qualquer um que esteja vivo, encaráramos nossa própria fragilidade quando estamos perto de nossa morte ou da morte de alguém próximo a nós, o enfrentamento é tão terrível que inventamos desculpas para fugir deste tipo de reflexões, pois estamos sempre muito ocupados com as coisas dos vivos: estudos, emprego, compra da casa, viagens, família e até a reforma na sala de estar.

“Eu não existirei, então o que existirá? Não existirá nada. Então onde estarei, quando eu não existir? Será a morte? Não, não quero.” Pg. 47

A morte dele chega justamente quando está no cume de sua ascensão, isto é, está bem empregado, com bom salário, as boas funções, a estima social e jurisdição adequadas para a sua posição na sociedade, tudo acontece muito rápido, a doença lhe vai consumindo toda sua vitalidade, só ele tem consciência da gravidade da doença, as pessoas a sua volta o tratam apenas como um doente fazendo tratamento, e isso o irrita e deprime profundamente, a família próxima fisicamente, mas distante afetivamente, sem falar nos diagnósticos dos médicos e sua forma de tratar como apenas mais um caso, um corpo nada mais do que isso, numa frieza, sem dialogo, apenas diagnósticos insatisfatórios.

O livro nos permite ter contato com a luta derradeira e seus movimentos dentro da consciência, é um diálogo com ele mesmo, ele deixa claro sua concepção de morte e ao mesmo tempo nos faz pensar a respeito de valores e convenções sociais, convenções sociais que atribuímos valores irreais e a partir disto escolhemos a nossa maneira equivocada de viver, nos faz um alerta para não deixarmos este tipo de revisão de vida somente para o final da caminhada quando já é tarde demais para fazer mudanças, antes de tudo nos faz pensar a respeito do que seja realmente importante buscar nesta vida, é um livro impressionante.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Resenha do livro “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo

O romance "O Cortiço" é um romance naturalista publicado em 1890 por Aluísio de Azevedo (1857-1913), a história do romance gira em torno da vida de um cortiço carioca, o cortiço é o personagem principal. Esclarecendo: um cortiço são casas que servem de habitação coletiva de baixa qualidade para população pobre, ou também chamada de casa de cômodos, vulgarmente denominada cabeça de porco.

O autor Aluísio Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão em 14 de abril de 1857. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes, foi caricaturista, escritor, romancista, contista e até peças de teatro também escreveu. Foi ele que inaugurou o naturalismo no Brasil. Suas principais obras são: O Cortiço, Casa de pensão e O mulato.

O cortiço da obra de fato existiu e foi objeto de inspiração do autor, o cortiço foi construído no século XIX, estava localizado próximo a entrada do atual morro da providência no Rio de Janeiro, nesta época o Rio de janeiro era a sede do império e se encaminhava para a modernidade. O romance acompanha o crescimento urbano da época, percebe-se a ascensão social de alguns trabalhadores e a pobreza causada por injustiças e exploração do capitalismo, é uma severa crítica social, denunciando os preconceitos raciais e a exploração do homem pelo homem.

O Cortiço é como um organismo vivo, ele é humanizado, ele ao abrir as portas é como o abrir dos olhos, mostrando haver uma organicidade, pois vemos o coletivo sendo mais valorizado que o individual, é um local de vida e passagem de pessoas pobres oriundas de lugares muito distintos que se misturam e tentam viver seus dramas e suas alegrias, são pessoas de uma classe social pobre enfrentando as necessidades de sobrevivência, são pessoas retratadas de forma miserável vivendo num ambiente miserável, é uma obra de luta, resiliência e injustiça.

O autor escreveu o romance exacerbando os defeitos de cada personagem, a intenção era de trazer à tona os problemas sociais da época, ele brilhantemente utilizou o naturalismo exacerbado generalizando casos excepcionais psicofisiológicamente ou de miséria irremediável, a linguagem em alguns momentos choca pelo realismo ainda tão atual.

O cortiço faz parte do movimento naturalista, naturalismo é um movimento que veio da Europa, no Brasil este é o grande livro do naturalismo brasileiro, penso que realmente haja uma exacerbação, porem a exacerbação foi necessária para fazer uma grande crítica social e ao capitalismo, quem leu este livro como obrigação para fins de vestibular ou Enem, provavelmente leu apenas os resumos orientados para este fim, então não leu a obra, só viu do que se tratava, agora quando se lê mais velho ou se lê atentamente, pega gosto e quer ler sem parar, e é quando se tem o verdadeiro entendimento da mensagem, vemos o Brasil do século XIX muito parecido com o Brasil do século XXI, o que mudou foi só a tecnologia, as mazelas são as mesmas, ou pior!

Conforme a concepção naturalista (uma tendência do realismo), o ser humano se torna o que o meio determina, o ser humano mais forte é o que sobrevive, a ciência é o meio mais importante e seguro para a obtenção de conhecimento, os valores burgueses são criticados e o comunismo é defendido, enfim, a obra também é uma representação de idéias.

Os personagens que viviam em habitações de baixa qualidade são animalizados, obviamente ligados a características animais, nesta obra há uma inversão, enquanto o cortiço recebe características humanas, os personagens são zoomorfizados, ou seja, retratados simplesmente como animais, comparando moradores a vermes em dejetos, realmente é chocante como o autor retira o véu da prepotência e da suposta superioridade.

Há uma retratação do brasileiro como um ser que é inferior aos portugueses, os brasileiros são retratados como preguiçosos, vagabundos, inferiores, cheios de vícios, os moradores do cortiço são mulheres da vida, mendigos, bandidos aproveitadores e para amenizar isto tudo são alegres, tudo retratado como um microcosmos. A obra também e principalmente esta permeada pelo determinismo, são pessoas vivendo num ambiente miserável que terão um fim miserável. Inclusive aquele meio contamina até as pessoas que eram de bem, tal qual o Jeronimo que mudou de um bom chefe de família e trabalhador, passando para ser um assassino, abandonando a família, pois segundo a teoria do determinismo o meio, a raça e a história determinam o caráter das pessoas. Percebe-se que muitos personagens da obra são determinados pelo meio e se entregam aos vícios, ao adultério e à ganância.

Nesta obra, os portugueses são retratados como superiores, sérios, ambiciosos, esforçados, querem acumular dinheiro, mas também são tristes. Já os brasileiros retratados como sensuais, preguiçosos e alegres. O Brasil é descrito com exuberância na paisagem natural, mas também apresenta paisagens que propiciam a decadência do ser humano, como o cortiço e seus habitantes que formam a comunidade, por exemplo. O termo abrasileirar é um termo usado de maneira negativa, pejorativa, pois os portugueses que foram abrasileirados significaram terem decaidos moralmente, mesmo as pessoas de boa intenção, como por exemplo o personagem chamado Jerônimo que se apaixonou por Rita Baiana, ele era um português correto, mas por ter vindo morar no Brasil e especificamente no cortiço, tornou-se vagabundo, preguiçoso, cachaceiro e até assassino.

O romance retrata um ambiente de promiscuidade, capaz de contaminar quem se aproximar dele. Sob esse cenário, o leitor acompanha a ascensão econômica e social do inescrupuloso João Romão, que é um português, malandro e desonesto, ficou assim vendo que trabalhando honestamente não conseguia prosperar, resolveu atalhar por caminhos desonestos, desleais e desumanos.

Os personagens principais do “O Cortiço” são:

João Romão: Malandro desonesto. Trata-se de um português que veio para o Brasil e conseguiu certa prosperidade explorando, e se aproveitando deles, e até matando.

Bertoleza: Escrava quitandeira que morava com João Romão e que foi enganada por ele, representa o ápice da exploração e abuso que um ser humano é submetido.

Miranda: Principal opositor a João Romão, também português. Possuía mais status e era invejado, tornou-se Barão o que João Romão desejava.

Rita Baiana: Representando a típica mulher brasileira na concepção do autor, é a que promovia os sambas no Cortiço e se sensualizava, foi o amor e amante de Jerônimo.

Jerônimo: Trabalhador português que conseguiu emprego na pedreira de João Romão, em princípio era um exemplo de seriedade e honestidade.

Firmo: Mulato inicialmente era amante por Rita Baiana, capoeirista.

Piedade: Mulher de Jerônimo, típica representação europeia.

João Romão, é um português que chega ao Brasil procurando uma vida melhor e acaba se tornando funcionário na venda de outro português. Seu salário quase sempre chegava atrasado e ele vivia na miséria, contudo, o português que era o dono da venda onde Romão trabalhava, resolve voltar definitivamente para Portugal, deixando para ele como forma de pagamento, a própria venda. Ele vê nisso uma oportunidade de crescimento, então como ele era desonesto, e queria ganhar dinheiro a qualquer custo, tomou iniciativas nada recomendáveis, ele conheceu uma escrava chamada Bertoleza e resolveu se aproveitar dela fingindo ajudá-la.

Bertoleza cuidava das vendas de uma quitanda e resolveu confiar cegamente em Romão. Juntos eles trabalharam duramente juntaram dinheiro que fica na guarda dele, e ele com a desculpa de que compraria a alforria dela, fica com tudo o que ela já havia juntado anteriormente, no entanto ele usa o dinheiro dela para outro fim, não comprou a alforria dela, mas comprou um grande terreno onde foram construídas casas (cortiço) para serem alugadas para os pobres.

Então o projeto de João Romão é colocado em pratica é quando surge o cortiço, João Romão com visão de negócios, ambicioso que era, até mesmo comprou uma pedreira próxima ao seu terreno para de lá retirar o material de construção a ser usado nessas casas.

No cortiço viviam mulheres da vida, mendigos, aproveitadores, bandidos e similares, mas também pessoas de bem que foram sendo corrompidas, ou seja, o local era habitado por pessoas de índole má, questionável e também por boas pessoas, era de fato um ambiente muito diversificado.

João Romão também queria obter fama como seu adversário Miranda, ele disputa o título de barão com um burguês que tem um palacete ao lado do cortiço, chamado Miranda, e perde. Após a derrota, a ideia que ele teve foi a de se casar com a filha de Miranda.

As histórias de cada um dos personagens são muito vivas e surpreendentes, cheios de problemas e defeitos, por exemplo à situação de Bertoleza era muito delicada, ela pensava que seu amigo e amante João Romão havia comprado sua alforria, se decepcionou a ponto de tirar a própria vida, pois João Romão já lhe via como um impedimento aos seus interesses, ele denuncia como escrava fugida e ela vivendo no fundo da depressão por sua situação indigna e sem melhores perspectivas, usa a mesma faca que usava para limpar peixes, se mata ao perceber que também havia sido enganada.

Filme disponível no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=USdxKiALLi0

A leitura demonstra a história de personagens que são maus continuam sendo maus, e os que são bons, quando não se corrompem não se dão bem. Percebem alguma semelhança em nossa atualidade?

O livro é realmente uma bela obra e se torna uma leitura obrigatória por sua importância na literatura nacional e internacional, é uma crítica social de extrema relevância.

Fonte: Azevedo, Aluísio. O cortiço. – 3.ed.-Jandira, SP: Principis, 2019

sábado, 3 de julho de 2021

A importância da autoestima na sociedade do like


Compreender é o começo da aprovação, este é das dicas de Baruch Espinoza, e Platão que também tem algo a nos dizer (sempre tem, ele nunca se cala, basta ter ouvidos) nos diz que o começo é a metade do todo. Portanto começamos perguntando por que as pessoas oscilam entre a baixa e a auto estima, algumas praticamente vivem lutando contra a baixa estima, basta um olhar, basta um comentário e lá se vai a autoestima e em consequência a autoconfiança, afetando diretamente seu humor, seus relacionamentos, sua vida.

A resposta para muita gente está naquilo que aconteceu no passado de cada um, os acontecimentos em sua vida podem ter seu motivo em sua criação e convívio familiar, algum fato que o tenha afetado traumaticamente, alguns fatos aparentemente inocentes marcam fundo e vez e outra retornam a nossa lembrança, algum fato atual dispara um gatilho em nosso subconsciente e traz a tona sensações de pessimismo, tudo isto influencia no desenvolvimento da nossa autoestima, e é claro, sabemos de antemão que não é só isso que determina a auto estima, temos a cada momento presente de nossas vidas a oportunidade de melhorá-la.

A resposta de uma autoestima equilibrada, ou seja, uma boa estima, é resultado de nosso autoconhecimento, precisamos mergulhar em nós mesmos, o momento do mergulho não depende do tempo bom e mar calmo, depende mais de coragem em mergulhar e encarar os fantasmas, porque só mergulhando teremos consciência dos nossos pontos positivos e negativos – estes pontos algumas vezes poderão ser melhorados, outros não, e tudo bem, continuaremos tentando, afinal a vida é um longo processo, morremos pensando que ainda estamos inacabados, sempre se tem a impressão de termos feito algo a mais.

Uma coisa que atualmente chateia muita gente é o comentário que desagrada, ou até a falta de comentário, a falta de um gostei, a falta de uma curtida naquela foto que postei, mais do que nunca as pessoas estão dependentes do olhar e julgamento do outro, no entanto, quando julgam e falam aquilo que não gostaram, pronto, lá se foi a autoestima e a autoconfiança.

Lembro de um diálogo numa obra de Platão: Alguém dizia a Platão: “Todo mundo fala mal de vós”. “Deixai-os falar”, respondeu, “viverei de modo a fazê-los mudar de linguagem.”; Platão como alguém com autoestima, respondeu com sua autoconfiança, respondeu com propriedade levando em conta o conselho de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, esta é a grande sacada válida até hoje para qualquer ser humano.

As vezes é bom ouvirmos de alguém sua impressão a nosso respeito, nosso narcisismo as vezes atrapalha nossa boa estima e nos cega pelo orgulho negativo, o narcisismo é jogo do eu no outro, eu reflexo do outro que se vê no eu do outro que se vê ainda replicado no olhar daquele outro eu…, neste jogo incessante quase ao infinito, o narcisista pensa que ele seja o dominador, minha identidade precisa estar bem definida e a identidade do outro respeitada, para pensarmos em como nossa identidade é determinada pelo olhar do outro. Somos, a um só tempo, espelho e reflexo para / do outro. A autoestima depende claramente de meu autoconhecimento, depende de minha leitura acerca de minha identidade, é a minha identidade que me projetara ao mundo e também é minha identidade que se bem resolvida estará preparada para aquilo que retornar em minha direção, coisas boas, ruins, agradáveis ou desagradáveis.

Uma boa caminhada sempre nos revigora e energiza, permite que nossa mente esteja mais receptiva, aberta e oxigenada, a caminhada as vezes é necessária a trilhar alguns caminhos onde revisitaremos momentos quem erramos e nos envergonhamos, a jogada é procurar relacionar com sua história e atuais possibilidades, se perdoar por aquilo que fez, não repetir o erro, só assim a jogada dá certo, se livrar da culpa e das crenças limitantes é um passo importante, talvez não consiga sozinho, então procure alguém especializado, como um psicólogo por exemplo. Vencer as impressões de inadequações como física, intelectual e por julgamento dos outros, talvez precise de alguém para lhe ajudar a enxergar melhor e auxiliar na mudança de pensamento e atitudes.

Como por exemplo quando muito jovem, criança, sofria bullyng por usar óculos e o mote era me chamar de quatro olho, ora, no começo estranhei (o diferente sempre incomoda o outro), me incomodei, mas através da sabedoria de minha mãe com sua psicologia da vida, me fez uma pergunta que resolveu meu problema de aceitação, ela me perguntou se eu era ou não era quatro olho, minha resposta foi sim, então ela disse te aceita quatro olho e tudo se resolve, de fato tudo se resolveu, comecei a rir junto a eles e tudo se encaixou, o fato não me incomodou mais, e eles abandonaram o mote, e eu sai ganhando, aprendi a me conhecer deste cedo.

Atitudes são ações no presente que repercutirão no seu futuro, ser positivo, ter iniciativa, boa vontade, pensar que as coisas darão certo, rir sozinho, repetir para você mesmo que você está trabalhando para melhorar e está melhorando o impulsionará para uma boa estima. Uma dica, saia de perto, tão logo possa, de pessoas ou ambientes que te colocam para baixo e não tente mais se ajustar a um padrão de expectativas dos outros, porque isso é trair quem você é. Em vez disso, pense que todos já foram rejeitados por algum motivo, e que quem te ama de verdade te aceita como você é.

Montaigne é o incrível filósofo do século XVI que é muito atual, vamos dar ouvidos a ele, ele já dedicou uma boa parcela de sua vida para pensar a respeito dos problemas da vida, ele não apontou somente os problemas, ele deu algumas soluções para superar essas inadequações e ter uma boa estima que é uma alta autoestima e, em síntese, o que ele ensina é o seguinte: Aceitar-se como se é, com suas peculiaridades, características, aparência, limitações e valorizar cada parte sua, que faz ser quem você é! Eu diria um pouco mais, aquilo que puder melhorar, melhore, afinal somos seres humanos em processo de formação, porém é como Montaigne diz o primeiro passo é “aceitar-se como se é”.

Montaigne tinha uma visão realista e livre, ele enxergou que as causas da inadequação e da baixa autoestima têm relação com o comportamento massificado e a necessidade de aprovação do ser humano, ele estava além de seu tempo, atualmente as redes sociais nos prendem e aprisionam, tanto quanto a gravidade que mantém tudo preso a crosta terrestre, um tem solução o outro é a lei física da gravidade e é uma lei.

Aprenda a gostar de si mesmo, aprenda a gostar de sua própria companhia!