Sábado à tarde, sentado na cafeteria, observo o movimento ao redor. Pessoas vêm e vão, conversas se entrelaçam, risos e olhares se cruzam. Em meio a esse cenário, reflito sobre a solidão e o amor — mais especificamente, sobre Eros em solidão.
Eros, o deus grego do amor e do desejo, é
frequentemente retratado como uma força que une, que liga indivíduos em busca
de intimidade e conexão. Porém, e quando Eros se encontra sozinho? Como ele
lida com a ausência daquilo que deveria buscar incessantemente?
A solidão, muitas vezes, é vista como a antítese do
amor. Mas, paradoxalmente, é na solidão que muitos encontram o verdadeiro
sentido de Eros. A busca pelo amor começa dentro de nós, no espaço silencioso e
introspectivo da solidão. É nesse estado que entendemos nossos desejos, anseios
e o que realmente procuramos no outro.
Penso na frase de Rainer Maria Rilke: "O amor
consiste em que duas solidões se protejam, se toquem e se saúdem." Rilke
sugere que a verdadeira conexão amorosa nasce quando duas pessoas, conscientes
de suas próprias solidões, se encontram e respeitam essa individualidade.
Assim, Eros em solidão não é um estado de desespero, mas um momento de
preparação e autoconhecimento.
A solidão não precisa ser temida. Ela pode ser um
período frutífero para o desenvolvimento pessoal e para a compreensão do que
significa amar e ser amado. É na solidão que aprendemos a apreciar a nossa
própria companhia, a valorizar quem somos sem a necessidade constante da validação
externa.
Penso em meus próprios momentos de solidão. Às
vezes, eles surgem no meio de uma multidão, outras vezes em casa, num silêncio
quase palpável. E é nesses momentos que percebo a força de Eros dentro de mim,
não como um desejo desesperado por conexão, mas como uma chama tranquila que
ilumina meu caminho interno.
Aristóteles dizia que "o homem é um animal
social". No entanto, para que nossas interações sociais sejam
significativas, precisamos primeiro entender e aceitar nossa solidão. Eros em
solidão nos ensina a apreciar a nós mesmos, a cultivar uma relação saudável com
quem somos, para que, quando finalmente encontrarmos o outro, possamos oferecer
uma versão completa e autêntica de nós mesmos.
Enquanto tomo meu café e observo as pessoas ao
redor, percebo que cada um carrega sua própria solidão, seus próprios anseios e
desejos. Eros caminha entre nós, ora sozinho, ora em busca de união, sempre nos
lembrando da importância de abraçar nossa própria companhia antes de nos
lançarmos aos braços de outro.
A solidão não é o fim de Eros, mas o começo de uma
jornada mais profunda e significativa. É um convite para mergulharmos em nós
mesmos, para descobrirmos quem somos e o que realmente desejamos, para que
possamos, um dia, encontrar e abraçar o outro com verdade e plenitude.
E você, já encontrou seu Eros em solidão?
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