Gosto
muito de ouvir música, e quem não gosta? Estava ouvindo "Palavras ao
Vento" de Cássia Eller. A letra fala sobre a frustração com palavras ditas
sem sinceridade ou que não correspondem a ações, explorando a ideia de que
algumas falas são vazias e não têm impacto real na vida ou nos sentimentos. Esta
música reflete sobre a importância de palavras com significado e sobre como
falas sem intenção, como "palavras ao vento", podem não ter peso nem
valor na vida real, como “falar por falar”, ao ouvir me fez pensar.
“Falar
por falar.” Quantas vezes nos pegamos em conversas que não vão a lugar nenhum,
palavras que parecem flutuar no ar sem deixar rastro, preenchendo o silêncio
apenas porque ele nos incomoda? Seja em uma reunião de trabalho, em uma fila de
supermercado ou até em um bate-papo com amigos, o ato de falar pode se tornar
automático, vazio de intenção, quase como um reflexo para evitar o desconforto
da quietude. Mas será que falar sem pensar, sem propósito, realmente nos
conecta com os outros — ou apenas nos mantém na superfície, sem profundidade?
O
filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, em suas reflexões sobre a existência e
a autenticidade, nos oferece uma perspectiva interessante. Ele acreditava que a
linguagem, assim como muitos outros aspectos da vida moderna, muitas vezes
perde seu valor quando usada sem reflexão. Para Kierkegaard, viver de forma
autêntica exigia uma consciência do que se diz, uma intenção por trás das
palavras, pois, caso contrário, caímos em uma espécie de "fala vazia"
que nos distancia da nossa essência e da verdade.
No
cotidiano, vemos isso o tempo todo. Há uma pressão sutil para preencher cada
momento com palavras, seja em encontros sociais ou no ambiente de trabalho.
Quando alguém pergunta "Como você está?" em uma conversa casual,
raramente espera uma resposta genuína. Já temos as respostas prontas:
"Tudo bem", "Na correria", ou qualquer outra frase de
efeito que fecha o assunto sem realmente abri-lo. É falar por falar, sem nos
conectarmos de verdade com o outro ou conosco.
Kierkegaard
argumentaria que, quando falamos sem intenção ou profundidade, estamos fugindo
de uma verdade maior: a de que o silêncio também tem seu valor. Para ele, o
silêncio pode ser um espaço de reflexão, onde conseguimos ouvir a nós mesmos e
entender melhor o mundo ao nosso redor. O ruído constante das palavras, por
outro lado, pode nos distrair dessa introspecção necessária. Ele não estava
defendendo o mutismo total, claro, mas a ideia de que devemos falar com
propósito, de forma a dar sentido à comunicação e às relações que criamos.
A
vida moderna, no entanto, parece nos empurrar para o oposto. Nos dias de hoje,
com redes sociais e conversas instantâneas, o "falar por falar" se
espalhou em todos os cantos. Compartilhamos frases prontas, opiniões rasas e
reações automáticas, muitas vezes sem parar para refletir sobre o que realmente
queremos expressar. O filósofo dinamarquês diria que esse comportamento nos
afasta da autenticidade, transformando a comunicação em algo superficial.
No
cotidiano, é interessante observar como muitas das conversas mais
significativas acontecem quando há espaço para o silêncio, quando permitimos
que a pausa entre as palavras crie uma abertura para o pensamento genuíno. Já
reparou como os momentos mais reveladores em uma conversa podem vir depois de
uma pausa, quando alguém está realmente refletindo antes de falar? Nessas
horas, o falar deixa de ser apenas uma formalidade e se torna uma ponte para
algo mais profundo.
Mas
é claro que não dá para eliminar todo "falar por falar". Ele tem sua
função. É uma ferramenta social, muitas vezes usada para quebrar o gelo ou
evitar constrangimentos. No entanto, quando se torna o modo predominante de
comunicação, pode nos impedir de ir além da superfície. Kierkegaard nos
convidaria a fazer o exercício de falar com mais consciência, de dizer algo que
realmente ressoe com quem somos ou que pelo menos nos conecte de forma mais
sincera com o outro.
Então,
quando nos encontrarmos prestes a "falar por falar", talvez valha a
pena parar e pensar: o que realmente quero expressar aqui? Estou fugindo do
silêncio ou estou criando uma conexão real? Afinal, se as palavras têm poder,
que usemos esse poder com intenção, e não apenas para preencher o vazio.
Link
da música “Palavras ao Vento” com Cássia Eller: