“Nunca fui um bom menino” soa como uma confissão daqueles que, ao olharem para o passado, percebem que nunca se encaixaram no molde do comportamento ideal esperado. Ser o "bom menino" muitas vezes implica seguir as regras, ser educado, controlar as travessuras, e evitar o que a sociedade desaprova. Mas será que a ideia de ser bom se resume a isso? E o que significa realmente ser “bom” em uma sociedade que, muitas vezes, nos pede para sermos menos nós mesmos e mais aquilo que ela espera?
Penso
que, em algum momento, todos nós carregamos a noção de que fomos “meninos
maus”, pelo menos na percepção de alguém. A infância é o momento de
transgressão mais natural. Crianças são curiosas, testam limites, e às vezes
isso inclui quebrar regras e convenções. Talvez a pessoa que diz “nunca fui um
bom menino” esteja apenas reconhecendo que nunca foi capaz de se adequar ao que
os adultos esperavam dela, ou que simplesmente seguiu o impulso do momento em
vez de escolher a prudência.
Ser
“bom” em si é uma construção social cheia de nuances. O filósofo Jean-Paul
Sartre abordava o conceito de liberdade como algo absoluto e, ao mesmo tempo,
assustador. Segundo ele, somos todos condenados a ser livres. E ser livre
implica escolher, muitas vezes, caminhos que não estão no mapa traçado pelos
outros. Nesse sentido, nunca ser um “bom menino” pode ser visto como uma forma
de afirmar a própria liberdade, de viver com autenticidade, mesmo que isso
tenha implicado algumas “artes” no caminho.
Lembro-me
de uma situação que exemplifica bem essa questão de não ser o "bom
menino". Quando eu era mais jovem, fiz exatamente o oposto do que meus
pais queriam. Eles tinham traçado uma linha clara: escola, faculdade, emprego
estável. Eu, por outro lado, queria explorar, viajar, descobrir o mundo, e o
emprego com carteira assinada não estava na primeira opção, sempre gostei de
“ir ao mundo”. A rebeldia, ou o fato de ser considerado
"problemático", não era por maldade, mas por vontade de ser quem eu
queria ser. Na época, era difícil entender que, na verdade, o “bom menino” não
estava desobedecendo por capricho, mas porque sua noção de felicidade era
diferente. As vezes ser mau, pode nos fazer mal e também aos outros,
expectativas podem ser nossas ilusões e dos outros também, quando estas
expectativas/ilusões não se realizam é porque falhamos em algum momento ou
simplesmente não era para nós.
O
que faz alguém se sentir “mau”? Talvez seja o olhar crítico dos outros, que
impõem julgamentos e pressões sociais para que todos sigam o mesmo modelo. Mas
será que ser bom se limita a não incomodar ninguém? Se limitar a seguir as
regras? Há quem nunca tenha desrespeitado uma única norma social, mas que tenha
se conformado em uma vida sem questionamentos, sem se arriscar. A verdadeira
bondade, talvez, esteja menos nas ações exteriores e mais na capacidade de
sermos honestos com nós mesmos.
No
final das contas, ser "bom" ou "mau" menino pode ser uma
questão de perspectiva. O menino que pulava o muro da escola para explorar o
que havia além das paredes talvez estivesse apenas seguindo sua curiosidade. E
essa mesma curiosidade, mais tarde, pode levar ao aprendizado, ao crescimento
pessoal e à liberdade de espírito que, paradoxalmente, pode se revelar mais
genuína e benéfica do que o conformismo de quem sempre foi “bom”.
Talvez
a questão não seja se fomos bons ou maus meninos, mas se conseguimos olhar para
trás e reconhecer que, mesmo com nossos erros, fomos fiéis ao nosso próprio
caminho. Afinal, como diria Sartre, somos o que escolhemos ser, e talvez nunca
ter sido um bom menino seja apenas a confirmação de que, desde cedo, já
fazíamos nossas próprias escolhas.
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