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sábado, 14 de dezembro de 2024

Ser e ser

Sabe aqueles momentos em que você está apenas aproveitando o dia, e de repente surge uma ideia que não te deixa em paz? Foi exatamente assim que decidi escrever sobre "ser e Ser". Estava sentado no café da Rua da Praia num dia normal de trabalho, tomando um cappuccino e observando as pessoas passarem apressadas, cada uma imersa em sua própria rotina. Foi aí que me peguei pensando: será que todos nós, em meio à correria do dia a dia, paramos para refletir sobre o que realmente significa existir?

Essa linha de pensamento me levou a lembrar de algumas aulas de filosofia na faculdade, especialmente as discussões sobre Martin Heidegger e sua distinção entre "ser" e "Ser". Sempre achei fascinante como ele explorava a essência da nossa existência, algo que vai muito além das tarefas diárias e das responsabilidades.

Então, decidi refletir sobre esse tema e compartilhar algumas reflexões sobre como essas ideias filosóficas podem ser aplicadas ao nosso cotidiano. Afinal, entender um pouco mais sobre nós mesmos e o nosso propósito pode transformar até as tarefas mais simples em algo significativo.

A filosofia é uma ferramenta poderosa para questionar e entender a realidade que nos cerca. Um dos temas mais intrigantes é a distinção entre "ser" (com "s" minúsculo) e "Ser" (com "S" maiúsculo). Este conceito, amplamente discutido por filósofos como Martin Heidegger, nos convida a refletir sobre nossa existência de maneira profunda e multifacetada.

O "ser" Cotidiano

Quando falamos de "ser" com "s" minúsculo, referimo-nos às nossas ações e existência no dia a dia. É o nosso "estar no mundo" em meio às atividades corriqueiras: acordar, tomar café, trabalhar, socializar. Estes são momentos em que operamos no piloto automático, cumprindo rotinas e responsabilidades.

Pense no seguinte exemplo: você acorda de manhã, escova os dentes, toma um café rápido e corre para o trabalho. No caminho, está mais preocupado com o trânsito e o tempo do que com o significado dessas ações. Esse é o "ser" no seu cotidiano - um ser que se desenrola na esfera do imediato e do habitual.

O "Ser" Profundo

Por outro lado, o "Ser" com "S" maiúsculo representa a essência da existência, algo mais profundo e reflexivo. Para Martin Heidegger, um dos principais filósofos que abordaram essa distinção, o "Ser" refere-se à nossa capacidade de questionar e compreender o significado da nossa existência.

Vamos imaginar uma situação cotidiana que envolve o "Ser": você está no mesmo trajeto para o trabalho, mas desta vez, algo diferente acontece. No meio do trânsito, você começa a se perguntar sobre o propósito do que está fazendo. "Por que eu corro todos os dias para um trabalho que não me satisfaz?", "Qual é o verdadeiro significado das minhas ações diárias?". Esse momento de reflexão nos conecta com o "Ser" - um estado em que nos tornamos conscientes de nossa própria existência e buscamos um sentido mais profundo para nossas vidas.

Martin Heidegger e a Questão do Ser

Martin Heidegger, em sua obra "Ser e Tempo" (1927), explora precisamente essa distinção. Ele argumenta que, na maior parte do tempo, vivemos na dimensão do "ser" cotidiano, mas é crucial nos questionarmos sobre o "Ser" para encontrar autenticidade e significado em nossas vidas. Heidegger usa o termo "Dasein" (ser-aí) para descrever o ser humano que se questiona sobre o seu próprio ser.

Heidegger nos convida a sair do modo automático e a entrar em um estado de "ser-no-mundo" consciente. Isso não significa abandonar nossas rotinas, mas sim abordá-las com uma nova perspectiva, buscando um entendimento mais profundo de nós mesmos e do nosso lugar no mundo.

Aplicações no Cotidiano

Trabalho e Propósito: Em vez de apenas cumprir tarefas no trabalho, podemos nos perguntar como nossas atividades diárias contribuem para nosso crescimento pessoal e para o bem-estar dos outros.

Relacionamentos: Nos relacionamentos, sair do piloto automático significa estar presente, ouvir ativamente e valorizar as conexões humanas, entendendo seu significado mais profundo.

Autocuidado: Refletir sobre nossas rotinas de autocuidado e lazer, questionando se elas realmente nos trazem satisfação e bem-estar.

A distinção entre "ser" e "Ser" nos oferece uma lente poderosa para examinar nossa vida cotidiana e buscar um significado mais profundo em nossas ações. Inspirados por Heidegger, podemos nos engajar em uma prática constante de autorreflexão, questionando não apenas o que fazemos, mas por quê fazemos. Ao fazer isso, nos aproximamos de uma existência mais autêntica e plena, transformando o ordinário em extraordinário através da consciência e da intenção.


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