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segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Critério da Vida

O que significa viver bem? Mais ainda, como podemos determinar se estamos, de fato, vivendo ou apenas passando pela vida? A ideia de um "critério da vida" nos leva a questionar quais parâmetros utilizamos, consciente ou inconscientemente, para avaliar a qualidade e a autenticidade de nossa existência.

O Critério da Vida como Prática

Aristóteles, em sua busca pela eudaimonia (felicidade ou realização plena), propôs que a vida boa está enraizada na atividade conforme a virtude. Para ele, a prática de virtudes como coragem, temperança e justiça seria o norte para uma vida significativa. No entanto, essa visão exige um esforço constante: viver bem é um projeto diário, uma prática contínua, e não uma conquista estática.

Por outro lado, Friedrich Nietzsche desafiou as noções tradicionais de virtude ao propor o conceito do Übermensch (além-do-homem), um ideal de existência que transcende os valores herdados e estabelece seus próprios critérios de significado. Nietzsche nos pergunta: somos capazes de criar valores que ressoem profundamente com a nossa individualidade, ou estamos apenas imitando normas externas?

Vida ou Sobrevivência?

Uma inovação no debate sobre o critério da vida surge quando contrastamos viver com sobreviver. Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, nos alerta para as armadilhas de uma vida que se reduz à repetição de papéis e rotinas, muitas vezes impostos pela sociedade. A sobrevivência, nesse contexto, é apenas um estar no mundo, enquanto a vida autêntica exige escolhas conscientes que rompam com a passividade.

Nesse sentido, viver é um ato de resistência. A filósofa brasileira Marilena Chaui destaca como o cotidiano pode ser colonizado por ideologias que nos alienam de nossas próprias potências criativas. Para Chaui, libertar-se dessas amarras é um critério indispensável para uma existência genuína.

O Tempo como Critério

Outra dimensão inovadora ao pensar o critério da vida é considerar o papel do tempo. O filósofo contemporâneo Byung-Chul Han aponta, em Asfixia do Tempo, que vivemos em uma era marcada pela aceleração e pela produtividade incessante. O critério moderno da vida muitas vezes se resume a "fazer mais", enquanto a verdadeira vida poderia ser medida pela profundidade de nossas experiências.

Retomando essa ideia, podemos dizer que o critério da vida não é apenas o quantum de ações realizadas, mas a qualidade do tempo vivido. Isso nos remete a Henri Bergson, que distinguiu o tempo mensurável do relógio (temps) da duração vivida (durée), sugerindo que a intensidade das experiências pode valer mais do que sua quantidade.

O Critério da Vida é Mutável

Um ponto crucial é entender que o critério da vida não é universal nem fixo. Ele varia entre culturas, épocas e, acima de tudo, indivíduos. Para N. Sri Ram, em suas reflexões teosóficas, a vida verdadeira é aquela que reflete o alinhamento entre o ser interno e o externo. Quando vivemos em harmonia com o que ele chama de "impulso essencial da alma", encontramos um critério que não é imposto, mas descoberto.

Por outro lado, Zygmunt Bauman, em sua teoria da modernidade líquida, nos alerta sobre o perigo de uma vida sem âncoras, onde os critérios se dissolvem na constante mudança de expectativas e valores. Talvez a vida autêntica exija, paradoxalmente, um equilíbrio entre fluidez e permanência.

Um Critério Vivo

O critério da vida, portanto, não é um conceito fixo, mas um organismo vivo, sujeito a mudanças e reinterpretações. Ele pode incluir virtude, criação de valores, resistência ao conformismo, profundidade do tempo vivido e alinhamento com o eu interior. Mais importante, ele deve ser pessoal e flexível, permitindo que cada indivíduo responda à sua própria pergunta: o que significa viver bem, para mim, neste momento?

Ao buscar responder essa pergunta, não apenas vivemos — criamos a vida.