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quarta-feira, 14 de maio de 2025

Papel Social


 

Recordo que num certo dia, um tempinho atrás, peguei um ônibus lotado. Daqueles em que não há onde segurar, e o ar-condicionado só sopra no motorista. Uma senhora tentava equilibrar as sacolas no colo enquanto um adolescente, com fones de ouvido, ocupava o assento preferencial. Olhei em volta e pensei: e se ele estivesse no lugar dela? E se eu estivesse? Foi nesse instante, no balanço incômodo do coletivo, que me lembrei de John Rawls.

Rawls propôs uma ideia que, se virasse moda, mudaria o jogo da convivência humana: a justiça deve ser pensada sem saber quem seremos dentro da sociedade. Imagine criar as regras do mundo sem saber sua cor, classe, saúde, talento ou gênero. Você aceitaria um sistema onde 1% vive em condomínios com lagos artificiais e 99% sobrevive com transporte colapsado? Provavelmente não. Porque o problema é que a maioria das regras sociais são escritas depois que já sabemos de que lado da cidade nascemos.

Rawls chamou isso de “posição original” — uma espécie de tabuleiro neutro onde todos planejam a sociedade como se não soubessem onde cairão no dado da vida. E isso faz todo o sentido: ninguém colocaria armadilhas num caminho que pode ser o próprio.

Mas aqui entra uma ideia inovadora: e se levássemos essa ideia para os nossos micro-contratos diários? E se aplicássemos o "véu da ignorância" à fila do mercado, ao grupo de WhatsApp da família, ao momento de distribuir tarefas num projeto do trabalho?

No supermercado, você deixa o caixa rápido para alguém com menos itens, porque poderia ser você. No trabalho, você ouve aquela colega com dificuldade de expressão porque poderia ser você no lugar dela, com menos léxico e mais medo. No relacionamento amoroso, você se pergunta: “será que estou criando regras afetivas que só me favorecem?” — porque poderia ser o outro lado do amor.

Rawls também afirmava que desigualdades só são justificáveis se beneficiarem os mais vulneráveis. Ou seja, o elevador social precisa funcionar para todos — e não apenas para os que já moram na cobertura. O mérito, por mais bonito que pareça, é uma loteria genética e circunstancial. Você nasceu inteligente? Sorte sua. Nasceu em um lar que valorizava a leitura? Jackpot (prêmio acumulado). Agora, o que você faz com isso: constrói pontes ou apenas decora muros com seu sobrenome?

Se cada um de nós começasse a criar suas pequenas regras com base na possibilidade de ser o outro, talvez não precisássemos de leis para garantir o que a empatia resolveria sozinha. Rawls não inventou um mundo novo — ele apenas sugeriu que o imaginássemos antes de nos sabermos dentro dele. E isso muda tudo.

Quando desci do ônibus, aquela senhora já havia ido embora. O adolescente continuava sentado, ainda com os fones, alheio a tudo. Mas, de repente, tive vontade de voltar, sentar ao lado dele e perguntar: “Ei, e se fosse sua avó ali?”

"Se fosse você no meu lugar: a hora do recreio com John Rawls"

Na escola pública do bairro, o recreio começa com a fila na cantina. Crianças apressadas, coxinhas esgotadas em três minutos, e um menino que, mais uma vez, fica só com o suco. Atrás dele, um grupo comenta as roupas de outro colega — tênis falsificado, calça encurtada no tornozelo, mochila com zíper improvisado por um clipe de papel.

Eu estou ali como visitante, numa ação cultural com livros e conversas. Mas quem está realmente presente é ele — John Rawls, ainda que invisível, andando comigo entre os bancos do pátio. E se a escola fosse desenhada por alguém que não soubesse se nasceria com ou sem acesso a livros em casa, com ou sem café da manhã, com ou sem um ambiente silencioso para estudar? Como seria?

Rawls diria: comece desenhando a escola a partir da ignorância sobre sua origem. Sem saber se você será o filho da professora ou o da diarista. O que nasceria disso não seriam apenas boas intenções pedagógicas, mas estruturas que compensam, que redistribuem, que cuidam. Merenda reforçada, acolhimento emocional, biblioteca aberta até mais tarde, professores valorizados, política de escuta, e sobretudo, igualdade de oportunidades reais — não só no discurso de cartazes.

Mas Rawls também caminharia até a sala dos professores e perguntaria: "como está sendo feita a distribuição do tempo e dos recursos?". Se só os melhores alunos ganham mais atenção, isso é mérito ou reforço do privilégio? Se as crianças mais problemáticas são isoladas, isso é disciplina ou desistência disfarçada?

Talvez o maior desafio da escola — e da sociedade — seja equilibrar a equidade com a liberdade. Porque liberdade de aprender não basta se uns nascem já com os livros abertos diante deles e outros, nem sequer com luz elétrica em casa. O Princípio da Diferença de Rawls entra aí: desigualdades são toleráveis apenas se fizerem a vida dos mais frágeis melhorarem. Não se trata de todos terem o mesmo — mas de todos terem as mesmas chances de alcançar o melhor.

Na hora de ir embora, vejo uma professora ajudando um aluno a dobrar o uniforme. Ele sorri, ajeita a gola. Talvez esse gesto seja pequeno, mas Rawls, se estivesse ali de verdade, talvez sorrisse também. Porque é assim que se começa a justiça: não esperando o mundo mudar, mas se perguntando: e se fosse eu ali com aquele zíper quebrado?

"Se fosse você no meu lugar: uma rodada de Rawls no boteco"

Sexta-feira à noite, bar da esquina, garçom gente boa, cerveja trincando, e aquele grupo de amigos que sobreviveu aos anos, mas mal sobrevive às eleições. Um puxa assunto: “imposto é roubo”. Outro rebate: “rico devia pagar ainda mais”. Do outro lado da mesa, alguém tenta mudar de assunto com futebol, mas já era tarde. O clima virou debate. E eu, no meio deles, imaginei o Rawls pegando uma cadeira de plástico, servindo-se de uma porção de batata frita, e pedindo licença para entrar na conversa.

A primeira coisa que ele diria, com sotaque neutro e paciência de professor, seria: vamos imaginar que vocês vão construir a sociedade do zero. Mas sem saber quem vão ser nela. Vocês aceitam um modelo em que alguns podem lucrar milhões enquanto outros dependem de doações pra comprar gás? Mesmo sem saber se nascerão como empresários ou entregadores de app?

O silêncio da mesa viria rápido — talvez não pela profundidade da pergunta, mas porque é difícil debater com alguém que não está berrando, e sim propondo um jogo de imaginação.

No fundo, o que Rawls oferece é um método para pensar em comum mesmo com valores diferentes. Ele não obriga ninguém a pensar como o outro, mas propõe um ponto de partida neutro. A política, para ele, deveria se basear num consenso razoável — aquele espaço estreito onde pessoas com visões distintas ainda conseguem construir algo juntas. Algo justo, mesmo sem concordar em tudo.

No boteco, isso significaria parar de pensar só com o próprio CPF. Significaria perguntar: “que sociedade eu ajudaria a construir se não soubesse se nasceria branco, negro, homem, mulher, hétero, gay, saudável, doente, com ou sem herança?” A política sairia da arena dos memes e viraria um exercício de imaginação solidária.

Alguém retrucaria: “mas e o mérito, o esforço pessoal?” Rawls ouviria com calma, tomaria um gole de cerveja e responderia: “se você nasceu com certas vantagens — inteligência, beleza, apoio familiar, saúde — que parte disso foi realmente mérito seu?” E completaria: “o mérito, quando é justo, não exclui; ele inspira. Mas quando vira desculpa para desigualdade, é só ego fantasiado de justiça.”

A conta chega, a discussão se esfria. Amigos se abraçam, meio tensos, meio cansados, mas ainda amigos. Rawls levanta da cadeira invisível, sorri com aquela cara de quem nunca brigaria em caixa de comentário, e vai embora em silêncio.
E eu fico ali, pensando: talvez o problema não seja discordar. Talvez o problema seja nunca tentar imaginar o outro lado da mesa — ou da vida.

"Se fosse você no meu lugar: pronto-socorro com Rawls"

Duas da manhã. Pronto-socorro lotado. Bebê chorando, senhor com tosse insistente, gente encostada nas paredes, esperando ser chamada. A televisão do canto repete as manchetes, como se a dor daquelas pessoas fosse só mais uma notícia. Eu estou ali acompanhando um parente, cansado, como todos. E, em meio ao cheiro de álcool e desespero contido, sinto alguém sentar ao meu lado: é Rawls, o filósofo invisível das filas injustas.

Ele não olha o celular, não reclama da demora, apenas observa. E depois de alguns minutos, diz: "É aqui que se vê o contrato social falhando."

Rawls acreditava que a estrutura básica da sociedade deveria ser justa para todos — não só no papel, mas na vida concreta. E nada mais concreto que uma sala de espera de hospital público. Porque aqui ninguém é "cidadão de bem", "empreendedor", "patriota" ou "militante". Aqui todo mundo é, antes de tudo, corpo vulnerável, sujeito ao acaso biológico.

Ele me olha e pergunta, como quem já sabe a resposta: “se você fosse escolher o sistema de saúde sem saber se nasceria saudável ou com uma doença rara, com plano privado ou dependendo do SUS, como o desenharia?”

A pergunta é incômoda. Porque ela nos obriga a pensar a sociedade não a partir do nosso lugar fixo, mas a partir da possibilidade de estarmos em qualquer lugar — inclusive no chão da enfermaria, esperando uma maca que não chega.

No mundo de Rawls, a justiça não é caridade, nem favor. É um pacto onde os mais frágeis são a medida da organização do todo. Se a política de saúde privilegia quem pode pagar, o contrato está quebrado. Se os médicos atendem vinte pacientes por hora por pura exaustão, o contrato está fraturado. Se há mais investimento em estética de clínica privada do que em saneamento básico, o contrato foi assinado só por quem já estava no andar de cima.

E aqui vem o detalhe que mais me impressiona em Rawls: ele não propõe utopia. Ele aceita que haverá desigualdades — mas exige que elas sirvam para melhorar a vida dos que têm menos. Ou seja, a diferença só é justa quando é ponte, não muro.

Uma enfermeira chama meu parente pelo nome. Levanto. Antes de entrar, olho de novo para o banco. Rawls já não está. Mas sua pergunta ainda vibra na cabeça:
se fosse eu na maca, no leito, sem plano, sem voz — como eu gostaria que o sistema fosse?

"Se fosse você no meu lugar: Rawls no condomínio fechado"

Domingo de sol. Grama aparada, crianças de bicicleta, churrasqueiras acesas, silêncio quase europeu entre uma rua e outra. Caminho por um condomínio fechado, desses com nomes estrangeiros e guardas na portaria que nos tratam com aquele formalismo automático. Estou visitando um amigo, e confesso: dá um certo alívio andar por um lugar onde não se ouvem buzinas nem latidos de cachorro atrás de grades.

Mas é claro que Rawls está ali, invisível, caminhando comigo pela rua sem buracos. Ele olha ao redor, vê os muros altos, os sistemas de câmera, o playground colorido. Sorri com educação, mas pergunta em voz baixa: “e quem ficou do lado de fora?”

É a pergunta que ninguém gosta de fazer quando está dentro. O condomínio é a realização arquitetônica da ideia de privilégio seguro. Aqui, quem conseguiu escapar das falhas da cidade constrói uma versão melhorada da mesma — só que para poucos.

Rawls não criticaria o conforto em si. Mas questionaria o sistema que o produz. Se a cidade inteira fosse construída a partir da “posição original” — ou seja, se todos tivessem que desenhá-la sem saber se nasceriam dentro ou fora desses muros, será que esses muros sequer existiriam?

Talvez as ruas seriam melhores para todos. As escolas públicas teriam o mesmo nível das particulares. Os parques seriam frequentáveis por qualquer criança, e os guardas, substituídos por confiança cidadã. Mas o que vemos é o contrário: à medida que os condomínios se expandem, a cidade se fragmenta. Há uma duplicação de serviços — segurança, lazer, transporte — onde os mais ricos criam sua própria cidade paralela, alheia à sorte dos outros.

Rawls caminharia até a portaria, apertaria o botão do interfone, e diria: a liberdade de viver bem só é justa se não excluir os outros da possibilidade de também viverem com dignidade. Caso contrário, ela é apenas uma versão sofisticada do egoísmo.

Na hora de ir embora, vejo uma funcionária uniformizada esperando o ônibus do lado de fora, debaixo do sol. Ela passou a manhã dentro, servindo. E agora volta para a cidade real, onde os buracos não têm nome em francês.

Antes de fechar o portão, Rawls olha para ela, depois para mim, e pergunta de novo:
e se fosse você no lugar dela?

E é isso. Rawls já apareceu no ônibus, no bar, no hospital, no condomínio — sempre puxando conversa onde ninguém está muito a fim de filosofar. Mas ele insiste. E talvez seja esse o papel da filosofia: cutucar o conforto, provocar empatia, fazer a gente imaginar o outro lugar, o outro rosto, a outra sorte.

Ele não veio com fórmulas prontas, nem promessas de mundo ideal. Só com uma ideia simples e difícil: a justiça começa quando paramos de organizar o mundo só a partir de onde estamos.

A cada cenário, Rawls nos convida a uma pergunta essencial:
“E se fosse você no lugar do outro?”

No fundo, viver eticamente talvez seja isso — um exercício contínuo de imaginar-se fora do próprio lugar, antes de julgar, votar, escolher ou construir.

E mesmo que a gente não veja Rawls por aí, ele segue à espreita, nas entrelinhas das decisões mais banais.

Na próxima vez que você entrar numa fila, abrir a boca num debate ou passar por alguém invisível na calçada... quem sabe ele não esteja ali, ao seu lado, fazendo aquela pergunta que não deixa ninguém sair igual?

Embora sua obra principal, Uma Teoria da Justiça, tenha sido publicada em 1971, as questões que ele levanta continuam totalmente vivas no debate político e social contemporâneo. Como podemos perceber Rawls é atual porque propõe um jeito de pensar a sociedade com justiça, sem utopia, mas com imaginação ética.
Ele não oferece soluções mágicas, mas um ponto de partida para pensar em conjunto — mesmo entre quem discorda.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Além do Bem...

Outro dia, enquanto esperava meu almoço, ouvi um casal na mesa ao lado discutir sobre certo e errado como se a vida fosse um tribunal moral. "Isso é um absurdo!", dizia um. "Não, é justiça!", respondia o outro. Fiquei pensando: será que realmente conseguimos enquadrar tudo nesses polos? Friedrich Nietzsche, em Além do Bem e do Mal, já avisava que essa tentativa de reduzir a realidade a dicotomias morais empobrece nosso pensamento.

O Julgamento Moral e Sua Prisão

A ideia de que o mundo se divide em “bom” e “mau” é uma estrutura herdada de tradições religiosas e filosóficas antigas. Platão, por exemplo, separava o mundo sensível (imperfeito) do inteligível (perfeito). O cristianismo levou isso adiante com sua concepção de pecado e salvação. O problema, segundo Nietzsche, é que essas distinções não são naturais: são construções culturais que serviram para domesticar o instinto humano.

Quando vivemos sob essa moral binária, limitamos nossa capacidade de interpretar as nuances da vida. O que é “bom” em uma cultura pode ser “mau” em outra. O que é “certo” para uma época pode ser “errado” para outra. Esse maniqueísmo nos impede de enxergar as forças vitais que movem o ser humano – o desejo de poder, a vontade de se superar, a coragem de afirmar a própria existência sem amarras morais artificiais.

A Moral dos Senhores e a Moral dos Escravos

Nietzsche propõe uma inversão de valores ao criticar a moral tradicional. Ele distingue duas formas de moralidade:

Moral dos senhores: Criada pelos fortes, pelos que afirmam a vida, valorizando coragem, criatividade e potência.

Moral dos escravos: Surgida dos ressentidos, dos que, por não conseguirem impor sua força, passam a demonizar aqueles que conseguem. Aqui nasce o ideal do “bom” como algo passivo, submisso, que exalta a humildade e o sofrimento.

Nos dias de hoje, ainda vivemos essa tensão. Em muitos espaços, o sucesso é visto com desconfiança, e a mediocridade se esconde sob discursos moralistas. Quem se arrisca a ser autêntico muitas vezes é atacado, não porque está errado, mas porque ameaça a segurança dos que preferem a conformidade.

O Pensamento Além do Bem e do Mal

Então, como pensar além do bem e do mal? Significa abrir mão de todo juízo moral? Não exatamente. O que Nietzsche propõe é um novo olhar, onde cada ação e valor sejam analisados não pela régua do dever, mas pela perspectiva da vida. Perguntar não se algo é “bom” ou “mau”, mas se fortalece ou enfraquece a existência.

Imagine alguém que abandona uma carreira tradicional para seguir um caminho incerto, mas alinhado com sua essência. Aos olhos da moral comum, pode parecer irresponsabilidade. Mas e se for, na verdade, um ato de afirmação da própria vontade? Se for um passo para uma vida mais autêntica?

O pensamento nietzschiano nos convida a repensar nossos próprios valores, a questionar os dogmas herdados e a criar novos significados para a existência. Afinal, como ele mesmo escreveu, “tudo é permitido, mas nem tudo fortalece”.

Talvez aquele casal no restaurante não chegasse a um acordo sobre justiça ou absurdo, mas o problema não estava na falta de respostas – e sim na pergunta limitada. Além do bem e do mal, há um horizonte de possibilidades. O desafio é ter coragem para explorá-lo.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Doença como Metáfora

A doença é frequentemente usada como metáfora para ilustrar diversos aspectos da vida humana, desde dilemas pessoais até condições sociais e políticas. Susan Sontag, em seu livro "A Doença como Metáfora", explora como doenças como a tuberculose e o câncer têm sido usadas para representar diferentes medos, preconceitos e problemas culturais.

Doença como Metáfora na Vida Cotidiana

Tuberculose: A Doença Romântica

No século XIX, a tuberculose era vista como a doença dos artistas e dos intelectuais. Pessoas como John Keats, Frédéric Chopin e Emily Brontë, que sofreram com a tuberculose, contribuíram para a ideia de que essa doença estava associada a uma sensibilidade artística e a uma natureza introspectiva. Na literatura e na arte, a tuberculose era frequentemente retratada como uma condição que elevava o espírito e a alma, mesmo enquanto destruía o corpo.

Câncer: A Doença do Século XX

Ao contrário da tuberculose, que foi romantizada, o câncer é frequentemente visto como uma metáfora para o medo e a inevitabilidade da morte. Nos anos 70, quando Sontag escreveu seu livro, o câncer era rodeado de silêncio e estigma, quase como se fosse uma condenação moral. Era uma doença associada a repressões emocionais e, muitas vezes, considerada uma punição por algo não dito ou reprimido. Esse medo silencioso do câncer refletia ansiedades mais amplas sobre a modernidade, a alienação e o rápido avanço tecnológico.

Doença como Reflexo de Problemas Sociais

A metáfora da doença também é usada para descrever problemas sociais. Por exemplo, a corrupção é muitas vezes descrita como um "câncer" que corrói a sociedade por dentro. A violência e a criminalidade são vistas como "vírus" que infectam comunidades. Esses usos metafóricos ajudam a transmitir a gravidade e a insidiosidade desses problemas, evocando a urgência de encontrar "curas" ou soluções.

Reflexão Filosófica

Michel Foucault, em seus estudos sobre biopolítica, argumenta que a maneira como falamos sobre doenças revela muito sobre o poder e o controle na sociedade. Ele explorou como a medicina e a saúde pública são usadas como ferramentas para disciplinar corpos e controlar populações. Assim, a metáfora da doença não é apenas uma forma de expressão, mas também um reflexo de como o poder opera na sociedade.

Em um Café

Imagine estar sentado em um café, observando a vida ao seu redor. Talvez você veja uma pessoa com uma máscara, protegendo-se de um vírus. Esta imagem evoca não apenas preocupações com a saúde, mas também sentimentos de vulnerabilidade e desconfiança na sociedade moderna. O simples ato de usar uma máscara pode ser visto como uma metáfora para o desejo de proteger-se de um mundo percebido como perigoso e imprevisível.

Ao mesmo tempo, você pode notar a vitalidade e a resiliência das pessoas ao seu redor. Elas conversam, riem e vivem suas vidas, mostrando que, apesar das metáforas de doença que permeiam nossa cultura, a humanidade continua a buscar conexão, alegria e significado.

A doença como metáfora oferece uma lente poderosa para entender não apenas como vemos as condições médicas, mas também como refletimos nossas ansiedades, esperanças e valores. Seja na arte, na literatura ou na vida cotidiana, essas metáforas nos ajudam a navegar pelas complexidades da existência humana, proporcionando uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Critério da Vida

O que significa viver bem? Mais ainda, como podemos determinar se estamos, de fato, vivendo ou apenas passando pela vida? A ideia de um "critério da vida" nos leva a questionar quais parâmetros utilizamos, consciente ou inconscientemente, para avaliar a qualidade e a autenticidade de nossa existência.

O Critério da Vida como Prática

Aristóteles, em sua busca pela eudaimonia (felicidade ou realização plena), propôs que a vida boa está enraizada na atividade conforme a virtude. Para ele, a prática de virtudes como coragem, temperança e justiça seria o norte para uma vida significativa. No entanto, essa visão exige um esforço constante: viver bem é um projeto diário, uma prática contínua, e não uma conquista estática.

Por outro lado, Friedrich Nietzsche desafiou as noções tradicionais de virtude ao propor o conceito do Übermensch (além-do-homem), um ideal de existência que transcende os valores herdados e estabelece seus próprios critérios de significado. Nietzsche nos pergunta: somos capazes de criar valores que ressoem profundamente com a nossa individualidade, ou estamos apenas imitando normas externas?

Vida ou Sobrevivência?

Uma inovação no debate sobre o critério da vida surge quando contrastamos viver com sobreviver. Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, nos alerta para as armadilhas de uma vida que se reduz à repetição de papéis e rotinas, muitas vezes impostos pela sociedade. A sobrevivência, nesse contexto, é apenas um estar no mundo, enquanto a vida autêntica exige escolhas conscientes que rompam com a passividade.

Nesse sentido, viver é um ato de resistência. A filósofa brasileira Marilena Chaui destaca como o cotidiano pode ser colonizado por ideologias que nos alienam de nossas próprias potências criativas. Para Chaui, libertar-se dessas amarras é um critério indispensável para uma existência genuína.

O Tempo como Critério

Outra dimensão inovadora ao pensar o critério da vida é considerar o papel do tempo. O filósofo contemporâneo Byung-Chul Han aponta, em Asfixia do Tempo, que vivemos em uma era marcada pela aceleração e pela produtividade incessante. O critério moderno da vida muitas vezes se resume a "fazer mais", enquanto a verdadeira vida poderia ser medida pela profundidade de nossas experiências.

Retomando essa ideia, podemos dizer que o critério da vida não é apenas o quantum de ações realizadas, mas a qualidade do tempo vivido. Isso nos remete a Henri Bergson, que distinguiu o tempo mensurável do relógio (temps) da duração vivida (durée), sugerindo que a intensidade das experiências pode valer mais do que sua quantidade.

O Critério da Vida é Mutável

Um ponto crucial é entender que o critério da vida não é universal nem fixo. Ele varia entre culturas, épocas e, acima de tudo, indivíduos. Para N. Sri Ram, em suas reflexões teosóficas, a vida verdadeira é aquela que reflete o alinhamento entre o ser interno e o externo. Quando vivemos em harmonia com o que ele chama de "impulso essencial da alma", encontramos um critério que não é imposto, mas descoberto.

Por outro lado, Zygmunt Bauman, em sua teoria da modernidade líquida, nos alerta sobre o perigo de uma vida sem âncoras, onde os critérios se dissolvem na constante mudança de expectativas e valores. Talvez a vida autêntica exija, paradoxalmente, um equilíbrio entre fluidez e permanência.

Um Critério Vivo

O critério da vida, portanto, não é um conceito fixo, mas um organismo vivo, sujeito a mudanças e reinterpretações. Ele pode incluir virtude, criação de valores, resistência ao conformismo, profundidade do tempo vivido e alinhamento com o eu interior. Mais importante, ele deve ser pessoal e flexível, permitindo que cada indivíduo responda à sua própria pergunta: o que significa viver bem, para mim, neste momento?

Ao buscar responder essa pergunta, não apenas vivemos — criamos a vida.


sábado, 16 de novembro de 2024

O Vazio

Outro dia publiquei um ensaio sobre niilismo, em seguida me perguntaram se o tema estaria associado exclusivamente a Nietzsche, em resposta a este questionamento digo que o niilismo, embora comumente associado a Friedrich Nietzsche, é um tema vasto que percorre o pensamento de diversos filósofos desde o século XIX. Em essência, o niilismo aponta para a ausência de um sentido objetivo na existência, revelando um vazio fundamental nas convicções humanas que outrora sustentaram os sistemas morais, religiosos e sociais. Este ensaio explora o niilismo nas obras de Nietzsche, Arthur Schopenhauer, Fyodor Dostoiévski, Martin Heidegger, Albert Camus e Emil Cioran, analisando como cada pensador compreende essa ausência de sentido e suas propostas para lidar com ela.

Schopenhauer: A Vontade e o Sofrimento do Ser

Arthur Schopenhauer, em O Mundo como Vontade e Representação, aborda uma das raízes do niilismo moderno ao descrever a vida como marcada por um desejo incessante e insaciável, a “vontade”. Para ele, o mundo não é guiado por razão, mas por uma força cega e irracional, que gera sofrimento constante. O ser humano, por ser incapaz de escapar desse ciclo de desejo e frustração, se vê condenado a uma vida onde o prazer é breve e o sofrimento é a norma. Embora Schopenhauer não se identifique explicitamente como niilista, seu pessimismo profundo sobre a natureza da existência inspira uma visão de mundo onde qualquer busca por sentido parece fútil. Seu conselho de "negar a vontade" antecipa o niilismo ao propor uma resignação silenciosa, uma vida de ascetismo como única forma de fuga da dor.

Dostoiévski: O Niilismo como Vácuo Moral e Social

Enquanto Schopenhauer lida com o niilismo como uma consequência da própria natureza humana, Fyodor Dostoiévski, em obras como Os Demônios, vê o niilismo como uma força destrutiva na sociedade russa em transformação. Ele entende o niilismo como uma rejeição dos valores tradicionais e da fé religiosa, que, na ausência de substitutos, leva ao colapso moral e ao caos social. Dostoiévski associa o niilismo a uma juventude desiludida, para quem nada é sagrado ou verdadeiro, onde todos os valores são descartados sem critério. Esta visão do niilismo como um vácuo moral antecipa o colapso espiritual que Nietzsche mais tarde diagnosticaria na Europa. Para Dostoiévski, a falta de uma âncora ética deixa o homem vulnerável ao desespero e ao extremismo, onde qualquer crença – por mais irracional ou perigosa – pode ser adotada como tentativa de preencher o vazio.

Nietzsche: A Morte de Deus e o Super-Homem

Nietzsche, o filósofo mais comumente associado ao niilismo, diagnostica a condição niilista como resultado da "morte de Deus" – a perda da fé religiosa e, com ela, dos valores absolutos que outrora estruturaram a vida ocidental. Sem um sentido transcendente, o homem moderno encontra-se sem direção, mergulhado em uma era de "niilismo passivo", na qual a vida é vista como desprovida de valor objetivo. No entanto, Nietzsche não se resigna a este niilismo; em vez disso, ele o vê como uma etapa de transição necessária. Em Assim Falou Zaratustra, ele propõe o conceito do "super-homem" (Übermensch) – um ser capaz de criar seus próprios valores e viver com intensidade, encarando a vida como uma obra de arte a ser moldada. Nietzsche desafia o indivíduo a abraçar o niilismo e a superá-lo, vendo-o como um convite à autossuperação.

Heidegger: O Esquecimento do Ser e o Niilismo Tecnológico

Para Martin Heidegger, o niilismo é mais do que uma ausência de sentido; ele é uma perda fundamental da conexão com o próprio "ser". Em Ser e Tempo e outros textos, Heidegger argumenta que a modernidade está marcada pelo "esquecimento do ser", onde o ser humano se aliena de sua própria essência ao se submeter ao domínio da técnica e da objetividade científica. Ele vê o niilismo como o resultado de uma era dominada pela eficiência e pelo cálculo, onde o ser humano é reduzido a um recurso, a um objeto manipulável. Heidegger não oferece uma solução concreta, mas sugere uma "releitura" do ser humano em sua relação com o mundo, uma abertura para a contemplação, onde o ser pode ser redescoberto em sua plenitude.

Camus: O Absurdo e a Rebelião

Albert Camus, em O Mito de Sísifo, aborda o niilismo a partir da ideia do absurdo: o conflito entre o desejo humano por sentido e o silêncio do universo. Para Camus, essa falta de sentido é inevitável, e o niilismo é a conclusão lógica para quem reconhece o absurdo da vida. No entanto, em vez de ceder ao desespero, Camus propõe o que chama de "rebelião absurda". Ao aceitar a vida como um esforço contínuo e sem significado, o indivíduo pode encontrar liberdade. Sua metáfora de Sísifo – o homem condenado a empurrar eternamente uma pedra montanha acima – é um convite para que, mesmo em face do absurdo, o ser humano encontre dignidade na própria resistência. Em vez de negar a vida, Camus propõe um niilismo ativo, onde o sentido é construído pela própria experiência de viver.

Cioran: O Niilismo Radical e o Desespero da Existência

Emil Cioran, em obras como Breviário de Decomposição, leva o niilismo a um extremo. Para ele, a existência humana é marcada por uma futilidade inevitável, onde todas as tentativas de encontrar sentido são ilusões. Cioran vê o niilismo como uma condição fundamental, uma lucidez amarga sobre a total desimportância da vida. Seu niilismo é uma filosofia de desencanto, onde a consciência do vazio é ao mesmo tempo uma maldição e uma libertação. Sem esperança ou soluções, Cioran opta por uma resignação amarga e, ao mesmo tempo, irônica, reconhecendo a inutilidade de qualquer busca por significado.

O Que Fazer com o Vazio?

Esses filósofos nos apresentam uma variedade de respostas ao niilismo, do pessimismo radical de Cioran à criação de novos valores em Nietzsche, passando pela resistência absurda de Camus e pela contemplação de Heidegger. O niilismo não é apenas uma negação de valores, mas também um terreno fértil para a criação de novos sentidos. Ele nos obriga a reavaliar o que realmente importa, a encarar o vazio e a encontrar, dentro dele, a possibilidade de algo novo. Afinal, se a vida não tem um sentido pré-determinado, cabe ao indivíduo o poder – e a responsabilidade – de moldar seu próprio caminho.

Dessa forma, o niilismo é tanto uma crise quanto uma oportunidade, um convite para que cada um de nós enfrente o vazio com coragem e criatividade. Para os que se aventuram nesse caminho, o niilismo não é um fim, mas uma porta aberta para uma vida em que o sentido, ao invés de ser descoberto, pode finalmente ser criado.


segunda-feira, 10 de junho de 2024

Antigo Eu

Quando chegamos principalmente num estágio avançado de nossa vida olhamos para trás no tempo e vemos nosso “antigo eu” se movimentando até chegar onde estamos hoje. Então porque não explorar o tema do "antigo eu", penso que seja essencial para compreender a trajetória de nossas vidas, pois nos permite refletir sobre as mudanças e evoluções que moldam nossa identidade ao longo do tempo. Ao analisar nossas experiências passadas, interações e valores, podemos reconhecer nossos progressos, aprender com os erros e aceitar a pessoa que fomos, tudo isso contribuindo para um crescimento pessoal contínuo e um maior autoconhecimento. Essa introspecção não só nos ajuda a apreciar o quanto já conquistamos, mas também nos prepara para enfrentar o futuro com uma perspectiva mais consciente e enriquecida.

Ao longo da vida, cada um de nós experimenta uma série de transformações que moldam nossa identidade e nos ajudam a crescer. Este artigo explora as diferentes maneiras pelas quais mudamos, introduzindo situações cotidianas que ilustram essa fascinante jornada do "antigo eu" ao "novo eu".

Mudanças Através das Experiências de Vida

Educação e Aprendizado: Lembra daquela vez em que você entrou na sala de aula pela primeira vez, com uma mistura de nervosismo e empolgação? Ou quando começou um novo curso, talvez de culinária ou fotografia? Cada aula, cada novo conhecimento adquirido, acrescenta camadas à nossa identidade. Aquele "antigo eu" que não sabia fritar um ovo agora faz pratos dignos de um chef!

Relações e Interações: Pense em seus amigos de infância e compare-os com as pessoas de quem você é próximo hoje. A cada nova amizade ou relacionamento, somos expostos a novas perspectivas e influências. Talvez o "antigo eu" fosse tímido e reservado, mas graças à influência de amigos extrovertidos, agora você é a vida da festa (ou não).

Eventos Significativos: Momentos marcantes, como o primeiro emprego, a mudança para uma nova cidade, ou até mesmo a superação de um desafio pessoal, são pontos de inflexão. Lembra da primeira vez que você foi morar sozinho? O "antigo eu" dependia dos pais para tudo; o novo você sabe fazer compras, pagar contas e consertar uma torneira que pinga.

Desenvolvimento Pessoal e Emocional

Maturidade: A adolescência pode ser um turbilhão de emoções, mas à medida que envelhecemos, ganhamos maturidade e perspectiva. Aquele "antigo eu" que explodia por qualquer coisa, hoje sabe respirar fundo e contar até dez antes de reagir. Experiências acumuladas e lições aprendidas nos ajudam a lidar melhor com as adversidades da vida.

Valores e Crenças: Mudanças nos valores e crenças são comuns. Talvez o "antigo eu" valorizasse mais o sucesso material, mas agora você encontra maior satisfação em contribuir para a comunidade. Esta mudança pode ser fruto de reflexões profundas ou de experiências que abriram seus olhos para novas realidades.

A Variabilidade na Percepção da Mudança

Resistência à Mudança: Nem todos mudam da mesma forma ou na mesma velocidade. Conhece aquela pessoa que sempre vai ao mesmo restaurante e pede o mesmo prato há anos? Ela pode ter uma resistência maior a mudanças. Isso não significa que ela não mude, mas sim que as mudanças podem ser mais sutis e menos frequentes.

Autopercepção: Às vezes, a mudança é evidente para os outros, mas não para nós mesmos. Alguém pode olhar para você e ver uma pessoa completamente diferente de quem você era há cinco anos, mas, na sua mente, você ainda se sente a mesma pessoa. A autopercepção é subjetiva e pode ser influenciada por vários fatores, incluindo nossa própria autocrítica ou falta de reflexão.

Exceções e Especificidades

Pessoas com Condições Especiais: Algumas condições de saúde mental podem afetar a capacidade de uma pessoa de mudar ou refletir sobre seu antigo eu. Por exemplo, transtornos de personalidade podem fazer com que alguém mantenha padrões de comportamento consistentes ao longo do tempo.

Ambientes Estagnantes: Em ambientes extremamente controlados ou isolados, as oportunidades de mudança podem ser limitadas. Pense em alguém que viveu a vida inteira em uma comunidade muito fechada, com poucas influências externas. A exposição limitada a novas ideias e experiências pode resultar em menos mudanças perceptíveis.

A jornada do "antigo eu" ao "novo eu" é única para cada pessoa. Cada um de nós tem a capacidade de mudar, seja através de grandes eventos de vida, interações diárias, ou momentos de introspecção. Aqui estão algumas maneiras de refletir sobre sua própria jornada:

Reconhecimento de Mudanças Positivas: Olhe para trás e veja o quanto você cresceu. Talvez você tenha superado um medo antigo ou aprendido uma nova habilidade. Celebrar essas conquistas pode ser uma forma poderosa de reconhecer seu progresso.

Aprendizado com Erros: Todos cometemos erros, mas é importante aprender com eles. O "antigo eu" pode ter tomado decisões impensadas, mas essas experiências são oportunidades de aprendizado que moldam quem somos hoje.

Aceitação e Perdão: Aceitar e perdoar o antigo eu por quaisquer falhas ou arrependimentos é crucial para seguir em frente. Todos nós mudamos e crescemos, e é importante reconhecer que a pessoa que éramos fez o melhor que podia com o que sabia na época.

Exemplos do Cotidiano

Mudança de Perspectiva: Talvez você fosse cético em relação a certas ideias, como a importância da meditação. Depois de experimentar por um tempo, você percebe os benefícios e se torna um defensor. O "antigo eu" que zombava da prática agora a considera essencial.

Comportamento: Alguém que era impulsivo na juventude pode desenvolver maior autocontrole com o tempo. Lembra daquela vez em que você gastou todo o salário em algo impulsivamente? Agora, o novo você faz um orçamento cuidadoso e pensa duas vezes antes de gastar.

Valores: Os valores e prioridades mudam ao longo do tempo. Talvez o "antigo eu" priorizasse a carreira acima de tudo, mas depois de se tornar pai ou mãe, a família passou a ser o foco principal. Essa mudança reflete um profundo crescimento e reavaliação do que é mais importante na vida.

A mudança é uma parte inevitável e essencial da vida. Cada experiência, relacionamento e reflexão contribui para a nossa evolução. Seja através de pequenas adaptações diárias ou grandes transformações, todos nós temos um "antigo eu" que nos ajuda a apreciar o quão longe chegamos. Celebrar essas mudanças, aprender com o passado e olhar com esperança para o futuro nos permite continuar nossa jornada de autodescoberta e crescimento contínuo.