O que nos atrapalha é pensarmos em nossa finitude como um problema, e é um problema conflitante alimentado diariamente e principalmente quando não sé é mais jovem, o conflito está na ideia de que iremos morrer em contraste com a ideia de que viveremos para sempre, são dicotomias: Velho X Jovem; Passado X Futuro.
Pensar na imortalidade para fugir da morte, assim como fazem as filosofias e as religiões e tantas outras crenças, fazem parte do imaginário humano, fazem parte do fenômeno humano, não deixa de ter sentido para nós, existe algo em nós que nos remete para a descrença de destruição, nosso poeta Mário Quintana nos legou este belo poema: “Morrer, que me importa/ o diabo é deixar de viver”; morrer é fácil, difícil é viver se não vivermos o presente intensamente.
Nosso poeta não poupou palavras, as usou com franqueza, concordo com ele, as palavras devem ser ditas, e devem ser ditas agora. Há três coisas que não pode fazer voltar atrás, palavra proferida, tempo perdido e pedra atirada. A coisas que devem ser feitas e não adiadas, como os atos que devem ser feitos, e devem ser feitos agora. Quem acha que vai viver muito tempo fica deixando tudo para depois. Estes pensam que a vida ainda não começou, só vai começar depois da compra da casa, depois da educação dos filhos, depois da segurança financeira, depois da aposentadoria, aí será tarde demais, pensemos como viventes num tempo profano, o ser humano é resultado de uma evolução biológica e cultural, nós estabelecemos conceitos de tempo e memória, construímos expectativas e vivemos num mundo de procrastinações.
O pensamento
de Nietzsche nos orienta a viver a vida com intensidade, seja lá o que se
apresentar em nossa frente, estamos cientes que não podemos escolher o que nos
acontece, mas depende exclusivamente de nós o que faremos com o que nos
acontece, depende de atitude e presença de espírito. Podemos lamentar para o
resto da vida, nos ressentirmos com a vida, e assim ficarmos presos ao passado,
o que, consequentemente, nos impedirá uma nova ação no futuro.
O filósofo espanhol Julián Marías entende que a vida humana é projetiva, ou seja, desde a vivência presente está voltada para o futuro, para a concretização de algo (num sentido sempre pessoal) que já se está a fazer, mas cujo desenvolvimento só pode se dar no tempo, no passar do tempo de experiências, as experiências vão construindo este sentido pessoal e as camadas do passado.
O tempo se existe, é ele mesmo e ao mesmo tempo, tempo do passado, presente e futuro. O passado, os momentos do passado, cada instante continuam lá vividos e acontecendo infinitamente, o presente o qual estamos agora, neste exato momento sendo vivido, é o futuro daquele passado acontecendo infinitamente. Cada uma de nossas ações nunca deixarão de existir, cada uma delas estão e estarão ainda agora lá e aqui ao mesmo tempo pulsantes e vibrantes, sejam boas ou más as ações, vejamos então que devemos e precisamos agir sempre da melhor forma e maneiras e com as melhores intenções, para evitar ficar repetindo muitas coisas ruins para nós e os outros, que nos façam lembrar que arrependimento nos mata aos poucos, isto aparece numa contabilização de ações, a apuração do saldo é inevitável, à medida que o tempo passado se acumula, o saldo poderá ser positivo ou negativo. Desfazer o que já está feito é extremamente improvável, o passado já está lá existindo em suas milhões de camadas, o passado não está vivo, nem morto, voltar ao passado, viajar ao passado obviamente também seria improvável, as interações com o passado só poderão ser realizadas através de nossa memória, a memória flutua na lembrança e no esquecimento, no entanto viajar em direção ao futuro é possível e é isto que fazemos no presente, viajamos contabilizando ações, vivemos por vírgulas, o ponto, este ficará para o final.