...é ser fora do eixo?
Que
palavra boa, essa: excêntrico. Literalmente, do grego ekkentros,
quer dizer “fora do centro”. E talvez isso já diga quase tudo.
Ser
excêntrico é não girar no eixo dos outros. É não se preocupar se o bonde segue
para a direita enquanto você caminha para a esquerda assobiando uma música
esquecida. É usar uma boina vermelha num mundo de bonés pretos, comer bergamota
no cinema, chamar a atenção sem querer ou querendo muito — pouco importa.
Excêntrico
é aquele vizinho que cria galinhas no apartamento e lhes dá nomes de filósofos.
É a colega de trabalho que prefere escrever seus relatórios à mão, com caneta
tinteiro, no meio da era digital. É o tio que guarda canecas rachadas porque “a
imperfeição tem charme”.
Mas
o excêntrico não é necessariamente um extravagante. Nem sempre salta aos olhos.
Às vezes é só alguém que recusa o script silenciosamente: não usa redes
sociais, não liga para séries do momento, não troca o celular há cinco anos. E
vive bem assim.
A
sociedade moderna adora sugerir que há um “centro” de comportamento: comprar
isso, vestir aquilo, sonhar com aquilo outro. Mas o excêntrico é um lembrete
vivo de que esse centro é apenas uma construção — e pode ser abandonado sem
culpa.
O
filósofo francês Michel Foucault diria que o excêntrico encarna a “diferença”
que resiste às normalizações do poder. Ele lembra que a vida pode ser outra
coisa — um desvio alegre, um ruído num coro afinado demais.
No
fundo, toda criança é um pouco excêntrica. Ela inventa brincadeiras sem
sentido, fala sozinha com objetos, mistura real e imaginário sem pedir licença.
Só depois é que ensinamos a ela que há um "centro" — horários, modos,
jeitos, expectativas.
Talvez
ser excêntrico, no fundo, seja uma forma de não esquecer essa infância secreta
que mora em todo mundo.
E
quem sabe o mundo precise de mais excêntricos — esses seres estranhos que não
levam tão a sério o que deveria ser levado muito a sério.