Sabe aqueles momentos em que você está apenas aproveitando o dia, e de repente surge uma ideia que não te deixa em paz? Foi exatamente assim que decidi escrever sobre "ser e Ser". Estava sentado no café da Rua da Praia num dia normal de trabalho, tomando um cappuccino e observando as pessoas passarem apressadas, cada uma imersa em sua própria rotina. Foi aí que me peguei pensando: será que todos nós, em meio à correria do dia a dia, paramos para refletir sobre o que realmente significa existir?
Essa
linha de pensamento me levou a lembrar de algumas aulas de filosofia na
faculdade, especialmente as discussões sobre Martin Heidegger e sua distinção
entre "ser" e "Ser". Sempre achei fascinante como ele
explorava a essência da nossa existência, algo que vai muito além das tarefas
diárias e das responsabilidades.
Então,
decidi refletir sobre esse tema e compartilhar algumas reflexões sobre como
essas ideias filosóficas podem ser aplicadas ao nosso cotidiano. Afinal,
entender um pouco mais sobre nós mesmos e o nosso propósito pode transformar
até as tarefas mais simples em algo significativo.
A filosofia é uma ferramenta poderosa para
questionar e entender a realidade que nos cerca. Um dos temas mais intrigantes
é a distinção entre "ser" (com "s" minúsculo) e
"Ser" (com "S" maiúsculo). Este conceito, amplamente
discutido por filósofos como Martin Heidegger, nos convida a refletir sobre
nossa existência de maneira profunda e multifacetada.
O "ser" Cotidiano
Quando falamos de "ser" com "s"
minúsculo, referimo-nos às nossas ações e existência no dia a dia. É o nosso
"estar no mundo" em meio às atividades corriqueiras: acordar, tomar
café, trabalhar, socializar. Estes são momentos em que operamos no piloto
automático, cumprindo rotinas e responsabilidades.
Pense no seguinte exemplo: você acorda de manhã,
escova os dentes, toma um café rápido e corre para o trabalho. No caminho, está
mais preocupado com o trânsito e o tempo do que com o significado dessas ações.
Esse é o "ser" no seu cotidiano - um ser que se desenrola na esfera
do imediato e do habitual.
O "Ser" Profundo
Por outro lado, o "Ser" com "S"
maiúsculo representa a essência da existência, algo mais profundo e reflexivo.
Para Martin Heidegger, um dos principais filósofos que abordaram essa
distinção, o "Ser" refere-se à nossa capacidade de questionar e
compreender o significado da nossa existência.
Vamos imaginar uma situação cotidiana que envolve o
"Ser": você está no mesmo trajeto para o trabalho, mas desta vez,
algo diferente acontece. No meio do trânsito, você começa a se perguntar sobre
o propósito do que está fazendo. "Por que eu corro todos os dias para um
trabalho que não me satisfaz?", "Qual é o verdadeiro significado das
minhas ações diárias?". Esse momento de reflexão nos conecta com o
"Ser" - um estado em que nos tornamos conscientes de nossa própria
existência e buscamos um sentido mais profundo para nossas vidas.
Martin Heidegger e a Questão do Ser
Martin Heidegger, em sua obra "Ser e
Tempo" (1927), explora precisamente essa distinção. Ele argumenta que, na
maior parte do tempo, vivemos na dimensão do "ser" cotidiano, mas é
crucial nos questionarmos sobre o "Ser" para encontrar autenticidade
e significado em nossas vidas. Heidegger usa o termo "Dasein"
(ser-aí) para descrever o ser humano que se questiona sobre o seu próprio ser.
Heidegger nos convida a sair do modo automático e a
entrar em um estado de "ser-no-mundo" consciente. Isso não significa
abandonar nossas rotinas, mas sim abordá-las com uma nova perspectiva, buscando
um entendimento mais profundo de nós mesmos e do nosso lugar no mundo.
Aplicações no Cotidiano
Trabalho e Propósito: Em vez de apenas cumprir tarefas no trabalho,
podemos nos perguntar como nossas atividades diárias contribuem para nosso
crescimento pessoal e para o bem-estar dos outros.
Relacionamentos: Nos relacionamentos, sair do piloto automático significa estar
presente, ouvir ativamente e valorizar as conexões humanas, entendendo seu
significado mais profundo.
Autocuidado:
Refletir sobre nossas rotinas de autocuidado e lazer, questionando se elas
realmente nos trazem satisfação e bem-estar.
A distinção entre "ser" e "Ser"
nos oferece uma lente poderosa para examinar nossa vida cotidiana e buscar um
significado mais profundo em nossas ações. Inspirados por Heidegger, podemos
nos engajar em uma prática constante de autorreflexão, questionando não apenas
o que fazemos, mas por quê fazemos. Ao fazer isso, nos aproximamos de uma
existência mais autêntica e plena, transformando o ordinário em extraordinário
através da consciência e da intenção.