Pesquisar este blog

Mostrando postagens com marcador profunda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador profunda. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Cultura Pop

 

Outro dia, zapeando entre canais e redes, percebi que sei mais sobre o arco narrativo da Marvel do que da história do meu próprio bairro. Eu nem gosto tanto assim de super-herói — mas sei quem morreu, quem ressuscitou e qual versão alternativa salvou o multiverso. No fundo, fiquei pensando: o que é isso que nos atravessa sem pedir licença e se aloja na alma como se fosse nosso? Chama-se cultura pop. Mas talvez mereça um outro nome. Talvez… mito contemporâneo.

Entre o pop e o profundo: a filosofia por trás do entretenimento

A cultura pop costuma ser tratada como leve, passageira, divertida. Algo que consumimos para escapar da realidade, não para enfrentá-la. Mas essa visão é um tanto superficial. Se olharmos com atenção, perceberemos que ela está longe de ser apenas entretenimento. A cultura pop molda nossas emoções, expectativas, vocabulário e até as metáforas com que entendemos o mundo.

Quando dizemos que alguém é um “Jedi” ou uma “Barbie girl”, não estamos apenas fazendo uma piada — estamos usando estruturas narrativas compartilhadas para comunicar valores, identidades e conflitos. No fundo, esses personagens funcionam como mitos. E aqui entramos na primeira provocação filosófica: será que o mito deixou de ser sagrado apenas para se tornar consumível?

Joseph Campbell, ao estudar os mitos ao redor do mundo, dizia que eles tinham uma função psíquica: ajudar o indivíduo a atravessar as etapas da vida com sentido. A jornada do herói, por exemplo, é uma forma de organizar o caos da existência. Ora, o que são as sagas de Harry Potter, Frodo ou até Eleven (de Stranger Things), senão atualizações dessa mesma jornada?

A diferença é que, na cultura pop, tudo vem embalado para o consumo. O herói se vende em bonecos, camisetas e memes. O mito é distribuído em streaming. O sagrado se converte em entretenimento.

Mas não sejamos puristas. A filosofia não precisa ser elitista para ser profunda. Aliás, Platão sabia bem disso quando criou mitos para explicar o mundo das ideias. A diferença é que hoje, os mitos são produzidos coletivamente, por milhões de espectadores e fãs, em fóruns, vídeos de análise e teorias fanfics (histórias ficcionais criadas por fãs). A cultura pop se tornou uma espécie de democracia simbólica.

E há algo poderoso nisso: a cultura pop nos dá modelos para sentir e pensar. Por isso, quando uma série mostra um herói lidando com ansiedade ou uma princesa escolhendo não casar, ela está sugerindo novos modos de viver. A filosofia entra aí: para perguntar se esses modos fazem sentido, se nos libertam ou nos aprisionam, se nos aproximam de quem somos ou nos afundam em fantasias.

Como diria o filósofo francês Gilles Lipovetsky, vivemos na era da “leveza”, onde tudo tende ao efêmero, inclusive o sentido da vida. A cultura pop navega nesse mar — ora nos oferecendo boias, ora nos puxando para a correnteza.

No fim, talvez a questão não seja se a cultura pop é superficial ou profunda, mas sim como a usamos. Podemos assistir a um filme e apenas relaxar. Ou podemos fazer dele uma lente para enxergar o mundo — e a nós mesmos — com mais nitidez.

Porque, no fundo, como diria Morpheus em Matrix, a escolha entre a pílula azul e a vermelha ainda é nossa. Só que, hoje em dia, ela vem no formato de série, trilha sonora ou meme viral.

sábado, 24 de agosto de 2024

Afecções da Alma

Outro dia, enquanto caminhava no Parque Galvani, percebi como algo simples, como o som das folhas secas sob os pés, pode despertar sentimentos profundos. As folhas que antes ornamentavam e davam vida á arvore, hoje são um tapete de lembranças, porém ainda assim são um tapete que protegem as raízes e as novas folhas que ornamentam a sua majestade “árvore”. Às vezes, uma brisa suave ou uma palavra dita de forma inesperada podem mexer com a gente de maneiras que não entendemos de imediato. Esses pequenos momentos me fizeram pensar em como nossas emoções são moldadas por tudo ao nosso redor, por essas afecções invisíveis da alma que surgem sem aviso. E foi nesse contexto que comecei a refletir sobre o poder dessas influências sutis e como elas nos guiam em nossa jornada interna.

"Afecções da alma" é um tema profundo que remete às emoções, sentimentos e estados internos que afetam o ser humano de maneira íntima e, muitas vezes, silenciosa. Podemos pensar nas afecções da alma como as influências, tanto internas quanto externas, que moldam nossas emoções, pensamentos e, consequentemente, nosso comportamento.

Imagine uma tarde tranquila, onde você está em um café, observando o movimento ao seu redor. Enquanto toma um café ou chá, percebe que seu humor oscila entre a calma e uma leve melancolia. Talvez seja o tempo nublado, as lembranças de algo que já passou ou mesmo a energia das pessoas ao seu redor. Esses são momentos em que as afecções da alma se tornam perceptíveis.

Essas afecções podem se manifestar como um sentimento de saudade, aquela sensação agridoce que nos faz lembrar de tempos bons que já não voltam mais. Ou então, como um medo súbito que parece surgir do nada, mas que é, na verdade, um reflexo de inseguranças mais profundas. Até mesmo a alegria inesperada ao ouvir uma música favorita é uma afecção da alma, uma influência positiva que nos conecta com o que há de melhor em nós.

Os filósofos, ao longo dos séculos, têm discutido as afecções da alma sob diferentes perspectivas. Aristóteles, por exemplo, via as afecções como algo natural, mas que precisava ser regulado pela razão para evitar excessos. Já os estoicos acreditavam que as afecções eram perturbações da alma e que o sábio deveria se afastar delas para alcançar a paz interior.

No entanto, na vida cotidiana, evitar completamente as afecções é quase impossível. Elas fazem parte de nossa experiência humana, colorindo nossos dias e noites com uma gama de emoções que nos lembram que estamos vivos. A chave, talvez, esteja em reconhecer essas afecções, compreendê-las e encontrar maneiras saudáveis de lidar com elas.

Assim como as estações mudam, as afecções da alma também têm seus ciclos. Em um momento, podemos estar cheios de energia e entusiasmo; em outro, podemos nos sentir esgotados e desmotivados. Aceitar esses ciclos e aprender a navegar por eles pode nos trazer uma maior compreensão de nós mesmos e de como interagimos com o mundo ao nosso redor.

Então, penso que as afecções da alma são como o vento que balança as folhas de uma árvore. Elas nos movem, nos desafiam e, às vezes, nos assustam. Mas, ao mesmo tempo, nos mostram a profundidade de nossa própria existência, convidando-nos a refletir, a sentir e a crescer. As folhas secas são como lembranças entapetando nossa jornada, as folhas novas são sinal do presente verdejante que nos dão coragem para prosseguir.