Por que viver dói tanto? Uma conversa com Schopenhauer no meio do caos
Tem
dias que a gente acorda já cansado. O despertador toca, o corpo obedece, mas a
alma hesita. Vai trabalhar, estuda, sorri socialmente — mas lá dentro algo
pesa. Não é drama, nem frescura. É só a vida sendo... vida. E aí surge a
pergunta silenciosa: por que viver dói tanto?
Se
você já sentiu isso (e quem não?), pode sentar ao lado de Arthur
Schopenhauer. Ele não vai tentar te consolar. Não vai dizer que tudo vai
melhorar. Na verdade, ele vai te dizer o oposto: a dor é o núcleo da
existência. A vida não é um parque de diversões, é uma espera no
consultório da realidade. E é aí que ele começa a sua obra mais direta e crua: As
Dores do Mundo.
Mas
antes de fugir, fique um pouco. Porque, estranhamente, há algo libertador em
entender que a dor não é um erro, mas uma chave para enxergar o mundo de
outro jeito.
A
vida como vontade cega
Para
Schopenhauer, tudo o que vive é movido por uma força interior que ele chama de vontade.
Não é a vontade racional, tipo "quero café com leite", mas uma vontade
irracional, incessante, impessoal — que nos empurra a desejar, buscar,
lutar, sofrer... e repetir tudo isso.
Essa
vontade está em tudo: nos instintos, nos amores, nas guerras, nas carências,
nos medos. A dor surge porque desejar é sofrer. E quando o desejo é
satisfeito, logo surge outro — e outro, e outro. Uma sede que nunca termina.
A
vida, para ele, é como um mendigo que ganha uma moeda e, no segundo seguinte,
sente fome outra vez.
A
versão 2.0: a dor no século das notificações
Se
Schopenhauer vivesse hoje, talvez As Dores do Mundo começasse com um
celular vibrando às 4 da manhã, um boleto vencido e uma timeline cheia de vidas
felizes que não são a sua. Ele diria: o mundo moderno não eliminou o
sofrimento — ele só o sofisticou.
A
gente não sente fome de comida como antes, mas sente fome de sentido, de
pertencimento, de curtidas. O desejo virou algoritmo. A frustração, mercadoria.
E a dor... bom, ela continua lá. Só que disfarçada de ansiedade, burnout ou um
vazio sem nome.
E
agora? Existe saída?
Schopenhauer
não é um otimista, mas também não é um niilista total. Ele acredita que
é possível diminuir o sofrimento, mesmo que ele nunca desapareça.
Como?
- Pela contemplação estética (a
arte, a música, a beleza desinteressada).
- Pela compaixão, que é quando a
gente reconhece a dor do outro como nossa.
- E, mais profundamente, pela negação
da vontade — um estado de desprendimento, quase budista, onde o querer
cede lugar ao ser.
A
salvação, para ele, não está em ter tudo, mas em querer menos. Em silenciar
a vontade, ainda que por instantes.
Aceitar
a dor é começar a viver
As
Dores do Mundo não é um convite ao desespero, mas à
lucidez. Schopenhauer não quer que a gente sofra mais — quer que a gente pare
de fingir que não está sofrendo.
Reconhecer
que a vida é difícil não é fraqueza, é coragem. E talvez, ao aceitar a dor como
parte da jornada, possamos encontrar momentos de paz mais sinceros, mais
profundos, mais humanos.
Porque,
no fim, o mundo pode até ser um lugar de dor — mas nós ainda podemos ser
lugares de compaixão.