A
incongruência está por toda parte. Sentimos isso quando rimos de uma piada sem
saber exatamente o porquê, quando encontramos um amigo de infância e percebemos
que ele mudou sem mudar, ou quando nos olhamos no espelho e notamos que algo em
nós não se encaixa mais com quem fomos ontem. A vida, em sua essência, é um
jogo de desencontros entre expectativa e realidade. Daí surge a Teoria da
Incongruência.
A
Incongruência como Fundamento da Experiência
A
experiência humana se constrói na tensão entre o previsível e o inesperado.
Quando tudo ocorre exatamente como esperamos, o mundo se torna monótono. Mas
quando uma diferença sutil emerge entre o que imaginamos e o que acontece,
nasce o sentido, a reflexão e até mesmo o humor. Kant, em sua Crítica da
Faculdade do Juízo, já apontava que o riso decorre do contraste inesperado
entre o que prevemos e o que ocorre.
A
incongruência, então, não é um erro do sistema. Ela é o próprio sistema. O que
chamamos de identidade pessoal, por exemplo, é um mosaico de incongruências
costuradas pelo tempo. Somos, ao mesmo tempo, as memórias do passado e a
promessa do futuro, e entre esses dois pontos, uma infinidade de pequenas
incoerências que dão sabor à existência.
O
Riso, o Estranhamento e o Sentido da Vida
A
filosofia e a comédia sempre andaram lado a lado, e não por acaso. O humor,
como explica Henri Bergson, surge justamente da incongruência: um padre que
escorrega na rua, um aristocrata que fala como um proletário, uma palavra usada
fora de seu contexto habitual. A piada funciona porque desafia nossas
expectativas e nos força a reconhecer a fragilidade da lógica cotidiana.
Da
mesma forma, a existência se revela paradoxal. Quanto mais tentamos nos
definir, mais percebemos que somos um fluxo inconstante. O que acreditamos hoje
pode se tornar ridículo amanhã, e o que rejeitamos pode se transformar em
verdade. A incoerência não é um defeito da vida, mas seu motor.
Incongruência
e Liberdade
Se
tudo fosse previsível, seríamos robôs seguindo um script. A incongruência nos
liberta dessa ditadura da coerência absoluta. Ela nos dá a possibilidade de
mudar de opinião, de nos reinventarmos, de explorarmos caminhos que antes
pareciam absurdos. Sartre diria que somos condenados à liberdade, mas talvez
fosse mais apropriado dizer que somos condenados à incongruência. E é
exatamente aí que mora a beleza da vida.
Em
resumo, a Teoria da Incongruência não propõe que abracemos o caos sem critério,
mas que reconheçamos a incongruência como parte essencial da existência. Às
vezes, o que parece erro é apenas um desvio que nos leva a um lugar inesperado
e melhor. Assim, se algo em sua vida parecer incongruente, talvez seja um sinal
de que você está, de fato, vivendo.