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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O Enigma da Esfinge e Outros Mitos



A esfinge era um monstro mitológico, com cabeça de mulher, corpo de leão e asas de águia. Essa tradição originou-se no Egito e passou para a Grécia. Sua principal estátua ficava no templo de Apolo, no chamado Oráculo de Delfos.

Esfinge é uma palavra do egípcio arcaico, significa apertar a garganta até sufocar ou mesmo asfixiar. Era conhecida por seus enigmas. Quem já não ouviu falar? “Decifra-me ou te devoro”, ou seja, aquele quem não decifrasse era por ela devorado. 

Um desses enigmas, muito conhecido, era mais ou menos assim: “o que é, o que é? Qual o ser que de manhã caminha de quatro, ao meio-dia, sobre duas pernas, e pela tarde, com três pernas”. 

Naturalmente, referia-se ao homem, que em criança engatinha, quando adulto anda sobre duas pernas e ao envelhecer necessita de uma terceira perna, que é a bengala. Essa charada era um truque, na verdade, pois o homem é muito mais do que apenas isso. Define a vida como um processo de desenvolvimento, refere-se ao tempo e as etapas da vida.

Lembrando que Édipo responde ao enigma, no entanto para quem conhece a estória, após decifrar aparentemente ao enigma, depois afunda no incesto e no parricídio, este paradoxo pode significar que ele aparentemente a vence pelo intelecto, mas que a vitória intelectual é ilusória, pois, na realidade existencial, ela retorna do fundo do abismo para derrotá-lo. A falsa vitória do intelecto sobre a 

Esfinge representa, assim, a onipotência da Consciência racional que, ao descrever a vida, acredita controlá-la.

Freud descobriu e Édipo tragicamente aprendeu, é o processo de desenvolvimento existencial através das vivências que formam a Consciência, e não o contrário. Se Édipo houvesse compreendido o enigma que decifrou também na dimensão existencial e não apenas intelectual, talvez tivesse examinado melhor sua infância e a relação com seus pais em Corinto e descoberto a história real do seu processo existencial. Ao decifrar a Esfinge somente no nível intelectual e sentir-se onipotentemente conhecedor da verdade, Édipo teve que pagar o preço da tragédia para descobrir sua verdade existencial. Infelizmente, a Psicanálise está tendo que pagar a onipotência da interpretação racional com mais de um século de frustrações.

Os enigmas da esfinge são os nossos enigmas internos. A nossa busca pelo autoconhecimento.

Os nossos questionamentos quanto a nossa existência. Enfim, o verdadeiro enigma: Quem sou?  O que faço aqui? De onde venho? Para onde vou? (SALIS, 2003)

A esfinge tinha cabeça feminina porque representa a intuição. É dessa maneira que devemos indagar, pois a razão e a lógica são inúteis para investigar o mistério da existência. Além disso, é preciso faze-lo com sensibilidade – outra característica do arquétipo feminino. O corpo da esfinge era de leão porque é preciso ter coragem e força para indagar. Além disso, sem saúde forte não se vai a lugar algum. Finalmente a esfinge tinha asas de águia porque o caminho do homem é para o alto, para os deuses ou, como dizemos hoje, para a espiritualidade.

Voar para o alto não significa lutar para provar que somos melhores do que os outros – isto é tolo, vão, e somente nos rebaixa. Voar para o alto muito menos significa conquistar cada vez mais bens materiais – não custa lembrar que tudo ficará por aqui. Voar para o alto é saber nos bastar e buscar a única coisa que levamos para a eternidade: a sabedoria e a espiritualidade ou, como diziam os antigos, a nobreza, a beleza e a bondade.

A chave do enigma para a modernidade: conhece-te a ti mesmo, depois os outros, e finalmente ao mundo – e então, finalmente, serás alguém capaz de voar para o alto.

Como diz Joseph Campbell, é possível extrair dos mitos certo conjunto de normas morais e sociais.

O mito é um paradoxo, é algo que nunca aconteceu, mas sempre existiu. Lembro-me das palavras de alguém que agora não lembro quem, mas lembro de suas palavras: "Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?". 

O mito é uma fala, como diz Barthes, naturalmente não é uma fala qualquer, pois são necessárias condições para que a linguagem se transforme em mito, trata-se de um sistema de comunicação, é uma mensagem. A linguagem é carregada de proposições e palavras, Wittgenstein tem nas palavras o poder enfeitiçante.

O mito não esconde nada e nada ostenta também: deforma; o mito não é nem uma mentira nem uma confissão: é uma inflexão. Ele esta encarregado de transmitir um conceito intencional, o mito só encontra traição na linguagem, pois a linguagem ou elimina o conceito, escondendo-o, ou o desmascara, dizendo-o, no entanto sua ação é mais forte do que as explicações racionais que podem pouco depois desmenti-lo. 

Quando ficamos velhos nos voltamos mais “para a vida interior” e se não soubermos “o que é esse centro (vida interior)”, vamos sofrer. É aí que entram os mitos. De certa forma, eles servem para nos contar a nossa própria história.   Para Campbell, “quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para aquilo que esteja acontecendo em sua vida”. Para ele, “isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo, os mitos tem a ver “com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, “se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. 



São pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, são experiência de vida que nos ensinam a voltar para dentro e nos conectam com a experiência de estar vivo. Mais do que isso, para 

Campbell, “aquilo que os humanos têm em comum se revela nos mitos”.
Justamente por isso, contamos e estudamos mitos, para compreender a nossa própria história, já que todos nós precisamos compreender e enfrentar a morte, assim como precisamos de ajuda em nossas passagens ao longo da vida. Assim, de acordo com Joseph Campbell, mitos são histórias sobre a sabedoria de vida”.

Campbell, em seu livro “O herói de mil faces”, apresenta a ideia de monomito, um mito comum a todos nós. Pensando no que o próprio Campbell (1992) definiu como a “função pedagógica do mito”, que nos ensina “como viver uma vida humana sob qualquer circunstância”, a jornada do herói nos ajuda a compreender cada etapa da nossa jornada, seja de nossa vida como um todo ou das pequenas e grandes jornadas pelas quais nos aventuramos durante nossa trajetória. Nesse sentido, a jornada do herói pode ser considerada “um modelo arquetípico que pode conter sentido e significado para pessoas reais e contemporâneas” (DEL PICCHIA e BALIEIRO, 2010:22).

Como bem resumem Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro, “o modelo da jornada do herói é composto de um ponto de partida – que, de certa forma, é também o ponto de chegada – chamado mundo cotidiano e de três fases: ruptura, iniciação retorno” (2010:22). Cada uma dessas fases é composta por algumas etapas, sendo que, dependendo da jornada, algumas delas podem ou não ser vividas. Em outras palavras, todo herói vive as três fases, que podem ser compostas de mais ou menos etapas.

As etapas da jornada do herói ou aventura do herói, como Campbell chama, descritas em seu livro “O herói de mil faces” são:
  1. A partida
  2. o chamado da aventura
  3. a recusa do chamado
  4. o auxílio sobrenatural
  5. a passagem pelo primeiro limiar
  6. o ventre da baleia
  7. A iniciação
  8. o caminho de provas
  9. o encontro com a deusa
  10. a mulher como tentação
  11. a sintonia com o pai
  12. a apoteose
  13. a última benção
  • O retorno
  1. a recusa do retorno
  2. a fuga mágica
  3. o resgate com auxílio externo
  4. a passagem pelo limiar do retorno
  5. senhor de dois mundos
  6. liberdade para viver
Para Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro que, além de grandes estudiosas de Campbell também pesquisaram a relação da jornada do herói e a vida de pessoas reais, as etapas podem ser descritas da seguinte maneira:

Mundo cotidiano: o ponto de partida, contexto, passado, origem, história pregressa e para onde o herói retorna.
  1. Ruptura
  2. Chamado à aventura: apelo, convocação para o rompimento com o conhecido, crise.
  3. Recusa ao chamado: dúvidas, hesitações, relutância e recusa em aceitar o chamado.
  4. Travessia do primeiro limiar: primeira busca ativa de respostas ou soluções para a ruptura que ocorreu devido ao chamado; primeiro momento de ação.
  5. Iniciação
  6. Encontro com o mestre: mestres encontrados no caminho.
  7. Aprendizado: etapa de educação e aprendizado, tanto vivencial quanto intelectual.
  8. Travessia de novos limiares: comprometimento ainda maior com a mudança, ações e buscas mais radicais.
  9. Situação-limite: ponto de inflexão que implica provações e sacrifícios ou rendição para poder continuar a jornada.
  10. Bliss: encontro do “tesouro de cada um”, aquilo que traz sentido e significado à vida.
  • Retorno
  1. Caminho de volta: preparação para viver no “mundo cotidiano” outra vez, mas pessoalmente modificado
  2. Ressignificado: Transformação pessoal advinda da jornada e do encontro da bliss.
  3. Dádiva para o mundo: o que se traz como doação concreta para o mundo, de acordo com a bliss.
Para as autoras, é importante lembrar, ainda, que “as etapas não acontecem de maneira linear como no mito” (p. 22). Segundo a observação delas, nas vidas das pessoas “algumas dessas etapas acontecem para todas, são inerentes ao caminho: o chamado à aventura, a travessia, a travessia do primeiro limiar, a bliss, o caminho de volta, o ressignificado e a dádiva ao mundo” (p. 23). De acordo com a observação delas, “as outras etapas podem ocorrer ou não: a recusa, a travessia de novos limiares, o mestre, o encontro com o mestre, o aprendizado e a situação limite”.

Para Christopher Vogler (2006), a jornada do herói também está dividida em doze estágios: mundo comum, chamado à aventura, recusa do chamado, encontro com o mentor, travessia do primeiro limiar, testes, aliados e inimigos, aproximação da caverna oculta, provação, recompensa (apenhando a espada), caminho de volta, ressureição e retorno com o elixir.

Círculos e ciclos

Joseph Campbell, assim como C.G.Jung, pesquisaram sobre os acontecimentos circulares, especialmente os círculos e mandalas, que também possuem um conteúdo mítico. Também Mircea Eliade, ao falar do mito do eterno retorno, abordou esse tema.

Mandala é uma palavra em sânscrito que significa o círculo que é montado ou desenhado simbolicamente, adquirindo um significado de ordem cósmica. Quando alguém faz uma mandala, está tentando coordenar seu círculo pessoal com o universal. Muitas cerimônias e rituais indígenas, por exemplo, acontecem em formas circulares.



A própria jornada ou aventura do herói pode ser descrita de forma circular, considerando que o herói parte do mundo comum, para onde retorna. O mito, aliás, rompe com o tempo linear histórico e inclui os ritos e rituais que, de forma circular, “asseguram a continuidade da vida” (ELIADE, 1969:66).

Essa concepção cíclica ou circular de mundo está ligada aos movimentos celestes, especialmente aos ciclos de Sol e de Lua. Mircea Eliade nos lembra que as fases da Lua “desempenharam um papel importante na elaboração das concepções cíclicas” (1969:101).
Vilém Flusser (2007:69) lembra sobre a “roda do Sol, o círculo do tempo”, que “coloca tudo e todas as coisas de volta no lugar que lhes é devido”. Flusser ainda lembra que “os planetas descrevem órbitas circulares, epicíclicas ou elípticas”.



Nesse sentido, a base da Astrologia está relacionada a esses movimentos circulares e a ideia de ciclos que sempre se repetem. Apesar dos ciclos astrológicos possuírem diversos referenciais, todos eles são circulares e cíclicos. Considerando o homem na Terra como observador, a Astrologia considera o aparente movimento de Sol, Lua e dos planetas ao nosso redor. Além disso, tendo como base o local geográfico no qual está o observador, formam-se as doze casas astrológicas, diretamente ligadas ao movimento diário da Terra em seu próprio eixo, que faz com que tenhamos o tempo dividido em dia e noite.

Então, uma função mitológica é voltada para orientar os indivíduos à superação das etapas da vida, do nascimento à maturidade, da senilidade à morte.


Na visão de Nietzsche, o Eterno Retorno é uma espécie de mito introduzido na filosofia por ele que descrevera a "condição humana", revigorando uma ideia esboçada por certos pitagóricos, admitida pelos estoicos e certos neoplatônicos, sob uma forma astrológica, para designar a doutrina no movimento cíclico absoluto e infinitamente repetido de todas as coisas. Em Assim Falou Zaratustra (1883-85), ele retoma a ideia de Heráclito do devir, segundo a qual tudo flui, tudo muda, tudo retorna, e declara: tudo passa e tudo retorna, eternamente gira a roda do ser. Em Ecce Homo (1888), tem sua primeira intuição, quase mística, do eterno retorno: se o tempo não é linear, não faz sentido a distinção entre o "antes" e o "depois". Se tudo retorna eternamente, o futuro já é um passado; e o presente é tão passado quanto o futuro.

Teoria pitagórica e estoica segundo a qual as coisas voltam exatamente semelhantes ao que foram após um período de vários milhares de anos (o Grande Ano). Essa periodicidade do estado do Mundo será admitida ulteriormente a título de mito poético por vários autores, mas é com Nietzsche que encontra um novo vigor, principalmente por sua dimensão moral e porque constituirá o equivalente de um salto na eternidade ou na imortalidade compatível com, simultaneamente, o pessimismo com relação ao mundo contemporâneo e a espera do super-homem.

Diferentemente do “eterno Retorno” de Nietzsche, numa visão holística, início e fim são a mesma coisa, são constantes do círculo da vida, tem a ver com o tempo. Estamos acostumados a ver o tempo como uma linha reta, e nós no meio dessa linha e os acontecimentos acontecendo antes e depois.

Existe uma forma de pensar holística oriental ser a mais coerente com a lei carmica, devemos imaginar o tempo como um círculo, ao invés de uma linha, conosco no centro do círculo do tempo, acontecimentos ocorrem ao nosso redor, todos ao mesmo tempo.

No círculo do tempo, nada vem antes e nada vem depois. É assim que o tempo realmente é. Não há nada antes e nada depois, tudo é igual, percebe-se aí a possibilidade de um entrelaçamento quântico, que permite que dois ou mais acontecimentos estejam de alguma forma tão ligados que um acontecimento não possa ser corretamente descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada - mesmo que os acontecimentos possam estar temporalmente separados. “Temos de aprender a pensar o mundo não como algo que muda no tempo, mas de alguma outra maneira. As coisas mudam apenas uma em relação a outra. No nível fundamental, o tempo não existe”.


Talvez, a dificuldade em entender o conceito se deva ao fato de que é praticamente impossível pensar em um mundo sem tempo e sem espaço. Isso porque essa ideia coloca em risco a própria realidade a nossa volta — daí para o niilismo de Nietzsche é um pulo. Mas, como alertou o físico italiano, “compreender o mundo muitas vezes significa contrariar a nossa própria intuição”.

Com esta teoria da física, ironicamente, ganhamos uma maneira mais filosófica de ver o mundo, já que vem da filosofia essa ideia de deixar de ver o espaço como um “recipiente”. “Quanto mais aprendemos de forma interdisciplinar, melhor compreendemos as coisas. Einstein lia muita filosofia; Kant, Milton e Borges foram muito influenciados pela física... Manter a educação separada nos faz mais ignorantes”, segundo o físico italiano Carlo Rovelli.


Falar sobre o tema “Tempo” é apaixonante e instigante, a ideia do tempo está presente desde a antiguidade, presente nos mitos como por exemplo no mito grego de Kronos que nos remete à compreensão do tempo e das limitações da vida mortal. Nada pode ir além do âmbito da própria vida e nada permanece inalterado. Kronos é o deus que encarna o sentido do tempo, mas também se rebela contra ele. E, por isso foi destronado e humilhado, aprendendo assim no silêncio da própria dor.

PENSAR SOBRE O TEMPO NO CIRCULO HOLISTICO CARMICO - No círculo holístico oriental de encarar a vida, não há pecados, apenas dividas carmicas, e ninguém pode pagar estas dividas por nós. Para ascender a círculos mais elevados e evoluídos, o mérito é necessário, é preciso que o herói realize uma mudança de padrões de comportamento. Só assim o ciclo se encerra!…, caso contrário estaríamos vivendo no eterno retorno apontado por Nietzsche. O aprendizado é o que realmente importa nas questões carmicas. Se ele não ocorrer, o carma não é resgatado, por mais que tenhamos sofrido com a sua ação impiedosa… Inclusive, o carma pode até ser mudado, ou mesmo anulado, a partir do aprendizado.

A função de nossas experiências na matéria é provocar evolução interna, ou seja, instruir-nos sobre o caminho da luz. Não existe punição divina. O homem é que ainda percebe a causa da dor dessa forma equivocada, ou seja, acreditando que ela é um castigo em vez de um ensinamento. Isso dificulta a libertação dos ciclos reencarnatórios de sofrimento.

Apenas viver o carma não é suficiente. É necessário aprender com ele e modificar-se para melhor. Em outras palavras: dar novas respostas ao mundo ao nosso redor, abandonando antigos padrões de comportamento… Sobre o carma, nada mudou com relação à visão dos estudiosos espiritualistas do passado. A única diferença é que a percepção da humanidade de agora é mais ampla, permitindo que ela compreenda melhor esse mecanismo. Não existe culpa e castigo. O que existe é erro e aprendizado. O carma só se manifesta com essa intenção. Quem se conscientiza rapidamente que ingressou na estrada da sombra, logo se liberta da imposição do carma, podendo até mesmo evitá-lo.”


Do início ao fim do caminho do herói, seu herói é, e sempre será, apenas você.


BIBLIOGRAFIA

CAMPBELL, Joseph (entrevista com Bill Moyers). O poder do mito. São Paulo: Associação Palas Atenas, 1992.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 2013.
                                    Mito e Transformação, 2008, p. 36.

DEL PICHIA, Beatriz. BALIEIRO, Cristina. O feminino e o sagrado: a mulher na jornada do herói. São Paulo: Ágora, 2010.

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993

ELIADE, Mircea. O mito do eterno retorno. Lisboa: Edições 70, 1969.

FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
______. WILHELM, Richard. O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês. Petrópolis: Vozes, 2012.

FREUD, Sigmund (1900). A Interpretação dos Sonhos. Obras Completas. Rio de Janeiro: Ed. Imago, Vols. 3 e 4, 1972.

SALIS, Viktor D. Mitologia Viva – Aprendendo com os deuses a arte de viver e amar. Ed. Nova Alexandria, São Paulo, 2003

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

Sites consultados:

 




domingo, 13 de outubro de 2019

VAMOS FALAR DE DEPRESSÃO E AS RAZÕES QUE LEVAM A ELA




Conversando com um amigo de infância com quem tenho afinidade, após uma boa conversa com ele, ele descreveu seu quadro bastante angustiado, aparentemente sem motivos já que ele é um cara bem sucedido profissionalmente, faz parte de uma bela família, e dificilmente alguém poderia supor que ele sofre de depressão.

Através de estudos anteriores, e alguma experiência que tive ao fazer um curso de pós-graduação em Neuropsicopedagogia, já estava ciente da gravidade que é alguém conviver com a depressão, mas que infelizmente ainda se ouve da boca de pessoas aparentemente esclarecidas que “isto não passa de frescura”, isto não passa apenas de "uma tristeza mal resolvida junto algum familiar", isto não passa apenas de "alguma magoa que já deveria ter sido resolvida, pois já é bem grandinha" e por ai vai. Estes tipos de comentários sempre me incomodaram e sempre me pareceu que quem faz tal afirmação, não tem empatia para com o outro, se sente superior (o que não é) e no mínimo tem desprezo pela dor do outro. 

Para quem leu algo sobre o tema abordado por Hipócrates, Schopenhauer, Bauman, Platão e Aristóteles saberão do que estarei a falar.

Diante disto, resolvi trazer à baila algumas considerações que penso serem de muita importância, acredito que a Filosofia Clinica tem muito a dizer a respeito, onde o filosofo Fabiano de Abreu e o escritor estadunidense Andrew Solomon, fazem interessantes analises, que estou compartilhando.

Começarei pelo filósofo Fabiano de Abreu, o qual tenho grande admiração.


Filosofo Fabiano de Abreu

Em 11/07/2018, o brilhante pesquisador e filósofo Fabiano de Abreu teceu os seguintes comentários acerca da depressão: “Depressão é muito mais do que um sentimento de tristeza”

Apesar de muitos tabus que ainda cercam o assunto, a depressão é uma doença muito séria, mas muitos não a encaram com a mesma seriedade que a situação demanda, sendo encarado por alguns como fingimento ou “frescura". 

A ciência já comprovou os efeitos fisiológicos da depressão, suas manifestações. Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) estudaram a relação entre a depressão e dores crônicas. Os resultados mostraram que os acometimentos do corpo e da mente estão extremamente relacionados. Coordenado pela doutora Laura Helena Andrade, o estudo faz parte de um levantamento concluído em 2009 que analisou mais de 5 mil pessoas maiores de idade e que vivem na região metropolitana de São Paulo. Não é a toa que a depressão é considerada o mal do século 21.

O Filósofo Fabiano de Abreu, autor do livro “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, é um pesquisador do comportamento humano e da busca pela felicidade, e tem se dedicado a entender a depressão, seu processo e sua cura. Baseado em seus estudos, Fabiano tem uma opinião sobre o assunto: "quando buscamos o motivo pelo qual nos sentimos pressionados, tristes, depressivos, encurtamos assim o tratamento natural para a cura da depressão, e com base nos seus estudos, tem uma opinião. Quando já não conseguimos pensar e isso é dominante e atuante no cotidiano, devemos buscar ajuda clínica. Algumas coisas estão sob nosso controle e outras não, mas não podemos nos desgastar com as que não estão ou isso pode ocasionar uma depressão resultado da insatisfação ou fracasso”. 

Para o filósofo, uma tristeza pode evoluir para um quadro de depressão, com base em uma situação de insatisfação ou fracasso. Assim, é preciso entender a diferença entre a tristeza e a depressão clínica, e buscar ajuda condizente com o quadro. Penso tal como o filósofo que a meditação é uma ótima ferramenta para enfrentar a depressão, e reafirmo que a meditação não é apenas fechar os olhos com as pernas em posição borboleta e as mãos apoiadas juntando as pontas dos dedos e entoar um mantra. A meditação é pararmos, nos desligarmos dos problemas e pensarmos sobre nossa própria vida. Se estamos tristes, então precisamos entender o motivo de estamos tristes, a razão, e assim saber o que pode ser feito”.

A meditação não é um produto de consumo e de bem-estar, e sim deve ser pensada como uma prática pessoal de profunda transformação. Além dos estados agradáveis momentâneos, os exercícios mentais podem resultar na transformação duradoura de traços de personalidade. Porém, as curtas doses diárias não nos levarão a este nível de transformação positiva e duradoura - mesmo se continuarmos a praticar por anos - sem adicionar práticas específicas.

Leve a sério a meditação, é um ótimo remédio para vencer alguma tristeza que o esteja rondando, não deixe evoluir para a depressão.


Escritor Andrew Solomon

"O oposto da depressão não é felicidade, mas vitalidade"

Acredito seriamente que as palavras do premiado escritor estadunidense Andrew Solomon, sejam de grande importância e relevância, dentre algumas de suas afirmações destaquei o ponto que entendo seja a chave para a luta contra a depressão: "O oposto da depressão não é felicidade, mas vitalidade", pois a felicidade não é de graça, é preciso trabalho, e é na vitalidade que encontraremos propulsão para a felicidade.

Em 04/08/2014, o premiado escritor estadunidense em entrevista para Alexandre Lucchese, fala sobre auto aceitação e os avanços dos movimentos pelos direitos dos homossexuais (04/08/2014 - 10h32minAtualizada em 22/05/2019 - 10h51min)

Com livros premiados e traduzidos para mais de 20 idiomas, o escritor americano Andrew Solomon, 50 anos, colabora com diferentes jornais e cruza o mundo falando em conferências na última sexta-feira, no Brasil, participou de um debate durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Quem observa a movimentada agenda do escritor mal consegue imaginar que Solomon já sofreu crises de depressão tão profundas que o deixaram à beira do imobilismo. O livro O Demônio do Meio-Dia (2001), em que analisa a depressão a partir da própria experiência com a doença, foi escolhido um dos cem melhores da década pelo jornal britânico The Times. Na infância, Solomon contou com o apoio dos pais para superar sua dislexia. Mais tarde, teve dificuldade para ser aceito por eles quando revelou sua homossexualidade.

Essas situações inspiraram o livro Longe da Árvore (2012), resultado de mais de 10 anos de pesquisa sobre crianças, adolescentes e adultos à margem dos padrões sociais e biológicos considerados "normais", aceitos (ou não) por suas famílias. Nesta entrevista, o autor fala sobre depressão, auto aceitação e os avanços dos movimentos pelos direitos dos homossexuais.

Em O Demônio do Meio-Dia, o senhor narra um colapso causado pela depressão, que durante algum tempo o impediu de realizar atividades básicas como tomar banho, por exemplo. De que modo conseguiu superar esse quadro?

Minha depressão respondeu a um tratamento que combinou medicação e psicoterapia. Imagino que precisarei manter essa combinação pelo resto da minha vida. Às vezes, isso não parece um problema; em outras, sinto como algo muito inconveniente e irritante.

O que recomendaria para quem está passando pela mesma situação?

Realmente acredito que as pessoas devem procurar o que funciona para elas. Já encontrei gente que teve boas respostas com recursos que soam ridículos sob o ponto de vista científico, mas que efetivamente fizeram com que elas se sentissem melhor. Então, não se pode dizer que é algo ridículo, uma vez que ajudou alguém. O único perigo disso é que, enquanto alguém se dedica a um tratamento sem eficácia comprovada, está atrasando o início de algo que já tem um histórico de comprovação e, neste intervalo de tempo, o quadro pode se agravar. Meu tratamento é baseado nas tecnologias modernas - e sou muito grato por viver em um tempo em que tudo isso está disponível.

Hoje se fala muito mais de depressão do que se falava antigamente. Isso se deve a um maior conhecimento sobre o tema ou ao fato de que houve uma banalização do termo?

Acho que sabemos muito mais sobre depressão e, por isto, podemos fazer mais por quem está sofrendo da doença. Há cem anos, quem se sentia depressivo não falava muito sobre isso, até porque não havia muito a fazer a respeito. Agora, há muitas intervenções possíveis: remédios, psicoterapia, eletrochoques para quem necessita... O fato de as pessoas estarem falando mais e terem a mente mais aberta sobre o assunto é sempre algo bom.

Pode estar havendo alguma dificuldade de lidar com dores que fazem parte da vida e que acabam sendo confundidas com depressão?

Acredito que é uma pobreza de nossas línguas usar a palavra "depressão" para descrever sentimentos de tristeza e também uma condição clínica. A experiência que uma criança tem quando seu jogo de futebol é cancelado, por exemplo, é bem diferente da experiência de alguém que comete suicídio. O fato de usarmos a mesma palavra para ambas as situações gera confusão. Pessoas que já tiveram a experiência de ter um dia muito ruim às vezes acreditam saber o que é uma depressão. Ressalto que o oposto de depressão não é felicidade, mas vitalidade. Depressão não é tristeza, é a falta de energia para fazer qualquer coisa com a sua vida. Não há como comprovar isso, mas suspeito que exista uma taxa maior de depressão atualmente do que se costumava ter. E há muitas razões para isso: estamos interagindo mais com computadores do que com pessoas, o ritmo de vida é rápido demais, nós temos várias possibilidades de comunicação, mas não usamos porque ficamos vendo TV... Há mais fatores estressantes na vida moderna que podem ajudar a desencadear depressões.

Muitos consideram a depressão um fenômeno moderno ocidental.

Esse é um mito que tenho interesse em destruir. Comecei pesquisando conceitos históricos de depressão. Hipócrates, há 2,5 mil anos, descrevia a depressão nos mesmos termos com que a descrevemos hoje. Além disso, dizia que era uma disfunção orgânica do cérebro, melhor disparada por fatores externos. Já Platão afirmava que era um problema filosófico, melhor resolvido por meio de conversas. Então, a distinção entre os modelos médicos e psicodinâmicos da depressão já existe há cerca de 25 séculos. Com intuito de observar melhor se era um fenômeno ocidental, me aventurei a estar em uma grande variedade de sociedades. Observei a depressão entre os sobreviventes do Khmer Vermelho do Camboja, entre esquimós inuítes, e fui até o Senegal, onde participei de sessões do tratamento ritual da doença, bastante populares lá. Constatei que a linguagem usada para descrever a depressão varia um pouco, mas a ideia de que algumas pessoas às vezes se sentiam inexplicavelmente divorciadas de todas as oportunidades e de tudo o que dava sentido para suas vidas existia em qualquer sociedade que pude encontrar.


Ainda há quem afirme que é um problema de classe média.

Também busquei observar essa ideia de que a depressão só ocorre quando você é desocupado o suficiente para ter tempo para ela, por isso, seria de algum modo uma experiência das classes mais abastadas. No entanto, descobri que quando você tem uma vida que, em termos materiais, poderia ser maravilhosa, mas se sente triste o tempo todo, você procura um médico, já que isso não faz sentido. Mas, se você é pobre e sua vida é difícil, quando se sente triste pensa: "É claro que me sinto triste, minha vida é horrível". E então não busca tratamento. Na realidade, quando você entrevista muitas pessoas que estão vivendo depressão, percebe que frequentemente elas não estão deprimidas porque têm vidas horríveis e pobres, e sim têm vidas horríveis e pobres porque a depressão as paralisa e não permite que façam o que deveriam para melhorar.

No livro Longe da Árvore, publicado ano passado no Brasil, o senhor aborda o crescimento de filhos com identidades diversas das de seus pais e a forma como são aceitos ou não. Transgêneros, autistas, surdos e esquizofrênicos são alguns exemplos. Hoje, os pais estão mais bem preparados para lidar com filhos que não correspondem às suas expectativas?

Acho que jamais alguém está preparado para ter filhos muito diferentes de si. É chocante para todas as famílias em que isso ocorre. Não acredito que as pessoas estejam mais bem preparadas, e sim que, na era da internet, há mais possibilidades de encontrar comunidades com pessoas que também precisam lidar com as mesmas situações. Além de adquirirem conhecimento nesses espaços, compreendem a ideia de que a vida com uma criança que é diferente, algo que parece incrivelmente difícil, é sim possível, já que há muitos outros pais conseguindo lidar com esta situação. Tudo isso colabora para que os pais aceitem com mais facilidade crianças diferentes da expectativa da maior parte das pessoas. No entanto, "mais fácil" não quer dizer "fácil". É apenas um pouco menos difícil.

Onde o senhor acha que as pessoas enfrentam mais preconceito, dentro ou fora de casa?

Acredito que há três níveis de aceitação a serem desenvolvidos: auto aceitação, aceitação familiar e aceitação social - esta última inclui escola e trabalho. Cada um deles influencia os outros. É claro que já ouvi histórias de gente bem compreendida em casa, mas que sofre preconceito imenso no trabalho, e também o contrário. Mas não diria que um dos níveis é mais importante do que os outros. O que acredito é que alguém com auto aceitação tem uma influência, ainda que limitada, em ser aceito por sua família e pelo mundo. Quem é aceito pela família tende a ser mais bem aceito no trabalho, porque sua atitude é diferente, e assim por diante. Do mesmo modo, pessoas que cresceram sendo rejeitadas pela família tendem a sofrer mais rejeições no trabalho, porque isso passa a ser uma constante para elas, a ponto de não saberem muito bem como construir suas vidas sem esse sentimento.

Como estimular a auto aceitação de uma criança e não fazê-la se sentir sozinha em suas diferenças?

Não penso em termos de uma criança se sentir sozinha, mas em um importante equilíbrio que muitas vezes é delicado. Uma criança com diferenças deve ser inserida no mundo real, educada em salas de aulas e exposta a pessoas e colegas que não compartilham suas mesmas diferenças, já que esse é o mundo em que viverá. Mas essa criança também deveria ocupar algum tempo em salas de aula e outros contextos junto a pessoas com sua mesma condição, onde poderá entender melhor o que é esta experiência, ter ideia dos desafios que terá de enfrentar. Acredito que os dois ambientes são necessários.

A homossexualidade era considerada uma doença há algumas décadas. Hoje, a união homoafetiva é uma realidade. Como militante dos direitos dos homossexuais, como explica esses progressos?

Isso pode parecer repentino, mas é o resultado de muitas décadas de ativismo e pode ser atribuído consideravelmente aos movimentos por direitos civis anteriores, como o movimento pelo direito das mulheres ao voto e os movimentos pelos direitos das minorias raciais. Acredito que o movimento gay se inspirou nesses dois, e todos têm em mente uma sensibilidade pós-colonial: um grupo de pessoas não deveria ser autorizado a controlar outro grupo de pessoas. Também acho importante dizer que o casamento gay é maravilhoso, tenho um casamento gay e estou muito contente por isto. Mas é preciso avançar em outras questões. Nos EUA e em outros países, em diferentes proporções, pessoas continuam sendo demitidas por serem gays, ou sendo maltratadas por serem gays, ou tendo o direito de habitação negado por serem gays... Há até mesmo países em que pessoas são executadas por serem gays. São todas formas de preconceito.

Os setores políticos que se posicionaram contra a união homoafetiva, tanto no Brasil quanto nos EUA, têm forte ligação com as religiões cristãs. Por outro lado, o cristianismo promove a ideia de amor e tolerância. Como o senhor vê o papel das religiões no combate aos preconceitos?

Acredito que se relacionar com as religiões é realmente importante, pois os direitos pelos quais batalhamos não virão até que elas deixem de se opor. Minha experiência trabalhando nesse mundo é que os maiores atos de generosidade, compreensão e gentileza para os gays devem muito à influência das instituições religiosas. E os grandes atos de preconceito, crueldade e depressão vieram, da mesma forma, de instituições religiosas ou foram feitos em nome da religião. Pertenço a uma igreja de Nova York bastante aberta e respeitosa, e o que admiro do cristianismo vem de seu primeiro mandamento (amar o seu inimigo) e da crença no juízo de Deus - e não presunção de que podemos julgar uns aos outros. As passagens que são usadas o tempo todo para atacar os gays são relativamente insignificantes na Bíblia, que é repleta de muitas outras instruções. A base lógica dos religiosos antigays é muito débil, e o modo como eles a mantêm é profundamente não cristão. Acredito que foi em um contexto como esse que Gandhi disse "Amo seu Cristo, mas não seus cristãos, porque são tão diferentes d’Ele". Acredito que a homofobia nas religiões organizadas é um dos grandes venenos da vida moderna.

E como vê a atuação do papa Francisco em relação aos gays?
O novo papa tem uma enorme humildade e consegue se engajar com as pessoas. Sobre os gays, em particular, ele disse em entrevista algo como "Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-la?", o que é bastante diferente das frases dos dois papas anteriores sobre o tema. Fico animado, pois isso demonstra que ele é mais aberto e tolerante à causa. Acredito que não exista apenas um modo de ser uma boa pessoa e um bom cristão.

No Brasil, já há alguns anos, tenta-se aprovar uma lei contra a homofobia. O que acha de uma lei como essa?

Acho que há áreas em que as leis são relevantes: por exemplo, uma lei que impeça que se demitam pessoas por serem gays ou uma lei que afirme ser crime de ódio bater em alguém por ser homossexual. O que não faria sentido é uma lei que obrigasse pessoas que não gostam de gays a passarem a gostar. Isso não se transforma com uma lei, mas com educação. Mas, quando você tem um mecanismo legal que indica que gays precisam ser tratados com igual dignidade, esse é um modo muito forte de comunicar que gays são iguais a qualquer outro ser humano, e isto afeta o modo como a população encara esse grupo. É um círculo: melhores leis ajudam a criar melhores atitudes, e com melhores atitudes é mais fácil criar melhores leis.

Conforme Carolina Cunha Da Novelo Comunicação, ela em seu artigo publicou o que segue:
A vida é repleta de eventos doloridos e a tristeza faz parte da condição humana. Mas quando é que estar triste se transforma em doença?

A depressão é um problema de saúde pública. Ela se distingue da tristeza pela duração de seus sinais e pelo contexto em que ocorre. Trata-se de uma experiência cotidiana associada a várias sensações de sofrimento psíquico e físico e que pode impedir que a pessoa realize suas atividades cotidianas e atrapalhar nos relacionamentos.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo menos 350 milhões de pessoas sofrem desse mal no mundo. No Brasil, de acordo com um levantamento nacional da Universidade Federal de São Paulo, um terço da população brasileira apresenta sintomas de depressão.

A depressão é considerada um transtorno mental comum e pode aparecer em três graus: leve, moderada ou grave. Os casos extremos levam o indivíduo a ficar incapacitado diante da vida até mesmo a desistir dela. Segundo a OMS, 15% dos depressivos comentem suicídio.

Diagnosticar e traçar a linha que separa a normalidade da patologia é sempre uma dificuldade e no meio disso tudo existe a estigmatização da doença. Ela não tem uma causa ou características únicas e atinge as pessoas de modos diferentes. Em termos científicos, não existem testes laboratoriais que revelam quando a tristeza se torna um estado de depressão. O único jeito é observar a si mesmo.

Para psicólogos e psiquiatras, a depressão pode surgir de diversas formas, principalmente como reação a uma situação estressante. Os fatores desencadeantes podem ser acontecimentos como traumas na infância, a morte de alguém, o fim de casamento, isolamento social ou violência. Não raro, porém, a depressão surge sem motivo.

Os sintomas ajudam no diagnóstico do quadro e a intensidade na experiência dos fenômenos relacionados à depressão é um dos fatores mais mencionados por pessoas que a viveram. A perda de interesse pelo trabalho ou lazer, dificuldade de concentração, baixa autoestima, sonolência, choro por qualquer coisa, sentimento de culpa ou desamparo, ansiedade, falta de libido, ataques de pânico e pensamentos negativos frequentes são alguns dos comportamentos relacionados ao transtorno.

O escritor estadunidense Andrew Solomon escreveu o livro "O Demônio do Meio-Dia" para investigar a depressão a partir de sua própria experiência. "O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade”, escreve ele. “A depressão começa do insípido, nubla os dias com uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas formas claras são obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados, entediados e obcecados com nós mesmos — mas é possível superar isso. Não de uma forma feliz, talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o ponto de colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há como confundi-la.”

O que a Ciência diz?

Os mecanismos pelos quais a depressão se instala ainda não são totalmente conhecidos. Mas a medicina descobriu que o estado de depressão gera determinadas modificações químicas no corpo.

O corpo humano tem 12 bilhões de neurônios. Os neurotransmissores são substâncias químicas sintetizadas, liberadas pelos neurônios e responsáveis por sensações como prazer, conforto e bem-estar. Sabe-se que neurotransmissores cerebrais têm um papel relevante no processo da depressão.

A serotonina é a substância que ajuda a controlar o humor e diversas outras funções vitais do organismo, como o sono. Já a noradrenalina ajuda a produzir o hormônio adrenalina, com efeito estimulante e que cria o estado de alerta em situações de perigo.

A depressão se traduz como uma desordem no cérebro, órgão que tem dificuldade de manter o equilíbrio dos níveis de serotonina e noradrenalina no corpo. Remédios antidepressivos não produzem essas substâncias, mas aumentam os níveis delas.

Para controlar o equilíbrio dessas substâncias nas células, o corpo produz a enzima monoaminoxidase, que elimina o excesso de neurotransmissores. Pessoas deprimidas geralmente não têm níveis baixos de neurotransmissores, mas a enzima trabalha “demais”, atrapalhando o fluxo livre de liberação da serotonina e noradrenalina. Antidepressivos atuam na inibição da monoaminoxidase para que os níveis desses transmissores permaneçam altos.

Especialistas classificam a depressão em bipolar (também conhecida como PMD- psicose maníaco depressiva) ou unipolar. A PMD alterna momentos de euforia (quando provavelmente há excesso de neurotransmissores) e profunda depressão, quando provavelmente há falta. A do tipo unipolar é relacionada à melancolia sem fim.

A depressão também pode acionar o fenômeno Kindling. Imagine alguém descendo uma montanha russa. Um evento estressor significativo desencadeia o primeiro episódio. Progressivamente, os quadros passam a ser desencadeados por eventos menos intensos ou mesmo sem motivo. Assim, um fator estressor que não abalaria uma pessoa pode desencadear um novo episódio em quem já é depressivo crônico. A depressão causaria lesões nos neurônios, prejudicando a transmissão de impulsos nervosos no cérebro, deixando a pessoa com predisposição à uma nova crise.

A OMS recomenda que casos de depressão moderada ou grave devam ser tratados com medicação capaz de aliviar seus sintomas, com dosagens específicas para cada paciente. O ideal é que o tratamento conte com psicoterapeutas e psiquiatras que ajudam a trabalhar as questões emocionais da 
pessoa. 

Pesquisadores testam novas formas eficazes de tratamento da depressão com estudos que buscam identificar as áreas exatas no cérebro relacionadas a determinadas sensações. Se localizarem com sucesso, no futuro será possível ter aparelhos para estimular ou inibir áreas de um cérebro deprimido.

Atualmente, tratamentos com estimulação cerebral com eletrodos diminuem os sintomas, mas são recomendados muito raramente e para casos mais extremos. A carga elétrica parece aumentar o efeito da dopamina e afetar os outros neurotransmissores, além de estimular o metabolismo do córtex frontal. Um pouco menos invasiva é a técnica com ressonância magnética, que estimula o cérebro com ondas eletromagnéticas que aumentam o fluxo sanguíneo na área e, consequentemente, sua atividade cerebral.

Terapias complementares e a adoção de hábitos saudáveis ajudam na recuperação e na prevenção da depressão. Ter uma alimentação nutritiva diária, evitar o uso de drogas e o consumo de álcool, praticar esportes (exercícios produzem endorfina) e atividades de relaxamento e meditação são importantes ferramentas para combater o estresse e enfrentar e superar problemas. 

A ciência também relaciona problemas hormonais e genéticos às causas da depressão. Nas mulheres, os níveis flutuantes dos hormônios estrogênio e progesterona influenciam o humor. Em relação aos genes, estudos apontam que a predisposição para a depressão pode ser hereditária. Se descobrirmos uma maneira de identificar a depressão por subtipos genéticos, poderemos encontrar tratamentos específicos.

Felicidade e a sociedade contemporânea

Além das dificuldades, contextos e histórias de vida de cada pessoa, existem fatores sociais difíceis de mapear que podem levar ao que se denomina depressão. O mundo contemporâneo está cada vez mais complexo. E o que todos desejam e buscam é a felicidade, o oposto da depressão.

Nas capas de revista, nos filmes, nos livros de autoajuda. O sucesso profissional, um casamento, um corpo perfeito, a viagem a um lugar paradisíaco, a casa dos sonhos, o status, a riqueza. Experiências são “vendidas” como verdadeiros caminhos para a felicidade, algo que só dependeria de você. Mas esse tipo de discurso acaba sendo uma grande armadilha. 

Se ser feliz só depende de mim, e eu não sou, logo eu falhei. O fracasso gera uma nova frustração. Por exemplo, a cobrança de padrões de beleza impossíveis de se conquistar leva diversos adolescentes a um quadro de baixa estima, em alguns casos à depressão profunda. Naturalmente querer tudo é um absurdo.

O escritor Michael Foley remete ao mito de Sísifo (que foi condenado a empurrar uma rocha por toda a eternidade) como representação da epidemia de depressão da sociedade atual. No livro "A Era da Loucura", ele escreve: “A depressão é muitas vezes o destino da personalidade moderna – ambiciosa – faminta por atenção e ressentida, sempre convencida de merecer mais, sempre perseguida pela possibilidade de estar perdendo algo melhor, sempre sofrendo pela falta de reconhecimento e sempre insatisfeita. É preciso reencontrar a coragem e a humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas sabe transformar qualquer atividade em sua própria recompensa. Sísifo é feliz com o absurdo e a insignificância de seu ato de empurrar constantemente uma rocha montanha acima.”

O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre a ansiedade e a angústia que é viver em nossa atual condição sociocultural, marcada por infinitas possibilidades de escolhas e pela falta de solidez e durabilidade (as relações são cada vez mais descartáveis, gerando um vazio). 

Mas por que somos obrigados a ser felizes? A necessidade de busca da felicidade é recente na história ocidental. O filósofo grego Aristóteles dizia que a bílis negra (melaina kole) determina os grandes homens. A reflexão aristotélica é que a melancolia não seria uma doença, mas a própria natureza do filósofo e sua inquietação em relação ao ser. Ela seria uma maneira importante de transcender e gerar sabedoria.

Na Idade Média, o pensamento medieval liga a tristeza a dois pensamentos: de um lado, ela seria um pecado, já que seria um sinal de que a pessoa abandonou ou perdeu Deus.
Na obra "Inferno", de Dante Alighieri, o escritor escreve que os suicidas estão condenados a se transformarem em árvores e os melancólicos são “uma seita de fracos, importunos ante Deus e seus inimigos”. Já para os monges, ela seria uma virtude que levaria a uma reflexão sobre a consciência interior.

São muitos os caminhos para entender as aflições da alma. O mundo moderno mudou o foco de Deus para o Homem. Goethe entende que a melancolia é uma doença do pensamento. Outros pensadores entendem que o viver bem precisa de um propósito. Schopenhauer chamou de Eudemonismo o que entendia como a arte de ser feliz, assinalando que desenvolver uma atividade, dedicar-se a algo ou simplesmente estudar são coisas necessárias à felicidade do ser humano.

Em resumo, vivemos num mundo que nos exige muito energia, o estresse no qual nos bombardeiam exigem vitalidade, sem vitalidade não há felicidade, a vitalidade está presente nos pensamentos positivos, de elevado alcance, fazer uma atividade física (pode ser até uma boa caminhada diariamente), meditar e fazer uma auto analise, são pró-atividades, afinal é nossa mente que constrói os castelos de nossa memória, os bons pensamentos nos dão vitalidade e consequentemente podem nos levar a felicidade, é assim que nos preparamos para combater a depressão, substituindo os maus pensamentos por bons pensamentos.

BIBLIOGRAFIA:



Site: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/depressao-o-mal-estar-da-sociedade-contemporanea.htm

Demônio do Meio-Dia: uma Anatomia da Depressão, de Andrew Solomon (Companhia das Letras, 2002)

Mais Platão, Menos Prozac, de Lou Marinoff (Record, 2001) A Era da Loucura, de Michael Foley (Alaúde, 2011) Sol Negro – Depressão e Melancolia, de Julia Kristeva (Rocco, 1989)