Outro dia, na fila da padaria aqui pertinho de casa, fiquei pensando em como a gente consegue falar de coisas que ninguém nunca viu. Tipo “justiça”, “tempo”, “felicidade”. Ninguém pega essas coisas com a mão, mas todo mundo parece saber do que se trata. E o mais curioso: cada um entende de um jeito. O que é justo pra mim pode ser absurdo pra você. O que é liberdade pra mim pode ser prisão pra outro. É aí que entram dois personagens curiosos do pensamento: a abstração e a subjetividade. Juntas, elas fazem a gente viver num mundo onde o invisível pesa mais do que o que está diante dos olhos.
Abstração
e subjetividade são como dois amigos inseparáveis numa conversa sobre o mundo —
sempre que um aparece, o outro dá um jeito de estar por perto. A abstração é
aquilo que fazemos quando deixamos de lado os detalhes concretos para captar a
essência de algo. Já a subjetividade é o filtro por onde tudo isso passa, com
suas lentes pessoais, emocionais e culturais.
Por
exemplo: se eu digo “liberdade”, essa palavra parece clara, mas cada um a
entende de um jeito. Para um adolescente, pode ser sair da casa dos pais. Para
um preso, pode ser o fim da pena. Para um artista, pode ser pintar sem limites.
Essa é a subjetividade entrando em cena: um mesmo conceito abstrato ganha vida
diferente em cada mente.
No
cotidiano, abstração é quando entendemos o “amor” sem precisar de um manual.
Quando dizemos que alguém tem “peso na consciência”, estamos usando uma
abstração para descrever algo invisível, mas profundamente real — e subjetivo.
O
filósofo alemão Immanuel Kant dizia que não conhecemos as coisas como são, mas
como elas aparecem para nós. Ou seja: toda abstração já nasce moldada pela
nossa forma de perceber. Subjetividade, portanto, não é defeito do pensamento —
é a sua condição de existência.
Se
abstração fosse uma estrada que nos leva ao sentido profundo das coisas, a
subjetividade seria o carro que cada um dirige por ela. Uns aceleram, outros
freiam, alguns se perdem, outros inventam atalhos. E todos acreditam estar indo
na direção certa.