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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Casa Interior

Há uma casa dentro de nós. Alguns chamam de alma, outros de espírito, outros ainda de consciência. Pouco importa o nome — é um espaço íntimo, silencioso, misterioso, e, ao mesmo tempo, tão nosso quanto nosso próprio respirar. O problema é que, muitas vezes, vivemos do lado de fora dela. Construímos fachadas, decoramos muros, trocamos telhados, pintamos janelas, mas raramente entramos.

Essa casa interior não se revela com chave. Ela se revela com pausa.

Vivemos tão ocupados tentando provar algo para os outros — ou para nós mesmos — que esquecemos de nos visitar. Isso mesmo. Esquecemos de fazer aquela visita delicada ao nosso próprio ser, como quem bate na porta e diz: “Estou aqui. Queria te escutar.”

E quando, finalmente, sentamos no chão dessa casa, percebemos que não estamos sozinhos. Há ali dentro uma criança com olhos atentos, um velho cansado que pede repouso, um sábio que não tem pressa, um animal que ainda teme a dor e um anjo que nos conhece sem julgamento. Tudo isso somos nós. E tudo isso também é o outro. Eis o elo invisível que nos une a todos.

Mas o que faz com que algumas pessoas vivam a vida toda sem nunca cruzar a soleira de sua casa interior?

Talvez o medo. Talvez o barulho. Talvez a crença de que tudo o que existe está do lado de fora, em metas, em conquistas, em comparação. A cultura do fazer, do ir, do crescer para fora — mas não para dentro. Só que o crescimento sem raízes é uma árvore que não se sustenta.

O retorno ao lar

O retorno à casa interior é silencioso. Às vezes começa com o cansaço. Outras, com uma perda. Outras ainda com um encantamento — uma flor que desabrocha, um pôr do sol, um poema esquecido, uma música que toca bem onde doía. Não é um caminho que se percorra com os pés, mas com a entrega.

E nesse lar reencontrado, surge uma nova maneira de viver. Começamos a perceber que tudo fala com tudo. Que os acontecimentos não são apenas fatos, mas mensagens. Que as pessoas não são obstáculos, mas espelhos. Que o tempo não é inimigo, mas mestre. E que a alma, essa sim, está sempre disposta a nos abrigar, se nos dispusermos a escutá-la.

O sagrado cotidiano

O espiritualismo que propomos aqui não é etéreo. Ele caminha de chinelos pela casa, olha nos olhos do caixa do supermercado, sente o perfume do café da manhã. Ele não precisa de templo, embora os respeite. Ele é uma postura. Uma forma de estar no mundo com mais presença, mais escuta, mais reverência pelo mistério da existência.

Sri Ram, pensador espiritualista, dizia: “A alma não busca respostas. Ela busca escutar a vida em silêncio.” E é exatamente isso. A casa interior não nos dá garantias, mas nos devolve o sentido. E sentido, em tempos de excesso, é o verdadeiro luxo.

Para todos

Este ensaio é para todos. Para quem crê e para quem duvida. Para quem busca e para quem acha que já encontrou. Para quem está cansado e para quem ainda não se permitiu cansar. Porque todos, sem exceção, habitamos essa casa. E todos, mais cedo ou mais tarde, seremos convidados a voltar.

Talvez hoje. Talvez agora. Talvez este texto seja apenas a campainha tocando.

Você atende?


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Casa Mental

A casa mental é um conceito interessante para pensar a nossa mente como um espaço organizado, onde cada cômodo representa diferentes aspectos da nossa vida. Imagine sua mente como uma casa com vários quartos: há um para as memórias, outro para as emoções, um para os sonhos e outro para as preocupações. Como está a sua casa mental? Está arrumada ou bagunçada?

Assim como uma casa física, a casa mental precisa de cuidados e manutenção. Quando deixamos de cuidar dela, os quartos podem ficar desorganizados, acumulando o "lixo mental" das preocupações, ressentimentos e medos. É como deixar a sala cheia de caixas e papéis, sem espaço para se mover. Esse "lixo" pode nos impedir de encontrar o que realmente importa, as coisas que trazem conforto e clareza.

Uma parte essencial de manter a casa mental em ordem é a prática da autoconsciência. Isso significa parar de vez em quando para fazer uma "faxina" mental: revisar o que estamos guardando, o que precisa ser descartado, e o que merece ser mantido e cultivado. É um processo de desapego, como jogar fora os móveis velhos que não servem mais, para abrir espaço para o novo.

E como em qualquer casa, há momentos em que é necessário fechar as portas de certos cômodos e abrir outras. Às vezes, é preciso deixar de lado certas preocupações para focar em algo mais importante. Outras vezes, precisamos revisitar memórias antigas, mas sem nos prender a elas, permitindo que fluam e não nos impeçam de seguir em frente.

O filósofo indiano N. Sri Ram, cujas ideias aprecio, talvez sugerisse que a chave para manter a casa mental em harmonia é o equilíbrio. Para ele, a mente deveria ser um espaço de tranquilidade, onde o caos do mundo exterior não pudesse penetrar facilmente. Uma casa mental bem cuidada é um refúgio, onde podemos nos recolher e encontrar paz, independentemente das tempestades lá fora.

Cuidar da casa mental é, portanto, um ato de amor próprio. É garantir que, ao final do dia, tenhamos um lugar seguro e confortável onde possamos nos recolher, refletir e nos renovar para o que virá.