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terça-feira, 13 de maio de 2025

Não-mente


Sabe aquele momento em que você está tão imerso em algo que parece que a mente some? Não há um eu tagarelando dentro da cabeça, nem uma voz avaliando cada ação. Você simplesmente faz. Pode ser ao tocar um instrumento, cozinhar sem seguir receita, caminhar sem rumo, ou até mesmo ao olhar o céu sem interpretar nada. Essa experiência, paradoxalmente, é o que muitos chamam de "não-mente".

A ideia de "não-mente" (do japonês mushin) tem raízes no pensamento zen-budista e nas artes marciais do Oriente. Trata-se de um estado de pura presença, sem apego a julgamentos ou pensamentos discursivos. É um esvaziamento, mas não no sentido de falta — é um vazio pleno, como o de uma xícara pronta para receber chá.

No Ocidente, essa noção pode parecer estranha. Estamos acostumados a ver a mente como uma ferramenta essencial, um motor que nunca pode parar. O pensamento racional e analítico nos define. No entanto, há momentos em que a mente, ao invés de ajudar, atrapalha. Um músico que pensa demais na próxima nota pode errar. Um atleta que hesita perde a jogada. A "não-mente" não é ausência de pensamento, mas ausência de interferência do pensamento.

Podemos observar essa ideia na filosofia de Martin Heidegger, que critica a noção cartesiana de sujeito pensante separado do mundo. Para Heidegger, estar-no-mundo é algo mais primário do que cogitar sobre ele. Vivemos primeiro, refletimos depois. Assim, a "não-mente" não é uma fuga do pensamento, mas um modo de habitar plenamente a experiência antes que a razão venha interpretá-la.

No cotidiano, alcançar esse estado pode ser um desafio. A sociedade moderna cultiva a hiperconsciência e a análise constante. Cada passo deve ser documentado, cada experiência narrada. No entanto, há momentos em que a fluidez da vida exige menos racionalização e mais entrega. Pequenos gestos como respirar profundamente, ouvir sem antecipar respostas, ou apenas estar presente já são um começo.

No fim, talvez a "não-mente" seja menos um conceito e mais um convite. Um chamado para experimentar a vida sem o excesso de filtros e expectativas. Para deixar que as coisas simplesmente sejam. Sem o barulho interno que insiste em interpretar, julgar e corrigir. Apenas estar. Apenas ser.