Vamos pensar sobre o que vem a
ser a tal Congruência Social, para esta introdução é necessário nos imaginarmos
em uma manhã comum, pegamos o celular, rola o feed interminável das redes
sociais e vê postagens de amigos em praias paradisíacas, em restaurantes da
moda, ou sorrindo com seus animais de estimação perfeitamente comportados, com
ou sem “filtros”, na maioria das vezes com “filtros”. Tudo parece incrível, mas
você se pergunta: "Será que todo mundo está sempre tão feliz e
bem-sucedido?"
Aqui vale uma nota de rodapé. O
tal filtro que me refiro é ao ato de "maquiar" a realidade, muitas
vezes através de uma fachada ou aparência superficial, para que tudo pareça
melhor do que realmente é. Isso é algo muito comum na era das redes sociais,
onde as pessoas frequentemente compartilham apenas os aspectos positivos de
suas vidas, criando uma imagem muitas vezes idealizada. Essa tendência de
"maquiar" a realidade pode ser vista como uma forma de congruência
social, onde as pessoas sentem a pressão de se conformar a padrões de sucesso,
felicidade e perfeição. No entanto, essa busca pela imagem ideal pode, às
vezes, obscurecer a autenticidade e dificultar a conexão genuína com os outros.
Então, dito isto, é importante lembrarmos que a verdadeira autenticidade muitas
vezes reside na capacidade de compartilhar tanto as alegrias quanto as lutas da
vida, criando relações mais autênticas e significativas, o exemplo de coragem
no enfrentamento de situações difíceis pode muitas vezes fazer a diferença na
vida de alguém que precise de encorajamento para também lutar e seguir vivendo
acreditando que não está sozinho.
Prosseguindo. Nossa vida
cotidiana está repleta de momentos assim, onde nos deparamos com a pressão
sutil, às vezes não tão sutil, para se encaixar e parecer que estamos em
perfeita harmonia com o que a sociedade espera de nós. Mas, será que estamos
mesmo? Jean-Jacques Rousseau, aquele filósofo do século 18, tinha algumas
ideias interessantes sobre como a conformidade social afeta nossas vidas. Outro
filosofo que tratou do tema, mas tratou com rebeldia foi Nietzsche, e claro, ele
não poderia ficar de fora de nossa conversa.
Iniciamos esclarecendo o
significado de congruência, na matemática, representa uma relação de
equivalência entre números inteiros, onde dois números têm o mesmo resto quando
divididos pelo mesmo inteiro (módulo), quando aplicamos esse conceito
metaforicamente à vida humana e à sociedade, podemos pensar de como muitas
vezes somos "escravos" de conformidade, de seguir regras, normas e
padrões estabelecidos, frequentemente sem questionar por quê, tudo também tem
muito a ver com nossa cultura.
Ser "escravo da
congruência" no sentido metafórico sugere que muitas pessoas se sentem
obrigadas a aderir a normas, valores ou expectativas impostas pela sociedade,
pela cultura ou pelos outros, mesmo que essas normas não reflitam
necessariamente seus valores ou desejos pessoais. Isso pode levar à
conformidade cega e à supressão da individualidade e da criatividade. As
pessoas podem se sentir pressionadas a se adequar a um padrão estabelecido,
mesmo que isso signifique negar suas próprias identidades ou crenças.
Então, nesse contexto,
questionar a ideia de ser "escravo da congruência" pode ser um
convite à reflexão sobre a autenticidade, a liberdade de expressão e a busca de
um caminho pessoal que esteja alinhado com os valores, paixões e aspirações
individuais, em oposição a seguir cegamente o que é esperado ou tradicionalmente
aceito. Ser "escravo da congruência" em um contexto filosófico e
metafórico pode ser uma maneira de explorar as pressões sociais e culturais
para a conformidade e questionar até que ponto estamos dispostos a seguir
normas e convenções, em vez de buscar a autenticidade e a verdade pessoal.
Para muitas pessoas, buscar a
autenticidade e a liberdade de expressão em oposição a simplesmente seguir a
conformidade é um desafio constante, cada vez mais, a sociedade reconhece a
importância de permitir a diversidade de pensamento, identidade e expressão, e
promove o respeito pela individualidade das pessoas. A conscientização sobre o
impacto negativo da conformidade cega está crescendo, e as discussões sobre a
importância da autenticidade e do respeito pela diversidade estão se tornando
mais proeminentes.
No complexo mosaico da sociedade
contemporânea, muitos de nós nos encontramos em uma busca incessante por
identidade e significado, frequentemente confrontados com a tensão entre nossa
autenticidade pessoal e a pressão da congruência social. Por se tratar de um
tema extremamente importante e presente em nossas vidas desde nossa formação
pensei neste ensaio que irá trabalhar a metáfora de ser "escravo da
congruência" como uma lente para analisar a maneira como as normas sociais
moldam nossas vidas diárias, para ser prático pensei sobre muitos exemplos do
cotidiano que ilustram como a busca por aceitação muitas vezes nos leva a abrir
mão da singularidade em favor da conformidade.
Nossa busca pelo "eu
autêntico" é um tema recorrente em nosso cotidiano. Enquanto ansiamos pela
autenticidade, muitos de nós sucumbem à pressão da congruência social. Nas
redes sociais, por exemplo, somos frequentemente instados a moldar nossa vida
on-line para se ajustar a padrões aceitáveis, mesmo que isso signifique omitir
as imperfeições da realidade. Postar a foto "perfeita" em uma viagem,
omitir momentos de tristeza ou incerteza e aderir a tendências estéticas são
exemplos claros de como a conformidade social muitas vezes nos força a esconder
nosso verdadeiro eu. Sabemos que fomos educados a não mostrar a tristeza e
muito menos deixar sair de “dentro de casa” aqueles temas mais íntimos e
nevrálgicos os quais sentimos vergonha, por isto, ficamos mais a vontade para
mostrar somente nosso melhor perfil. Temos receio de demonstrar nosso lado mais
sofrido com medo de parecermos fracos.
As normas de gênero são um
domínio onde a conformidade social é particularmente evidente. A sociedade
muitas vezes espera que homens e mulheres se encaixem em papéis tradicionais de
gênero, pressionando indivíduos a se conformarem, independentemente de sua
identidade de gênero ou preferências pessoais. Um exemplo disso é quando as
expectativas de que homens devem ser "fortes" e mulheres "delicadas"
criam barreiras para a expressão autêntica do eu.
A conformidade social também se
estende ao ambiente de trabalho e à política. Profissionais muitas vezes sentem
a necessidade de se encaixar na cultura organizacional, mesmo que isso
signifique suprimir suas próprias opiniões ou valores. Da mesma forma, a
pressão para aderir a uma ideologia política específica pode forçar as pessoas
a apoiar crenças que não refletem totalmente suas convicções, isto é mais comum
do que imaginamos, quantas vezes ficamos divididos e somos obrigados fazer
“algo” a contragosto.
A busca por autenticidade está
longe de ser uma luta perdida. À medida que a sociedade evolui, cresce a
conscientização sobre a importância de respeitar a individualidade das pessoas.
Muitos indivíduos e comunidades estão se voltando para a promoção da diversidade
de pensamento, identidade e expressão. A autenticidade é celebrada, e a
conformidade cega é cada vez mais vista como contraproducente para o
crescimento pessoal e a evolução da sociedade. A promoção da diversidade é
importante para criar sociedades mais justas, inclusivas e enriquecedoras. Ela
desafia preconceitos, estereótipos e discriminação, e contribui para um
ambiente mais igualitário, onde todas as pessoas têm a oportunidade de
participar plenamente na sociedade, independentemente de suas diferenças.
A metáfora de ser "escravo
da congruência" é um reflexo das pressões que muitas vezes enfrentamos
para nos ajustar às expectativas sociais. Embora essa conformidade seja uma
parte inevitável da vida moderna, também é essencial reconhecer o valor da
autenticidade e da liberdade de expressão. À medida que exploramos o labirinto
da congruência social, devemos lembrar que a verdadeira liberdade reside em
abraçar nossa singularidade, desafiando normas prejudiciais e permitindo que a
diversidade floresça. A jornada em direção à autenticidade é uma busca em
constante evolução, mas é uma busca que vale a pena em nossa busca por
significado e propósito na vida contemporânea.
Jean-Jacques Rousseau
Agora vamos contar com ajuda e
as lentes de Jean-Jacques Rousseau! Com base nas filosofias de Jean-Jacques
Rousseau, um filósofo notável que discutiu temas relacionados à conformidade
social e à busca pela autenticidade. Rousseau é mais conhecido por sua obra
"O Contrato Social", que examina a relação entre o indivíduo e a
sociedade.
Jean-Jacques Rousseau, um dos
principais pensadores da Iluminação, explorou de maneira profunda as tensões
entre a conformidade social e a busca pela autenticidade em sua obra "O
Contrato Social". Rousseau argumentou que a sociedade, com suas normas e
convenções, muitas vezes força os indivíduos a se conformarem a padrões que
podem ser prejudiciais à sua verdadeira natureza. Ele acreditava que a
conformidade social podia ser uma armadilha que limita a liberdade e a
autenticidade individuais. Ele via a sociedade como um "contrato
social" no qual as pessoas abdicam de certas liberdades individuais em
troca da proteção e da ordem social. Rousseau argumentou que essa conformidade
social frequentemente levava ao "homem de aparência" em vez do
"homem natural".
Na vida cotidiana, essa pressão
para se conformar pode ser observada nas expectativas de comportamento em
contextos como o local de trabalho, onde as pessoas podem se sentir compelidas
a seguir normas da empresa, mesmo que isso não esteja alinhado com seus valores
pessoais. A conformidade também se manifesta nas redes sociais, onde as pessoas
muitas vezes se sentem obrigadas a projetar uma imagem idealizada de suas
vidas, escondendo suas vulnerabilidades e imperfeições. Embora as redes sociais
ofereçam inúmeras oportunidades de conexão e expressão, é importante reconhecer
os desafios da conformidade social que podem surgir. É fundamental que as
pessoas se sintam livres para serem autênticas e compartilharem sua verdadeira
essência, em vez de se sentirem compelidas a se conformar com normas e
expectativas impostas pelas plataformas ou pela cultura online. A
conscientização sobre a pressão da conformidade nas redes sociais pode ajudar a
criar um ambiente mais saudável e inclusivo on-line.
Rousseau argumentou que a busca
pela autenticidade é uma luta contínua contra a conformidade social. Ele
incentivou as pessoas a reconectar-se com sua "vontade geral" e a
descobrir sua verdadeira natureza, que muitas vezes é obscurecida pelas expectativas
sociais. Isso pode ser aplicado em situações cotidianas, onde a busca pela
autenticidade envolve a expressão genuína de sentimentos, crenças e identidade,
em vez de se adequar às normas sociais. Em nosso cotidiano, a busca pela
autenticidade pode ser observada quando as pessoas se esforçam para ser fiéis a
si mesmas, mesmo quando isso significa desafiar as expectativas da sociedade.
Isso pode se manifestar em ações como falar abertamente sobre suas crenças e
valores, defender causas importantes e se recusar a se conformar com
estereótipos de gênero ou papéis tradicionais.
A filosofia de Jean-Jacques
Rousseau fornece uma lente valiosa para examinar o conflito entre a
conformidade social e a busca pela autenticidade em nossas vidas cotidianas. A
pressão para se conformar é uma realidade que enfrentamos em diversas áreas,
mas, como Rousseau argumentou, a busca pela autenticidade é essencial para
preservar nossa individualidade e nossa liberdade. No mundo moderno, onde as
redes sociais e as expectativas sociais desempenham papéis significativos em
nossas vidas, as ideias de Rousseau continuam a ser relevantes. A busca pela
autenticidade, ao desafiar a conformidade, é uma jornada em busca de uma vida
mais significativa e em sintonia com nossa verdadeira natureza, como indivíduos
únicos.
Friedrich Nietzsche e a Rebeldia
Nietzscheana
Friedrich Nietzsche, aquele
filósofo das ideias fortes e controvertidas, poderia ter algumas palavras a
dizer sobre esse dilema. Nietzsche desafiou muitos dos valores e normas de sua
própria época, criticando a moralidade herdada e a conformidade com o
"rebanho". Para ele, a busca pela autenticidade envolvia a
"vontade de poder" de se tornar o que se é, em vez de se submeter a
normas preestabelecidas. Em nossa vida cotidiana, essa rebeldia Nietzscheana
pode ser observada quando questionamos o status quo, desafiamos o pensamento
convencional e buscamos a expressão genuína de nossas próprias ideias.
A sociedade moderna muitas vezes
nos empurra em direção à conformidade, seja no local de trabalho, nas redes
sociais ou em grupos sociais. A pressão para seguir a corrente, adotar padrões
de consumo, ou conformar-se a normas de beleza pode nos fazer sentir como se
estivéssemos negando nossa individualidade. Nietzsche nos encorajaria a
reivindicar nossa autonomia e a questionar por que devemos seguir essas normas
sociais, em vez de nos expressarmos de maneira autêntica.
Em nossas ações diárias, a busca
pela autenticidade pode ser vista quando não nos escondemos atrás de máscaras
sociais, mas nos expressamos abertamente e com coragem. Seja ao escolher uma
carreira que reflete nossos interesses verdadeiros, ao defender nossas crenças
ou ao simplesmente se recusar a se encaixar em estereótipos preestabelecidos de
gênero, estamos exercendo nossa "vontade de poder" para ser quem
realmente somos.
Em um mundo que muitas vezes nos
pressiona para ser "escravos da congruência", a filosofia de
Nietzsche nos lembra da importância de desafiar as normas, abraçar nossa
singularidade e encontrar a autenticidade no nosso "eu" genuíno. A rebeldia
Nietzscheana nos convida a não ceder à pressão da conformidade social, mas a
buscar nossa própria voz, nossa própria verdade, e nosso próprio caminho em uma
era de congruência.
Procurei analisar a pressão da
congruência social em nossas vidas cotidianas, considerando as perspectivas de
dois filósofos notáveis: Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Nietzsche. Ambos
filósofos nos oferecem insights valiosos sobre como a sociedade molda nossas
escolhas e como podemos buscar a autenticidade em meio a essa conformidade,
eles nos disseram muito sobre este tema, e ainda tem muito a nos dizer, para
isto precisamos abrir os livros e olhar para eles que estão presentes em cada
parágrafo e cada página, a interpretação de cada um pode dar uma nova
perspectiva e quem sabe uma nova abordagem. Rousseau nos legou suas
obras que entendo sejam as mais importantes como “Do Contrato Social”, “Emílio ou Da Educação”, “Discurso sobre a Origem
e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens” e Nietzsche, “Assim
Falou Zaratustra”, “Genealogia da Moral”, “Além do Bem e do Mal”.
Rousseau, em sua abordagem, nos
alerta sobre a necessidade de reavaliar nossa relação com a sociedade e nos
encoraja a nos reconectar com nossa "vontade geral". Ele nos lembra
que a pressão da conformidade social muitas vezes obscurece nossa verdadeira
natureza, nos transformando em "homens de aparência", em vez de seres
autênticos.
Por outro lado, Nietzsche nos
convida a abraçar a rebelião contra a conformidade. Ele nos encoraja a exercer
nossa "vontade de poder" individual, a questionar normas e a desafiar
o pensamento convencional. Para Nietzsche, a autenticidade está na coragem de
sermos nós mesmos, independentemente das pressões sociais.
O diálogo entre Rousseau e
Nietzsche revela que, em meio à pressão da congruência social, podemos
encontrar um terreno comum: a busca pela autenticidade. A pressão social
existe, mas nossa liberdade de escolher quem queremos ser é um direito
inalienável. Não somos obrigados a ser "escravos da congruência". Em
vez disso, podemos seguir o caminho de Rousseau, reconectando-nos com nossa
verdadeira natureza, e o caminho de Nietzsche, exercendo nossa vontade de poder
para sermos nós mesmos. Mais uma vez, é preciso ler para saber ler o mundo, ler
e interpretar para não sermos alienados e “clientes” da boca alheia.
Ao enfrentar as normas sociais
em nossa vida cotidiana, lembremos de Rousseau e Nietzsche, e sigamos em
direção à autenticidade, ao abraçar nossa singularidade e ao questionar o
status quo. É nesse espaço de autenticidade que podemos encontrar significado e
propósito em um mundo muitas vezes marcado pela conformidade. Temos muito a
aprender como os filósofos, algumas de suas conjecturas podem muito nos
auxiliar a interpretar este mundo complexo e a nos entendermos com ele, a
cultura exerce uma influência significativa na congruência social, definindo as
normas e os valores que as pessoas são incentivadas ou esperadas a seguir.
Vamos lembrar que a cultura não é estática, e as normas e valores culturais
podem mudar ao longo do tempo. A busca pela autenticidade pode envolver a
reflexão sobre como a cultura influencia nossas ações e escolhas e, em alguns
casos, desafiar as normas culturais que não estão alinhadas com nossos valores
pessoais.