Se
há alguma coisa que dá sabedoria à alma, é a paciência. Qual era o segredo dos
mestres que realizaram grandes coisas, inspiraram muitas pessoas e ajudaram
muitas almas? O segredo deles era a paciência.
Inayat Khan
Alguns dias atrás falávamos sobre um tema
muito caro neste momento em que nos encontramos confinados: a paciência, falamos sobre a
experiência em que nós humanos globalizados estamos sendo submetidos, e
paciência é um dos melhores remédios, talvez seja o melhor remédio, aquele que
fara a diferença entre viver ou morrer.
Experiência em pandemia não tínhamos nenhuma
até agora, no entanto decorridos 164 dias de confinamento podemos falar de algo
que já foi, ainda é, e será por algum tempo, nosso dialogo imediatamente adotou
o modelo discursivo da experiência humana, histórico e narrativo em que o antes e o depois se
encontram encadeados por uma lógica em que a cada instante se sucede a outro e assim até ao futuro incerto.
Nosso diálogo com viés filosófico, naquele
momento presente era tudo: nele encontrava-se a memória do passado (nossas
experiências) e as expectativas do futuro.
No presente encontra-se a memória do
passado do poder ir e vir, as expectativas do futuro, neste futuro que nos
sinaliza com continuidade de confinamento voluntário e compulsório,
distanciamento social, e em algum momento dele encontra-se a vacina
libertadora.
Nossa sensação presente é de paralisação, é
um presente que a cada respiração vai ficando para trás com sensação de
estarmos presos a ele, fechado em si mesmo, e assim será este sentimento até
que nos seja disponibilizada a vacina que poderá nos libertar da prisão imposta
pela COVID 19, no entanto as notícias são otimistas, as pesquisas realizadas em
diferentes países, informam que estão em estágios avançados e acendem as luzes
do porvir iluminando o presente.
“Nossa vida não é senão uma longa
espera”, Sartre em O Ser e o Nada
A lógica do dito popular “longe dos olhos,
longe do coração” expressam o sentimento geral, mesmo que virtualmente estejamos
nos vendo e falando, o ser humano precisa mais do que ver e falar virtualmente,
é preciso ver pessoalmente, tocar, abraçar, beijar, precisamos mais do que a frieza
tecnológica pode nos oferecer. Este momento é o momento de entendermos o que
significa paciência, nela encontra-se a força até então desconhecida e que
poucos a conhecem e utilizam para vencer as dificuldades de suas vidas.
Chegam boas notícias da vacina, estas
notícias são como músicas para os ouvidos, recarregam as forças da paciência
para combater a escuridão os nevoeiros, negruras e debilidades das pessoas,
infortúnios, males e sofrimentos do mundo.
As coisas vão ficar bem, tudo que precisamos é de
um pouco de paciência. Guns N' Roses
Na vivencia angustiante deste momento, a
paciência que é uma virtude é levada a prova, junto a ela está a esperança de
dias melhores. A paciência é a força que pulsa silenciosa que espera apesar de tudo, a paciência é
nossa forma de não aceitar o “presente
fechado em si mesmo”, lutamos contra a ideia de sua temporalidade peculiar
procurando minimizar os efeitos do sentimento opressivo de impotência, temos
esperanças de um futuro melhor.
O tempo e a paciência são dois eternos
beligerantes. Leon Tolstói
Falamos a vida toda que é necessária
paciência para resistir aos golpes da vida sem sucumbir, e com capacidade de
padecer, de suportar e continuar esperando, no entanto, paciência não é
resignação, na resignação o sujeito não tem por que esperar por nada e aquele
que tem paciência espera tendo em sua essência uma meta, um objetivo.
A
paciência {é uma das] qualidades
"femininas" que têm como origem a nossa opressão, mas que deve ser
preservada após a nossa libertação. SIMONE DE BEAUVOIR
Falar sobre a paciência é falar desta
virtude que me fortaleceu e me preveniu diante dos desafios diários, muitas
vezes foi com esta forma de luta que me permitiu resistir aos golpes da vida
sem sucumbir, encarando de frente as adversidades sem me deixar destruir por
elas, aguentando sem abatimento a carga da existência e os ataques da aflição
que vive um espirito consciente de seu confinamento num corpo em viagem neste
mundo.
Eu
penso e penso, durante meses e anos, e em noventa e nove vezes a conclusão está
errada. Na centésima vez eu acerto. ALBERT EINSTEIN
É na paciência que encontramos a força
para manter acesa a esperança de sentido diante da esmagadora evidência do
excesso de mal neste mundo.
O confinamento está fazendo as pessoas
prestarem mais atenção as notícias e aos noticiários, há muita maldade
circulando, inclusive nas redes sociais, uns assim procedem por ideologia
política, outros pela índole maléfica, alimentada por informações falsas (fake
news), comuns nesse tempo de pós-verdade, de versões se sobrepondo a fatos.
Alguns destes acolhem o mal e o estimulam, no mesmo tempo em que
proferem discursos de uma falsa piedade, aproveitando-se do momento para
superfaturarem equipamentos e insumos para saúde.

Evitar o fanatismo das ideologias este deveria
ser o lema de cada um, as ideologias são como carcereiros que cuidam de tirar
da cabeça de seus escravos a esperança de haver vida noutro caminho, são fechadas
em si mesmas, evitam qualquer contato que possam contaminar sua plantação
disciplinada e ordenada, são indivíduos da mesma espécie separados,
manipulados, catalogados, produto da adesão cega de algum sistema, doutrina, na
maioria das vezes levados a extremos de intolerância, pregam o amor para os escravos
de seu senhor e o ódio aos escravos doutro senhor, porem escravos, sempre
escravos.
Assim como um ambiente quente e úmido é propício à disseminação de
bactérias mortais, as ideologias são especialmente propicias a disseminação de
atos de pensar do tipo rebanho, carregando em seu ambiente a circularidade de
luta incessante em torno de si mesmo, retornando ao mesmo ponto de conflito irresolúvel.
Seu raciocínio se baseia em uma série de vieses de que ela sequer se dá
conta, sua cegueira não permite enxergar a verdade dos outros e que sua
verdadeira função seria a de apagar as diferenças, de possuir senso de
humanidade e igualdade, as ideologias intensificam as diferenças desarmonizando
a sociedade, agem como são, apenas escravos, não há uma luta hegeliana entre o
senhor e o escravo, não há liberdade real, é apenas uma manifestação unilateral
da impaciência negativa. Chauí nos ensina que:
...,
a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de
fornecer aos membros da sociedade o sentimento de identidade social,
encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como,
por exemplo, a humanidade, a liberdade, a igualdade, a nação, ou o Estado.”
(Marilena Chauí, o que é ideologia 1980).
O indivíduo que tem paciência não é dogmático,
nem intolerante, nem fanático, por isso não é escravo de alguma ideologia. Este
indivíduo flui entre as ideologias sem se contaminar e deixar ser submetido a
manipulações mentais.
A paciência participante o eleva a contemplação dos fatos,
desenvolvendo um talento do jogo do observador, fazendo sua jogada e não se deixando
envolver pela jogada do outro, esta é uma decisão primaria no jogo da vida,
é um dom, um talento primordial que decide sobre o que pertence e o que não pertence
a ele, o que é ou deve ser e o que não, esta é a lógica do
pensamento do indivíduo que tem paciência.
A paciência impulsiona.
LAMA SURYA DAS
A paciência tem uma dupla vertente: a
passividade participante do observador que se insere na realidade a observar,
observa, sem nada alterar, e atividade de quem age tendo uma meta a atingir, é
nela que as forças da perseverança se manifestam para enfim chegar em algum
lugar e ao fim, com paciência evitamos a precipitação e cometer mais erros.
Temos na boa paciência a força para agir
aqui e agora se for necessário, sem adiar, nem atrasar a intervenção oportuna e
urgente, com convicção e compromisso.
Para
aprender a ter paciência, você precisa primeiro ter muita paciência. STANISLAW
J. LEC
A paciência deve ser do tipo vigilante ou
vigília paciente, apta a agir e expressão humana no momento oportuno, sua
característica a dimensão temporal e sua identificação com a esperança sem
resignação, assim como nos diz “Esquirol”:
A autentica paciência ligada a
esperança é tão essencial ao ser humano como o pão que ele come ou o ar que
respira. Tanto que a paciência não é apenas uma virtude entre outras. Sua
evidente dimensão temporal e sua identificação com a esperança fazem-na
inclusive candidata a expressar o humano. Esquirol, p.116
A gravidade do surto que se transformou em pandemia forçou-nos
seres humanos a observar com mais atenção para o planeta, tentando entender a
razão por estarmos mundialmente paralisados. Em princípio, supostamente, teria
surgido o coronavirus de seu hospedeiro natural o morcego, a contaminação teria
ocorrido pela manipulação do morcego, consumido como alimento (será?), esta é
uma das hipóteses apresentada pelos cientistas, a transmissão da doença para
humanos teria surgido através da manipulação destes animais em mercados de
Wuhan na China. Por lá é um alimento frequente na vida dos chineses mesmo sendo do
conhecimento geral que morcegos costumam abrigar uma
série de vírus nocivos aos humanos.
A distância atualmente não representa muito, pois
basta uma passagem de avião, algumas horas de voo e estamos nos conectando
fisicamente, qualquer vírus pode chegar no outro lado do mundo em questão de
minutos ou horas.
Para nós ocidentais parece ser muito exótico o
consumo de morcego como alimento, além do morcego outros animais consumidos por
lá, também nos causam repulsa, tais como cobras, gafanhotos, sapos, cães e etc.
Temos em nosso cardápio outros animais silvestres,
caçados para alimento ou comercialização, há um verdadeiro mercado negro explorando
a natureza de maneira criminosa e devastadora. Nem a pandemia conseguiu conter o
mercado de caça ilegal.
Há um limite onde a paciência deixa de ser uma
virtude. Edmund Burke
No Brasil praticamente todo dia temos
notícias da venda, consumo e tráfico de animais silvestres, é comum em diversas
regiões. Também há abuso e crueldade presentes nas granjas industriais e na
criação de animais, ficam confinados para engorda e maciez da carne, muitos
vivendo em condições muito precárias.
Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é
a paciência. Ralph Waldo Emerson
A natureza vem reagindo aos abusos
disparando vários tipos de doenças, representando ameaças mundiais como a gripe
aviaria, ebola, sars, influenza.
Percebemos, sabemos disto tudo, mas nada
fazemos para conter o abuso consumista, o consumo por si só não tem sentido,
ele é manipulador quando não tem nada a ver com a satisfação das necessidades.
Para a nossa avareza, o muito é pouco; para
a nossa necessidade, o pouco é muito. Sêneca
As necessidades humanas estão diretamente
ligadas ao consumo, no entanto a fomentação ao consumo criou o que chamamos de
“consumistas compulsivos” realizando desejos desenfreados.
Os homens quando não são forçados a lutar
por necessidade, lutam por ambição. Maquiavel
Vivemos num mundo predominantemente de
produção alienada, o consumo é artificialmente estimulado, e consequentemente o
consumo também se torna alienado, segundo Karl Marx, a alienação trata-se de
uma forma de dominação.
A
desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do
mundo das coisas.” Karl Marx
A alienação para ser combatida também
necessita de paciência, pois se não soubermos esperar pacientemente não
saberemos reconhecer aquilo que realmente desejamos e precisamos, estaremos fazendo
apenas a vontade de outro e não a nossa.
A espera intensifica o desejo. Na
realidade, ela nos ajuda a reconhecer
quais são nossos verdadeiros desejos. Ela separa
nossos entusiasmos passageiros
de nossos verdadeiros anseios. DAVID RUNCORN
O turbilhão produção-consumo em que o
homem está mergulhado impede-o de ver com clareza a própria exploração e a
perda da liberdade, de tal forma se acha reduzido na alienação e regressão ao
que Marcuse chama de unidimensionalidade (ou seja, a uma só dimensão), que
na linguagem hegeliano-marxista, se chamava reificação, a transformação tendencial
dos seres humanos em objetos e a consequente perda da capacidade humana de
conceber a possibilidade de diferentes níveis da existência e de criação
humana.
Hoje temos a capacidade de
transformar o mundo num inferno e estamos a caminho de fazê-lo. Mas também temos
a capacidade de fazer exatamente o contrário. Marcuse
Neste turbilhão produção-consumo é a
natureza quem sai perdendo, e nós também, pois somos parte da natureza. Ao
longo de décadas a exploração insustentável vem agredindo a natureza, e muito
do que se faz é para atender metas de produção alienada.
Dura é a
luta contra o desejo, que compra o que quer à custa da alma. Heráclito
A natureza vem nos dando recados e nos mantivemos
surdos e cegos, diante da cegueira e descontrole, já que o homem não tem
controle sobre si mesmo, e não consegue conter outros homens de explorar
irracionalmente, temos a impressão de que a natureza esteja punindo os abusos
consumistas através de doenças e desta pandemia.
Aparentemente o coronavirus já estaria vivendo
em nossos esgotos aguardando pacientemente por um gatilho, ainda nos dando uma oportunidade
de arrependimento e conscientização dos problemas causados por nós.
Os problemas nada mais
são do que oportunidades vestindo roupas de trabalho.
HBNRY J. KAISER
Diante da irreversibilidade do passado, o
tempo que é sinônimo da vida e da paciência exigirá de cada um de nós um resgate
desta conta que é gigantesca, devemos estabelecer a meta de evitar a destruição
daquilo que ainda nos resta e o pior, tentar salvar, se é que é possível, aquilo
que já passou.
Algumas
coisas, só podem acontecer através do tempo. Elas apenas acontecem o tempo as transporta. M. C. RICHARDS
Mesmo durante a pandemia ainda ouvimos
declarações da retomada da produção e exploração em ritmo acelerado na
tentativa de recuperar o volume de produção perdidos, no entanto se ainda não
entendemos o sentido e o recado da natureza, o futuro será sombrio.
Nos encontramos numa encruzilhada, nesta
parada obrigatória estamos parados olhando para os caminhos que poderemos tomar, e
lembrei de uma leitura e filme que vi, Matrix, lembro do diálogo entre Trinity
e Neo: "Trinity lembra Neo: Você conhece esta estrada. Você sabe
exatamente onde ela termina. E eu sei que não é onde você quer estar". A
ficção que nasceu de uma maneira de refletir sobre a realidade, é na ficção que
nos identificamos e olhamos para o real e o irreal como possibilidades, real por
que estamos vivenciando e o irreal talvez seja a situação ideal do que poderia
ou poderá vir a ser, a isto reagimos através de representações emocionais,
coisa de humanos.
— Cedo ou tarde você descobrirá a diferença
entre saber o caminho e percorrer o caminho.
— Eu lhe mostro a porta, mas é você que tem
que atravessá-la.
— Não acredito em destino. Porque não gosto
da ideia de não poder controlar minha vida. Matrix
O confinamento de extensão global, onde
cada família deve ficar confinada a seu próprio espaço, vivendo e convivendo
num tipo de Big Brother, escrevendo e vivenciando seus próprios roteiros, antes
o que era apenas ficção de querer saber que a representação era real para tirar
dela um prazer real, agora a realidade é tão dura que se quebrar as regras do
jogo de convivência os jogadores saem do jogo pelo risco de morte.
Os canais de filmes identificaram um
grande aumento de interesse do público por filmes que falam de epidemias como “Sentidos
do Amor”, “Epidemia”, “Eu sou a Lenda”, “REC”, “Extermínio”, “O Enigma de
Andrômeda”, “Ensaios sobre a Cegueira”, “Contagio”, “Deranged”, “Os Doze
Macacos”. Acredito que este interesse é o modo como nos identificamos com os
personagens fictícios e que parte do interesse é porque nós temos agora a experiência
e resposta emocional de quem experimenta ficção e realidade psicológica e
cognitivamente.
Como num filme de terror, o monstro invisível
coronavirus já estaria vivendo em nossos esgotos aguardando pacientemente por
um gatilho, como se tivesse alguma inteligência ou servindo algum tipo de
inteligência, estivesse à espreita nos observando, ainda nos dando uma
oportunidade de reforma, mudança e conscientização dos problemas causados por
nós, como o arrependimento e a mudança não vieram...cá estamos nós!
A ficção segue materializando-se na
realidade, quem não leu gibis e assistiu desenho animado na TV a Família Jetsons – A
Família do Futuro? “Os Jetsons”, criado pela Hanna-Barbera (um estúdio que
produziu vários desenhos animados sensacionais, diga-se de passagem) na década
de 60, e que contava sobre uma família que vivia no século 21. Na verdade, o
ano específico em que a família vivia era 2062, então a gente ainda tem alguns
anos para poder chegar à algumas inovações existentes no desenho, porem boa
parte da estória já se materializou.
A relação do homem com o
meio ambiente nesta retomada de convivio seja reavaliada,
vamos sair deste filme de terror "real", que nesta retomada esteja presente a "sustentabilidade" como ordem mundial, primeiro
mudamos o pensamento e em seguida criam-se novos hábitos de consumo, dando
outro rumo para nossas vidas.
A
maior descoberta da minha geração foi a de que o ser humano pode alterar sua
vida alterando sua mente. WILIIAM JAMES
Diante da crise, isto é, deste
momento que exige o nosso julgamento, e que não temos elementos suficientes
para fazer qualquer juízo, levantamos algumas questões para reflexão e para
inflexão. Refletir é um convite a revisitar o que já foi visto. A inflexão
nos convoca para uma mudança de olhar, encarar o que não observamos à
primeira vista.
Quem sabe seja o momento de uma mudança de
direção e de sentido?
Diante das mudanças advindas da
pandemia causada pelo novo coronavírus, que não só atingiram as pessoas
globalmente e modificaram suas dinâmicas sociais como, principalmente, será que irão ficar apenas nas "reflexões" sobre as
necessidades da era atual?
Será que estes novos hábitos que foram
adotados na forma de trabalhar, de se comunicar, de se relacionar, de estudar
e, principalmente, no consumo da
população, irão vingar após obtermos a vacina?
Quem sabe as respostas a questões como
estas poderão surgir com o bom uso de nosso amigo “tempo”, estamos vivendo o
tempo da espera, a espera que exige paciência, quem escreveu o roteiro da vida sabe a resposta, para nós mortais vamos em frente que de qualquer forma e seja o que for a resposta esta no futuro.
O tempo e a paciência estão
intimamente ligados, a paciência inteligente aproveita o movimento do tempo contrapondo-se à espera passiva,
a paciência é o movimento inteligente que aproveita bem este paradoxal tempo de parada forçada.
Esperar por esperar
não tem nenhum sentido, é sempre possível realizar algo útil enquanto se espera,
aproveitemos para pensar em melhorar os novos hábitos adquiridos, alguns deverão ser
mantidos e outros deverão ser adotados.
Nada
é mais eficaz do que inspirar e expirar lenta e
profundamente para administrar algo que você não pode controlar, e a seguir se concentrar naquilo que está bem
na sua frente. OPRAH WINFREY
O
confinamento em si já é frustrante e sem alguma atividade, pode ser entediante,
estamos frustrados pela falta de liberdade e sendo obrigados a adiar e deixar
de fazer coisas que nos davam prazer, os psicólogos dizem que o tédio é criado
pela incapacidade de adiar um prazer e pela baixa tolerância à frustração. E,
que todas as vezes que afirmamos que uma coisa é entediante, o que realmente
estamos dizendo é que não temos paciência para aquilo.
O tédio é outro inimigo presente na vida
de muitas pessoas, a falta de ocupação é o principal responsável por este
sentimento, para dissipar este sentimento procure fazer alguma coisa que goste,
principalmente atividades que exijam “mais” paciência.
Quando as pessoas se
sentem entediadas, é basicamente com elas mesmas que estão entediadas. ERIC
HOFFER
Há muita ansiedade e expectativas na
espera da vacina que nos livre imediatamente do inimigo invisível COVID 19, as
pessoas estão confinadas por tempo muito longo, e está causando muita
irritação, a irritação como tantas outras reações do temperamento humano, é uma
grande perda de tempo. Não estamos acostumados a ter a paciência da espera,
neste caso, nossa impaciência também é inerente a nossa preocupação de quanto
antes surgir a vacina, quanto antes retomaremos nossa vida normal e
principalmente vidas serão salvas.
Se
todos tivessem entrado em pânico quando os barcos lotados de refugiados se
depararam, com tempestades ou piratas, tudo estaria perdido. Mas, se apegas uma
pessoa permanecesse calma e centrada, isso seria o bastante. Ela indicaria o caminho para que
todos sobrevivessem. THICH NHAT HANH
Depois desta experiência acredito que
vivenciaremos outro tipo de “normalidade”, espero que seja diferente daquele
tipo anterior de “normalidade”, afinal aquela normalidade tornou-se um problema
com vários problemas como: produção alienada, transito engarrafado, poluição,
consumo desenfreado, alienado e insustentável, estresse, desemprego.
Tudo flui, nada permanece. Heráclito
Para milhares de pessoas será mais difícil
voltar à normalidade, enfrentaram grandes perdas, para muitos a paciência
extrapolou a capacidade de resiliência, milhares ainda enfrentam lutos, ainda mais
sofridos porque sequer conseguiram despedir-se dos seus entes queridos. Para
nós o ato de despedida é muito importante, é necessário tocar o corpo, olhar e
proferir as últimas palavras, principalmente em nossa sociedade que ainda vê a
morte como um tabu, e o assunto evitado ao ponto de tornar-se até oculto.
Mais vale o homem lento
para a ira do que o herói.
E um homem senhor de si
do que o conquistador de uma cidade. PROVÉRBIOS 16:32
Além da perda de alguém, há outro tipo de
luto, que é a experiência da perda do emprego, há um sentimento de luto pela
perda de um lugar, de uma vida tal como era conhecida, enfrentaram lutos, lutos
muito difíceis de assimilar, vivenciados no confinamento parecem ter levado a
um sentimento de fim da linha, nos lembrando que somos os únicos seres capazes
de perceber a própria finitude e ter consciência da sua morte.
A maneira mais rápida e
certa de viver com dignidade é ser realmente o que aparentamos ser.
Todas as virtudes humanas
aumentam e se fortificam quando as praticamos e as vivenciamos
SÓCRATES
Estamos em tempo de uma tomada de
consciência, não podemos nos dar ao luxo de perder mais nada, estamos todos
juntos nesta empreitada, vivendo no mesmo planeta, vivemos no mesmo meio
ambiente, este é o momento da tomada de consciência e
refletir acerca de “valores”, valores envolvidos nestes “jogos de regras” de
caráter sustentável coletivo, será fundamental pensar em consumir de
maneira sustentável, pensando ludicamente, a sustentabilidade é um jogo
cooperativo, se jogar direito, todos ganham!
A
tornada de consciência permite encarar a realidade para mudá-la.
ANTHONY DE MELLO
Há um ditado popular que diz ser a pressa
inimiga da perfeição; a vacina que ainda é uma promessa no presente para futuro
próximo, será uma defesa para este recente mal que assolou os seres humanos, então
que seja desenvolvida habilmente no seu devido tempo, respeitando todas as
etapas de testes, analises e avaliações.
Todos
os
momentos representam um começo. Todos
os momentos representam um fim. MARK SALZMAN
Vamos estar atentos para outros possíveis males,
e talvez piores, no caso de não mudarmos nossa maneira de viver neste planeta,
talvez a próxima reação da natureza nos impeça sequer de termos contato com o
sol, aí nem a virtude da paciência ira conseguir segurar a pressão de mais um
confinamento.
Se
amarmos e apreciarmos um ao outro
tanto quanto pudermos, enquanto
pudermos, tenho certeza
de que o amor e a compaixão
triunfarão no f i n a l. AUNG
SAN SUU KYI
A
medida que o tempo escorre entre nossos dedos, mais pessoas passam por
necessidades básicas, elas estão impedidas de trabalhar e de buscar o pão.
Conforme Iyanla Vanzant, o melhor que podemos fazer neste momento é convocar a
nossa compaixão.
Temos
observado que a maioria das pessoas tem procurado fazer o melhor que pode,
contribuem dentro de suas possibilidades como nunca vimos antes, tantos
contribuírem como agora. Quando nos lembramos disso, nossos corações se abrem e
a paciência e a alegria nos inundam, é um prazer gratuito e “humano”.
O
casamento entre paciência e compaixão é perfeito, ambas trabalham juntas para
se apoiarem e se desenvolverem mutuamente.
Quanto
mais paciência tivermos, mais seremos capazes de compreender e nos solidarizar
com os sentimentos das outras pessoas, vamos nos colocar no lugar do outro
para sentir o que o outro sente.
Quanto
mais reagirmos com nossos corações, mais poderemos nos valer da fonte da força
existente na paciência que está localizada no íntimo de cada um de nós.
Bibliografia
Chauí,
Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2000
Esquirol,
Josep M. O respirar dos dias – uma reflexão filosófica sobre a experiência do
tempo. Tradução Cristina Antunes – Belo Horizonte: Autentica Editora, 2010
Irwin, William. Matrix, Bem-vindo ao deserto do real. Tradução de Marcos Malvezzi Leal. Madras Editora Ltda, São Paulo-SP, 2003
Ryan,
M. J. (Maryjane), 1952- O poder da paciência / M. J. Ryan; tradução de Sônia
Maria Moitrel Schwarts. - Rio de Janeiro: Sextante, 2006
Sites
consultados:
https://www.webartigos.com/artigos/a-paciencia-e-o-tempo/1070
Acessado em 11/08/2020 ás 10:15hs
http://www.ip.usp.br/site/noticia/luto-medo-e-ansiedade-o-sofrimento-psicologico-na-pandemia/ Acessado em 11/08/2020 ás 11:49hs
https://filosofiatotal.com.br/consumo-alienado/ Acessado em 11/08/2020 ás 13:26hs
https://www.barrazine.com.br/2020/04/filosofia-ajuda-a-responder-questoes-levantadas-na-crise-do-novo-coronavirus/#gs.crwfgd
Acessado em 13/08/2020 ás 10:15hs